quarta-feira, 27 de julho de 2011

Depois desta figura, temo ser uma péssima feminista

No domingo satisfiz o meu lado de rapariguinha-que-acha-que-ser-princesa-medieval-é-o-auge-da-'cool'icidade. Ou seja, o meu lado nerd medieval ronronou nas horas em que estive trajada assim. E especialmente por esta altura:



Se a isso corresponder um D. vestido a pagem/cavaleiro (as modas masculinas mudaram um bocadito. Temo que os estatutos conferidos sejam irreconhecíveis hoje em dia), e uma companheira com um igual lado nerd medieval, e está completo o dia de fantasia.




S.



Queria ligar isto aos 6 anos juntos que completamos hoje. A foto é capaz de dar. Caramba, como o tempo passa. E como as pessoas olham com um misto de respeito e estranheza quando se diz 'hoje fazemos 6 anos de namoro'. Parece que não é suposto. Não com 22 anos. Como não era suposto termos embarcado numa vida a dois em Londres aos 21. Haja vontade e amor e continuaremos por muitos e bons anos a fazer o que não era suposto. A dares-me na cabeça porque os meus 'e se...' são compulsivos e eu a dar-te na cabeça porque tens com cada sugestão. Ora agora ir viver para a América! Ora agora ir viver para Bruxelas! Londres, né? Olha, uma viagem de costa a costa americana...! Uma viagem pela Europa?? ('Não digas isso muitas vezes que eu começo a pensar a sério...). Acho que é por isso que te amo. Representas para mim a possibilidade do sonho tornado realidade. Desta vez, não como príncipe encantado - e muito menos medieval (aquela gente não tomava banho) - mas sim a vivência de coisas diferentes, maravilhosas, tristes, desconhecidas, surpreendentes, mas sempre, sempre partilhadas. Desviadas da rota certinha e direitinha que eu tanto abomino mas para a qual sou irremediavelmente atraída se estiver por minha conta. Não quero dizer clichés como 'completas-me' ou 'os opostos atraem-se'. Porque uma pessoa deve-se bastar a si própria, deve ser um ser completo, único e auto-suficiente. Não esperar que outro(s) lhe arranjem, limem arestas, lhe salvem. E os completos opostos não se atraem. Tal como os inteiros semelhantes também não. Tu és coisas que eu não sou, sabes coisas que eu não sei, tens coisas que me fascinam porque impensáveis em mim. E vice-versa. Mas em comum temos mais, muito mais. E no meio disto, conseguimos um 'nós' nunca perfeito, sempre em construção, mas melhorado diariamente. Cheio de infinitas possibilidades. Por isso, repito: que continuemos por muitos anos a fazer o que não é suposto. Que a nossa familiaridade nunca caia em monotonia e que o nosso amor seja sempre ligeiro o suficiente para acomodar novas circunstâncias e profundo q.b. para aguentá-las. Nunca perdermos o Norte. E que haja sempre um par de braços (sejam os meus sejam os teus) à espera em casa, seja ela onde for.  

sábado, 23 de julho de 2011

Milho popular

Ando com uma vontade louca de comer pipocas enquanto vejo um filme em casa. Não pelo prazer de comer pipocas, mas para poder mandá-las ao ecrã cada vez que me zango com alguma personagem. Especialmente em filmes de terror. 'Epá, não vás por aí!' pumba, pipoca no ecrã.



S.

Se este post podia ser mais interessante? Podia, mas depois de uma sesta de duas horas é difícil.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Para começar a sério

A minha mais recente aquisição.



Queria algo mais do que umas pesquisas pontuais na net sobre locais a visitar. Queria uma revisão de Portugal, de cima a baixo. E depois de uma viagem de autocarro, imersa em leitura, chego à conclusão que consegui.

Só falta mapas/GPS/google maps imprimidos para chegar a todos estes sítios que anseio ver. Isso logo se vê. Entretanto vou deleitando os olhos e a imaginação com este guia.



