domingo, 11 de dezembro de 2016

Annus Horribilis

Em 2015, os alemães fizeram uma comédia que girava em torno de um Hitler transportado para os nossos dias, muito frustrado com a Alemanha aberta, multicultural e reconciliadora do séc. XXI, e de como as pessoas não o levavam a sério, muitas tomando-o por um humorista e até agindo de forma benévola e quase condescendente para com ele, como se trata uma criança ou uma pessoa que não bate bem da cabeça. A piada aqui era que estávamos todos tão acima do tipo de retórica que levou um Hitler ao poder e o mundo à beira do apocalipse que os argumentos do próprio não seriam levados a sério por ninguém hoje em dia.



Em finais de 2016, acho que este filme já não tem assim tanta piada.


S.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Escócia MAY not be independent



‘Because not everybody knows this but the full title of my party is the Conservative and Unionist Party. And that word, unionist, is very important to me. It means we believe in the Union, the precious, precious bond between England, Scotland, Wales and Northern Ireland.’

Bom, então adeus, 2º referendo sobre a independência da Escócia.

(De resto, discurso bastante humano, justiça social como principal tema e preocupação. A ver vamos.)




S.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

História nacional done right

"O transporte de trabalhadores escravos de África, iniciado pelos Portugueses para o desenvolvimento do Brasil, não tardou a envolver as colónias espanholas, inglesas, francesas e holandesas da América. Esta deslocação forçada de um número de indivíduos estimado em doze milhões provocou uma quantidade enorme de mortes, durante a viagem e nos primeiros anos de cativeiro. A imposição do domínio português em portos cruciais (e no território circundante) de África e da Ásia causou a destruição de famílias, comunidades e grupos étnicos, bem como o desmembramento de sistemas culturais e políticos. Por estas razões, a publicação deste livro carece de toda e qualquer natureza comemorativa. Ao escrevermos história, a nossa intenção é ir além de uma apropriação ideológica do passado e desconstruir conscientemente os sucessivos mitos que foram criados por várias historiografias. A necessidade de reescrever a história da expansão portuguesa decorre da nossa recusa de perspectivas ideológicas ou nacionalistas específicas; o nosso objectivo é superar as camadas de historiografia retrógrada que ainda são comuns."

in A Expansão Marítima Portuguesa 1400-1800, Francisco Bethencourt e Diogo Ramada Curto (eds)


Página 5 e já estou a gostar muito deste livro.



S.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Escócia na UE

No meio do clusterfuck que está a ser o Reino Unido nestes dias imediatamente a seguir ao Leave ter ganho o referendo, os meus olhos estão postos em Edimburgo e na forma como a Escócia está a lidar com uma decisão que não foi a sua. A minha admiração vai para a maneira como a Nicola Sturgeon está a lidar com a situação. Pá, que classe, que sobriedade, que praticalidade, que contraste com os mentirosos, auto-calculistas mas sem qualquer plano à vista para o país, retratores dos machos alfa em Westminster.

Logo na manhã em que os resultados se tornaram oficiais, a First Minister da Escócia fez um discurso impecável e bastante sóbrio considerando as circunstâncias onde congratulou a Escócia pelo resultado expressivo a favor do Remain, reiterou que os imigrantes europeus continuavam a ser benvindos e agradeceu a sua contribuição ao país ('Scotland is your home'), estabeleceu os passos seguintes para explorar as possibilidades de manter a Escócia na UE e respeitar o resultado do referendo, e ainda agradeceu ao Cameron o seu trabalho como Primeiro-Ministro do UK durante 6 anos ('leadership is hard'), desejando-lhe sucesso para o seu futuro.


A sério, se quiserem restaurar fé na competência de líderes políticos, perdei dez minutos do vosso dia a ouvir a senhora. Bónus: o sotaque encantador escocês com que ela debita tudo isto.

Desde então tem cumprido sem falhas o que se comprometeu fazer: reuniu-se com o resto do governo escocês para estabelecerem uma posição comum e pediu ontem ao parlamento escocês um mandato para negociar a posição da Escócia na Europa (em relação a Westminster, Bruxelas e com os outros estados membros), que obteve com aprovação de 92 contra 0 deputados (fora os deputados conservadores que se abstiveram). O seu discurso no parlamento escocês é incrível mais uma vez pela serenidade com que descreve a situação da Escócia, a clareza com que explica o que pretende fazer a seguir, e a forma como lida com a questão da independência, que não é de todo a questão central para ela (duplamente incrível vindo de uma independentista ferrenha do Scottish National Party). Já esteve em conversações com o mayor de Londres, Sadiq Khan (outro exemplar de dignidade e tolerância neste lodaçal em que se tornou a política britânica), com o governador de Gibraltar e com o líder da Irlanda do Norte para encontrar pontos em comum sobre a permanência destas regiões na UE, e iniciou agora uma ronda de reuniões com os líderes dos grupos parlamentares em Bruxelas para discutir opções para a Escócia (está neste momento com o Guy Verhofstadt, líder dos liberais e democratas e o MEP que disse ontem no Parlamento Europeu que já não faltava muito para se acabar com o maior desperdício do orçamento europeu: o salário do Farage). 



A posição de apoio aos imigrantes europeus do mayor londrino, em contraste com o silêncio vergonhoso do governo britânico e dos líderes do Brexit na condenação aos ataques xenófobos e racistas após o referendo. 



Acho que ele estava há muito tempo à espera de poder dizer isto, haha.


Penso que esta é uma posição partilhada pela grande maioria dos deputados escoceses - basta olhar para a aprovação 92-0 do curso de ações a tomar pela Sturgeon, para as intervenções dos deputados escoceses em Westminster ontem durante as questões ao Primeiro-Ministro e dos MEPs escoceses em Bruxelas ontem na primeira reunião do Parlamento Europeu depois do referendo ('I beg you, do not let Scotland down!' Alyn Smith MEP), e por uma maioria considerável da população escocesa. 


Uma ovação de pé no Parlamento Europeu após o eurodeputado escocês pedir aos colegas europeus para não deixarem mal a Escócia.


Discurso do deputado escocês Angus Robertson, líder da bancada do SNP em Westminster, afirmando que a Escócia é um país europeu e que arrancá-la da UE será uma decisão completamente inaceitável do ponto de vista democrático.

Aliás, a Sturgeon no seu discurso ao parlamento escocês refere-se ainda aos mesmo assim relevantes 38% eleitores que votaram para sair da UE e afirma que não pretende ser surda às preocupações deles mas que precisa da união de todos os quadrantes para conseguir uma boa situação para a Escócia dentro da Europa. A grande diferença aqui é que o Remain ganhou em todos os círculos eleitorais da Escócia, pelo que não há a divisão territorial entre apoiantes do Leave e do Remain que aconteceu no Reino Unido e que está a dividir o país. Neste sentido há um inequívoco e muito claro mandato democrático do eleitorado para que a Escócia se mantenha na União Europeia. Significa isto necessariamente independência do UK? 



