segunda-feira, 30 de maio de 2011

Londres, tens de me deixar partir

Confesso que não estava certa se deveria continuar a escrever aqui. Duvido que faça sentido. Mas ao mesmo tempo, este blog provou-se muito catártico e escrever regularmente tornou-se um hábito. O tempo ditará o futuro do blog.

A mudança foi muito atribulada. Fiquei parva com a dificuldade que tive em abandonar Londres de forma normal. E nem foi por minha causa. Depois das habituais duas horas de espera, mais duas horas de atraso e mais de meia hora junto à porta de embarque a temer pela minha sanidade mental, não embarquei no voo previsto. O que significou uma noite extra em Londres.

Fiquei extremamente irritada com a cidade. E com o meu karma, que adora rir-se de mim. Porque estive à beira das lágrimas, não porque as saudades antecipadas de Londres estivessem a apertar, mas porque só queria era voltar para Portugal.

E quando saí do aeroporto tive de sair pela parte das chegadas. Fazer a habitual verificação do BI, cruzar uma fronteira que não tinha chegado sequer a transpor. Sair pela parte das chegadas, onde está toda a gente à espera de alguém, atravessar os corredores que se tornaram tão familiares desde as múltiplas chegadas que fiz a Londres, e entretanto ganhar uma raivazinha à cidade por estar a fazer-me passar por isto como quem tenta torturar mais um bocadinho.

Culpo a sua Britishness. A altivez britânica da cidade imperou que não deixasse alguém abandoná-la sem pagar por isso. Em alternativa, culpo Portugal. 'Ai estavas tão feliz por ter ido embora, estavas a adorar viver noutra capital, querias me trocar por outro (país, entenda-se)... Pois hás-de implorar para regressar. E respirar de alívio quando aterrares na Portela.' E tinha ele razão. Implorei literalmente para embarcar ('The plane is full, nothing we can do.'). E ainda saí de Londres zangada com a cidade. Tenho um karma lixado ou não?

E a mala não veio. Tanto voo, algum dia tinha de acontecer. Disseram-me que ainda estava em Londres. E que vinha no voo a seguir. Nessa altura quase mandei uma gargalhada sarcástica como quem diz 'Londres, já estás a agir um bocado à desesperada. Get over me already'.

E quase dois dias depois cá estou. Ainda sem sentir saudades mas já com aqueles apertozinhos no coração quando alguma coisa me faz lembrar particularmente o sítio e a minha vida lá. Mas um apertozinho afável, em vez de nostálgico ou saudosista. As comparações são inevitáveis, especialmente quando vou às compras. E confio que se vão tornar cada vez mais frequentes, à medida que saio mais de casa e lido com as sincronias da sociedade portuguesa.

Mas estou bem. Preparada para mais uma aventura, desta vez em terras lusitanas.



S.

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