terça-feira, 30 de novembro de 2010

I'm dreaming of a white Christmas

A minha experiência climática está completa. :)

Tem nevado toda a manhã. A BBC dava light snow para todo o dia de hoje - tão light na realidade que chega ao chão e derrete. Mas que importa, testemunhei neve, sou uma mulher realizada! Neve prevista para o dia todo, desta vez alguma tinha de cair.

Saí de casa munida do meu chapéu-de-chuva e do meu gigante sorriso pronta a enfrentar a água congelada que caía dos céus. Mal desci as escadas exteriores apercebi-me logo que o chapéu-de-chuva (e a palavra- chave aqui é chuva) não servia de muito contra a neve. Os flocos são tão pequeninos e leves que flutuam pelo ar até cair e agarram-se a tudo o que é tecido e pele (se ainda houver alguma descoberta...). Nunca tinha pensado nesse pormenor. No meu imaginário neve caía como chuva, em linha recta até ao chão, às vezes na diagonal mas fácil de enfrentar com um chapéu. Nop, parece que é leve demais para tal.

Ia no metro e um mantra repetia-se dentro da minha cabeça "Está a nevar, estáanevar, ESTÁANEVAR!!!". Apercebi-me que a neve parece mesmo pedacinhos de algodão a cair. O que, tenho de admitir, não é a mais original das comparações, mas foi a única que me ocorreu.

Tenho a dizer, no entanto, que neve não é sinónimo de mais frio. Não está hoje mais frio do que ontem, pelo contrário. De maneira que tenho que reduzir um bocadinho as camisolas extra que visto, já que hoje senti calor. Leram bem, calor, enquanto andava pela rua. Em vez de 5 camadas de roupa, talvez 4 cheguem?...

Claro que tive que partilhar que nunca tinha presenciado neve antes. A minha colega G. que me acompanhou até à biblioteca foi o alvo mais à mão. "Tenho a dizer que hoje é a primeira vez que vejo neve!". Como se ela não soubesse, coitada, levou a semana anterior toda com o meu entusiasmo perante a perspectiva que ia nevar... Pelo caminho ia fazendo malabarismos com o chapéu de chuva a tentar aparar a neve que cai umas vezes pela esquerda, outras pela direita, outras parece que vem por baixo do chapéu (!), quando a G. recusa que eu tente aparar a neve em direcção a ela. "Guarda o chapéu para ti, eu já vi neve, sei me defender!" Hahaha, gosto desta rapariga! :D







S.

Waterloo

Dia de greve do metro em Londres é sinónimo de manhã chata. Implica pesquisa de rotas alternativas no dia anterior e meia hora a menos na cama de manhã. Considerando que já me levanto 2 horas e um quarto antes das aulas começarem, meia hora significa muito cedo.

Em dois meses e meio já é a terceira greve de metro que testemunho. É inteligente da parte dos senhores dos sindicatos escolherem o metro: metro londrino parado significa grande reboliço na cidade. Só nestes dias dá para perceber a importância deste transporte para a cidade. A confusão que se instala é enorme.

Mas é uma confusão com ordem. Comboios e autocarros ficam apinhados mas toda a gente sabe exactamente a alternativa a tomar para chegar ao trabalho/escola como sempre. Ainda que isso implique meia hora a menos na cama.

Londres tem uma coisa magnífica: o site de transportes. Nele metemos o ponto de partida e o ponto de chegada e dá-nos a rota a tomar para lá chegar. Mostra não só os diferentes tipos de transporte e as mudanças como o tempo máximo em cada um e o tempo estimado da viagem total. Nem é preciso explicar como isto já me foi útil em dezenas de situações. Refere também as linhas de metro que estão suspensas ou com atrasos em determinado dia, particularmente aos fins-de-semana. De maneira que todos os commuters londrinos sabem bem o que fazer quando há perspectiva de greve.