Não. E muito se tem falado do precedente da Gronelândia, que em 1985 abandonou a União Europeia sem que o país a que pertence, a Dinamarca, o tenha feito. E do exemplo das Ilhas Faroé, um arquipélago que pertence à Dinamarca mas que não pertence à União Europeia (lembro-me a propósito disto uma colega de mestrado faroense que, apesar de ser dinamarquesa, por viver nas Ilhas Faroé, ter tido que pagar as propinas relativas aos estudantes internacionais, muito superior ao que os estudantes britânicos e europeus pagam). Agora, é certo que a importância cultural, populacional e económica da Escócia é muito superior a estes dois territórios e a verdade é que a situação da Escócia seria o inverso destes dois exemplos: uma parte de um país continuar a pertencer à UE quando o país em si mesmo a abandona. Mas o ponto aqui é que a independência não é a única nem sequer inevitável situação para a Escócia permanecer na UE já que existem estas exceções em que partes de um país pertencem e não pertencem à UE. E é por isso mesmo que o discurso da Sturgeon não revolve à volta da independência mas sim de explorar todas as opções para respeitar o desejo dos escoceses de se manterem na Europa ('every option must be on the table'). Os media têm-se focado muito na possibilidade de um segundo referendo sobre a independência escocesa e alarmaram que os papéis já tinha sido metidos para organizá-lo mas acho que estão a subestimar a compreensão da Primeira-Ministra escocesa sobre os obstáculos em convencer o eleitorado - uma segunda vez - a sair do Reino Unido, e a sobrestimar a vontade política dela de se meter em mais um uns meros 2 ou 3 anos depois do referendo falhado. Vontade pessoal, acredito muito; política, assim-assim.

Porque, vejamos. As circunstâncias em relação ao referendo de 2014 alteraram-se significativamente, fundamentalmente, aliás. Na altura o Better Together explorou - e com razão - os obstáculos que a Escócia teria em voltar a pertencer à União Europeia se saísse do Reino Unido: teria com grande probabilidade que se candidatar como qualquer outro país para entrar na União, o que demoraria anos e a incerteza e caos que o entretanto causaria. A saída da UE foi uma preocupação grande que levou uma parte considerável dos eleitores a preferirem o status quo. Ora, isto é precisamente o contrário do que se passa neste momento. A Escócia está perante a realidade de que vai ser tirada da UE contra a sua vontade precisamente por ser parte do Reino Unido e portanto este argumento passa não só a ser nulo como a virar-se ao contrário: a independência da Escócia agora abriria-lhe caminho a uma pertença da UE, como é o desejo de 62% dos eleitores.

Mas o problema aqui é que parece que, a haver um segundo referendo de independência, os escoceses se deparariam com a seguinte escolha fundamental: a qual das uniões quero pertencer, Reino Unido ou União Europeia? E não estou nada convencida de que mais de metade da população escolhesse a UE. Isto porque não importa quão europeístas sejam os escoceses, quão 'outward-looking' ou 'cosmopolitan' e 'progressive' (palavras da Nicola Sturgeon no discurso de 24 junho), os ingleses, irlandeses do norte e galeses serão sempre 'our closest neighbours and best friends' (também palavras da Sturgeon, no discurso ao parlamento escocês de 28 junho, se não me engano). As relações culturais, familiares e sociais são muito mais estreitas com o resto do UK do que com o resto da Europa. Para não falar das económicas, é claro. A vasta maioria das transações económicas da Escócia faz-se pela fronteira - inexistente - com a Inglaterra. Em 2014, o grande medo da independência seria o de se erguer uma fronteira muito real, muito custosa, entre a Escócia e o resto do Reino Unido (por virtude da Escócia deixar de pertencer à UE e portanto ao Mercado Único europeu). Vão eles agora querer erguer tal fronteira com a Inglaterra como preço para o acesso a esse mesmo Mercado Único, considerando que a enorme fatia de comércio é feita é precisamente com os vizinhos do sul? Não acredito.

Isto vai depender muito do tipo de acordo que o Reino Unido conseguir com a UE. A maior das probabilidades é manter-se o acesso ao Mercado Único e a consequente liberdade de circulação de bens, serviços e pessoas que é condição sine qua non do mesmo (e aqui é que está a parte mais imbecil e masoquista do Leave: o Reino Unido continuará a aceder ao Mercado Único porque o contrário disso é suicídio económico, continuará portanto obrigado a respeitar a liberdade de circulação não só de bens mas também de pessoas, continuará a ter que pagar contribuições para o orçamento comunitário para aceder a esse mercado - vide o caso da Suíça - e continuará a ter que obedecer às decisões do Tribunal Europeu de Justiça, mas terá perdido a sua voz na produção das regras que regem tudo isto. Ninguém, - e isto é a tragédia - ninguém, vai portanto ficar feliz com a saída da UE: nem os que votaram a favor dela para controlar a imigração, acabar com as contribuições para a UE e para recuperar soberania, nem quem votou para sair porque enfraquecerá a posição do UK na Europa e no mundo). 





Neste cenário a independência da Escócia não ditaria o erigir de uma fronteira com a Inglaterra porque ambos pertenceriam ao Mercado Único. Mas então para que quereria a Escócia independência? Apenas se eles estiverem realmente interessados em ter uma voz na produção das leis europeias que terão que obedecer, ao contrário do que parece ser a posição do resto do UK. Valerá essa voz à mesa europeia a secessão do Reino Unido? Mais uma vez, não acredito. Mesmo que as sondagens a favor da independência sejam agora de 60% dos eleitores.

Mas para que a Escócia mantenha todas as opções em aberto para se manter na UE, é fundamental que um referendo sobre a independência, a acontecer, seja antes de o Reino Unido sair formalmente da UE. Porque assim que o artigo 50 for invocado pelo governo britânico, as negociações começam entre a UE e o país cessante e têm a duração máxima de dois anos (extensível se acordado unanimemente por todos os 27 estados membros). A partir daí os tratados deixam de se aplicar ao Reino Unido, i.e. o Reino Unido é corrido da UE sem cerimónias. A Escócia seria arrastada para fora da UE como consequência e, mesmo que conseguisse independência depois, teria que voltar a candidatar-se à adesão da UE. Há portanto uma janela temporal muito apertada para a Sturgeon explorar as opções para a Escócia se manter na Europa, incluíndo a eventual organização de um referendo para a independência. Foi por isso mesmo que já começaram os procedimentos legais para a realização deste referendo, não porque ele seja inevitável, mas para que, em se querendo (como último recurso, acrescentaria eu), ele se mantenha uma possibilidade dentro desses 2 anos de negociações que o UK tem. Acho que ela tem tempo porque nem o Cameron, que sacudiu as mãos da responsabilidade das consequências deste referendo, nem os conservadores a favor do Brexit e potenciais Primeiros-Ministros, como o Boris Johnson ou o Michael Gove, estão com pressa em invocar o artigo 50. Sabem que quem o fizer vai ser o culpado pelas consequências merdosas do voto Leave (e, oh, vide acima com a questão do Mercado Único, como elas vão ser merdosas para quem quis sair), principalmente por quem votou Leave. 