S.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sobre o tempo

Prometi a mim mesma - e a terceiros - que não ía ser daqueles emigrantezecos que quando voltam a Portugal passam a vida a dizer 'na/no xxxxx é que era!...', 'isto realmente só em Portugal' com olhar e tom de voz de desprezo. Ou daqueles que vêm passar férias e falam entre si em francês, para fazer questão que não pertencem e quiçá que alguma vez pertenceram. Amo Londres e o UK em geral, as saudades começam a aparecer (onde é que estiveram escondidas?...) e às vezes dá-me uma vontade louca de voltar, mas jamais farei comparações despropositadas entre lá e cá, 'ai, porque os portugueses são assim', 'ai, porque lá é que era bom', 'ai, que este pais é uma miséria', e ronhonhó. Não são melhores sociedades nem piores, são diferentes. Os sítios, idem.

Agora, numa coisa não me posso conter.

Que m**** de tempo é esta?

A sério.

Eu sei que referi várias vezes que não funcionava acima dos 30º, que odiava o calor e suar que nem uma porca. Só que entretanto, descobri que a temperatura não se mede apenas na escala de graus. 20 graus num sítio podem ser muito diferentes de 20 graus noutro.

De que estou eu a falar? Humidade. Humidade e vento. Vivendo na Região Oeste toda a minha vida, a cinco quilómetros do mar, nunca me tinha apercebido. Até que experimentei com alegria 20º em Londres.

Dei voltas e voltas à cabeça a tentar explicar porque é que com 20 graus aqui tirito de frio e em Londres ando de manga curta. Porque é que 5 graus em Londres era um alívio, de se andar bem na rua até, e 5 graus aqui é vaga de frio. Pensei, será da relativização? Da preparação psicológica? É que depois de temperaturas negativas, 5 graus calham mesmo bem.

Depois pensei, será do isolamento das casas? Quando vim a Portugal em janeiro, com uns confortáveis 14 graus de média, passei mais frio do que com 6 - 8 graus lá. O isolamento das casas tem muito que se lhe diga e é um factor. Mas não explica o frio que aqui se entranha nos ossos, que nem múltiplas camisolas conseguem manter afastado.

Cheguei finalmente à conclusão que é da humidade, coisa que muito dificilmente se nota mas que uma vez notada, se torna omnipresente.

E que dizer do vento? O vento é uma constante aqui. Junte-se vento à humidade, e os 25 graus que marca o termómetro tornam-se insignificantes.

Tempo extremo ou mesmo instável é coisa que Londres não conhece. Refraseando: tempo que eu não conheci em Londres. Chegou a meter impressão. Tempo nublado, cinzento, de vez em quando o sol lá dava uma espreitadela, frio durante meses, frio como nunca tinha experimentado, mas um tempo certinho. Sem trovoadas, sem ventanias, sem chuvas torrenciais. A temperatura que o termómetro marcava correspondendo impecavelmente ao tempo que se fazia sentir. O frio, esse, dava para manter afastado com múltiplas camisolas, pares de leggings, gorros, luvas. (Nunca vou esquecer o dia em que suei com 0 graus devido a ter roupa a mais. Mas, lá está, mais vale prevenir...) Um dia fez 24 graus, meu deus! Só me apetecia era estar debaixo do chuveiro.

Ora cá, cá não consigo funcionar como deve ser abaixo dos 25 graus. Raio de pessoa que sou! Insatisfação permanente e perpétua. E se não estiverem 30 graus, não serve para praia.

Conclusão? Comparações melhor/pior dão mau resultado. O tempo cá é pior que o de lá? Não. É diferente. Temperaturas bem mais elevadas mas tempo mais instável. Portanto inclassificável numa escala de mau ------ bom. Idem para os povos, idem para as sociedades, idem para as culturas.






S.

domingo, 17 de julho de 2011

Tróia



Portugal tem lugares surpreendentes. E que passam tantas vezes ao lado de quem pensa em destinos de férias ideais.

Para mim, que é tão desconfiante meter-me num carro e daí a uma hora estar numa praia tão estranhamente caribenha, de areia tão branca, tão fina, de mar tão calmo e de um azul turquesa de fazer inveja ao Mediterrâneo, foi uma surpresa. Não completa, porque o Google Images impede-nos de ir de olhos vendados até a um novo destino, seja ele onde for. Mas foi em tom de desafio que embarquei no ferry no porto de Setúbal, 'Alright, let's see what you've got, Tróia. Maravilha-me'. E não é que a malandra maravilhou?

