sábado, 31 de maio de 2014

Yorkshirianos não tarda muito

Há poucos meses atrás não sabia nada sobre Sheffield além de que era a cidade dos Arctic Monkeys e que tinha um passado industrial importante. Não a sabia localizar no mapa nem fazia ideia de com o que é que se parecia. Esta semana ficou decidida como a nossa próxima casa.
 
Entretanto já a visitei, já me eduquei sobre ela, e estou francamente otimista quanto à universidade que me irá acolher, quanto ao meu curso, e quanto ao meu supervisor. Ainda é um bocadinho estranha a sensação de me ter despedido voluntariamente do meu emprego para mergulhar no incerto e voltar a ser estudante mas estou confiante. Confiante de que é isto que quero mesmo fazer e de que é em Inglaterra que queremos estar.
 
Entre nos despedirmos de vez de Bruxelas e refazer as malas para Sheffield haverá um capítulo curtinho em Portugal. E uma viagem de mil quilómetros em cima de duas bicicletas para fazer.




S.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ir ao fundo e voltar

Na quarta-feira voltei aos treinos de corrida, após dois meses desde o último. Eu considero-me uma pessoa em forma - ando a pé vários quilómetros todos os dias, ando de bicicleta, de vez em quando vou ao ginásio - mas a corrida confirmou-se-me mais uma vez como sendo qualquer coisa à parte. Foram só 5 km mas o meu corpo manifestou todas as manhas como se tivessem sido 15 ou 20, manhas essas que já lhe conheço à distância. É o "ai que isto custa", dramáticozinho e cedo demais para que eu lhe dê algum crédito, é a dorzinha num tornozelo qualquer ao início que em insistindo desaparece como por magia, é o desconforto na barriga quando descobre que os pontos anteriores não funcionam, é o aborrecimento por ver que a coisa ainda não vai nem a meio. Já tinha saudades da luta constante entre corpo e mente tão típica deste meu hobby. Não consigo perceber quem desdenha das pessoas que se dedicam de corpo e alma a estes desportos, que fazem deles sua vida e profissão. Como se houvesse uma dicotomia entre intelectualidade e forçar o corpo aos seus limites, como se para este último não fosse preciso um uso incrivelmente poderoso da mente, como se superar barreiras físicas não fosse algo sublimamente humano e nobre. Amo as Rosa Motas e Carlos Lopes desta vida tanto quanto amo os Saramagos e Stephen Hawkings. O que fazem é o mesmo na sua essência: elevar a humanidade a novos picos de conquistas.
 
Voltando ao relato mais sóbrio do meu humilde regresso às corridas, pela primeira vez treinei com o relógio contador dos quilómetros. Foi uma espécie de revolução porque agora posso correr de forma espontânea pela cidade, posso virar aqui ou ali, onde quer que me dê na gana, não estou presa a percursos pré-calculados e repetidos ao infinito só porque indo por eles sei exatamente os quilómetros que corri. E é importante saber quanto se corre. Tanto para se ir aumentando como para estabelecer "hoje corro X, não vale a pena o corpo se meter com manhas". Posso descobrir novas ruas, novos bairros, gravar a cidade no coração porque a sofri com as minhas passadas e o meu suor. Aliás, duvido que tenha sido coincidência ter começado a gostar de Bruxelas ao mesmo tempo que a palmilhava nos treinos longos para a meia-maratona. Passou a ser cidade minha.
 
 
 
 
S.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Ele há coisas... #45


Isto era o banner gigante que esteve durante vários dias no edifício da Comissão Europeia. "This time it's different", diziam eles. Acho que não era bem este diferente que estavam à espera.

Se a ironia matasse...