O problema com a outra opção, i.e. o Reino Unido fora da UE com a Escócia a manter-se mas sem a independência, é como é que isto funcionaria em termos de representação. O que é que significa a Escócia manter-se na UE? Seria ter assento à mesa do Conselho Europeu e do Conselho de Ministros, eurodeputados escoceses eleitos como os outros estados membros e possivelmente um comissário europeu na Comissão Europeia? Mas a Escócia não é um estado, como poderia sentar-se à mesa com os outros estados membros? A Escócia é parte do Reino Unido, se o Reino Unido sai não é possível ela manter-se com voz em pé de igualdade com os outros estados membros; ela é apenas uma região. A não ser que, a sair da UE, saíssem apenas Inglaterra e Gales, e o resto do Reino Unido (Escócia e Irlanda do Norte) se mantivesse; assim Inglaterra e Gales teriam o estatuto da Gronelândia, enquanto o Reino Unido se manteria na UE formalmente (mas com a grande maioria da população, território e poderio económico fora dela). Mas para isto era preciso que os quatro países britânicos tivessem um estatuto constitucional igual dentro do Reino Unido, o que não é de todo o caso (Inglaterra não tem um parlamento ou qualquer assembleia representativa, como é o caso da Escócia ou de Gales, muito porque Westminster aka o governo britânico aka o Reino Unido é quase sinónimo dos interesses ingleses, e esta região historicamente sempre dominou as regiões vizinhas. O Reino Unido está muito longe de ser um estado federal e a devolução de poderes às regiões é uma coisa extremamente recente, com não mais de 20 anos). Não é pois possível que a Escócia e eventualmente a Irlanda do Norte se continuem a sentar à mesa europeia em nome do Reino Unido (sem a presença da Inglaterra).

Que imbróglio do caraças. Não invejo o papel da Sturgeon porque reconheço a complexidade da situação e as águas desconhecidas em que terá que navegar se quiser dar consequência à decisão do eleitorado de continuar na UE. Tudo consequências de uma decisão que não foi a dela, nem dos seus eleitores. Acho mesmo que esta é uma batalha mais dura e difícil do que a de lutar pela independência há dois anos atrás, que se revelou infrutífera. Talvez a melhor opção será mesmo a de não fazer nada, esperar pelo novo acordo entre a UE e o Reino Unido que, muito provavelmente como disse em cima, será uma pertença ao Mercado Único e manutenção da liberdade de circulação, portanto sem nenhuma consequência prática para as empresas ou para as pessoas. Essa é a negociação mais lógica e provável porque a que melhor serve os interesses britânicos e europeus. Dito isto, não sei não, porque a imbecilidade, irracionalidade e o masoquismo parecem estar na ordem do dia. Como diz o outro, tudo é impossível até ser feito. Por isso a Sturgeon sabe melhor do que esperar quietinha que o governo britânico negoceie um bom acordo com a UE e deixar nas mãos destes líderes Brexiteers sem noção o futuro da Escócia. Já começou as conversas em Bruxelas, portanto.




S.  


P.S. A questão da Escócia é interessante mas ainda ninguém discutiu a sério a questão da Irlanda do Norte (exceção aqui), bastante mais sensível e que também já regista movimentações (o líder da Irlanda do Norte já esteve em conversações com o líder da República da Irlanda, o vice-presidente do partido Sinn Féin, espécie de braço político do IRA, e reclamou a necessidade de se fazer um referendo para a união das duas Irlandas). Não esquecer que o Good Friday Agreement de 1998, que trouxe a paz àquela região, resta na premissa de que não existiria nenhuma fronteira entre as duas Irlandas em virtude de ambas estarem na UE; vai agora a Inglaterra criá-la, ao arrastar a Irlanda do Norte para fora da UE. Parece que a guerra não é um conceito tão longínquo como no dia 23 de junho. Que o bom senso e os bons líderes nos protejam.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Pronto, adeus, está tudo dito.


'It is not that there is no difference between men and women; it is how much difference that difference makes, and how we choose to frame it.'

Siri Hustvedt, The Summer Without Men


'Não é que não haja diferenças entre homens e mulheres; é antes quanta diferença essas diferenças fazem, e como é que escolhemos enquadrá-las.'

quarta-feira, 20 de abril de 2016

A sub-confiança de umas é a sobre-confiança de outros

Há uma dinâmica entre homens e mulheres que só comecei a prestar atenção há pouco tempo mas que agora que me apercebi dela, vejo como ela é tão omnipresente: o mansplaining. E que irritante que ela é.

Há uma data de estudos organizacionais e em contexto de dinâmicas interpessoais que concluem que num grupo misto, não importa a proporção dos sexos, os homens tomam a palavra muito mais vezes e falam muito mais tempo do que as mulheres. O que não deixa de ser interessante tendo em conta que o estereótipo é o da mulher tagarela que não se cala e o do homem que não se sabe expressar por palavras. Mas a realidade é a inversa e desafio-vos a prestarem atenção a isso da próxima vez que estiverem num grupo misto, particularmente em contexto de trabalho.

O The Guardian há uns tempos publicou um artigo bastante interessante sobre as mulheres do Bloco de Esquerda e de como o partido tomou medidas conscientes para dar espaço à "ascensão" das mulheres nas suas fileiras ao dar-lhes o mesmo tempo de antena que aos homens, ao impedir conscientemente que os homens - especialmente os mais velhos - repetissem o que as mulheres diziam mas por outras palavras (outra técnica muito querida do mansplaining; há mais alguns estudos que concluíram que o que é dito por uma voz masculina é acatado com mais peso e mais poder do que a mesma coisa dita por uma voz feminina, não sei se por associarmos o homem ao poder se pelo facto mais primitivo de a voz masculina ser por norma mais grave e sonora):

'The women started to take action to combat the macho traits of a party that had deep roots in Portuguese society. “At the end of our meetings, we count how many times men and women took the stage to speak. Men always speak more than women – but usually they have nothing new to say. Women are more cautious about speaking in public, but when they do they’re adding new ideas or information,” says Joana Mortágua. Martins says the party now trains women in public speaking.
“I encourage younger and shyer women to speak. And sometimes I scold the older male party figures, asking them to resist the temptation to explain what a woman said once she’d finished speaking,” she says.'

Acho que na origem disto tudo está a mesma overconfidence dos homens e a underconfidence das mulheres que os leva a concorrer a empregos desde que tenham um dos requisitos pedidos, e que as impede de concorrer se houver um requisito que não preencham. A mulher é para ser vista, não ouvida, de preferência com um sorriso nos lábios e um aceno pronto de cabeça. Mulheres com opiniões são mandonas, zangadas com a vida, cabras, chatas, histéricas. Homens com opiniões são assertivos.