Uma viagem que costuma demorar 45 min demorou hoje o dobro do tempo. Apanhei um autocarro até a uma estação de comboio e aí apanhei comboio até à estação central de Londres para todos os comboios suburbanos: Waterloo. Não era suposto ser preciso tanto tempo, mas o comboio atrasou-se 20 min. Sardinha em lata é a expressão que melhor define a minha viagem até Waterloo. Sardinha em lata com pernas dormentes depois de 40 min em pé (somados aos 20 min à espera na estação dá uma hora. Já mencionei que estavam 0 graus? E que eram 8 da manhã?)

Depois é o terror tentar apanhar um autocarro, em dia de greve de metro, numa das estações mais movimentadas do país. Num papelinho levei todos os números que paravam na minha univ. Acabei por apanhar um que parou na rua de cima. Não é novidade. Consigo sempre fazer com que uma (aparentemente) simples viagem de autocarro se torne mais complicada. Ou é porque o autocarro não passa onde eu pensava, ou é porque tem de ir por um desvio ou é porque não tenho a certeza do nome da paragem. Autocarros não são definitivamente para mim. Já o metro foi o melhor transporte alguma vez inventado para grandes cidades. Leva-me do ponto A ao ponto B sem desvios, e como pára em todas as estações não há margem para engano. Se bem que o Tube tem algumas variações com que é preciso contar...

 Acabei por chegar um quarto de hora atrasada. Início de manhã atribulado tal como é suposto em dia de greve. Well done, senhores sindicais, you did it.

A viagem de regresso foi o agradável oposto. Se o metro é o melhor transporte inventado, o comboio é de certo o mais confortável. As carruagens são novas e as linhas bem mantidas. O que faz com que o comboio não ande mas deslize sobre os carris. Se juntarmos assentos confortáveis mais aquecimento no máximo e carruagens desertas não é difícil perceber o meu estado de contentamento na viagem de regresso.

Mas antes da viagem consegui maravilhar-me um pouco com a estação de Waterloo. Não era de todo a primeira vez que ali estava (3 greves de metro...) mas como tive de procurar nos placards qual era a plataforma e a que horas o comboio partia a observação foi especial. Fiquei uns bons minutos especada a olhar para os (mais que) muitos placards electrónicos com os destinos e as estações em que parava cada comboio. Há uma magia qualquer nestes espaços de partida e chegada, semelhante à dos aeroportos. E aprende-se geografia! Alguns nomes eram-me familiares, outros nem por isso. Da próxima vez já o serão porque lembrar-me-ei "Já vi o nome dessa terra nalgum lugar..." O sentido de orientação e localização melhoram também.

Por todas as estações onde passava o comboio havia sal espalhado na beira da plataforma. Mais um prenúncio da neve que teima em chegar...






S.

domingo, 28 de novembro de 2010

Deixa nevar (a sério, deixem lá...)

Ando colada às previsões meteorológicas da BBC para ver quando prevêem neve. Tenho a minha localização guardada (Hounslow) e Londres como recently viewed e ando a alternar entre as duas para ver quando e onde vai cair neve primeiro.

Porque aquilo tem previsão de 24 horas, detalhado o tempo que vai fazer em cada parte do dia, e previsão de 5 dias, mais geral. Bastante útil para saber que tempo vou apanhar em casa e na univ. Se bem que já levei chapéu de chuva várias vezes e a chuva prevista não caiu. Ando a fazer contas de cabeça para ver a que horas vou estar onde (Hounslow ou Londres central) e que tempos vou apanhar. 

Andei o dia todo ansiosa porque davam neve para as 21h em Hounslow. Nada. Entretanto emendaram no site; agora diz 21h - white cloud (não não, senhores da BBC, dark cloud...) .  A ironia é darem neve para amanhã às 9h em Hounslow, quando não vou estar cá mas sim em Londres central (9h - mist).

Na 5a feira estava eu com a N. e a G. quando a conversa se voltou para o tempo. "Ah sim, dizem que hoje vai nevar." diz a G., sem qualquer entusiasmo. Compreensível, se tivermos em conta que ambas as meninas vêm de países onde neve é tão corriqueira como chuva. Já eu, "I come from the sunshine lands, I've never seen snow!!!" Tenho direito a estar tão entusiasmada como uma criança no Natal!