S.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Super-dimanche na Bélgica

No domingo foi dia de super-eleições aqui na Bélgica. Para além de votarem para o Parlamento Europeu, os belgas votaram para o parlamento federal e para os parlamentos regionais (Flandres, Valónia, Bruxelas, e parte-germanófona-que-acho-que-não-tem-nome). Podem imaginar a quantidade de cartazes com diferentes caras de candidatos que andaram aí afixados nas ruas.
Uma vez que não estou autorizada a votar para as Federais e Regionais, e nas Europeias escolhi votar nos partidos portugueses, passou-me muito ao lado as campanhas belgas. Não que fosse pela falta de informação ao meu dispôr, já que panfletos de campanha encheram a minha caixa do correio todos os dias durante três semanas. Infelizmente, nenhum deles tão apelativo como o do senhor do cão.
Mas agora ando com uma curiosidade inédita sobre a política belga neste pós-super-eleições. O sistema político deste país é tão multi-nivelado, tão multi-partidário, tão complexo e tão cheio de jogos de cintura que dá gosto acompanhar. E depois é aquilo das nacionalidades e da possibilidade do separatismo flamengo sempre à espreita.
Por falar em separatismo flamengo, o partido nacionalista flamengo N-VA ganhou as super-eleições. Para o nível europeu foi o mais votado (foram 10 os partidos a eleger gente para o PE) e para o nível federal também ( foram 13 [!!!] os partidos a eleger gente para o parlamento federal). O que significa que o chefe dos separatistas flamengos está agora encarregue de formar governo belga.
Ontem o senhor primeiro-ministro belga demitiu-se após o seu partido ter perdido as eleições (ele é do PS) e o rei mandou logo chamar os chefes dos partidos todos para começar o processo de formação de governo, por ordem de votos conseguidos. Achei muita piada os jornais enfatizarem que o rei estava com pressa, e que não queria perder tempo nisto de formar governo. Exato. Se for como em 2010 que a Bélgica esteve sem governo durante mais de ano e meio (mais tempo do que o Iraque, para se ter uma ideia do hardcore que é o bloqueio do sistema político belga) não pode haver mesmo tempo a perder. Nessa altura tiveram que fazer uma reforma constitucional e o caraças, para se entenderem finalmente, do tipo, mudar limites de regiões para acomodar birras flamengas e o senado federal deixar de ser eleito diretamente, e assim. Com 13 partidos com quem formar coligações imagine-se o trabalhinho e jogo de cintura que não vão ser precisos nos próximos meses.
De salientar só que o N-VA é nacionalista mas não é de extrema-direita, é um partido de centro-direita, moderado. A minha colega belga diz que eles não odeiam outras raças ou estrangeiros porque estão demasiado ocupados a odiar os valões (os da parte francesa). Eu acho que mesmo assim é porque os belgas são um povo sossegadito e pequenino como nós os portugueses, sem grandes nacionalismos inflamados enquanto país (vão se agarrar ao quê, também, como símbolo nacional, às frites?!), que têm consciência do seu peso fraco-moderado na cena europeia e que lá vão andando nas suas negociações governativas com uma paciência de santo. Não têm tempo nem pachorra para odiar povos.
Fiquei um bocado triste quando ouvi que o primeiro-ministro atual se tinha demitido, embora agora perceba que era expectável, foi porque perdeu as eleições, não se demitiu, demitiu.