Começou pelo tempo. Passa-se a Ponte Vasco da Gama e o tempo feio de chuviscos dissipa-se como por magia, quase como um prelúdio de um Algarve a 3 horas de distância. 'Ora sejais bem-vindos ao Pré-Alentejo, terra onde começam as planícies secas, amareladas do sol tórrido que se faz sentir durante mais tempo do que na Região Oeste de vossas Excelências.' Castelo de Palmela um pouco mais além, lá bem no alto, despoleta a minha imaginação medieval de batalhas de Reconquista, D. Afonso Henriques batendo os mouros, sendo batido de volta, e retirando-se para a margem norte do Tejo, a abanar um punho fechado no ar, de cara desafiante, imensamente determinado a ir por aí abaixo até não ter mais terra a reclamar.

Setúbal começa por parecer uma cidade como qualquer outra. Torres Vedras saltou-me à mente várias vezes, apesar de serem mais as diferenças que consigo enumerar do que as semelhanças (rio em Setúbal, abundantes restaurantes de peixe, serras; cidade mediana). Muito compenetrada a seguir as placas que indicam Tróia - Cais logo desde que se entra na cidade, levei um baque no coração quando virei uma esquina e me deparei com a serra da Arrábida ao fundo, a foz do Sado, e o que supus ser Tróia ao fundo. Instantaneamente pensei 'Já valeu a pena.'.

O ferry de hora a hora, chega ao seu destino em menos de 30 minutos. Parecia uma criança sem conseguir conter a sua excitação enquanto esperava pelo 'PÓÓÓÓÓ' que o barco faz antes de partir. Queria ver os golfinhos! A espuma que a ondulação fazia enganou-me demasiadas vezes. Os golfinhos não apareceram.




A desilusão durou muito pouco. A vista da travessia, mesmo sem golfinhos, é qualquer coisa. Quatro elementos que raras vezes podem ser abarcados de uma só vez ali estavam: a serra com a sua vegetação cerrada, o rio, o mar e a cidade de Setúbal ao fundo. E uma praia que se aproximava cada vez mais e que prometia.

Prometia e cumpriu. Logo no cais a água tão transparente e verde-esmeralda deixa antever que a praia mesmo deve ser qualquer coisa de especial. Andámos cerca de 20 minutos. Pássamos por várias praias. Queríamos ir até ao fim, até à praia que se antevia no horizonte porque essa é que devia ser a melhor, essa é que estava mais longe, o esforço só poderia recompensar.

Fiquei estupefacta. Primeiro um 'Portugal tem disto?!', depois um 'Conheces muito mal o teu país, minha amiga.' Tinha à minha frente uma das melhores praias onde já estive. Rivaliza taco-a-taco com qualquer praia caribenha, com qualquer praia mediterrânica. Superior ao Algarve. E a uma hora de casa.

A primeira pegada na areia é sempre para mim motivo de excitação. Andar descalça sempre foi uma das minhas manias secretas. Sentir aquela areia fininha (ou qualquer areia, se pensar bem) debaixo do pezinho é uma das melhores sensações do mundo. Sempre fui muito feliz na praia. Memórias de infância, memórias de férias desde sempre, memórias de adolescência. Pisar a areia despoleta uma felicidade correlacionada com tudo isso.

Claro que quando o pezinho toca a água desvanecem-se todos os devaneios caribenhos. 'Ah, espera lá. A água é bem portuguesa!'. O que é mais desafiante, do ponto de vista físico. Dá ideia de que as nossas praias, mesmo rivalizando as paisagens das melhores do mundo, dão luta. 'Não tão depressa, minha amiga. Toca a ficar dormente primeiro antes de sentires esta água turquesa a submergir-te por completo.' Nada que impedisse uns bons mergulhos. O vento que se fez sentir e a cabeça cheia de areia que trouxe até ao chuveiro de casa também não conseguiram estragar o dia.

Seja Portugal capaz de me surpreender constantemente, e a minha vontade de emigrar poderá ver-se seriamente ameaçada. Queira eu deixar-me surpreender e que a vontade de o conhecer não me abandone. Queira eu!





S.    

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quero uma casa deste tamanho

Tenho um grande desgosto de não conseguir ler no autocarro. E que a minha viagem de metro seja tão curta que não dê para ser aproveitada.

