sexta-feira, 15 de maio de 2015

O feminismo a custar-me dinheiro, oh

Gostava de saber porque é que um casal com apelidos diferentes tem que pagar o dobro do que um casal com o mesmo apelido para redirecionar o correio para o estrangeiro.

Ou se paga à cabeça ou se paga ao agregado familiar. Independentemente do apelido, são sempre dois destinatários que eles terão que despachar de maneira diferente. Para quê a diferenciação?



S.


P.S. E enfiem  mas é as 500 libras onde vos aprouver, com esse dinheiro venho eu a Sheffield 5 vezes por ano - que pensando bem devem ser as vezes que tenho que cá vir de qualquer das formas - e recolho o correio eu mesma.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Um minuto de silêncio...

... pelas pessoas que, seis anos depois, ainda acham que o novo AO as vai obrigar a escrever fato, em vez de facto, e cagado, em vez de cágado.

Em querendo enxovalhar, enxovalhem com conhecimento de causa.




S.

P.S. Lamento rebentar a bolha de quem se acha muito rebelde por estar contra o novo AO porque, 'ah e tal, não é o Sócrates e afins que mandam na língua': andam a escrever sob as regras de um outro AO, o de 1990. A língua evolui naturalmente, sim senhora, mas em determinadas alturas é preciso fixar as regras oficiais de gramática e ortografia, senão cada um escrevia como lhe apetecia, numa lógica de 'isto não é um erro, o meu português é que evoluiu mais rápido do que o teu'.

Update: como muito bem apontou a Ceridwen, o acordo ortográfico que ditou a ortografia da língua portuguesa até ontem foi a Convenção Luso-Brasileira de 1945. O AO de 1990 (!) é o que entra definitivamente em vigor hoje. Mais pormenores aqui, na abertura de 14/05/2015.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Entretanto, há 70 anos numa Berlim 'libertada'


in A Woman in Berlin, anonymous


Estou a ler o diário que uma mulher alemã manteve durante dois meses aquando da chegada do Exército Vermelho a Berlim, da luta pela cidade e da capitulação alemã.

Para além de ser uma perspetiva incrível sobre o dia-a-dia das pessoas durante o crepúsculo de uma guerra - desde os abrigos coletivos nas caves dos prédios sempre que chegavam as bombas, até à ida diária à bomba para ir busca água, as rações a que tinham direito, a espera e incerteza sobre quando chegariam os russos e a incerteza geral pelo futuro - é um retrato profundamente realista (porque, enfim, escrito na primeira pessoa e à medida que as coisas iam acontecendo) sobre a natureza humana, as relações entre conquistador e conquistado, e a capacidade do ser humano de se adaptar a condições que no conforto da nossa paz achamos inconcebíveis.

É incrível a forma lúcida e objetiva com que ela analisa o que vai acontecendo, coisas por que passa - incluíndo múltiplas violações - e o detalhe que fornece. 

Talvez o mais precioso de tudo sejam as reflexões desapaixonadas que faz de assuntos gerais através das experiências que vai vivendo. Há uma altura em que reflete se a sua relação com um major do exército russo se baseava em violação ou se não estaria ela a trocar favores sexuais por comida, e se sim, o que achava ela do facto de se estar a prostituir (ela não julga a situação moralmente e diz muito simplesmente que nunca se achou acima das mulheres que se prostituem para ganhar a vida). Ou de quando conclui que o facto de falar um pouco russo é ao mesmo tempo uma benção e uma maldição, já que por conseguir entender os soldados consegue identificar-se humanamente com eles, consegue vê-los como indivíduos, como humanos, e portanto não consegue odiá-los no geral como bestas pelo que estão a fazer, como outras mulheres alemãs conseguem. Ou quando, já na inevitabilidade de Berlim ser vencida, repetir sarcasticamente o dito de que os berlinenses otimistas estão a aprender inglês, os pessimistas a aprender russo. Quando reflete no odioso culto à masculinidade feito durante o regime Nazi, mas masculinidade essa que agora se refletia na decadência dos berlinenses que restavam, que não levantavam a voz a nenhum dos conquistadores, nem punham qualquer entrave ao tratamento vil destes às suas mulheres, que por isso iria ser preciso encontrar um novo conceito de masculinidade após a guerra. O relato das conversas sobre política que teve com alguns membros do exército russo, do medo que os russos em geral tinham de subir escadas por estarem habituados a casas rurais de único piso, de como eles só conseguiam violar mulheres quando estavam podres de bêbados, de como aproveitaram as bandeiras nazis para recortar bandeiras vermelhas e hasteá-las no topo de edifícios, de como relógios de pulso fascinavam os soldados russos, alguns usando-os 5 e 6 em cada braço, porque na URSS não havia cá desses luxos.

