quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A guerra, o amor, o Lobo e o divórcio

Depois de ler o livro com a compilação das cartas enviadas à mulher durante a Guerra Colonial, e depois de saber que entretanto já casou mais 2 vezes, fiquei com uma vontade enorme de ler mais obras deste autor.




Quando se lê coisas tão íntimas como cartas, sendo elas cartas diárias de amor, escritas durante uma guerra, fica-se com a sensação que se conhece esta pessoa, que o véu que cobre a alma de cada um de nós foi levantado e espreitámo-la na sua intimidade e crueza.

Gostava de perseguir a sua obra para tentar encontrar pistas que desvendem a vida deste homem, como evoluiu a partir do rascunho da sua primeira obra que preparava em Angola, o acompanhamento que fez da filha bebé, o nascimento da segunda, o que levou à separação da mulher que tanto idolatrava e à qual invariavelmente escreveu todos os dias durante provavelmente os dois anos mais difíceis da sua vida.

É que saber todo aquele amor e devoção acaba em divórcio, faz uma pessoa sentir-se traída. "Ai amavas tanto a mulher, tanto 'Gosto de Tudo de Ti", tanta idolatraria, tanta angústia de separação e saudade para acabar em divórcio?". Fico triste com a vida e com a natureza humana.

Ao que parece, este senhor não tem é uma escrita fácil, daí que não saiba por onde começar. Começo pelo primeiro livro? Haverá um mais fácil que sirva de introdução a toda a obra? Sugestões aceitam-se.



S.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Behind the scenes

Etapas de uma foto de Natal minimamente decente em que figura um cachorro irrequieto, um par de chifres de rena, um jardim, e duas donas impacientes:


1ª Fase: o rebolanço
Ter objetos que nos adornam o pelo é tão, mas tão desconfortável. Vá de rebolar para lhes tentar chegar.




2ª Fase: o descair do dito objeto
Uma bandolete não é propriamente um adereço para cães, e um pelo liso, associado a um cão que não pára quieto significa que dito objeto aguentará meros segundos até escorregar pelo lombo abaixo.




3ª Fase: a bola
Tentativa de cansar o cão através de múltiplas apanhas da mesma, muito "busca" gritado, e algum sossego conseguido.




4ª Fase: o rebuçado
Após a tentativa falhado do sossego pela bola, sossegá-lo através da coisa que ele mais ama nesta vida: comer. A excitação redobrou.



5ª Fase: retomar o rebolanço
Porque esta porcaria nunca mais acaba e eu começo a ficar saturado




6ª Fase: Olhar para todo o lado menos para a máquina
Só porque sim.



7ª e Última Fase: os barulhos estridentes
Porque a dona teve a brilhante ideia de começar a guinchar como um macaco para ver se prendia a minha atenção.


Funcionou.

Não me julguem. Há três exceções na Lei Que Diz que Devemos nos Escandalizar Quando Alguém Se Mete a Guinchar no Meio da Rua Sem Motivo Aparente:

- ter um cão;
- ter um filho bebé;
- ter algum problema mental.

Acho que sou qualificável para duas delas.


Ah, já agora: Feliz Natal!



S.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

It's the final countdown

Falta um ano para acabar o mundo. Portanto há que aproveitar bem os próximos doze meses.

Brincadeiras à parte, acho que uma mentalidade de contagem final pode ser saudável. Uma pessoa olhar para trás e questionar-se: "Já concretizei tudo o que queria até a esta fase da minha vida? Estou onde sonhei estar com esta idade? Ou ando a desperdiçar tempo?". No fundo, é fazer o balanço da nossa vida regularmente, não pensar que se tem tempo e que a vida é muito longa e que o dia há-de chegar. Ter objetivos e trilhar o nosso caminho todos os dias em direção a eles.

Como tudo, o segredo é não cair no exagero e na obsessão. Há que deixar espaço ao imprevisto, e às mudanças de percurso intencionais ou ocasionais. Mas deixar tudo nas mãos do "destino", definitivamente não.

Esta é uma filosofia de vida muito bonita mas que eu sigo só até certo ponto. Tenho muito a mania é de olhar para frente, de ver o que ainda me falta conseguir, os sonhos a realizar, os feitos a conquistar, o conhecimento que ainda falta obter. Não posso falar no futuro, mas se o mundo acabasse hoje eu ía era ter uma lista gigante de coisas "em falta", em vez de me contentar com a lista de coisas "atingidas". Aqui ficam algumas:

- trabalhar na Comissão Europeia;

- doutoramento e defesa de uma tese (provavelmente relacionado com a primeira);

- viver em Nova York;

- fazer uma viagem de comboio pela Europa;

- dar à luz;

- ler Freud (porquê, oh porquê que a minha pilha de livros a ler está a baixar tão devagar!);

- fazer a viagem de carro nos Estados Unidos de costa a costa;

- apertar a mão da Rowling;

- dizer o sim;

- ver um concerto de Arctic Monkeys;

- (queria um autógrafo do Saramago, mas parece que já não dá).




É tudo o que me lembro (e se não me lembro de mais, é porque provavelmente não são assim grandes sonhos meus).




P.S. Se o mundo realmente acabar em 2012, fica a questão: o que acaba primeiro, o mundo ou o Euro? Não sei se são mutuamente exclusivos...




S.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Inverno, qual inverno?

Hoje cobri-me dos pés à cabeça de quentura. Ele era gorro, ele era cachecol de metro e meio, ele era casacão, luvas, botas de pêlo.

Mas parece que ainda não está assim tanto frio.





S.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Neve hoje e há um ano

Ontem nevou em Londres. Uma série de recordações passaram de rajada e a nostalgia instalou-se.