S.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Essays revisitados

Hoje foi um dia semelhante à 5a feira passada. A professora voltou a falar do que esperava nos essays finais e houve mais uma aula extra sobre como escrever textos académicos, desta vez dissertações. Mas o dia correu de maneira muito diferente :) .

Hoje foi o culminar do trabalho para EU institutions. Esta semana era a minha vez de escrever um essay sobre o tópico semanal (Política regional e de coesão da União Europeia) e de fazer uma apresentação, tudo isto em conjunto com a minha colega R.. Se se lembram, o pânico sobre os essays era mais que muito pois essays não me são instrumentos de avaliação e trabalho especialmente familiares. Portanto este primeiro essay, apesar de ser apenas um quarto do que os finais terão de ser, seria uma introdução ao trabalho que terei de desenvolver até Janeiro.

Acho que não podia ter corrido melhor. :D

No nosso essay tivemos em conta as críticas feitas a essays anteriores apresentados nessa disciplina para nos guiar para longe do que o que não devemos fazer, e indo assim por exclusão de partes para o que se deve fazer. Depois da aula extra sobre como escrever um essay em já tinha em mente a seguinte ideia muito simples: um essay é a tomada de uma posição e a defesa dessa posição através de provas. Ter isso em mente ajudou-nos bastante a escolher a direcção a tomar na estrutura do trabalho. Argumentos a defender a nossa posição, mais argumentos a defender a posição oposta e o porquê da nossa posição ser melhor. É basicamente isto.

O nosso esforço valeu-nos elogios de colegas no debate da aula e da professora. O meu coraçãozinho voou por uns momentos quando no final a professora disse: "I really liked your essay, you really nailed it" o que pode ser traduzido como "acertaram na muche". Fiquei incrivelmente orgulhosa de mim, pela primeira vez neste mestrado. Apetecia-me pular e soltar gritinhos histéricos de contentamento.

A apresentação que era suposto acompanhar o essay não podia ter corrido melhor também. A R. fez a introdução e eu apresentei um estudo de caso. Qual? Nada mais nada menos que Portugal :D. Uma data de slides com dados, mapas das regiões que recebem os fundos comunitários e tabelas com os programas e o dinheiro que a UE dispende foram uma tentativa de explicar uma parte complicada da política da UE através de algo concreto. Resultou. Os colegas mantiveram o interesse, fizeram montes de perguntas e comentários no final e alguns até nos congratularam. Pela primeira vez numa apresentação cá não levei qualquer apontamento sobre o que ía dizer, expliquei e analisei os dados consoante eles apareciam nos slides naturalmente e de cor. Não me engasguei (apesar de ter ficado presa uma ou duas vezes numa palavra; acontece-me sempre, tanto em português como em inglês; mas consegui sempre dar a volta e continuar o que queria dizer :) ) e consegui improvisar e responder às perguntas dos colegas de forma satisfatória e construtiva.

Isto tudo para dizer que o sentimento de dever cumprido e de orgulho no final da apresentação era mais que muito. O pânico dos essays desapareceu como por magia e um novo sentimento substituiu-se-lhe: confiança. Já tenho uma ideia clara do que um essay é. Ainda que como aplicar isso a diferentes casos e temas seja outra história.

Quanto à dissertação final, ou tese, nenhum pânico semelhante ao da semana passado se instalou. Parece-me apenas um mega-essay, mais elaborado e mais extenso mas com a mesma estrutura. E com isso eu posso lidar :).

Em suma, o dia de hoje não podia ter corrido melhor. Uma apresentação "very interesting", um essay elogiado, algum tempo passado com 3 colegas que timidamente se vão tornando amigas, o dia com temperaturas mais baixas desde que cheguei mas no qual não senti frio NENHUM (os dois pares de collants devem ter ajudado), o papelinho na caixa do correio para ir levantar o router da internet (após mês e meio!) e os segredos da temida dissertação finalmente revelados fizeram-me pensar enquanto caminhava para casa "Realmente só faltava começar a nevar!..."








S. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Harry Potter: sim ou não

O facto de o filme ter estreado e não ter ainda decidido ir vê-lo anda-me a moer a consciência.

É uma espécie de pedrazinha no sapato que não perturba mas que de vez em quando uma pessoa se lembra que está lá. E a verdade é que nem sequer tenho a certeza se o vou ver.

Porque a questão é que este é o último livro (ainda que não o último filme) e daqui a cerca de um ano a histeria Harry Potter vai acabar. E estou em Londres, bolas! Ainda no outro dia deparei-me com a lista de lugares onde filmaram cenas dos filmes e fiquei surpreendida com a quantidade deles onde já estive (para não falar de dois pelos quais passo todos os dias). A histeria e o entusiasmo deviam ser mais que muitos.

Mas não são e eu sei perfeitamente porquê. Não houve um único filme em que não saísse profundamente desapontada do cinema. O showbiz, a má qualidade dos actores principais e os directores duvidosos fazem com que o grande foco sejam os efeitos especiais em detrimento da história. Isso irrita-me profundamente. Harry Potter não tem NADA a ver com magia e criaturas fantasiosas. Tem a ver com a natureza humana, com fazer as escolhas certas e desafiar o establishment quando é preciso. Ensina coragem, o valor da amizade, o poder da determinação e a importância de agirmos consoante os nossos valores. Mostra que o "lado do mal" nunca é algo completamente definido e que a distinção do "bem" e do "mal" é uma luta diária e nunca acabada.

De maneira que escolhi não ter ido ver o último filme (6º). A história acaba sempre deturpada e pormenores importantes transformados para ficarem melhor na tela. Eterna luta entre o cinema e a literatura.

Ora agora para este último livro insistiram dividi-lo em dois filmes, ao que parece para contar a história como deve ser. O que é uma grande treta porque o último filme é o rematar dos fios de história desenvolvidos ao longo dos livros. Se esses fios não foram desenvolvidos nos outros filmes, é impossível serem-no agora no último.

Mas a razão mais importante é outra. A histeria Potteriana para mim acabou quando li "the end" no sétimo livro. Não consegui voltar a lê-lo. Nunca mais li a série do princípio ao fim. Foi uma decisão meio consciente meio insconsciente mas necessária afinal de contas para a minha sanidade mental. A história acabou. A ânsia constante de esperar pelo próximo livro para saber o que se passaria a seguir acabou com ela.

Jurei que este post seria curtinho e que não me ía meter nesta explicação toda sobre Harry Potter porque é um assunto que não gosto particularmente de discutir. O impacto que teve na minha mentalidade e na minha formação a vários níveis é algo que não consigo explicar. A verdadeira essência dos livros é impossível de explicar a quem não os tenha lido de forma devota. Mas enfim, este blog está a tornar-se muito catártico :).

Voltando à questão inicial: Harry Potter: sim ou não? Provavelmente não. Se não pensar muito nisso. Se não ceder ao marketing constante que me invade a casa e os sentidos sempre que ligo a televisão ou caminho pela rua e um cartaz do filme me apanha desprevenida.  Acima de tudo se quiser evitar mais uma grande desilusão.

Nunca ter estado presente em Londres numa fila de livraria à meia-noite à espera de um livro de Harry Potter continuará um dos grandes (muito raros) arrependimentos da minha vida :) .





S. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Essays, Portugueses e Pânicos

Hoje foi um dia de preocupações académicas. Um daqueles dias em que tive de respirar fundo várias vezes para não começar a entrar em pânico.

Acontece que a aula extra sobre como escrever essays teve um efeito contraditório: fez-me ver que um essay não é algo inescrutável, como tudo o que é racional tem uma técnica (ok, não são nada de outro mundo, respira, até tens aqui uma folha com o que fazer e não fazer num essay! O que mais podes querer? respira..) mas por outro lado o que é exigido parece-me demais para mim.