Desde que comecei a frequentar cafés como ambiente de trabalho durante várias horas seguidas - esses fantásticos sítios para observar pessoas - que fui reparando, devagarinho mas repetidamente, como isto é tão observável na vida real. Sei que estas impressões escassas valem o que valem empiricamente, mas juntando-as às conclusões dos estudos referidos acima (que uma googlada rápida vos pode num instante abrir o caminho) fazem-me notar um padrão: sempre que há um homem e uma mulher numa mesa do lado, é quase garantido que ele não só vai falar muito mais do que ela, como é muito provável que o vá fazer para lhe explicar coisas, frequentemente de uma forma levemente condescendente. Acho que isto é mais pronunciado em casais mais velhos. E isto não se prende com o facto de ele saber necessariamente mais do que ela sobre a coisa que está a explicar, ou até de saber muito sobre o assunto, mas a confiança com que se fala de assuntos e argumentamos acerrimamente está muito raramente relacionada com o quanto percebemos deles, infelizmente. Isso não os demove e lá continuam eles a explicar, a explicar, a explicar, interrompidos por alguns monossílabos da parceira de diálogo, enquanto eu, na mesa ao lado, começo a maldizer internamente as pessoas que amam ouvir a sua própria voz, e que não enxergam o quão aborrecidas estão a ser, ao mesmo tempo que secretamente invejo a confiança que é preciso ter para exteriorizar opiniões banais e para as quais confluiu pouca reflexão como se fossem descobertas muito importantes para a humanidade. Tomara a mim ter metade daquela confiança para falar de coisas sobre as quais me debruço todos os dias. (Tenho a maldição feminina da underconfidence, porra.)

Isto nas redes sociais então é mais que evidente, tanto que foi no contexto virtual que surgiu o conceito do 'mansplaining', abençoada língua inglesa, flexível, adaptável e viva quanto a nossa é relíquia formalesca poética. Fica aqui uma sátira sobre o fenómeno:


'Our uninformed girls are waiting for you to explain them simple concepts in a super condescending way.'





S.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O inimigo dentro de portas

Deparei-me com isto a propósito de outra coisa, e a minha reação foi concluir que a ignorância realmente às vezes é uma benção.

Todos os anos a Comissão Europeia produz um relatório sobre o progresso (ou regressão) em questões de igualdade de género, na Europa em geral e em cada país em particular. É uma coisa um pouco mais legalista e curto-prazo que os índices do EIGE, mas igualmente informativo. Tem até alguns exemplos de medidas que foram tomadas em países particulares e que podem constituir boas práticas. Por exemplo, neste último ano, é referido que a licença de paternidade aumentou de 10 para 15 dias úteis em Portugal, e que na Áustria criaram um novo crime - "violação da auto-determinação sexual" - que inclui atos sexuais praticados contra a vontade de uma pessoa, mesmo que não tenha sido usada violência, mas sempre que as reações da vítima demonstrem falta de consentimento, ou cujo consentimento foi obtido através de intimidação ou chantagem. Aquilo está dividido por cinco áreas, que correspondem mais ou menos às áreas da igualdade de género que a UE dá prioridade (portanto muito à volta do Mercado Único e do emprego):

- independência económica;
- igualdade salarial;
- igualdade em posições de decisão;
- violência de género;
- igualdade de género em países terceiros.

Foi um gráfico - aliás primeiro uma afirmação, depois o gráfico - na parte da violência de género que me prendeu a atenção: mais de metade dos assassinatos de mulheres ocorrem às mãos de parceiros ou família. 

Vou deixar assentar.

Mais de metade das mulheres que são assassinadas são-no às mãos de pessoas muito próximas.

MAS QUE RAIO.


Portanto, a mancha vermelha e azul são os homicídios perpetrados por parceiros íntimos e e familiares, tanto no gráfico das vítimas femininas como na das masculinas. O que salta à vista muito de repente é que sem dúvida que há muito mais homens vítimas de homicídios do que mulheres, pelo menos nos países europeus representados. Suspeito que isto seja uma tendência global, já que os homens estão com mais frequência envolvidos em atividades violentas, crime, gangs, etc, do que as mulheres e também sobre isto haverá muito a dizer (masculinidades tóxicas e por aí fora). O patriarcado não tem consequências nefastas só para as mulheres, e neste caso isso é bem visível. Se bem que, lá está, não é o caso de dominância do outro género - os homens são mortos na vasta maioria por outros homens, basta olhar a percentagem de presos, condenados, etc. É antes uma consequência nefasta das expectativas que lhes são impostas como género dominante, uma masculinidade gone wrong, se quisermos, ao invés de caso de opressão.

Mas regressando ao gráfico. Portanto, há muito mais vítimas de homicídio que são homens do que mulheres, mas reparem na diferença de proporções do perpetrador. Os homens são, na vasta maioria, mortos por "outros", ou seja, nem familiares nem parceiros íntimos, presumivelmente desconhecidos ou, não sei até que ponto os homicídios em contexto de gangs pesam nas estatísticas europeias, mas talvez também por "colegas" ou inimigos de gang (não necessariamente próximos mas também não inteiramente desconhecidos).

Isto não se verifica de todo no caso das mulheres que são mortas por outrém. Vejam-me a manchazorra vermelha dos "parceiros íntimos", que na Inglaterra e País de Gales atinge quase metade do total de homicídios. Isto para não falar da também bastante elevada barra azul, que representa o número de homicídios perpetrados por familiares da vítima. What the fuck! Isto vai contra o senso comum, a perspetiva geral que as pessoas têm do perigo e do risco, para não falar de quão errado moralmente é isto: as pessoas que nos são mais próximas deviam ser as que nos são mais seguras, as que nos querem bem. Andam-nos toda a vida a incutir o medo/cuidado para com os estranhos, não andes na rua sozinha, não saias à noite por aquela zona que é perigoso, e depois em termos de risco a nossa casa é um dos lugares mais perigosos onde se estar? What. the. fuck.

Eu já tinha visto estimativas que indicavam que a vasta maioria das violações ocorrem entre pessoas que se conhecem - o que, mais uma vez, custa a acreditar à primeira vista porque quando se fala em violadores o que salta à imaginação é um homem assustador, creepy, rua, becos escuros, um monstro, portanto. No caso das crianças, exatamente igual. Raptos, violência, abuso sexual, é quase sinónimo do homem na carrinha branca, o desconhecido que ludibria com doces, etc, quando na realidade a vasta maioria da violência e abuso sexual contra crianças acontece em casa ou em sítios familiares, através de pessoas bem conhecidas da vítima. Parece que, tal como para as mulheres, a casa é dos sítios mais perigosos para as crianças. E isto é aterrador.

De ressalvar que estas proporções também não são iguais em todos os países europeus representados no gráfico: na Lituânia e Letónia a maior parte dos homicídios de mulheres são realizados por "outros". E Malta não teve nenhum homicídio em 2013, de homens ou mulheres! Seria interessante investigar as razões para estas diferenças, ou esmiuçar melhor os números (quais são as categorias dentro de "outros"? Os amigos, estão incluídos nos "outros"?) e ver como eles mudam controlando variáveis como a origem étnica, religião (será que há mais incidência de homicídios por familiares em comunidades muçulmanas, com os crimes de honra, por exemplo?), etc.

Há uns tempos o Louis CK tinha feito umas piadas sobre o risco que os homens representam estatisticamente para as mulheres em contextos de intimidade. E é engraçado porque vê-se que ele está a contar estas coisas num show de stand up comedy mas ele está meio sério e a tentar convencer a plateia de que não está a brincar, que é mesmo verdade, que uma mulher entrar numa relação é um risco para a sua integridade física, de uma maneira que não o é para um homem. E a plateia vai gargalhando, como se ele estivesse a dizer que isto dos namoricos é um risco para as mulheres porque os homens são totós e nunca se sabe o que nos calha na rifa, e ele continua a enfatizar, 'mas não, é mesmo um risco para as mulheres sair com um homem!'. 