Pensar em Londres é uma coisa que tenho evitado nos últimos meses. Por uma questão de sobrevivência e sanidade mental, na lógica do "não chorar sobre leite derramado", e porque, bem ou mal, é uma fase que já passou, e é preciso é olhar para a frente, não para trás. As saudades são de um tipo muito diferente do que eu imaginei: não me dá ataques de pânico nem de nostalgia, nem passo os dias a suspirar pela cidade. Em vez disso, é uma nostalgia muito mais profunda, submersa e letárgica, que sei que está lá mas que não se manifesta abertamente. E ultimamente, as memórias da cidade e da minha (nossa) vida lá vão sendo cada vez mais desfocadas, mais afastadas da realidade, menos vívidas. Um bocadinho como a sensação que temos de um sonho, não saber bem se aquilo aconteceu ou não. As coisas mais aleatórias são as que por vezes me surgem mais nítidas na mente, como quando o "por favor, tenha atenção ao intervalo entre o cais e o comboio" me despertou - sem surpresa, para dizer a verdade - a frase que mais vezes ouvi lá, na voz perfeitamente nítida do senhor que anunciava a toda a abertura de portas: "please mind the gap between the train and the platform edge".

Estupidamente, recusei-me peremtoriamente a voltar à cidade nestes últimos meses. Pretextos não me faltaram: a abertura da loja dos M&Ms, as duas grandes amigas que me ficaram do curso e que lá continuaram a viver, ou a entrega da tese. Mas havia uma recusa em voltar áquela cidade na qualidade de turista, voltar aos sítios familiares e vê-los a partir de uma lente diferente, o medo de os modificar na minha memória e de ser obrigada a admitir, sem possibilidade de desculpas, que a minha casa já não é ali.

Parece inoportuno estar com estes desabafos todos, numa altura em que o que tem de dominar é a perspetiva de Bruxelas, mas a verdade é que não sinto Londres como um capítulo fechado. Gostava de lá voltar a viver. Hei-de lá voltar, muito provavelmente para a próxima fase académica (sim, o doutoramento, ainda que longínquo no tempo, já é coisa que me ocupa um pedacinho de mente). Isto pensando no grande esquema das coisas. No pequeno e mais próximo esquema das coisas, o próximo passo envolve uma visita à cidade, daqui a um mês, para a minha graduation da King's. Pode ser que aí, obrigada a ver a cidade pela perspetiva do visitante, e com o festejo do encerramento do meu ciclo de estudos, eu sinta a visita como uma catarse que dite o encerramento desse capítulo da minha vida no meu subconsciente. Ou talvez não. O mundo é tão grande e o futuro tão aberto e incerto que não faço ideia onde a minha vontade, os meus gostos e a nossa vida nos levará a seguir.

Por agora, uma graduation me espera. E dois pares de braços também.






S.  

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Chá de chocolate = 2 vícios num só

Ando viciada neste chá desde que o descobri através de um blog.


Isso mesmo. É chá de chocolate. O preço (módica quantia de 9.95) fez-me torcer o nariz ao início mas a parte do "chocolate" venceu e eu, fraca como sou, não me contive.

Valeu todos os cêntimos. A lata ainda é grandita e aquilo vem bem guarnecido, portanto tenho chá para muito tempo. Quanto ao sabor a chocolate: claro que não sabe a leite com chocolate - portanto também não é enjoativo - tem só um travozinho a chocolate que torna o chá diferente de qualquer outro que já experimentei e agradável. É um bom substituto para o Café Mocca, por exemplo.

É marca que vou manter debaixo de olho.




P.S. ía morrendo agora que descobri que existe Kusmi de Canela. Quero! Amo canela. Será que... Sim. Acabei de ter a brilhante ideia de misturar canela no Kusmi de Chocolate.



S.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

E porque uma notícia nunca vem só

Os resultados da King's chegaram. Parece que já sou Mestre. 



Agora é Graduation com ela e fecha-se este capítulo. 



S.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Literatura para Porteiras #3 - Game of Thrones

A lição mais importante que tenho aprendido desde que me meti em mil e uma coisas profissionalmente é que o tempo é um bem muito, mas mesmo muito precioso. Sou cada vez mais seletiva com as coisas que me o gastam e menos paciente com o que considero desperdício do mesmo. A linha orientadora é agora: "Passei uma hora nisto. O que é que nessa hora eu podia ter feito de mais proveitoso?"

Claro que continuo a gastar tempo em coisas estúpidas (Ninegag em força, Facebook mais do que gosto de admitir) porque isto é um sistema que ainda está em aperfeiçoamento, mas o que é facto é que a universal e demasiado utilizada desculpa do "Ai não tenho tempo" é coisa que já não me sai da boca. Já o "Não é merecedor do meu tempo" é uma decisão que tento tomar para cada vez mais coisas. Por exemplo, entre as mil e uma coisas em que me meti não figura desporto de qualquer espécie (exceto se contarmos as tardes de domingo passadas na praia a passear o cão). Desculpa do "Ai, não tenho tempo"? Não. Se quisesse conseguia encaixá-lo algures. Decidi-o tão simplesmente não merecedor do meu tempo. Bem ou mal, não o sinto como prioridade.

É por isso que a minha decisão de abandonar a leitura do Game of Thrones não foi tão sentida como culpa como o teria sido há um ano atrás. Já é o terceiro livro em poucas semanas que ponho de parte sem pestanejar.