Na aula de hoje de EU institutions a professora começou por explicar o que era esperado do essay final. Não, não é espetar bocados de livros sobre o assunto e não, não é dizer "eu defendo esta posição porque sim". Isso já eu sabia. Em teoria, porque na prática continuei a fazer isso - ainda que de maneira mais refinada - por toda a minha licenciatura todas as vezes (muito poucas) em que tive de fazer trabalhos de investigação. Basicamente lia-se alguns livros sobre o assunto e resumia-se os factos e as posições dos autores e estava feito. Dá cá um 18.

Ora o problema agora é que são pedidos estudos de caso. Dados empíricos que demonstrem os argumentos. Porque um essay (fiquei a saber hoje!) não é um resumo da literatura existente nem uma compilação de factos sobre determinado assunto; é antes uma tomada de posição controversa em relação a um tema muito específico, seguida - e esta é a novidade causadora do ataque de pânico - de informação empírica detalhada que apoie a defesa dessa posição.

Isto dá muito mais trabalho. Implica submergir nas bases de dados da União Europeia, vasculhar relatórios e actas de reuniões à procura de informação que suporte o nosso argumento. Quão mais fácil é dizer "eu acho que é assim porque o autor fulano disse que era assim, e ele sabe! porque fartou-se de investigar os documentos reais nas vastas bases de dados existentes"... Parece que agora não se pode fazer isso. Diz que os essays têm de ser trabalhos originais que acrescentem conhecimento e não sei quê.

De forma que comecei o dia bem, logo com um cheirinho do que a aula extra me iria relevar sobre esses temidos essays. E não melhorou. Estava eu a pagar o meu hot chocolate (amo amo amo) quando me deparo com a minha professora atrás de mim. "Ah, como é que estão a ir as coisas?", "Ah vão bem, tirando os mini-pânicos que se formam cada vez que penso nos essays finais. Vou agora assistir à aula extra sobre eles. Sabe, é que nunca fiz um." É aqui que ela arregala os olhos e diz "O que queres dizer com isso? Onde é que estudaste?!" O mini-pânico começa a formar-se. "Er, Portugal... Era tudo à base de exames." Ela tenta reconfortar-me: "Mas agora também tens exames, não é?", "Não, é mesmo tudo essays..." Os olhos arregalam-se outra vez e tenta disfarçar a preocupação: "Bem, tira muitos apontamentos na aula extra e se precisares de alguma coisa diz" assegura-me ela, lançando-me um sorriso reconfortante. Só não entrei em pânico completo porque tinha um hot chocolate comigo.

Pela primeira vez senti que a minha Univ Nova me tinha falhado. Preparação em trabalhos académicos foi algo que não tive como deve ser. Mas tive notas altas em trabalhos! Um método que foi altamente recompensado na licenciatura tornou-se inútil em mestrado.

Enquanto esperava pela aula conversei com a N. sobre dissertações e disse-lhe como achava que 10 mil palavras não eram assim tanto para uma tese de mestrado e como em Portugal eram 30 mil palavras. "A minha dissertação de licenciatura teve 50 páginas, tens alguma ideia de quantas palavras são?" Eu calei-me e chorei por dentro a ausência de hot chocolate para me reconfortar desta vez.

A amiga do lado: "De onde és?", "Portugal", "?!?! não pareces portuguesa! És tão branca e tens cabelo claro...". Hahaha, estereótipos são sempre uma fonte de imensa risada da minha parte :D . "Mas sou baixa, portanto isso qualifica-me como portuguesa.", "Ah, tens razão." A N. perguntou-lhe então como é que ela achava que eram os portugueses: "Então, são mais escuros e de cabelo preto". Gostei imediatamente desta rapariga :D.

A aula em si teve o efeito contraditório como já referi, mas pelo menos agora já tenho um plano sobre o que fazer e o que não fazer num essay, o que incluir e não incluir, as preocupações a ter. De forma que o balanço foi positivo.