Diverti-me quando vi isto agora novamente, com as estatísticas do Eurostat sobre as proporções de perpetradores de homicídios em mente, ao ver a distância da realidade estatística do risco a que estamos todos. 

(clicai para aumentar a banda)





S.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Metade da raça humana

O meu 8 de março deste ano:



Não gostei por aí além, podiam ter feito mais e melhor. Mas esta frase, senhores, deu-me arrepios:




'We're half the human race.'

Tão simples quanto isto.




S.

sábado, 5 de março de 2016

Walk a mile in her shoes

A minha reação foi exatamente a mesma que as comentadoras embaixo: 'bem, isto deve ser uma citação para incentivar o treino de velocidade na corrida'.





Esta diferença tão contrastante de interpretações de uma mesma frase dá para puxar conversa sobre privilégio, sobre pôr-se no lugar do outro, sobre empatia, sobre a necessidade de sermos ouvidas, porque claramente temos experiências diferentes da (aparentemente) mesma situação (e isto idem para minorias étnicas, religiosas, de orientação sexual, etc), mas hoje não me apetece entrar em detalhes. Vou deixar só isto aqui.





S.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A melhor fandom do mundo



Toma. Resposta em duas palavras.

(Querem-se apoderar da HP fandom para os argumentos anti-aborto mas não conhecem a história como deve ser, depois sai-lhes mal. A profecia que era aplicada a dois meninos, lembram-se? 5º livro? Ninguém é insubstituível, nem mesmo o Chosen One.)





S.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Desigualdade vs hierarquia

Desde que tive conhecimento da existência deste tipo de campanhas que sempre fui uma grande apoiante do Princess Free Zone, Pinkstinks, e afins. Tão apoiante quanto uma pessoa sem filhos e sem ideias de os ter no curto-prazo possa ser, pelo menos.  Parece-me muito óbvio que a pressão cada vez mais intensa de empurrar raparigas para tules, princesas, purpurinas, maquilhagem, tiaras e cor-de-rosas não só é redutora de interesses como potencialmente nociva para a formação da pessoa que serão no futuro; o mundo é muito mais vasto e muito mais interessante do que as princesas da Disney o pintam. Ultimamente, e especialmente depois de ter lido o Raising My Rainbow, tenho tido algumas dúvidas. Acho que este tipo de campanhas dá o tiro ao lado. They miss the point, se quisermos.

O Raising My Rainbow - Adventures in Raising a Fabulous, Gender Creative Son conta a história e as reflexões de uma mãe que tem um filho gender creative, como ela o apelida. Logo aos dois anos a criança demonstrou um fascínio tão grande por Barbies, bonecas, purpurinas, princesas e afins que só se intensificou com o tempo, e que os pais acabaram por aceitar e aprender a lidar, não com a criança propriamente dita, mas com as reações de todas as outras pessoas. As festas de aniversário temáticas, sempre uma escolha entre fazer o filho feliz com o tema princesas mas arriscar o gozo ou mesmo insultos das outras crianças ou pais, ou fazer festa com tema neutro (leia-se: masculino) como il faut mas transmitir ao filho que os gostos dele são errados, máscaras de Halloween idem, brinquedos levados para a escola, roupa preferida da criança, etc. Uma necessidade constante de policiamento dos gostos de uma criança ou uma necessidade constante de aguentar a reprovação social de quem não obedece à norma.

Agora imaginem se tivesse sido o contrário: se lhe tivesse calhado uma filha gender creative. Mal daria uma história. Uma rapariga ter interesses 'masculinos' mal é digno de nota. Quanto muito, é motivo de orgulho. Uma rapariga gostar de futebol, de subir às árvores, de brincar com carrinhos, negar Barbies e princesas é uma rapariga empoderada, muito à frente, diferente das outras raparigas*. E a autora do livro está consciente deste facto durante todo o discurso, referindo-o explicitamente várias vezes: 

'If a little girl had been pretending to be a prince, people would have applauded her in their minds for being empowered. How come when girls play with gender it's a sign of strength and when boys play with gender it's a sign of weakness? I could slap whoever made our society that way.'  

Portanto, campanhas que pretendam incentivar raparigas a fugir às princesas parecem-me um bocado redundantes: a penalidade social por fazê-lo não é elevada. Uma rapariga gostar de brinquedos/atividades de rapaz é muito mais aceitável, até aplaudido, do que rapazes brincarem com coisas de rapariga.

A questão é porquê. Porquê? É porque há realmente uma diferença qualitativa nos dois tipos de brinquedos/brincadeiras (tipo, os brinquedos de menina são bastante menos interessantes, só que ver com tomar conta de bebés, que envolvem bonecas, roupas e maquilhagem, etc, enquanto os brinquedos de rapaz estimulam o intelecto, a criatividade, etc)? Isto para mim - e acho que para todos os que apoiam as campanhas que são especificamente dirigidas a raparigas como a Princess Free Zone e a Pinkstinks (diferentes da Let Toys Be Toys ou da 'polémica' - lol - do McDonald's) - estava dado como certo, certinho. As princesas da Disney dão um mau exemplo por serem tão passivas, e terem como único propósito na vida arranjar um príncipe rico e bonito, e ronhonhó, e jogar à bola é que é saudável e estimula a coordenação motora e o espírito de equipa, e os brinquedos mais científicos e os legos e assim são cada vez mais marketizados é para os rapazes e esses é que são brinquedos interessantes.

Entretanto existe outra perspetiva que me tem permeado o pensamento sobre os assuntos de género e de igualdade, do que é realmente o feminismo e o patriarcado, e que me fez ver isto de outra forma: e se é antes porque simplesmente valorizamos as atividades masculinas de forma muito mais elevada do que valorizamos as atividades femininas, e portanto qualquer coisa tradicionalmente associada aos homens é desejável, enquanto as atividades associadas às mulheres são ridicularizadas como superficiais? Quantas mulheres têm orgulho em afirmar 'eu não sou como as outras mulheres!', ou 'eu nem gosto de [inserir atividade/produto de gaja ou que grande parte das mulheres gosta], gosto é de [cerveja/futebol/piadas sexistas/qualquer outra coisa geralmente identificada como masculina]'? Essa é tipicamente considerada uma 'gaja fixe', especialmente nos filmes mais mauzinhos. Mas tenho reparado muito no reflexo inconsciente de tantas mulheres - eu incluída - de constantemente se distanciarem o mais possível dos gostos estereotipados de mulher para serem vistas numa melhor luz. Ora isto é nada mais nada menos que o reflexo muito humano de querer pertencer ao clube dos fixes, de almoçar com os importantes, de estar onde se é valorizado. O que me faz questionar seriamente se o ódio às princesas e ao cor-de-rosa não é mal direcionado.

