sábado, 21 de maio de 2011

Últimos dias

Agora é que o título deste post podia ser 'Vida em Suspenso'. Últimos dias são os piores. Digo isto sem ponta de saudosismo antecipada (acho eu...). É mesmo porque, com metade das minhas coisas já em Portugal e a outra metade empacotada, já não estou bem aqui. Não se vive como deve ser num sítio cheio de gavetas vazias, malas pelo chão e comida/cremes/champôs/roupa racionada. Começo a conhecer as desvantagens de uma vida semi-nómada.

Trabalhei até ao dia anterior a vir para Londres. Mantive a minha vida normal até ao último dia em Portugal. Não senti esta coisa amorfa que é estar nem cá nem lá. É talvez por isso que agora me é estranha. As malas comecei a fazer cerca de um mês antes, é certo, mas estavam lá num cantinho do corredor, fora do caminho. E continuei a viver normalmente porque os meus pais continuariam a viver naquela casa, portanto a mudança era só minha. Aqui pelo contrário é uma mudança total. Não há cá os 'ah, isto fica, quando vier cá no Natal levo', 'ah, isto não é preciso levar, isto também não, não me vai fazer lá falta'. Desta vez a tiragem é total ou, no mínimo, mais séria. Porque o que não levar daqui deita-se fora. 

Não tenho qualquer apego a coisas materiais. Desfaço-me de roupa que já não visto com uma facilidade que às vezes choca a minha mãe. Mas tenho horror a desperdício. Faz-me comichão deitar coisas boas para o lixo. Por isso não é fácil a altura de escolher. E tudo o que puder vou dar. A quem, não sei.

Prova de que não é bom viver com tudo empacotado: enquanto arrumava o estojo de primeiros socorros na mala pensava 'não serviste para nada em 9 meses, era engraçado que na última semana tivesse que te ir buscar debaixo de 4 camisolas e 2 pares de calças.' Bem dito bem feito. Eu já devia ter aprendido a não desafiar o destino. Porque a vida, pelo menos a minha, está sempre a rir-se de mim. E é nestas coisinhas insignificantes que mais gosta de o fazer. 'Ai sentes-te confiante para estares já a arrumar o estojo de primeiros socorros? Toma lá uma queimadura num braço para aprenderes quem manda.' É por estas e por outras que eu tenho muito mas muito cuidado em fazer afirmações categóricas do género 'Eu cá nunca...' ou 'Eu vou sempre achar isto...'. Porque sei que mais tarde ou mais cedo (e normalmente é mais cedo) vou ter de engolir as minhas palavras porque um golpe qualquer do destino me fez mudar de ideias.

Vejam a minha loucura por Londres! Ainda há uns 2 meses estava eu a hiperventilar só de pensar em voltar para Portugal e agora mal posso esperar que chegue o dia 28... (Ou será que a minha paixão por Londres se tornou em amor? Mais sereno, menos à flor da pele mas mais profundo? Só quando estiver em Portugal o saberei). Entretanto vou passando os dias pelo meio de malas e sacos, a pensar no meu querido projeto de Mestrado e ligada mais tempo do que é saudável no Facebook. Enfim, daqui a uma semana já vou ter os dias preenchidos. E continuo a recusar despedir-me de todos os lugares de Londres que sei que vou sentir falta. Faz de conta que é um 'até já'.





S.

2 comentários:

  1. Sara, como é que tu te queimas-te num braço?Foi uma coisa ligeira?

    ResponderEliminar
  2. Foi mãe! Num prato que tinha saído do forno, toquei sem querer. Não te preocupes, vá

    ResponderEliminar