Este livro tinha tudo para se tornar num favorito. Castelos, cavaleiros, batalhas, intrigas e estratégias para usurpar tronos e conquistar territórios, aliado a uma escrita na 1ª pessoa (em várias 1as pessoas, na verdade, pois os capítulos vão intervalando as perspetivas das diversas personagens), tem a marca de algumas das minhas coleções favoritas: Brumas de Avalon, Sevenwaters, Bridei Chronicles, The Women of the Cousin's War. No entanto, falhou redondamente em me prender às suas páginas e era com impaciência que nos últimos dias já pegava nele para o ler. Falta-lhe qualquer coisa. E eu lanço aqui sugestões sobre o que acho que é:

- logo nas primeiras páginas, uma suspeita apoderou-se de mim e que eu confirmei logo a seguir: o autor é americano. Não sei como a ganhei mas eu tenho uma aversão de princípio contra inglês americano. É coisa que enquanto amante de ortografia, gramática, linguística e todos esses sistemas aborrecidos não consigo deixar de parte enquanto estou a ler. E que me fez torcer o nariz logo de início em relação a este livro;

- relacionado com a sugestão de cima está a linguagem do livro. É má. Nota-se que o autor está a fazer demasiado esforço para escrever em inglês mais-ou-menos antigo - o esperado nestes livros medievais - mas que de vez em quando falha e deixa transparecer linguagem contemporânea. Atenção, não são coisas demasiado escandalosas mas percetíveis o suficiente para o meu gosto;

- o facto de a história se passar numa terra completamente inventada, numa espécie de universo e tempo paralelo porque não dá para focalizar a história nem no tempo nem no espaço. Sabemos que se passa no antigamente, os castelos, reis, lutas pela coroa e objetos dão ar de medievalidade, mas não dá para apontar um espaço definido na história. Ora, eu preciso de balizas temporais e geográficas. Gosto de contexto. Gosto de ler este tipo de romances porque me dão uma melhor perceção dos sítios, da História, da forma como as pessoas viviam, que contribuam para a minha perpetiva geográfica e para associação de lugares e povos. Mesmo dando-se o desconto da ficção e de certos anacronismos, é este o verdadeiro appeal que este tipo de romances tem para mim. No Game of Thrones, nada disto está presente;

- os nomes das personagens. Ai, os nomes. Num mundo inventado, o autor foi pela lógica de que os nomes teriam também de ser diferentes, originais. Pois exagerou. Os nomes de metade das personagens parecem conjuntos de letras que o autor andou a juntar aleatoriamente. Achou que assim dava um ar de antiguidade/exotismo. Na minha opinião, foi falhanço.

Ainda assim, percebo perfeitamente a excitação geral em relação a esta coleção. Nunca vi a série, acredito que seja aliciante para os amantes deste tipo de histórias, onde me incluo. Simplesmente é um livro/coleção que não me enche as medidas. O potencial que o conteúdo encerra está para mim gravemente limitado pela forma escolhida para o envolver.

Desta forma, é um livro que posso dizer que não gostei mas que percebo perfeitamente quem o ama, o ponto contrário do que posso dizer em relação ao Twilight (que nem o conteúdo salva a forma, deus meu).



S.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Lista ao Pai Natal

Caros familiares,

Como sei que uma pessoa nesta altura do ano se debate com incertezas sobre o que oferecer no Natal, será que a pessoa vai gostar, o que lhe fará falta, etc, resolvi deixar aqui as minhas wishlists de livros para que tenham uma garantia que qualquer coisa dali me deixará contente e ser-me-á realmente útil.

É tipo uma lista de casamento mas em vez de ser para a casa é para o cérebro.

Cá vai a da Amazon:

http://www.amazon.co.uk/registry/wishlist/14JUGALNGCX5X/ref=cm_wl_act_vv?_encoding=UTF8&visitor-view=1&reveal=


E a da WOOK:









E pronto, é isto.



S.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Já me tinha esquecido

O sentimento de cumplicidade que é treinar um cão.





S.

Pobres Papa-Padres

Os dois feriados que eu mais temia desaparecerem foram os que o Governo acabou de propor aos Parceiros Sociais para deixarem de existir.

Com que então nada de Implantações da República nem de Restaurações da Independência. Sim senhora. Garantem-nos ao menos o Dia da Liberdade e o Dia de Portugal. Os outros não interessam, aconteceu lá longe no tempo, não fazem falta.

Sinceramente, desde que descobri que o Governo estava a pensar em acabar com dois feriados civis, quaisquer que fossem os feriados anunciados eu iria experimentar profunda indignação e repulsa. Nenhuma medida que o Governo tomou até agora me fez sentir semelhante, desde a meia hora diária de trabalho adicional até aos cortes nos subsídios de Natal e férias.

Nem vou entrar em considerações sobre se suprimir feriados aumenta realmente a produtividade ou não. O que me repugna realmente é o facto de, a tirarem feriados do calendário sejam dois civis a cair. Dois religiosos vão ser tirados também, é verdade. O Governo inicialmente foi pela lógica correta: se temos de eliminar feriados então que caiam os religiosos, que esses um Estado laico não tem sequer obrigação de os impor a ninguém. Mas o que me enoja foi a cedência que veio a seguir: a Igreja exigiu que, a retirar feriados religiosos, então o Governo também teria de retirar civis. 2 para cada um, foi o que ficou decidido. A uma primeira leitura parece razoável. Tira-se dois de cada lado, ninguém chora.

Mas não é. Esta cedência do Governo enoja pelo princípio de laicidade que não seguiu, pela influência aumentada que a Igreja adquiriu e pela sobranceria de que a Igreja se arrogou ao exigir pé de igualdade de um feriado religioso a um civil. Meus amigos, nós vivemos num Estado LAICO, num país onde ser português não se confunde com ser católico, onde existe LIBERDADE DE CULTO, onde a Igreja é uma instituição como qualquer outra e uma religião sem privilégios em relação ao budismo, ao islamismo ou ao raio que o partismo. Na sua condição de uma entre outras não tem de se arrogar ao direito de exigir o festejo alargado a todo o país de uma festa que só a ela pertence, em detrimento de festas que fazem parte da História comum dos portugueses, de um país, de uma identidade nacional. O feriado religioso – leia-se católico – é uma aberração que nem sequer deveria existir. Porquê que é que um judeu português há-de não trabalhar no dia 8 de dezembro e ter de trabalhar no Hannukkah?

“Ah e tal, mas as datas cujos feriados vão ser suprimidas vão continuar a ser festejadas, só que ao fim-de-semana, em vez de no dia específico.” Verdade. Mas então retirem 4 feriados religiosos em vez de 2/2 e festejem esses ao fim-de-semana. Até têm um dia e sítio próprios para ser festejados: ao domingo na missa, portanto metade do trabalho está feito.