Porque, vejamos, se é a primeira hipótese - se é realmente uma questão de os brinquedos/atividades femininas serem qualitativamente piores, então não é desejável que ninguém brinque com princesas/bonecas/cozinhas. Nesse caso essas campanhas estão a ir na direção certa e os pais que proíbem os seus filhos rapazes de brincar com brinquedos de gaja estiveram sempres corretos. Só precisamos agora é de elevar as raparigas ao pódio dos brinquedos masculinos e ignorar o cor-de-rosa e as purpurinas para todo o sempre. Mas se é a segunda hipótese - se o problema é o problema do patriarcado em poucas palavras: um problema de hierarquia de géneros, e não de desigualdade - então já temos um problema muito mais colossal. Neste caso, pode ser que campanhas como o Pinkstinks estejam a reforçar a vergonha nas atividades femininas, em vez de empoderar raparigas.

Pode ser uma mistura das duas coisas. Legos e brinquedos mais científicos são muitas vezes direcionados a rapazes, quando antes não era assim, e realmente a Disney com os seus filmes mais antigos de princesas era do mais clichezinho que havia; mas deixem que vos diga que quando eu brincava às Barbies com as minhas primas nós construíamos cidades inteiras com todos os serviços e profissões para manter uma cidade a correr, e representávamos verdadeiras histórias de vida completas ao longo de várias gerações que só podia contribuir para o estímulo da criatividade e do pensamento complexo! E não somos únicas nisto, garanto. 

E agora uma reflexão em jeito de provocação: mesmo que os brinquedos das raparigas conduzam a papéis de cuidados e os de rapazes a papéis científicos, so what? Eu sei qual é o problema: a nossa sociedade valoriza muito mais uma carreira científica do que as tarefas rotineiras de criar uma criança, portanto brinquedos que promovam estes papéis de forma estereotipada são indesejáveis. Mas porque é que continuamos a dar mais valor a uma carreira científica do que às tarefas de criação de um ser humano?**  




*Se há elogio mais pernicioso, que toda a feminista deveria desprezar, é precisamente quando lhe dizem 'tu não és como as outras raparigas'. Evitar afirmar 'eu não sou como as outras raparigas' com sentimento de superioridade pode ser difícil mas é essencial.

** Pista: será porque ciência e fazer coisas no mundo em geral seja tradicionalmente coisa de homens e criar pessoas seja coisa de mulher e portanto desinteressante/subvalorizado? Who Cooked Adam Smith's Dinner é um bom começo.




S.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

'L'Europe est plus féministe que chacun de ses États membres'

'L'Europe est une chance pour les femmes, ce que peu comprennent. Il y a un nivellement par le haut grâce aux pays du Nord de l'Europe, la Commission européene fait passer des textes ambitieux, et la Commission des droits de la femme est fortement féministe, tous partis politiques confondus. L'Europe ne peut pas faire régresser la condition des femmes, au contraire, elle fait pression sur les gouvernements pour qu'ils ne fassent pas reculer la condition des femmes.'

Geneviève Fraisse, filósofa francesa e historiadora do pensamento feminista, numa entrevista em 2005 à autora do estudo Le Lobby Européen des Femmes: la voie institutionnelle du féminisme européen.

Não sei se ela teria a mesma opinião neste momento, visto que isto foi dito antes da crise financeira e da crise das dívidas públicas europeia, e dos consequentes cortes que foram feitos a nível nacional a muitos serviços de apoio e abrigo a mulheres vítimas de violência, a cortes de salários públicos que afetam desproporcionalmente as mulheres (há mais mulheres no serviço público do que homens), e à pioria (isto é palavra?) geral de condições de vida que afeta os mais pobres que, mais uma vez, são desproporcionalmente mulheres.

Tendo dito isto, penso que a ideia se mantém. A União Europeia é francamente mais sensível a questões feministas e aos direitos das mulheres do que a grande maioria dos seus membros, e está documentado na literatura que foi ela um dos grandes impulsionadores para a adoção de legislação para igualdade entre mulheres e homens nas décadas de 70 e 80 na Europa, numa altura em que nenhum Estado-membro exceto a França tinha salvaguardado a máxima de salário igual para trabalho igual (fica aqui um texto curtinho sobre a história da igualdade de género na UE). Acho que isto é notável para uma organização que ainda tem um pendor bem mais estritamente económico do que seria desejável e do que muitos gostaríamos. 

Aliás, lembro-me de há dois ou três anos ter havido mobilização da parte de académicas especialistas em UE e questões de género, e de oficiais das instituições europeias, para mostrarem a metade da população britânica o que esta ganha com o facto de o Reino Unido pertencer ao clube: é graças à obrigatoriedade de implementar todas as diretivas europeias que as mulheres britânicas obtiveram licença de maternidade e os pais britânicos podem gozar de licença parental, por exemplo. Portanto, quando os britânicos se queixam da red tape bruxelense, elas que pensem bem a quem uma saída do clube mais poderia prejudicar. (Os britânicos foram aliás um dos grandes opositores e portanto motivadores do bloqueio da nova diretiva sobre a licença de maternidade que visava aumentar o mínimo europeu de providências para novas mães a nível laboral.)




Isto para dar um exemplo do nivelamento por cima que Geneviève fala na citação lá de cima. Não obstante as críticas que podem ser - e são - lançadas à UE em matéria de interesses das mulheres, não há dúvida que ela tem um pendor feminista que às vezes parece um paradoxo se tomarmos em conta o racional neo-liberal que permeia o pensamento europeu. E é precisamente por isso que o tema me apaixona.




S. 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Uma-em-três ou uma-em-quatro

No outro dia, tendo como pano de fundo a notícia de que uma mulher tinha sido morta pelo ex-marido no Barreiro - a terceira desde que o ano começou - o D. fez-me uma pergunta muito simples: 

'Achas que no Médio Oriente as mulheres sofrem mais violência doméstica ou a diferença não é assim tão grande em relação à Europa?'

O meu instinto foi replicar-lhe com um muito óbvio 'É CLARO que no Médio Oriente a violência doméstica está mais generalizada do que na Europa. Nem compares, por favor.' mas calei-me a tempo porque o que parece óbvio nem sempre é assim tão óbvio e dei imediatamente conta de que na realidade eu não sabia. Nunca tinha ido ver números, estimativas, estatísticas, comparações, o que fosse. A minha ideia era apenas uma perceção formada por ouvir-dizer, por leituras superficiais ao longo dos anos, por uma ligação que me parecia lógica entre falta de direitos civis e maior desrespeito pela humanidade das mulheres nessa parte do mundo do que na Europa, e pela proximidade às campanhas de consciencialização do tema em Portugal e arredores. O único número que conheço, divulgado pela ONU e adotado por inúmeras instituições internacionais e organizações não-governamentais, é a estatística de que uma em cada três mulheres será vítima de violência de género durante a sua vida. Suponho que haja diferenças entre diferentes partes do mundo e que o 1-em-3 fosse uma média mundial. Supus também que se no Ocidente é difícil por vezes obter estatísticas fiáveis sobre os verdadeiros números da violência doméstica, - nem todas as vítimas fazem queixa, nem todas as vítimas têm a consciência de que foram vítimas de um crime - imaginei que em países ditos em desenvolvimento esses números fossem ainda mais difíceis de conseguir e que portanto uma comparação rigorosa não fosse possível entre Europa e Médio Oriente.