O diário foi publicado em 1954, em inglês, salvo erro, e não na Alemanha, porque houve uma controvérsia enorme sobre o conteúdo do diário. Ninguém queria falar das violações em massa, ainda hoje um assunto tabu, nem da geral conivência dos homens alemães com aquilo que os russos fizeram às suas mulheres (a autora não os recrimina, observando que é uma técnica de sobrevivência como outra qualquer, mas relata surpreendida a retirada que dois ou três russos fizeram quando um marido lhes gritou que deixassem a sua mulher em paz - não estavam à espera daquela reação e não queriam confusão). A autora manteve o anonimato, e só autorizou a re-publicação do livro após a sua morte, para evitar mais uma onda de polémica.

É um relato fascinante, bem mais incrível do que literatura histórica da época. Parece que a realidade supera sempre a ficção, não é verdade, tanto no mais terrível como no mais belo.




S.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sexo fraco o c@r@1h9

A Paula Radcliffe bateu o record mundial da maratona a correr com o período.





Porra, RESPECT.


S.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Compras digitais, fronteiras reais


Acho que já vai sendo tempo, já.

As voltas que dei há umas semanas quando tentava descarregar um filme da Amazon.de para o portátil. Primeiro não podia ser porque não tinha morada alemã (para que precisam eles de saber onde vivo se a compra era digital, nada de correios envolvidos?). Depois, quando meti uma morada alemã, não podia comprar o filme porque o meu IP assinalava que eu não estava em território alemão. Lá me lembrei de procurar o filme na loja do iTunes, para concluir minutos mais tarde que, é verdade, estou no UK, a minha loja de iTunes é britânica, tem lá agora filmes em alemão. Na minha ingenuidade ainda pensei que devia ser fácil escolher a loja iTunes nacional que se quisesse, mas 'tá bem, abelha. Mesmíssimas restrições que no caso da loja digital da Amazon. Netflix, idem.

Portanto, eu posso encomendar um produto físico da Alemanha, que custa dinheiro, mão-de-obra e tempo a transportar, que atravessa fronteiras físicas nacionais, e que implica portanto também pelo menos dois sistemas de correio nacionais diferentes. Mas não posso descarregar um ficheiro digital comprado pela internet a um website com domínio alemão, que não implicaria rigorosamente nenhum dinheiro, tempo a transportar, nenhum sistema de correio, nem travessia de nenhuma fronteira. 

O produto que é o sonho de qualquer mercado único é o último cuja circulação está restringida no mercado único europeu. Mas que rica coerência lógica que temos aqui. 

'The commission said it would convert Wednesday’s proposals into legislative initiatives by the end of next year. The problems will be formidable on everything from national VAT rates to broadband infrastructure investment and how national spectrum allocation can be harmonised. Development of 4G and 5G in Europe are suffering because national governments jealously guard their prerogatives over spectrum allocation.'

É apertar com eles é, Comissão, para que a UE sirva pelo menos o propósito mínimo para que foi feita: concretização do mercado comum europeu.




S.

sábado, 2 de maio de 2015

Uma pessoa ri-se, ri-se, mas quero dizer, quão triste é isto?

'Do you know the difference between the clouds and the sky? If you do, you're lucky, because if you live in England, the two are pretty much synonymous. (...)

Our word sky comes from the Viking word for cloud, but in England there's simply no difference between the two concepts, and so the word changed its meaning because of the awful weather.'

The Etymologicon: A Circular Stroll Through the Hidden Connections of the English Language, Mark Forsyth


Hoje fui correr vestida com o meu equipamento de inverno: camisola de manga comprida, calças, impermeável, tapa-orelhas. 

(Eu o inverno tolero bem, o que me frustra mesmo é o prolongamento do mesmo por meses que não devia. Especialmente depois do contraste de uns dias em Portugal a correr de chapéu e protetor solar.)





S.