O que está aqui em causa é o princípio da separação do Estado e Igreja,  onde nenhuma religião impera nem tem privilégios sobre as outras, logo, o princípio da igualdade das religiões, um princípio inscrito na nossa CONSTITUIÇÃO e muito caro, conquistado precisamente pelo regime cuja implantação querem agora deixar passar despercebida.

Bonita maneira de festejarem o centenário da Lei da Separação do Estado e Igreja, sim senhora. Os republicanos que lutaram pela eliminação da influência desses dogmas e superstições atrofiadoras do progresso e da inteligência, como o “Papa-padres” Afonso Costa devem estar a rebolar nas suas sepulturas que nem uns doidos.   







S.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

"Um dia vou levar-te à América..."

A nossa língua materna reserva para nós sensações que mais nenhuma língua consegue despertar, por melhor que a conheçamos, por melhor que a falemos e compreendamos. A nossa língua materna desperta-nos sentimentos crus e vivos precisamente porque está associada às experiências que vivemos no nosso passado. E isso é algo que nenhuma língua estrangeira pode igualar.




Uma das músicas mais românticas que conheço. Fiquei apaixonada desde que a ouvi pela primeira vez na rádio, sem fazer ideia nenhuma de quem era.

Continuo sem fazer ideia nenhuma de quem é ("Os Azeitonas", não faço a mínima) e continuo apaixonada por ela.

Só em português podia esta letra fazer sentido e ser considerada romântica: "Anda comigo ver os aviões levantar voo / A rasgar as nuvens / Rasgar o céu".

Uma vénia a quem ainda tem a coragem de escrever e cantar em língua portuguesa.



S.

Verdadeira reciclagem

Lavo o chão.




Ligo o desumidificador.


Aquilo aspira a água e eu fico com água para voltar a lavar o chão.

Perfeita e completa reciclagem.






S.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Prunãocieixãnes

Durante o meu ano em terras da rainha eu fui "Sérâ Hrice".

Não demorei muito a aperceber-me que os ingleses simplesmente não têm a destreza vocal para pronunciar um 'r' marcado e fazer o som 'x' onde existe um 's'. "Reich" era o que deviam dizer, saía sempre algo parecido com "reese". O Sarah nem nunca me dei ao trabalho de corrigir.

E quando tive de telefonar para vários serviços e mudar moradas para receber os últimos pagamentos de luz e telefone cá em Portugal? Ui, Jesus. Uma coisa é certa, fiquei pró a soletrar.

Tenho noção que nem tenho o pior dos nomes em termos de pronunciação inglesa. O D. na ilha sempre foi Diego... Entender que existem famílias de línguas diferentes eles lá entendem. Agora entender que dentro da mesma família de línguas, neste caso latinas, existem diferenças de pronúncia já é esperar demasiado. Portanto, sim, a violação da pronúncia dos nossos nomes foi uma constante e um dado adquirido nos nossos meses enquanto emigrantes.

Por isso quando agora, após mais de um ano, a King's me pede para a informar como é que se pronuncia corretamente o meu nome - inteiro! - é natural que eu fique sem jeito. E que me apeteça gargalhar muito.


Há medo que os oradores não consigam ler a lista dos alunos presentes? Há.

Há medo que os alunos presentes não consigam perceber quando os estão a chamar? Há.

Mas sinceramente não percebo porquê. Durante um ano inteiro de aulas os alunos internacionais como eu tiveram mais do que tempo suficiente para se habituarem a ouvir as formas vilipendiadas dos seus nomes na pronúncia inglesa. Acham que seria numa cerimónia de formatura, onde está tudo de ouvido à coca, que alguém não iria perceber quando estão a chamar por nós?

Eu pessoalmente tenho medo é de ouvir a versão original em bocas inglesas. Tenho medo de aí sim, por ser tão claro o meu nome e estar tão fora do contexto de que eu não me aperceba que me estão a chamar a mim e continuar à espera que chamem uma Sarah Reese em vez de uma Sarah (mais uma vez, nem me ralei) Ra-KEL Seal-va Rei-SH.



S.

domingo, 13 de novembro de 2011

Verde verdinho

Acabei de emitir o meu primeiro recibo verde. Não sei se hei-de pular de alegria ("Yey, primeiro dinheirinho desde setembro de 2010!") ou se hei-de suspirar de conformidade ("Bem-vinda à precaridade laboral da tua geração, S.").

Acho que me fico pela primeira, para não cair no desespero e lamúria geral.


S.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Tempos + tempos

Agora podia começar o frio. Deixar de chover um bocado, para variar.

E o Glee podia começar a variar as músicas também. Hits do momento e bandas sonoras de musicais já metem nojo. Já nem para ver as interpretações musicais aquilo presta, chiça.


S.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O champô seco e o chocolate quente

Pensando bem, não há muitos produtos londrinos dos quais eu sinta falta. Agora que começa o frio, o ocasional hot chocolate a aquecer as mãos e a barriga calhava muito bem, sem bem que do que eu sinta falta não seja tanto o hot chocolate em si (há cá justos substitutos) mas sim da conveniência que era ter uma coffee shop em qualquer rua que me servisse um e poder levá-lo comigo para a rua ou para a sala de aula. Houve uma vez que entornei hot chocolate pela camisola abaixo, porque parece que o metro faz paragens meio bruscas e portanto não é o local ideal para beber coisas, mas isso é outra história. Havia uma coisa que eu costumava usar para cozinhar, que eram migalhas de pão, que cá nunca encontrei, mas que ficavam sempre melhor por cima do peixe do que o simples pão ralado, e cuja inexistência foi fonte de alguma frustração nas primeiras semanas, mas mais nada de especial.

Agora, se há coisa cuja falta eu não consigo superar é esta maravilha que descobri lá e que desatei a espalhar a sua existência a toda a alma feminina que me visitou. Com grande sucesso.