Isto porque tenho saudades de ler por prazer, ler apenas literatura, sem ter preocupação de tirar apontamentos, pensar onde aquilo poderá ser útil, anotar a página. É que eu amo o tema da minha dissertação, mas o meu espírito anseia por leitura relaxada, carefree. Não tendo o tempo nem a vida que tinha há 2 meses atrás, faz-me espécie que a 1hora e 30 minutos que passe todos os dias no autocarro seja passada a dormir. E que a meia hora de metro, partida em dois, não chegue para ler uma página, entre o abrir o livro, segurar o poste com a outra mão e fazer as danças costumeiras em cada paragem para acomodar quem sai e quem entra.

Uma das primeiras coisas que estranhei quando mudei os meus movimentos pendulares - o chamado commutting - de Hounslow-London para Mafra-Lisboa foi a ausência de livros e netbooks, kindles e ipads no metro lisboeta. Cheguei à conclusão de que o metro lisboeta não é metro de commuting como o metro londrino o é. Lisboa tem metro de centro de cidade. Quem vive nos arredores tem frequentemente de utilizar outro meio de transporte até uma estação. O que significa menos tempo passado no metro, e a desnecessidade e impraticalidade de aproveitar esse tempo para ler.

Tenho saudades de metro, assim como tinha saudades de cidade. Gosto de não ter necessidade nenhuma de automóveis. De não ter de pensar em preços de gasóleos, em lugares para estacionar, em rebuscar na mala à procura da chave. De ter apenas um livrinho-mapa na mala e toda a vontade do mundo para explorar, sem adereços poluentes atrás. Ir a pé de um lado para outro, para mim a maior vantagem de viver numa cidade.

Há quem anseie pelo campo, pela tranquilidade, pelo silêncio, pela ausência de multidões. Ui, que ovelha tresmalhada sou eu! Eu desejo o rebuliço de qualquer cidade, muita gente na rua, cada um tratando da sua vida, da mudança constante das montras e sítios por onde se passa. Dá-me calafrios ao pensar nas férias sonhadas por muita gente de uma casa no meio do nada, sem vivalma por perto, cortada do resto do mundo. Eu quero o mundo à minha volta, muito mundo, se possível vibrante e cheio de mudanças constantes. Porque em termos de serenidade já basto eu.

Agora, se vou pensar sempre assim? Provavelmente não. A minha opinião em relação a estúdios vs casas grandes também irá provavelmente mudar. A idade, afinal, é mãe de muita mudança. (E já notei que as minhas afirmações não têm necessariamente longa vida. Espero que haja exceções, no entanto.) Por agora é assim que penso, é isto que expresso. E por agora a minha ambição não é vivenda nos subúrbios, é apartamento bem no centro da cidade, seja ela a que o destino me/nos reservar.





S.      

terça-feira, 12 de julho de 2011

Queridas gengivas,

hormonas do crescimento e corpo humano em geral,

Eu já tenho carradas de bom senso. Sempre fui uma menina muito ajuizada, nunca pisei a linha, nunca fiz disparates e sempre me comportei como era esperado. De maneiras que os dentes do siso escusam de continuar a moer o meu juízo. Escusam sequer de aparecer. Não preciso deles, nem simbolicamente, nem fisicamente. Será que podiam ficar por aqui?

Atentamente,

A vossa senhoria S.












p.s. - Acabei de ler que 3 em 4 pessoas experienciam complicações relacionadas com os dentes do siso, especialmente porque não têm espaço no maxilar e eles crescem tortos. Isto só quer dizer uma coisa: se o corpo já não tem espaço para eles, eles já não são precisos. Mas continuam a nascer. Para quando uma evolução na espécie humana completa, Srª Natureza? Este meio termo não é nada.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Se tu visses o que eu vi...

Hoje descobri:

- uma loja de figuras de banda desenhada e séries animadas;
- uma loja exclusivamente de fruta e legumes;
- uma escola de kizomba;
- a sede do INEM;
- uma cadeia de fast food que em vez de hamburgueres, vende ovos.

Caramba, que saudades de cidade que eu tinha!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sobre monogamia e bibliotecas

Tenho para mim que sou pessoa de uma pessoa só. 

