sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Nacionalidades e racionalidades

Porque veio mesmo a calhar, relativo ao meu último post, para calar as minhas preocupações sobre conhecimento de gente local:

A minha supervisora, no meu novo emprego, é belga.

Fiquei muito contente, porque assim já tenho alguém com quem bombardear com perguntas sobre as maiores e mais pequenas idiossincrasias deste meu país hospedeiro.

Já comecei com as relacionadas com as línguas e os aparentes - ou não? - desentendimentos e ressentimentos entre valões e flamengos, fonte de enorme interesse da minha parte. A essência de um país vai sendo descortinada através de pequenas peças que vamos juntando aos pouquinhos e ao longo do tempo, coisas que em si mesmas são irrisórias, mas que todas juntas constituem o caráter de um povo e de um país. 

A minha precisa ideia sobre a Bélgica e sobre o povo belga é precisamente a ausência de essência. Ou melhor, é uma essência que se caracteriza por desentendimento e tensões entre as duas comunidades linguísticas; um flamengo é capaz de ter mais que ver com um holandês do que com um valão. Apesar de o primeiro e o último terem o mesmo passaporte.

É por isto mesmo que a nacionalidade vale o que vale, e que tanto pode ser muito como rigorosamente nada. Da mesma forma, e precisamente por ser relativa, não deve servir de medida para nada. Tal como a raça, o género ou qualquer outra coisa aleatória e fora do controlo da pessoa.

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E depois deste filosofar profundo vou dar às pernas para não ser só o cérebro a cansar-se.  




S.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A 1ª belga e o combate ao desperdício

Hoje, por ocasião de uma venda de roupa em segunda mão, conheci uma rapariga belga muito simpática. Mas apercebi-me que, em seis meses, foi a primeira pessoa local que conheci. 

Ora, não sei bem o que isto diz de mim (bicho anti-social, será?), sobre o meu local de trabalho até agora (no PE conheci gente de muito país europeu mas nenhuma belga, curiosamente), ou sobre esta capital, onde um terço dos seus habitantes são imigrantes. 

A rapariga em questão, a quem cheguei através do grupo Brussels Expats do Facebook, delirou quando soube que eu era portuguesa, porque ama Portugal de paixão (afirma ser um dos seus países favoritos...) e anda a estudar as diferenças entre a língua portuguesa e o galego. A visita foi de negócio mas aqueceu o coração, claro está. :)


...


Agora, sobre as vendas em segunda mão. 

Aventurei-me pela primeira vez nisto do já-usado há quase dois anos, quando comprei o meu computador e o iphone do D. pelo eBay porque não queria dar por eles o dinheiro que custam novinhos em folha. Cheguei a vender também. Correu tudo às mil maravilhas (exceto uma tentativa de venda da minha parte, mas isso é outra história). Mais recentemente, uma blogger que eu seguia regularmente abriu outro blog para vender roupas/acessórios/sapatos que já não usava e eu, vendo uma coisita que me agradava, decidi comprar.

Entretanto descobri o maravilhoso mundo dos expats bruxelenses, grupos facebookianos onde pessoal faz perguntas e lhes respondem, sobre tudo o que se possa imaginar sobre a vida cá, e põem móveis, roupa, eletrodomésticos à venda porque vão voltar para a terra. E eu rendi-me ao culto do aproveitamento e do combate ao desperdício. Em forma de pechinchas.

Aqui há uns tempos, precisava de uma impressora, puseram uma impressora à venda (por menos de metade do preço!). Lá fui eu, de trolley de compras atrás para trazer a bicha, a pé, até à casa da rapariga que a anunciou (que por acaso era portuguesa!). Hoje, foi a vez de ir buscar um colar, um lenço e um chapéu à anos 60 (acho que nunca me apaixonei tanto por uma peça de roupa como com esta... e acho que nem na Primark conseguiria tão barato), à casa da rapariga belga, que tinha virado a sala em atelier de roupa em segunda mão.