Chama-se dry shampoo e mudou a minha vida como nenhum outro cosmético o fez (salvo a pasta de dentes. E o gel de banho. E o champô em si. Mas pronto, dos cosméticos mais sofisticados foi o que mais diferença fez).

Ora bem, normalmente tenho bastante relutância em falar dele a meros conhecidos a.k.a. pessoas com quem não tenho grande confiança porque a explicação do que isto é e para que serve soa um bocado, er... mal. Pois que isto é um champô em forma de spray, parece aqueles sprays tira nódoas, e é mesmo capaz de ter os mesmos princípios ativos já que serve para isso mesmo: tirar gordura. Neste caso a do cabelo, o tão querido sebo, que começa a aparecer no dia a seguir à lavagem. Como qualquer possuidora de cabelo normal/seco sabe, não é aconselhável lavar o cabelo todos os dias. Danifica, mete-o seco e tipo palha de aço. O dry shampoo é para meter nos dias de intervalo, para as raízes não terem aspeto nhanhoso enquanto o resto dos fios estão secos que nem palha.

"Ah, então já não lavas o cabelo, é isso?" «------- Razão pela qual é embaraçoso falar deste produto com pessoas a quem não possa revirar os olhos ou gritar um "NÃO, não é isso" É para melhorar o cabelo nos dias em que não se o lava.

O dry shampoo mudou a minha vida porque permite-me ter o melhor de dois mundos: um cabelo domável como não é possível se o lavasse todos os dias e umas raízes como se o lavasse todos os dias. (Isto soou demasiado a publicidade, ainda por cima publicidade lame, mas é a pura das verdades).

Ora qual é o problema nisto tudo: é que dry shampoos não existem em Portugal. Ou melhor, existe um à venda nas parafarmácias, da Klorane, mas aqui é que reside o verdadeiro problema: custa 7 euros. E eu recuso-me, bato o pé inclusive, a dar 7 euros por uma coisa que noutro sítio obtinha por £1.

Após meses de lata vazia e com a humidade a apertar e sem perspetiva de voltar a Londres num futuro próximo, resignei-me a encomendar dry shampoo pela Amazon, que como é vendido no Marketplace teria de pagar portes de envio (por embalagem! ou seja, encomendar quantidades industriais estava fora de questão) mas que ainda assim sairía 2 euros mais barato do que o maldito Klorane.

Toda contente que ele já vinha a caminho quando hoje recebo um e-mail da Amazon: não-sei-quê refund blá blá blá. Impossibilidade de expedir este produto por avião porque é um spray.




Moral da história: o Universo anda a tentar dizer-me para lavar o cabelo mais vezes. Ou - como eu prefiro acreditar - está a tornar implícito que devo voltar a Londres.



S.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Homenagem à Casa dos Segredos

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos perco um ponto de QI.

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos um livro suicida-se.

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos o meu exemplar do The Economist começa a chorar.

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos Nietzsche desata às gargalhadas.

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos os guionistas do Último a Sair erguem a sobrancelha.

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos Freud aponta-me o seu cachimbo e exclama "Ah-ha!"

Cada vez que vejo a Casa dos Segredos a música Stupid Girls da Pink ecoa na parte do meu cérebro que não hibernou entretanto.




Podia ficar nisto a noite toda.



S.

Literatura para Porteiras #2 - Extremamente Alto e Incrivelmente Próximo

Não sabia que era possível uma história ser tão triste e tão cómica ao mesmo tempo.




Mas cómica ao ponto de soltar gargalhadas e triste ao ponto de cair a lágrima. O que se torna embaraçoso quando se lê quase exclusivamente em locais públicos. Apetecia-me dizer a cada pessoa que entrava no autocarro "Estes olhos vermelhos e quase a verter água são por causa do livro, não se apoquente". Não que alguém tenha reparado, mas uma pessoa fica sempre embaraçada.

Enfim, mais um livro bom, rai's parta a mim, que só ando a ler livros de qualidade, eu a querer um livro daqueles mesmo maus para gozar como se não houvesse amanhã e não esbarro com nenhum.

Tenho de voltar à secção do José Rodrigues dos Santos (uups).



S.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Luky 4

Entretanto há um cão que já fez 4 meses. E que ainda tem dentes de leite a cair.




S.

O regresso do Mocha

Quando vi isto à venda hoje quase chorei de alegria:


Meu companheiro de muitas tardes de estudo e pesquisa em casa, muitos essays por escrever, muito artigo por ler, o mocha está de volta à minha vida.

Nunca o tinha visto cá, apesar de agora suspeitar que não o encontrei porque nunca o procurei. Simplesmente hoje estava bem saliente na prateleira das feiras semanais que o Continente gosta de fazer (já começaram com as bebidas e os bombons que cheiram a Natal).



Temos vício de volta.

Agora é descobrir se o Starbucks de cá vende Eggnog, bebida que nunca consegui experimentar lá porque esgotou demasiado cedo.



S.

sábado, 29 de outubro de 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Correios a correr

Existe um posto de correios em Arroios que encerra muitos dos meus sonhos para um futuro próximo.

Calhou, porque era o que me ficava mais a jeito, ser ali onde eu enviasse três envelopes que me põem cheia de ansiedade cada vez que penso neles, que é todas as vezes que passo por aquele posto de correios, 6 vezes por semana, portanto.

Em agosto, a candidatura para a Comissão, sobre a qual mais depende o meu futuro próximo e o futuro mais longínquo, e sobre a qual fico doente de ansiedade quando penso nela. Evito entrar em devaneios e em "e se..."s, porque senão perco a capacidade de me focar no presente e aguentar os já longos 4 meses de espera por uma resposta.

Em setembro, a minha dissertação final rumou em direção a Londres, naquele mesmo posto, e com as mesmas borboletas na barriga. Não faço ideia do nível de nota a que aquilo está mas sei perfeitamente qual almejo. E as borboletas transformam-se em dragões quando me dá para ler e reler o que escrevi tentando avaliá-lo como terceira-pessoa, tentando perceber o que faria diferente, o que não está assim tão bem, com o meu sempre implacável e auto-crítico olho.