Só para terem uma noção, a União Europeia tem desde há meia dúzia de anos para cá um instituto para a igualdade de género, cuja responsabilidade é realizar estudos quantitativos sobre a igualdade entre homens e mulheres nos 28 estados membros da UE todos os anos em diversas áreas, e compará-los uns com os outros e com a média europeia, para que se conheça a evolução ou a regressão de cada um em cada área da vida (aquilo tem estatísticas para coisas corriqueiras como salários, educação, presença na política e em cargos de liderança de empresas, mas também tem estatísticas em áreas como a saúde, o tempo livre de qualidade que cada sexo tem, a segregação nas áreas do saber, etc. Quem gostar de números aconselho vivamente a visitar o índice que está visualmente apelativo e apresentado de forma interativa aqui: http://eige.europa.eu/gender-statistics/gender-equality-index). Uma das áreas que o índice pretendia medir era também a da violência de género, mas precisamente pela falta de estatísticas recolhidas de forma sistemática e fiável por todos os países europeus, essa parte do índice está ainda por preencher convenientemente.

Portanto, se uma instituição especificamente dedicada à coisa não consegue realizar um índice com estatísticas sobre a violência contra as mulheres na Europa, cujos países têm órgãos de estatística relativamente bem equipados, independentes e fiáveis, imaginemos no resto do mundo. Foi isto que eu pensei.

Acabei por não arrumar o assunto e uma pesquisa no Google direcionou-me para um relatório da Organização Mundial de Saúde sobre a prevalência da violência contra as mulheres no mundo em 2012 (o relatório: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/violence/9789241564625/en/ ; sumário dos dados principais: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs239/en/). A OMS publicou esta infografia muito útil para comparação entre regiões:


Portanto como eu suspeitava, há uma diferença entre a Europa e o Médio Oriente e portanto fui logo comunicá-la ao D., contente por ter algo mais concreto com que continuar a nossa conversa do que um 'acho que sim', ou um 'é óbvio que sim' ou coisa do género. 25% das mulheres europeias sofrem violência física ou sexual às mãos de um parceiro (ou sexual às mãos de um não-parceiro) mas 37% sofrem-no no Médio Oriente. O D. não achou essa diferença assim tão significativa - e para ser franca, nem eu. É a diferença entre uma em quatro ou um pouco mais de uma em três, disse-lhe eu. Mas francamente pensei que comparativamente estivéssemos um pouco melhor.

Tenho noção de como esta comparação toda parece no mínimo de mau gosto e no máximo a roçar ideias de superioridade europeia, mas a minha intenção não é de todo essas. Como disse lá em cima, existe uma proposição lógica de que quanto mais igualdade a nível de direitos civis formais existir, quanto mais bem sucedida estiver a ser a luta pela emancipação das mulheres, mais elas serão vistas como pessoas de pleno direito, mais respeito haverá pela sua liberdade e pelas suas decisões, menos aceitável parecerá subjugá-las à vontade de um homem, incluindo pela violência. Por esta lógica, a Europa, como continente onde esta igualdade formal está melhor e há mais tempo conseguida, deveria ser um dos sítios onde a violência seria mais baixa, por oposição a uma região do mundo onde ainda falta dar passos tão básicos em alguns países como direito ao voto, participação no mercado de trabalho, etc. E essa diferença existe realmente, só não é tão pronunciada como eu esperava.

Mas se pensarmos que há pouco mais de 40 anos as mulheres portuguesas não podiam viajar para o estrangeiro sem a autorização do marido, e de que há pouco mais de 20 é que a violência doméstica se tornou crime, se calhar não devia ser assim tão surpreendente. O interessante, mas penso que isso não existe porque só há poucas décadas é que o tópico começou a merecer atenção internacional, era comparar a evolução destas estatísticas europeias ao longo do tempo, saber por exemplo se no início do séc. XX a taxa de violência contra as mulheres era mais elevada do que agora, para termos o consolo de que, por elevada que ela ainda parece no presente, que está a haver decréscimo e que portanto os esforços de consciencialização para o flagelo e as conquistas da igualdade não estão a ser em vão.

Porque depois há outra questão para além da violência em si: a da consciencialização dessa violência e de que ela é mesmo violência. Por exemplo, em 2014 a FRA publicou um estudo realizado nos 28 estados membros europeus sobre a violência contra as mulheres na Europa, este mais completo do que o da OMS porque inclui violência psicológica também (já agora, neste estudo o número de mulheres que foram vítimas de violência física ou sexual é de 33%, diferença ainda menor). Os dados foram baseados em entrevistas com 42 000 mulheres na Europa e estão desagregados por países e por tipo de violência (fica aqui o sumário dos dados em português: http://fra.europa.eu/sites/default/files/fra-2014-vaw-survey-factsheet_pt.pdf ; e o relatório inteiro: http://fra.europa.eu/sites/default/files/fra-2014-vaw-survey-at-a-glance-oct14_pt.pdf). Qual não foi o meu espanto quando os países com as percentagens mais elevadas de mulheres que sofreram assédio sexual foram a Dinamarca, Suécia e Holanda (Portugal estava no meio da tabela). Não só esta não é a minha experiência - nem a de várias mulheres que já viveram em países do norte da Europa e do sul e que portanto sabem a diferença na quantidade de importunações na rua de que somos alvo nuns e noutros - como estes são os países que precisamente têm os melhores indicadores de igualdade entre homens e mulheres do mundo. 

Visto que este é um inquérito sobre perceções, acho que isso faz toda a diferença nos resultados finais. Como ficou bem visto no debate sobre a criminalização do piropo há uns meses/anos atrás, um quantidade absurda de mulheres portuguesas não acha que ouvir um 'Lambia-te essa c**a toda' gritado na rua por um desconhecido seja assédio sexual, quanto mais um ato de violência. Isso vai-se refletir na resposta a este tipo de inquérito sobre experiência de violência. Eu só posso afirmar que fui vítima de determinado tipo de violência se tiver consciência de que aquilo que me aconteceu ou que me foi dirigido é um tipo de violência. Razão pela qual há cada vez mais queixas relacionadas com violência doméstica, razão pela qual parece que a violência doméstica está cada vez pior. Quanto mais consciencializadas, mais elevados os casos, maior a incidência. Isto faz-me suspeitar de que os números do relatório da OMS possam estar subestimados em regiões como o Médio Oriente, se os números se baseiam em inquéritos diretos às mulheres desses países. Não sei de todo se é o caso, mas seria algo a ter em conta. 

Isto para dizer que não, o feminismo não está de todo obsoleto no Ocidente como muitos parecem crer; que não, o progresso, se houve, não foi assim tão espetacular ainda; e que não, no que toca a respeito pela humanidade das mulheres e pela sua liberdade, não há uma diferença tão abismal na prática entre o mundo dito desenvolvido e os muçulmanos, como muitos após os ataques em Colónia nos querem fazer crer.



S. 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Relatório maioritário

A blogosfera anda mortiça e este blog não é exceção. Aborrece-me cada vez mais a monotonia das opiniões expressadas, o elevar de pequenas embirrações de dia-a-dia a problemas de primeiro mundo, irrita-me a impaciência dos blogueiros para com as idiossincrasias dos outros, os posts pespinetas, os posts pseudo-humorísticos, a banalidade destas partilhas. E este blog não é exceção.