De caminho para casa, passei na loja da Oxfam e olhei com outros olhos para as roupas que ali se vendem. E descobri que, indo de olho bem aberto, se encontram coisas muito boas a preços irrisórios. E ali há o benefício de se estar a contribuir para uma boa causa.

Já pensei seriamente em me tornar vendedora e livrar-me eu também de coisas que já não uso e que podem ser interessantes para outras pessoas. Mas a verdade é que, na nossa vinda para Bruxelas, a triagem do que não se gosta/usa/veste já foi feita, e só cá estão coisas úteis... Cheira-me que terei de esperar algum tempo até ter material para venda.




S.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Been there, done that

Depois de três semanas em Portugal, o regresso atribulado a Bruxelas (que implicou uma recusa de embarque, uma noite extra em solo português, coração nas mãos na segunda tentativa de embarque e uma mala que não veio) já acabou e já estou novamente instalada na capital belga e com todos os meus pertences devolvidos.

Sinceramente, os aeroportos andam pouco imaginativos no que respeita os meus regressos atribulados, já que tudo o que se passou desta vez foi quase um déjà vu de há um ano e meio. De maneiras que foi com algum enfado que passei por tudo isto outra vez. Quando o senhor da segurança, em Lisboa, se dirige a mim  e me impede de recolher a mala do raio X porque "A senhora tem aí uma latinha na sua mala..." - era de chá, what else - ainda me entusiasmei um bocadinho e pensei "Eh lá! Sou suspeita". Mas ele nem quis que eu abrisse a mala para confirmar o que era, de maneiras que aquilo acabou tudo muito rápido.

Enquanto o homem não chega tenho andado entretida a tornar a casa habitável, incluindo reabastecimento do stock alimentar, a voltar à rotina de ginásio - que não tinha chegado a tornar-se rotina - e a tratar de burocracias necessárias a uma permanência mais permanente aqui na Bélgica. 

Amanhã é o meu primeiro dia de trabalho e tornar-me-ei formalmente uma emigra. De momento, estudo o mapa de transportes de Bruxelas para descobrir o caminho mais curto para o escritório, que infelizmente é demasiado comprido para ser percorrido a pé. O ginásio cá está para a substituição.



o universo conspira para que eu ame cada vez mais aeroportos


S.  

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O bicho da leitura volta a atacar

A minha vida tem se resumido a praia, piscina e leitura como se não houvesse amanhã. De maneiras que ando o mais desagarrada disto do blog e dos Facebooks como nunca. Quem mais beneficia com este facto é o meu bicho da leitura, que se tem revelado na sua plenitude máxima por entre mergulhos refrescantes e pés na areia. E o resto é conversa (literalmente).

(Neste momento navego em Salem, tendo alternado entre o mundo dos Tudor e a frieza de S. Petersburgo e  dos autores russos, passando por uma viagem à América de meados do séc. XIX. E outros 60 já me esperam guardadinhos na biblioteca eletrónica do meu maravilhoso melhor amigo, Kobo.)


S.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Diferenças entre umas e outras

Uma é uma enjoadinha de primeira apanha, passiva e suspirante por um homem que à primeira oportunidade lhe quer morder o pescoço;


As outras fazem algo pela sua vida e pelo seu mundo.

Lições opostas, que revelam a qualidade de uns livros e de outros. É favor parar com as comparações, portanto.



S.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Por falar em emigrantes e agosto...

Acabei por vir passar parte do meu a Portugal.

Não sou pessoa saudosista - tampouco do meu país natal - mas após conseguir a segurança de emprego a partir da rentrée, agosto transformou-se realmente em férias. Com Oostende riscado da lista de possíveis destinos balneares, e com todos os outros sítios soalheiros a mais de 300 euros de distância, Portugal tornou-se o destino óbvio: sol e família, mata-se dois coelhos de uma cajadada.