Tinha um sorriso fácil e grande, e usava laços. Fazia lembrar um ventríloquo, ou um apresentador de circo. Gosto das pessoas que sorriem com os dentes todos.
Isto foi a melhor análise política do senhor Elio di Rupo que consegui arranjar. Só agora, a menos de um mês de me ir embora da Bélgica, é que ganhei séria curiosidade sobre a política daqui. É um bocado triste. Soube da aprovação da eutanásia para menores há poucos meses e fiquei pasmada com a serenidade com que este povo aprova coisas que seriam pólvora acesa noutros países e com o pouco alarido com que lá vai fazendo o seu caminho pioneiro no quebrar de barreiras ao pleno cumprimento dos direitos humanos.
Nestas super-eleições a abstenção foi de 10%, percentagem capaz de dar sonhos molhados a muito bom democrata. A razão é o voto ser obrigatório e ter que pagar multa quem não comparecer. Os belgas não brincam em serviço, se é para votar É PARA VOTAR, se é Dia Europeu Sem Carros É SEM CARROS (são proibidos nesse dia, a sério). Não confiam no civismo das gentes, pronto.
Ainda estou intrigada com o facto de o Museu de História Militar aqui em Bruxelas, que está com uma exposição interessantíssima sobre a guerra de 14-18 e que eu estou há meses para visitar, ter estado fechado no dia das eleições. Sendo que tinha um papel afixado a declarar que estava fechado por causa das eleições e o museu do lado, o do automóvel, estar aberto, é de suspeitar que há ali uma razão especial que eles entendem necessária para que as pessoas mão o possam visitar em dia de escrutínio político. Será para não exacerbar nacionalismos dispensáveis? Para não agudizar ressentimentos históricos? Gostava de ter a certeza.
A Bélgica é um país profundamente interessante do ponto de vista político e eu só tenho pena de não ter estado nem aí nestes dois últimos anos. Só se quer quando não se tem, não é, triste.
S.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Do mal o menos

Assim que apareceram os primeiros resultados das eleições e vi os 7 porcento e tal do Partido da Terra a minha reação foi: "Ena, os portugueses estão a começar a preocupar-se a sério com o ambiente!




A minha ingenuidade chega a ser querida.

S.

Vergonha de ser europeia

Isto fala do caso UKiano mas a parte a negrito (minha) também se poderia aplicar ao caso português ou mesmo ao resto dos países europeus:



O post é do blog cyclingeurope.org.

Estava a sentir-me nauseada desde ontem à noite por causa do galope da extrema-direita na Europa, mas afinal eles correspondem a um décimo da população. É pena é que só esses se tenham ido expressar nas urnas e que agora partidos como o UKIP representem mais de um terço dos eleitores europeus. 

A ideia dos abstencionistas de que estão a protestar não indo votar, não compactuando com os partidos instituídos, é muito linda mas na prática resulta é nestas aberrações inflacionistas para os partidos de extrema-direita, os fearmongers desta vida.





Ainda assim Portugal não tem extrema-direita instituída, o que me permite hoje ter só vergonha de ser europeia, mas não de ser portuguesa.




S.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ocupar o cérebro

Curiosidades curiosas que uma pessoa aprende numa manhã de trabalho:

- na lista de países da UE, alfabeticamente e em inglês, a Alemanha vem logo a seguir a França;

- e logo a seguir à Alemanha vem a Grécia;

- o UK é sempre o último;

- o ministro da justiça luxemburguês é de origem portuguesa (os dois pais são portugueses);

- em três meses, 4 dos ministros da justiça dos 28 países europeus mudaram de funções;

- a portuguesa não foi um deles;

- os ministros da justiça dos três países escandinavos são ministras; 

- Malta não tem ministério da justiça;

- o prémio de nome mais aliterado de ministrx da justiça vai para Baiba Broka, da Letónia.

...

E o sol a brilhar lá fora, maldito.







S.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ele há coisas... #44



Tenho uma ambição na vida que é: descobrir as variações todas da marca "Olá".

A da Polónia está descoberta.



S.

domingo, 18 de maio de 2014

Um quinto de meia maratona

E o que é que calha mesmo bem após 4 dias de trabalho intenso fora do país e mais de um mês sem correr? Ir correr os 20 km de Bruxelas, claro está.
 
O dorsal já estava descartado num lado qualquer, a cabeça já tinha aceitado que 25 euros iam mais uma vez ao ar e que eu simplesmente não estava em condições de ir correr uma meia maratona ainda lesionada e a um mês da grande viagem de bicicleta. Estava cheia de pena, não de mim mesma, mas de ir perder uma corrida tão icónica aqui do burgo e de me ir embora sem nunca participar numa corrida aqui em Bruxelas. Mas já estava decidido.
 