Tal aula coincidiu com a preparação do meu primeiro essay em grupo. Será apenas um quarto do tamanho dos essays finais e já está a dar tanto trabalho :( . Como é suposto ser apresentado dá para ter depois em conta as impressões e os comentários da professora. Amanhã vou escrever a minha parte. Espero sobreviver para contar :D




S. 

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fog ou Mist?

Ontem descobri que os ingleses têm duas palavras para designar nevoeiro: fog e mist . Aparentemente há uma diferença entre os dois, já que a BBC dava mist para ontem e fog para hoje. Hum.

Segundo o Longman Dictionary:  

Fog: cloudy air near the ground which is difficult to see through

Mist: a light cloud low over the ground that makes it difficult for you to see very far

Basicamente é exactamente a mesma coisa. A BBC apenas gosta de brincar com a semântica. Para parecer que o tempo varia. "Ah, hoje vai estar mist, mas amanhã já não! Vai estar fog..."

Não se vê um palmo à frente do nariz, traduzindo para linguagem clara e precisa.


S.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

England state of mind

Cambridge foi a minha primeira saída fora de Londres. A cidade que se tinha tornado num mundo imenso a ser explorado foi assim relativizada: é apenas um grande espaço inserido num espaço muito mais abrangente chamado Inglaterra.

Estava em pulgas para ter o meu primeiro cheirinho da Inglaterra rural, ou seja, vislumbrar a verdadeira essência do meu país adoptivo (por um ano). Porque Londres, fabulosa como é e apelando a todos os sentidos como o faz, não dá a conhecer a verdadeira "Inglaterra". Porque é uma capital e uma cidade cosmopolita,. Tal como Nova York, nunca pode ser expressão de um país só porque é um centro do mundo.

Ainda que uma auto-estrada não seja o melhor lugar para se observar as terras circundantes, deu para ter os meus primeiros vislumbres de pequenas aldeias no meio de campos, casas de telhados inclinados, e verde, tanto verde como em Portugal não é possível haver. E os subúrbios! Filas e filas de casinhas todas iguais, testemunha de um planeamento rigoroso e de uma uniformidade que chega a ser desconcertante.

A minha ideia de Inglaterra (ou mais concretamente, de Grã-Bretanha) é uma mistura de vários elementos que fui recolhendo ao longo das minhas muitas leituras. A Grã-Bretanha celta e druida das Brumas de Avalon, a Britannia romana, a Escócia de Julliet Marilier nas Crónicas de Bridei, Idade Média da Guerra das Rosas e dos Tudor, a Inglaterra das manor houses de Jane Austen e, claro, a Grã-Bretanha mágica/muggle de Harry Potter. Todas estas leituras, umas mais do que outras, contribuíram para formar uma imagem e identidade de um sítio que só agora comecei a explorar timidamente. É essa a beleza da literatura :) .

Cambridge.

Vila (ou cidade pequenina) que vive pela, em função e por causa da universidade homónima. Tudo fica perto de tudo, o centro é agradável e acolhedor, lojas que se encontram em todo o lado encaixadas no meio de lojas tradicionais. Toda a gente anda de bicicleta. Nas estradas há o perigo de se ser atropelado mas não por carros. Os gradeamentos das capelas e colleges estão repletos de bicicletas estacionadas e papéis que anunciam inúmeros eventos/palestras/meditações/reuniões. Cambridge tem a mesma atmosfera de Richmond, uma cidade nos subúrbios de Londres. Todos os serviços estão lá, nada falta, a não ser a confusão e dinâmica acelerada da capital. Há um cuidado e atenção pelo pormenor e pelo ordenamento da vila impossível na maior cidade da Europa.

As colleges funcionam nos mesmos edifícios imponentes em que foram inauguradas no séc. XV, o que é bastante desconcertante. Como é possível ter aulas num mosteiro?! Num mosteiro lindíssimo ainda por cima. E depois os claustros e os jardins verdíssimos e bem cuidados, onde uma pessoa tem sempre presente a noção que está dentro de um postal.