Nunca gostei de ter muita gente na minha vida. O dito 'conhecidos tenho muitos, amigos tenho poucos' nem sequer se aplica a mim. Amigos conto pelos dedos das mãos, mas conhecidos também não abundam. Tenho dificuldade em relacionar-me com pessoas no geral, sou inapta em conversa situacional, meço ao centímetro o que digo na presença de quem me quer bem, e ao milímetro o que digo na presença de conhecidos e/ou estranhos (uma pessoa conhecida pode ter a qualidade de 'estranho'. Vice-versa já é muito mais raro). 

Nada disto é novidade para mim, nem tem nada de extraordinário. A verdade é que hoje, durante a minha viagem de autocarro, me apercebi de um padrão. De dois, vá. Um, que as viagens de autocarro (só as de volta) estão a tornar-se frutíferas em epifanias. O outro, que sou pessoa de uma pessoa só.

Nos vários ambientes nos quais girou a minha vivência quotidiana, fossem eles escola, faculdade, Londres, trabalho, a minha tendência foi sempre a busca de alguém essencial. Mas uma pessoa essencial não necessariamente para todo o ambiente, mas sim uma pessoa essencial para determinado momento. Uma única pessoa com a qual a afinidade, nem que fosse apenas por algumas horas por semana (no caso de determinada aula na faculdade, por exemplo), fosse máxima. Nas minhas relações pessoais tendi sempre para uma melhor amiga, uma pessoa que na ausência de tudo o resto me bastasse. É uma característica absolutista, eu sei. Vem-me da infância. Old habits die hard. Quem subestima a sua infância corre o risco de não se conhecer sinceramente. E de não ser capaz de identificar padrões que se repetem por longos anos, às vezes uma vida inteira. O meu, é o absolutismo nas relações sociais. Um absolutismo não de sinónimo de ditadura, mas de sinónimo de único, exclusivo, individual.

É por isto que raramente sou feliz em festas grandes, em jantares disto, em almoços daquilo, que por definição envolvem muita gente. Fico como que à deriva. Afundo-me na multiplicidade de vozes e de personalidades que se entrecruzam nesses ajuntamentos. Esgoto-me mental e emocionalmente. A não ser que haja mais uma pessoa, pelo menos uma pessoa com quem possa exponenciar uma afinidade exclusiva. Assim sou feliz. E divirto-me. No fundo porque bloqueei as múltiplas maneiras de estar e entrei em sintonia com uma só.

Então, volto a dizer. Sou pessoa de pessoa só. Nasci naturalmente monogâmica. Pessoa de homem só, pessoa de amiga só (não de única amiga, mas de amigas com características únicas, com quem sinta afinidade em diferentes coisas, para momentos individuais). Pessoa de conversa só. Gosto de conversas a dois. Gosto de olhar nos olhos da outra pessoa, perceber que me está a perceber, de ter atenção reservada e de dar a minha atenção individida. Seja numa conversa de chacha seja numa conversa íntima. Daí que a minha voz seja serena e menos audível do que por vezes deveria. Que odeie falar ao telefone. E que seja má em debates. 

Mas que adore ler. Ler é o epitome da exclusividade de atenção. É o estabelecer de uma afinidade completa e individida com determinado autor, num determinado momento. Por consequência (epifania!), a biblioteca só poderia ser o meu local favorito. Afinal, não tem apenas que ver com o meu nerd 'eu'; é o lugar onde existem potenciais afinidades exclusivas a estabelecer! É, tão-só, o meu sonho social. 



S.    

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Vindication on the Rights of Women - Mary Wollstonecraft

(Peço desculpa pelo inglês, foi uma crítica de um livro que amei copiada do meu goodreads)

A Vindication of the Rights of Woman (Penguin Classics)A Vindication of the Rights of Woman by Mary Wollstonecraft
My rating: 5 of 5 stars

Funny how so much of what she criticised in society's expectations towards women are still so true more than 2 centuries later. She pinpoints education (or lack of) as the reason for women's seemingly inferiority in relation to men. It's a manual on education, more than anything. Often I felt it as a slap in the face for women who still choose to fit obsolete notions of what it means to be a woman. A slap in MY face for often feeling bad for being who I want to be, instead of who society thinks I should be. All in all, a very clever book, clearly with breakthrough notions that must have thoroughly shocked many men and women of her day. 100% recommended.