Até que tive a brilhante ideia de antecipar o meu retorno aos treinos, planeado para amanhã, para a corrida de hoje. Um treino de 20 km seria impensável mas o km 4 era quase à porta de minha casa... Que tal fazer só essa parte da corrida? Participaria à mesma, não haveria desperdício, e já não me sentiria tão indigna da próxima vez que vestisse a t-shirt oficial da corrida. Brilhante ideia.
 
Só havia um senão que era a possibilidade de eu não querer parar. Estou familiarizada com a felicidade barra loucura que a corrida inflige no cérebro, especialmente em corridas oficiais. E o km 4 era extamente o início da avenida plana e linda onde costumo treinar. Temia que o acordo acordado comigo mesma do "podes ir mas só até ao km 4" fosse destruído pelas endorfinas a circular por estar novamente a correr após tantas semanas e numa prova tão querida. O D. foi então recrutado para me puxar da multidão caso isso acontecesse.
 
Gostei muito quando 300 metros antes de passarmos a minha meta arranjada começo a ver os corredores a encaminharem-se para o túnel que passa por debaixo da avenida, em vez de corrermos pela estrada como pensava. Ai, ai, ai, que já fui, sei lá onde é que este túnel agora termina. Não terminou muito mais além do km designado e eu portei-me bem e encaminhei-me para o passeio para terminar por ali a minha prova. Não foi muito estranho, embora soubesse que estava a desistir e não porque estivesse quase a morrer. Mas acordos são acordos, especialmente connosco próprios, e eu tenho mil qilómetros para pedalar daqui a um mês.


Ainda assim, ter visto isto com os meus próprios olhos, numa rua tão familiar, e ter feito parte, valeria quase todos os tipos de lesões que pudesse ganhar.



S.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Cortar raízes mais uma vez

Andei durante tantos meses a lidar com o dia de hoje e o dia de ontem e o dia de anteontem e o dia de amanhã, escrevi tantas vezes 15 May, 16 May, 14 May, 17 May em tantas listas de participantes, tantos convites, tantas atualizações de programas de trabalho, tantos emails que agora estes dias parecem-me surreais. Olhar de relance o relógio e ver "16 May" lá escrito é bizarro. É isto, é agora.
 
E depois destes dias surreais começa a contagem decrescente para o mergulho no desconhecido. Já olho Bruxelas com friozinho no estômago.



S.

domingo, 11 de maio de 2014

"É difícil ser português hoje em dia"

2014 é ano de aniversário redondinho de vários acontecimentos históricos que me interessam particularmente: os 40 anos do 25 de Abril, os 70 anos do desembarque dos Aliados na Normandia, e o centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Visto que nenhum dos três conheço em proporção igual ao interesse que me despertam, ando de olhos abertos para tentar descobrir os melhores informadores sobre estes acontecimentos. Para o 25 de Abril, a escolha foi fácil e rápida.




Andava há uns anos a querer saber mais sobre o papel da CIA durante o PREC e a forma como os americanos e europeus ocidentais sustiveram a respiração durante o "Verão Quente" de 1975. Este ano, queria comemorar os 40 anos do fim do Estado Novo alargando o meu conhecimento sobre o golpe de Estado. Assim que me deparei com este livro num programa qualquer da RTP Internacional nem precisei de procurar mais: matei dois coelhos de uma cajadada. Culpem a minha educação em Relações Internacionais mas eu só me consigo interessar por assuntos internos na medida em que estes se relacionam com o exterior. De modo que um relato de como a nossa Revolução dos Cravos e os meses conturbados que se lhe seguiram foram analisados por jornais internacionais tornou-se o livro perfeito sobre o 25 de Abril.
 
É um livro verdadeiramente delicioso. Foi o primeiro livro de papel que comprei em muitos meses e a razão (para além de não existir versão eletrónica) foi a quantidade enorme de ilustrações, cartoons e capas estrangeiras alusivas à Revolução e ao PREC que o livro reproduz. O livro é uma obra fabulosa de documentação de reações jornalísticas a este período pela parte de cerca de 100 publicações de 20 países diferentes. Muita hora a consultar jornais por essas capitais fora, este livro.
 