Cinco meses é tempo demasiado escasso para sentir saudades de qualquer sítio daqui. Mas é bom rever a família, ter sol certo, banhar no mar algarvio, pisar areia, abraçar o meu cão. Vista daqui, Bruxelas parece um sonho longínquo; as impressões destes cinco últimos meses parecem mesmo desvanecer-se em fragmentos. Estranho, isto da memória.

Nunca estive mais de seis meses sem regressar à base. Não sei se é saudável, emigração assim. Parece que uma pessoa fica com a vida dividida, ainda que queira assentar definitivamente no país que a acolheu (como é o caso). Mas a pouca distância e a facilidade de transporte de hoje em dia torna impensável estar quatro, cinco, dez, vinte anos sem pisar solo natal. O que não decidi se é uma coisa boa ou má.

Os ingleses tem uma boa expressão para este tipo de emigração: não se chamam e/imigrantes, mas sim expats. O que é uma palavra fina que substitui a conotação negativa que às vezes está associada aos imigrantes. Expat é aquele que está temporariamente noutro país, vive e trabalha lá, mas quase por acaso, nunca por necessidade, não, isso é coisa de e/imigrante, que horror. Mas expat é uma palavra que, sendo dissecada, não quer dizer nada. Ou está mal empregue, semanticamente, no que é empregue. Expat é uma pessoa expatriada, renegada pela sua pátria, que não é de lado nenhum. Será que quem se considera expat tem a consciente noção do pesado significado da palavra?

Eu não faço ideia por onde o meu futuro vai passar. Já tive a mania que sabia, e dei-me mal com o que o destino tinha reservado para mim. Deixei de ter essa presunção. Sei, no médio-prazo, onde vou estar, mas não por quanto tempo. É facto que, com um emprego para cada um, a certeza de ficarmos na Bélgica mais definitivamente é maior, e já nos aventurámos a ter coisas impensáveis há um ou dois meses, tão simples mas tão longo-prazo como uma ligação à internet com contrato de um ano. Ainda assim, deslocações ao Ikea é coisa que não nos passa pela cabeça, e qualquer pensamento de decoração é demasiado risível e duradouro para ser levado a cabo. A casa continua temporária, e, sinceramente, não sei reconhecer o clique que dirá irrevocavelmente: "Esta será a nossa casa". Como quem diz, "para sempre". 

Abrigo o não tão secreto desejo de voltar a Inglaterra como residente, um dia, quem sabe, que eu não. Mas por enquanto estamos noutra. Relembro sempre a resposta que as pessoas do Portugueses pelo Mundo dão no fim de cada programa, quando inquiridas sobre a intenção de voltar a Portugal: "por enquanto não; er, um dia, talvez, quem sabe; mas por enquanto não tenho esse desejo nem essa intenção". É um bocado isso, é.





S.   

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A música do emigrante e do agosto

Correndo o risco de estar a enveredar por um grande cliché, não posso ainda assim perder a oportunidade de meter aqui esta música:


Este cantor foi a minha primeira pancada musical, tinha eu uns 5-6 anos e era ver-me a cantar por tudo quanto era sítio as músicas deste senhor. Era o tempo das cassettes, e ainda me lembro vagamente da capa desta (tinha muito azul). Acho que já tinha o bichinho da emigração dentro de mim, e declamava "Meu querido... Mês de Agosto! Por ti levo o ano inteiro a sonhar..." com a convicção de quem antevê subconscientemente o seu futuro.

Curiosamente, acho que foi também a primeira morte de alguém de que tive verdadeira consciência, ainda que não conhecesse  o senhor de lado nenhum, mas isto de ser fã é mesmo assim, há uma familiaridade falsa. Acho que morreu num acidente?...

De qualquer forma, aqui fica a música, para dar um toquezinho de bailarico a que me sabe sempre o início do mês de agosto. Não há como fugir às raízes, senhores...



S.