Tenho cada vez menos paciência para escrever sobre feminismo, e suspeito que isto tenha pouco a ver com o facto de estar a fazer uma investigação sobre ele. Sinto que estou sempre a bater na mesma tecla, que o que tenho para dizer é óbvio, básico, que já toda a gente sabe isto, para quê repeti-lo. Que as mulheres ainda são discriminadas por serem mulheres deveria ser óbvio, a parcialidade do status quo deveria ser mais que evidente a qualquer pessoa minimamente inteligente, a objetificação e hipersexualização das mulheres deveria ser um fenómeno que é mais que óbvio (e consequências nefastas também, já agora), a necessidade de uma lei que criminalize a importunação sexual uma coisa que já cá devia estar há mais que tempo, a justeza de sistemas de quotas uma evidência, que existe violência contra mulheres por estas serem mulheres (ou seja, que deriva dos papéis atribuídos a elas e respetiva 'correção' quando estes não são respeitados) idem. Mas depois leio coisas, oiço coisas e vejo discussões que ainda estão presas ao significado de palavras, que o feminismo não se devia chamar feminismo, que igualdade é que é, que humanismo é que é, e que há homens que também são, e chego à conclusão que o que parece óbvio não é óbvio, não senhora, e o senso comum não é tão comum quanto isso. O problema é que adotei uma posição de aprendizagem exclusiva, que é como quem diz: eu educo-me, os outros que se lixem. Prefiro perder tempo a ler coisas do que a debatê-las, que não devo explicações a ninguém e quem se quiser educar há muito material à solta, é só pesquisar. E isto é um bocado triste.

O que também é um bocado triste é eu ter passado de correr 60-70 km semanais a 5-7 (com sorte). Toda eu apanhei um trauma tão grande à intensidade e sacrifício das últimas semanas de treinos para a maratona que o meu corpo agora é fisicamente avesso à ideia de programar uma corridinha que seja. A mente, essa, esgotou-se-lhe toda a força de vontade no ato de calçar os ténis nessas últimas semanas. Para a última coisa que está virada é para instigar o corpo num 'vá, vamos lá correr 10k!' Não há objetivos à vista, e assim será até voltar a ficar entusiasmada com alguma prova e ansiar preparar-me para ela. É só um bocado triste e não inteiramente porque não fazem ideia do bom que é saber que não tenho que acordar às 6h da manhã de domingo para ir rolar 3h no asfalto (se calhar até fazem, eu agora é que passei para o lado dos normais outra vez). Ou acordar e pensar 'argh, logo à noite tenho que ir correr antes de poder vestir o pijama e refastelar no sofá'. A única maneira de sair para uma corrida é agora: a) com companhia, ou b) acabar o trabalho do dia e pensar para mim mesma, como quem não quer a coisa: 'e se fosse agora correr um bocadinho?' e ir, logo, logo. A palavra tabu é PLANEAMENTO. O equilíbrio - que demorou umas boas semanas - já está restabelecido mas o bichinho não voltou a picar. E por enquanto estamos muito bem assim.

Entretanto já escrevi (leia-se: rascunhei) cerca de um terço da minha tese e ainda não perdi a vontade de viver. Pensava que era isso que os doutoramentos faziam. Gosto muito do meu projeto, mas às vezes gostava de ter escolhido alguma coisa que fosse mudar o mundo. Mas também tudo o que está abaixo de curar o cancro parecer-me-ia sempre poucochinho, por isso sei melhor do que ir por aí. Penso tantas vezes 'mas que merda fui fazer?!' quando me ocorre que me despedi para voltar a estudar, e tornei-me mais perita em evitar pensar na minha vida para lá de setembro de 2017 do que em evitar a praga. Estou mais relaxada no que toca a planear coisas a curto-prazo. A palavra tabu é PLANEAMENTO.

Num gesto de altruísmo auto-servidor, participo desde o início como cobaia numa investigação sobre o percurso de mulheres doutorandas em universidades de Sheffield e as entrevistas anuais com a investigadora são uma catarse tão poderosíssima que acho que eu lhe devia pagar. Melhor que terapia.

Foi tão difícil acostumar-me a ter uma vida diferente das pessoas normais, que trabalham em empregos normais das 9 às 17, que saem de casa para ir para o escritório e voltam para casa à noite, que estive à beira de arrancar cabelos. Nunca pensei que a normalidade fosse tão importante para mim, ou que estivesse tão enraizada cá dentro que quando não a executo se alojasse um sentimento de culpa e de inadequação que não é abalado por mais que o tente demover racionalmente: 'Estás no bom caminho, vê só a lista dos artigos todos que já reviste, vê só o que já escreveste! Se não estás convencida por ti mesma, ouve a validação externa, a publicação em vista, as call for papers garantidas com sucesso. O teu supervisor diz que está tudo a andar sobre rodas, que está contente com o teu progresso! O calendário de tarefas está a ser cumprido. Que mais precisas para te assegurares de que estás a trabalhar, que o teu esforço diário é válido?' Hardwired. Eu estou hardwired para equacionar emprego com sucesso pessoal, e isto é tão neo-liberal, tão capitalista e tão poucochinho que se me revolvem as entranhas. Mas está ao nível do subconsciente, que posso fazer.

(Re)comecei a gostar de roupas bonitas. E gosto tanto de batons. Eu nunca tive paciência/jeito/vontade para maquilhagem, mas agora gosto tanto de batons. Não sei o que me deu, mas vou com a corrente. Isto vai e vem, sei melhor do que dramatizar estas obsessões repentinas. Os seres humanos são criaturas de contradições maravilhosas.

No outro dia o meu dentista de há 15 anos - que não via há uns 5 - nas perguntas de circunstância perguntou se havia namorado. 'Sim, é o mesmo.', 'O mesmo? Que tédio.' Oh meu bom homem, com tanta mudança de vida, de casa, de país, de rede social, de a-fazeres, de hobbies, que felicidade, que alívio, que segurança, que sanidade mental, que constância é ter o mesmo homem - o meu melhor amigo - sempre ao meu lado. 



S.

     


domingo, 10 de janeiro de 2016

Media, é assim mesmo #9

(Já tinha falado ao de leve sobre isto, daí que esta cena me tenha arrancado um sorriso. Também relevante em relação a campanhas como Princess Free Zone e Let Toys Be Toys. Não que brincar às princesas tenha algum mal, mas às vezes as raparigas só querem ser um hobbit de orelhas pontiagudas e pés nojentos e ir destruir anéis a vulcões.)











S.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Porque a Thatcher era um inimigo tão odiado que chegou a unir estes dois grupos




A história de um grupo de ativistas gays que decidem angariar dinheiro para apoiar os mineiros em greve em 1984 no Reino Unido. Sobre aliados improváveis, ultrapassar preconceitos, sobre gratidão, luta, coragem, discriminações que se entre-cruzam.  E o melhor de tudo é que isto aconteceu.

Um dos filmes mais emocionantes e inspiradores que vi nos últimos tempos. A empatia é uma coisa maravilhosa.




S.