As portas dos escritórios dos professores parece que dão para quartos de monges! Dá a sensação que se as abrirmos de repente vamos encontrar um monge ajoelhado a rezar aos pés de uma cama de madeira com colchão de palha.

As bibliotecas devem ser inimagináveis...


 


 S.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Aleatoriedades

Como estão quase a fazer 2 meses que cá estou e porque não tenho mais nada de jeito para dizer aqui vai uma pequena lista de coisas completamente aleatórias que eu descobri sobre Londres e que me puseram um sorriso nos lábios quando me deparei com elas:

- todas as tomadas têm um interruptor;

- os carros fazem a rotunda pela esquerda;

- as pessoas pagam uma licença anual para poder ver canais normais de televisão (os cegos ou surdos só pagam metade... a sério!);

- há sempre algum problema nalguma linha de metro. Quando não há, anunciam pelos altifalantes do metro como se fosse uma coisa anormal...

- os carteiros andam de bicicleta;

- é preciso ter mais de 18 anos para poder comprar cola;

- eu não passo por mais de 18 anos... (pediram-me BI. 2 vezes)

- as passadeiras têm escrito no chão para onde olhar antes de atravessar a estrada (look left  «---- )

- a mercearia polaca da minha rua vende as melhores salsichas do mundo;

- há corvos por todo o lado. Seriously. É perturbante...

- já vi um corvo e uma gaivota partilharem uma refeição no parque de estacionamento em frente a minha casa;

- há pêra Rocha e chouriço alentejano à venda no meu supermercado;

- grande parte dos museus e parques são grátis;

- o semáforo fica laranja antes de ir para o verde (cuidado! vai ficar verde! ... )

- o lixo é recolhido uma vez por semana;

- na noite anterior as pessoas metem os sacos do lixo no passeio em frente à porta de casa;

- o Bonfire Night dura 5 noites...

- não chove assim tanto como dizem.


E pronto. É tudo o que me consigo lembrar de momento. Digam-me os que mais gostaram e os que acharam mais estranhos! ;)








S. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Estereótipos revisitados

Afinal não sou tão imune a estereótipos como me julgava ser.

Preconceitos são coisas terríveis porque não são racionais. Aparentam ter uma lógica que na realidade não têm pois não sobrevivem a uns poucos argumentos destinados a refutá-los. Mas alojam-se no subsconsciente e provocam reacções irracionais.

Reflexão filosófica porquê? Simplesmente porque hoje ia no metro, meio a dormir, em pé (maldito aeroporto que ficas na minha linha, todas as horas parecem de ponta...) quando entra uma senhora coberta da cabeça aos pés por uma tão mediática burka. Não era de certo a primeira vez que via uma (eu vivo em Hounslow, afinal de contas) mas a surpresa é sempre a mesma.

É vergonhoso se admitir que me deu um impulso de sair do comboio logo naquela paragem? Lá entrou o preconceito. Mulher velada = potencial bombista suicida.

Porque burka significa esconder e esconder significa desconhecido. Esconder o quê? Porquê? Uma burka é perfeita para esconder uma identidade (o que faz com uma eficiência incrível) mas também o pode ser a esconder um objecto... A minha imaginação fértil aliada ao mediatismo dos atentados terroristas tem destas coisas. 

Mas mais do que este preconceito, que afinal só gerou um impulso inicial de fuga (não concretizado, tenho a dizer. Que coragem da minha parte, lol), uma mulher velada da cabeça aos pés mistifica-me. Porquê? Em nome de quê? Numa altura que se fala tanto de relativismo cultural e de multiculturalismo esta é uma coisa que não pode estar bem. Não consigo compreender nem aceitar como correcto. Não pode ser correcto um ser humano sentir necessidade de colocar entre si e o mundo uma barreira física intransponível que o oculta do olhar público. Nenhum argumento que vi me convenceu ainda do contrário.

Ah, e tenho que admitir, em jeito de conclusão, que o impulso não se concretizou em acção por uma razão muito simples: a senhora quando entrou disse para alguém em quem tocou sem querer "Sorry". O que a tornou humana mais uma vez :)



S.