Hoje, foi novamente dissertação, desta vez em versão portuguesa, para tentar a minha sorte e o meu mérito num concurso nacional. Este é talvez o que menos ansiedade me causa, já que do seu resultado não está dependente nenhuma decisão de vida. O facto de o ter enviado no mesmo posto de correios que anteriormente, tratado pelas mesmas caras atrás do balcão, faz com que a coisa se tenha ritualizado e que as borboletas tenham aparecido mesmo sem terem sido convidadas ou merecidas.

Não há vez que não passe ali e não me lembre do que ali deixei e do que por ali está em jogo. É um simples intermediário, pois está claro que sim, eles não decidem nada. Mas é como se fosse a janela pela qual eu libertei um passarinho que criei desde bebé, e que finalmente aprendeu a voar. E quero ver que coisas trará no bico (se é que alguma coisa trará, se é que voltará de todo).




p.s. - Não faço ideia do que é o "passarinho" nesta metáfora... A janela seria o posto dos correios, eu seria a pessoa a libertar o passasinho, agora o passarinho em si não sei o que seria. Metáfora um bocado parva, agora que penso melhor.

S.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

As pazes

Afinal foi zanga de pouca dura. A Amazon é a melhor. Tratamento ao cliente não pode nunca ser posto em causa, fazem tudo para agradar e para acabar com reclamações antes ainda que surjam formalmente.

Corrobora a impressão que eu tive em Londres de que lá os serviços, nomeadamente os que vendem coisas, têm um medo enorme dos clientes. Medo ou se calhar é só respeito e eu não estava habituada. Lá, a máxima o cliente tem sempre razão é lei. Tanto que cheguei a trocar coisas e a reclamar uma ou outra vez, coisa que em Portugal nunca tinha feito. Uma sociedade extremamente litigiosa, na qual as pessoas metem-se umas às outras em tribunal por tudo e por nada, tem destas coisas.




S.

Um dó li tá

Deixando agora de parte as angústias amorosas com a Amazon, tenho uma decisão em mãos. Lambona como sou (e para tirar partido do SuperSaver Delivery, convenhamos) decidi encomendar estes 4. Por onde começo?


Extremely Loud and Incredibly Close


Este nem sei bem porque o encomendei, tirando o facto de o ter visto ser discutido por alguém cujo gosto literário me agrada. Fiquei com um feeling que podia gostar, vamos ver. Ah, e o título enche a boca.


My Shit Life So Far


Este autor conheci através do programa Mock the Week e eu idolatro o seu humor. Bem negro e bem British, roçando às vezes o macabro, é das pessoas mais cómicas que já ouvi. Portanto, quero ler o que tem a dizer.


Delusions of Gender


Pronto, este é mais da minha área, quero o lado científico da coisa. A premissa é a mesma da Simone de Beauvoir: Ninguém nasce mulher, torna-se. Os meninos e as meninas nascem diferentes, com aptidões e características psicológicas diferentes? Não. Ou pelo menos nenhuma determinada pelo sexo. As diferenças constroem-se socialmente.

E finalmente...

Games of Thrones



Altamente recomendado por alguém cujo gosto literário é muito semelhante ao meu, logo, confio. Até aqui não me tenho desiludido. Espero para ver.


Que me dizem? Qual escolheriam em primeiro lugar?



S.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Crying Hearting

Amazon, acabaste de arrasar o enamoramento de longos anos que tenho por ti. Abri a encomenda que espero com tanta antecipação há vários dias e falta lá uma coisa! 

Pior, como é que eu agora provo que falta lá uma coisa, se ela vem descrita no recibo, como?! Eu conto cinco só cá estão quatro, volto a contar cinco, só cá estão quatro, olho em volta, viro o papelão de pernas para o ar, nada! Estás a querer pôr-me maluca, Amazon, é isso que estás a fazer?

Sinto-me roubada, Amazon, roubada! Roubaste-me, Amazon?

Ai, que se ainda fosse um daqueles vendedores em segunda mão do Marketplace onde eu compro livros a 1p, aí era bem feito que algum dia tinha de calhar, uma coisa tão boa não pode durar para sempre.

Agora uma encomenda todinha feita de coisas novas, todinha encomendada a ti, Amazon, como foste capaz?

Estou devastada. Sinto-me traída. Não sei se vou conseguir voltar a confiar em ti, Amazon. A continuação da nossa relação e da minha adoração por ti está totalmente dependente das tuas próximas ações.

A bola está do teu lado.





S.

Back to FCSH

Se há coisa que me ficou dos meus anos de missa todos os domingos foi a capacidade de prestar atenção e ficar quieta quando é preciso. É algo que adquiri após muito ano de 1 hora por semana onde não podia rir, sussurrar, mexer, vá.

No fundo, ficou gravado no meu inconsciente que quando é para estar calado e quieto, é para estar calado e quieto, ponto final.

Ora, hoje constatei que tal capacidade é extremamente rara e não tanto do senso comum como eu sempre a tomei.

Sempre pensei que estar com atenção era algo que se melhorava com o tempo, do tipo:

- difícil na primária e no ciclo;
- melhorzita no secundário, mas ainda muita conversa;
- na universidade, já é tudo adulto e ninguém é obrigado a estar ali, portanto a atenção é maior;
- vida adulta, seria total.

A minha experiência até aqui tinha corroborado esta impressão, tanto que no liceu era conversa pegada, na univ chegámos a ouvir ralhetes, e por fim no Mestrado conto pelos dedos os focos de conversa que apanhei.

