O facto de o filme ter estreado e não ter ainda decidido ir vê-lo anda-me a moer a consciência.
É uma espécie de pedrazinha no sapato que não perturba mas que de vez em quando uma pessoa se lembra que está lá. E a verdade é que nem sequer tenho a certeza se o vou ver.
Porque a questão é que este é o último livro (ainda que não o último filme) e daqui a cerca de um ano a histeria Harry Potter vai acabar. E estou em Londres, bolas! Ainda no outro dia deparei-me com a lista de lugares onde filmaram cenas dos filmes e fiquei surpreendida com a quantidade deles onde já estive (para não falar de dois pelos quais passo todos os dias). A histeria e o entusiasmo deviam ser mais que muitos.
Mas não são e eu sei perfeitamente porquê. Não houve um único filme em que não saísse profundamente desapontada do cinema. O showbiz, a má qualidade dos actores principais e os directores duvidosos fazem com que o grande foco sejam os efeitos especiais em detrimento da história. Isso irrita-me profundamente. Harry Potter não tem NADA a ver com magia e criaturas fantasiosas. Tem a ver com a natureza humana, com fazer as escolhas certas e desafiar o establishment quando é preciso. Ensina coragem, o valor da amizade, o poder da determinação e a importância de agirmos consoante os nossos valores. Mostra que o "lado do mal" nunca é algo completamente definido e que a distinção do "bem" e do "mal" é uma luta diária e nunca acabada.
De maneira que escolhi não ter ido ver o último filme (6º). A história acaba sempre deturpada e pormenores importantes transformados para ficarem melhor na tela. Eterna luta entre o cinema e a literatura.
Ora agora para este último livro insistiram dividi-lo em dois filmes, ao que parece para contar a história como deve ser. O que é uma grande treta porque o último filme é o rematar dos fios de história desenvolvidos ao longo dos livros. Se esses fios não foram desenvolvidos nos outros filmes, é impossível serem-no agora no último.
Mas a razão mais importante é outra. A histeria Potteriana para mim acabou quando li "the end" no sétimo livro. Não consegui voltar a lê-lo. Nunca mais li a série do princípio ao fim. Foi uma decisão meio consciente meio insconsciente mas necessária afinal de contas para a minha sanidade mental. A história acabou. A ânsia constante de esperar pelo próximo livro para saber o que se passaria a seguir acabou com ela.
Jurei que este post seria curtinho e que não me ía meter nesta explicação toda sobre Harry Potter porque é um assunto que não gosto particularmente de discutir. O impacto que teve na minha mentalidade e na minha formação a vários níveis é algo que não consigo explicar. A verdadeira essência dos livros é impossível de explicar a quem não os tenha lido de forma devota. Mas enfim, este blog está a tornar-se muito catártico :).
Voltando à questão inicial: Harry Potter: sim ou não? Provavelmente não. Se não pensar muito nisso. Se não ceder ao marketing constante que me invade a casa e os sentidos sempre que ligo a televisão ou caminho pela rua e um cartaz do filme me apanha desprevenida. Acima de tudo se quiser evitar mais uma grande desilusão.
Nunca ter estado presente em Londres numa fila de livraria à meia-noite à espera de um livro de Harry Potter continuará um dos grandes (muito raros) arrependimentos da minha vida :) .
S.
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