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S.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Há dias assim

Hoje é um dia deveras arrepiante. 5 "cenas":

1. após muita espera, chegou finalmente o dia do início da candidatura para os estágios de Março 2012 na Comissão Europeia. Quem me conhece - e eu escrevo apenas para quem me conhece - sabe que a minha ambição profissional de há muitos anos é a UE, mais concretamente a Comissão Europeia. É a minha paixão, medida através do indicador que a Rowling uma vez me ensinou: "a minha paixão é ser escritora, sei-o porque só me imagino a ser escritora e não percebo porque é que toda a gente não quer também ser escritora". Desde que li esta frase que meço as minhas paixões por ela, especialmente a profissional. Sei que a minha paixão é a Comissão porque não percebo como é que o resto das pessoas não ambiciona também trabalhar lá.

Isto que não seja lido como arrogância, egoísmo ou self-centrismo da minha parte; tal exprime apenas o meu desejo visceral, a minha ambição máxima, a minha paixão pela União Europeia, concretamente, Comissão. E o que ela significa para mim. Portanto, sim, trabalhar na Comissão, para a Europa. O meu mantra.

Vá daí que este dia seja importante. Não porque já me tenha inscrito (tenho até setembro e trabalho e tenho uma dissertação para escrever) ou porque me vá inscrever tão depressa, mas porque a época começou. E isso enche-me de nervosinho miudinho e histeria interior.


2. Comissão também. Hoje saíram os resultados do meu teste de candidatura à função pública europeia. Esta mais a sério porque implica mesmo emprego, trabalho, carreira. Inscrevi-me em março ou abril, só porque sim, para ver como era o processo e os testes. Sou realista e a minha cabeça estava noutro lado: em plena época de essays e início de pesquisa para dissertação, mais mudança para Portugal e pesquisa de estágios, não me preparei rigorosamente nada para os tais testes. Coisa que diz que se tem de fazer, no mínimo dois meses antes, não sei quantas horas por dia. Ainda assim tive um bom resultado, que, ainda que não esteja nos 20% melhores (de onde eles tiram os que passam à fase de entrevistas), não me desiludiu e tornou-me confiante de que para o ano, com a devida preparação, chego lá.


3. Ai, dissertação, dissertação... Sei que estás mortinha por começar a ser escrita, por começar a tomar forma, por começar a nascer. E pela minha parte sei que acabaram-se-me os textos para ler, os artigos para pesquisar, os livros de igualdade para folhear. Daí que o passo seguinte para este fim-de-semana seja abrir um documentozinho do word, cruzar os mil e um apontamentos espalhados pelas cento e uma folhas, e começar a debitar texto. Estou cheia de nervoso. Cheia de inseguranças e cheia de medo que se assemelha àquele pânico inicial sempre que pensava na dissertação final. Não sei, não consigo, não escrevo bem, o meu inglês ficou em Londres, tenho saudades da minha biblioteca gigante, da minha mesa do estúdio, das horas infinitas à minha frente para escrever. Sorrio quando penso que daqui a 3 meses vou-me lembrar que a minha dissertação foi feita nas horas apertaditas de fim-de-semana, na mesa comprida da minha casinha, com os meus gatos a miar à porta e o sol portguês a escaldar lá fora.

Tudo se há-de arranjar. E daqui a 3 meses vou-me rir com afeto destas inseguranças que afinal surgem sempre que inicio a escrita de um essay, agora em maior escala diretamente proporcional ao tamanho da dissertação final.


4. E não é que ontem fiz o gesto corajoso de pressionar o play no filme Harry Potter and the Half-Blood Prince? E não é que pela primeira vez fiquei impressionada com um filme de HP?? E não é que só critiquei umas 10 vezes, em vez das habituais 50??? Ía fazendo direta só para ver o Deathly Hallows I. (!) Queres ver que vou mesmo à estreia do último filme...


5. Hoje vou ao cinema. Depois de um ano, há que registar este facto. Quero olhar para o bilhete e rir com alegria os 5 euros e qualquer coisa que vou pagar. Em vez das 13 libras da última vez. (De notar que os filmes nos cinemas londrinos não levam serviço de legendagem. Então para quê preços duas vezes mais elevados do que os que levam? Observação que sempre me mistificou).


É isto. Dia emocionalmente cansativo.