Não podia estar mais enganada. Hoje, na conferência sobre Violência de Género a que assisti, vi coisas que me fazem perder a fé na correlação + idade = ser humano aperfeiçoado. Pessoas com o dobro da minha idade a consultar facebooks, e-mails, etcs, nos seus netbooks pequeninos durante as apresentações, conversas (às vezes não tão) sussurradas, tiragem de fotos a toda a sala em plenas exposições dos oradores. Às duas senhoras à minha frente, que conseguiram a proeza de fazer as 4, só me apetecia bater no ombro e perguntar, com toda a comiseração do mundo "Quem é que vos está a obrigar a estar aqui, pobres de vós? Que criatura sem coração é que vos está a fazer passar pelo martírio de assistir a uma conferência tão pouco interessante e pertinente para vós como esta sobre a violência de género?"

Ainda fiquei na dúvida se teria regredido à minha adolescência já que comportamentos destes são típicos de adolescentes muito contrariados nas aulas e que querem lá saber o que o professor está para ali a dizer, não veem a hora de tocar para o intervalo. Mulheres muito alouradas e muito encamisadas que aos 40 anos pensam que ser adulto é botar muita maquilhagem no rosto e muito verniz no dedo do pé. E deixar que os anos façam o resto. Continuam a fazer coisas por obrigação mas fazendo questão de mostrar o quão por obrigação as estão a fazer.

Ser adulto é saber ter a consciência de escolher o que se quer realmente e tomar a responsabilidade dessa escolha completamente. Nas coisas às quais não podemos fugir e que não gostamos particularmente, temos pena mas ser adulto é aguentar muita contrariedade sabendo que a vida não é só feita do que se gosta. O muito simpático "suck it", ou o bom "aguente-se" em português. Mas isto sou eu que sou uma ingénua nestas coisas de adultos e só cá ando oficialmente há 5 anos.

Assim como assim gostei muito da conferência em si, a minha primeira a sério. Informação sobre as coisas de género como se quer, e pessoas que percebem do assunto a expôr as suas conclusões/instigar debates. Sim, porque a partir de agora o mais parecido com aulas que eu posso ter são estas coisas. E eu tenho planos de aproveitar todinhas as que forem do meu agrado e às quais puder ir.

FCSH, não te esqueças que ainda me estás a dever um Mestrado. Um dia destes cobro-te-o.



S.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Discriminação gritante

Senhores/as Enfermeiros/as,

Metade da população humana não tem sistema de direcionamento do xixi. Logo, isto


não é de todo um sistema inteligente de recolha.

Já isto


seria uma solução mais adequada nomeadamente ao nível higiénico.

Mas que vos interessa isto, não são vocês que procedem à recolha, não é verdade? Desde que o tubinho caiba naqueles suportezinhos para vocês está tudo bem.

Discriminação com base no sexo, é o que isto é. Vejam lá se reveem prioridades (estou certa de que também existem suportezinhos de boiões muito jeitosos).

Cumprimentos,

Uma pessoa daquelas que não têm direcionador de xixi.





E agora vou ali comprar um funil e já venho.



S.

domingo, 16 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Children, y u no pay attention!

Hoje, pela primeira vez nas minhas aulas de inglês, perdi a cabeça. Mandei um berro como nunca mandei na vida porque tudo o que é demais enjoa e o respeito é uma coisa muito, mas muito bonita.

Estranhamente, foi uma sensação boa.

Que isto não fique mal interpretado e que se pense que uso estas aulas para descarregar stresses ou que afinal tenho um fraquinho por controlo e as crianças minhas alunas, por estarem numa posição hierarquicamente inferior à minha, são o alvo fácil e preferencial para o descarregamento de acessos de fúria.

Não. Até agora, o meu medo era verdadeiramente este: que eu, porque nunca tive um acesso de fúria na minha vida, e perco pela maciez do meu temperamento, fosse daqueles professores incapazes de levar uma aula a bom termo porque incapazes de manter silêncio numa sala de aula.

Simplesmente gostei porque fiz o que devia ser feito. E a sensação de justiça é uma das melhores do mundo.

A convivência com crianças de 10 anos tem-me ensinado muito sobre o mundo infantil com o qual nunca tive contacto (salvo durante o meu tempo), e portanto zona totalmente desconhecida para mim. Mas tem-me ensinado ainda mais sobre mim, sobre as minhas aptências sociais (que são muito fraquinhas) e sobre que espécie de pessoa sou. Tem provado muita coisa que eu já desconfiava, mais do que me tem realmente surpreendido.

Hoje descobri que um berro bem dado e bem dirigido à fonte causadora da indisciplina na sala de aula, é remédio santo. E que não há nada como a disposição tradicional de mesas e cadeiras de sala de aula em fila, viradas para o quadro, por oposição a grupos de 4 ou 5.

Após um mês de aulas dadas as conclusões não são definitivas nem concretas. É uma experiência desafiante, esgotadora por vezes, e uma vez por outra gratificante. Sinto-a, sobretudo, como necessária ao meu crescimento como pessoa, ainda que não consiga explicar exatamente porquê. Desistir porque sim nunca foi opção.

No final, far-se-á o balanço.


S.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Que está a dizer?!

Embarquei numa nova aventura literária sem saber bem o que me esperava. É uma lotaria e, por não haver expectativa nenhuma, podem surgir boas surpresas.





Este foi escolhido aleatoriamente, numa daquelas bancas que vendem livros em segunda mão, de capas respeitosas e com uma porrada de anos em cima. Nem sei porque é que me decidi por este já que nem tinha resumo. Ou foi o desenho ou foi a capa rija azul bebé.

Seja como for, foi uma boa escolha. Estou a gostar muito. Faz-me lembrar o Levantado do Chão do Saramago, o primeiro livro que li que me deu uma noção completamente crua e portanto realista do que era a vida no interior do nosso país na primeira metade do séc. XX.

E depois tem o benefício de estar repleto de expressões que deduzo serem de Trás-os-Montes (Terra Fria), daquela altura (anos 40), e que faz com que apareçam frases como:

"A manhã não havia nascido ainda e já ele arreava a pileca."

A minha mente de séc. XXI habituada a duplos significados da Língua Portuguesa não é de ferro. Quase larguei a rir no meio do autocarro. Tenho a certeza de que pelo menos as sobrancelhas fizeram danças estranhas pela minha testa.

Só tenho pena que o livro não esteja escrito em português de oitocentos. Com dois fs e não sei quê. Entrava em contato com três formas de escrever português e contaria como sobrevivi.

Tudo isto para dar conta da minha nova incursão literária. E para referir que já consigo ler no autocarro e assim aproveitar pelo menos 45 minutos diários que eram passados a dormir ou a olhar para ontem.



S.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Macacos do Ártico

Sabemos que uma banda é a nossa preferida quando:



- 24 das nossas 25 músicas mais tocadas são dessa respetiva banda;

- após 7 meses ainda não nos fartámos do primeiro álbum que começámos a ouvir ("You should know you're his favourite worst nightmaaaare");

- decidimos que 4 álbuns não chegam e portanto toca a sacar tudo o que é single;

- as músicas são tão brilhantes que passado uns meses revelam novas rimas de génio e/ou passagens que acabam por viciar;

- cada semana se descobre uma nova música preferida (esta é o Jeweller's Hands, a semana passada foi o Crying Lightning);

- ouvimos uma nova música aleatória de outra banda, gostamos e tal, "sim, mas não é Arctic Monkeys...". O padrão para comparações passa a ser essa banda;

- ouve-se a banda em qualquer sítio, com qualquer estado de espírito.


A minha teoria sobre ser pessoa de pessoa só? Pois, parece que também sou pessoa de banda só. E finalmente encontrei a minha.

Jeweller's Hand

"If you've a lesson to teach me 
Don't deviate, don't be afraid"


The Hellcat Spangled Shalalala
Toda ela é brilhante ao nível da letra mas 

"I took the bateries off my mysticism 
And put them in my thinking cap"

É uma expressão que gosto especialmente.



Crying Lightning

É bem capaz de ser a minha música favorita.

"With folded arms you occupy the space like toothache
Stood and puffed your chest out like you never lost a war
And though I tried so not to suffer the indignity of a reaction
There were no cracks to grasp
Nor gaps to crawl
And yooooooooour....
Pastime consisted of the strange
Twisted and deranged
And I love that little game you had called
Crying Lightning"

(chega)


E por fim... A primeira música deles pela qual me apaixonei:

505
"Stop and wait a sec
Oh, when you look at me like that my darling
What did you expect
I probably still adore you with your hands around my neck"


Qual será a próxima música preferida? Não faço ideia. Muito provavelmente uma que me tem passado despercebida até agora e que em breve acenderá uma luzinha que me fará dizer "Espera lá, esta música é bem capaz de ser qualquer coisinha..." E vai-me apetecer ouvi-la em repeat durante dias. (Mas não vou porque é assim que se estragam as músicas. Eu sei, aprendi com a experiência.)


S.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Literatura para porteiras

Inspirado nisto:



Acabei o tão aguardado Jane Eyre, que me foi altamente recomendado.

Acertadamente.


Adorei. Prendeu-me às páginas como nem todos os clássicos o conseguem fazer. Ao início custou-me um bocado a entrar na personagem, a gostar dela, a percebê-la. Mas a partir das 100 páginas apanhei o bichinho vira-página, já era com grande entusiasmo que pegava no livro. A partir do meio já o lia em qualquer lugar, ele era metro, ele era paragem do autocarro, só não lia enquanto caminhava pela rua porque ainda assim prezo a minha dignidade e não me apetecia esbardalhar-me no chão.

Dou-lhe quatro estrelas e meia. Só não dou cinco porque o fim foi um bocado chocho.

 SPOILER EM BAIXO








Então não é que a rapariga, toda educada e culta como se quer, sem laivos de materialismo nem de afetações parvas de feminilidade ou vaidosismos, desiste de fazer qualquer coisa de útil na vida e vai-se dedicar a tempo inteiro ao marido?! Nem uma escola de raparigas, nem um trabalhinho como enfermeira, governanta da enteada, qualquer coisa do género? Eu já nem digo ir para a Índia, como esteve quase para acontecer, já que frágil como ela era aquilo não era coisa para durar muito tempo. Agora, 24 horas com o marido, sempre a falar, sem um momento para respirar sozinha, fazer qualquer coisa parva daquelas que só fazemos quando estamos sozinhos, epá... Meteu-me impressão. Eu a pensar que aquilo era uma história com um leivo feminista implícito, impercetível, a provar às mentalidades do séc. XIX que uma mulher pode ser muito mais do que uma escrava do lar e da família, e afinal cai tudo por terra nas últimas 40 páginas. Enfim, não se pode ter tudo.

Tirando isso, livro fabuloso. Na escrita, nada a apontar, flawless, bem corrida, refinada, perfeita. A história dá cambalhotas completamente inesperadas, o que é receita ideal para prender a atenção.

Recomendado.



S.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

De volta



Estão de volta à minha vida. De onde nunca deviam ter saído.



S.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Coisas que nunca pensei

Recentemente, ando a descobrir que a vida é demasiado imprevisível. Demasiado porque muito mais do que alguma vez pensei, eu, senhora dona de um espírito planeador e organizativo à exaustão. Por exemplo, nunca me passou pela cabeça:

- voltar a ter lápis de cor dentro do meu estojo;

- voltar a ter o bichinho da América (leia-se Nova York);

- chamarem-me "Senhora Professora" antes sequer de ter um título académico (licenciada nunca contou, não venham com coisas...);

- admitir que a Soraia Chaves é uma senhora;

- viajar de autocarro em Lisboa diariamente e gostar;

- voltar a ter orgulho no Sporting.


Não me estou a queixar, entenda-se. É uma mera constatação de factos.






S.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Há um ano

Primeira coisa que o Facebook me mostra quando o ligo hoje:


Oh Facebook, porque me torturas assim!


S.