Os autores vão descrevendo as reações aos acontecimentos caóticos que se sucediam em catadupa através de citações desses jornais e de cartoons da época, o que torna o acompanhamento das descrições muito fluido e por vezes humorístico. Temos assim um relato do 25 de Abril e PREC através de olhos exteriores.
 
Três ideias em especial me despertaram o interesse:
 
1. "Certamente que vale a pena evitar a guerra civil quase a qualquer preço. Mas é difícil perceber como é que pode ser evitada, a não ser que os radicais no interior do MFA abandonem as suas tentativas de continuarem a empurrar Portugal à força para a esquerda." (The Times, 1 setembro 1975)
 
Quase todos os analistas estrangeiros, numa altura ou noutra, acreditaram piamente que Portugal caminhava para uma guerra civil. E se calhar seria inevitável, não fosse o temperamento do povo português, que muitos deles também exaltam:
 
2. "Até agora, os portugueses testemunharam sempre a sua repugnância pelo uso da violência física. Perguntamo-nos em que outro país da Europa se poderia desenrolar um tal processo revolucionário sem que soldados ou civis recorressem às armas." (Le Figaro, 7 agosto 1975).
 
A nossa revolução foi realmente excecional pela ausência de sangue e as profecias ao longo do ano e meio que durou o PREC não se realizaram.
 
3. "É importante que Brejnev deixe claro que vai desencorajar os seus amigos em Portugal quanto às posições extremas que têm vindo a assumir. Os comunistas portugueses apoiam-se nas espingardas dos seus aliados do exército para se apropriarem de um poder não representativo. Se isto prosseguir com a bênção russa, [...] o conceito de desanuviamento [...] devia ser revisto. O presidente Ford deve dizer aos russos que têm de levar Cunhal e o general Gonçalves a desistir da sua tentativa de, pela força, impedir uma larga e crescente maioria de, em Portugal, dirigir o seu próprio país como a democracia liberal que ambiciona." (The Economist, 16 agosto 1975).
 
Eu pensei que o PREC tinha tido a mão da URSS e que Portugal tinha sido uma espécie de fantoche vigorosamente disputado, ainda que de forma dissimulada, pelas duas superpotências durante e logo após o 25 de Abril, até ter sido claro em finais de 1975 que seríamos mesmo uma democracia pluralista. Afinal, a URSS não tinha nenhum interesse em que Portugal se tornasse um satélite comunista, isto porque os soviéticos não tinham capacidade de sustentar o PCP e o país como haviam feito com Cuba, porque seria muito difícil mobilizar tropas para aquele retângulo tão geograficamente ocidental, e porque em 1975 houve o plano de desanuviamento entre as duas superpotências no sentido de manterem o mundo no equilíbrio em que estava e com as divisões previsíveis da altura. Há ainda a curiosidade paradoxal de o PCP ser quase mais comunista que Moscovo e Brejnev chegar mesmo a discordar da ortodoxia do Partido Comunista Português. Bizarro.
 
Concluindo, foi um livro que gostei mesmo muito. É um relato minucioso sobre o ano e meio que se seguiu ao 25 de Abril mas que acaba por não ser chato pelos comentários e citações dos periódicos estrangeiros e pela míriade de cartoons em cada página.




S.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Portugal Maior

O The Economist andou a brincar com o mapa mundo. O Putin justificou a anexação da Crimea com o facto de ter que assegurar a segurança a todos os russófonos (?). Se a lógica das relações internacionais fosse essa, este seria o resultado:




Se calhar não, não é, Sr. Putin?




S.

Primeiras na Europa



"Costa torna-se a primeira treinadora de um clube de futebol profissional na Europa."

Confesso que nunca tinha pensado neste glass-ceiling em particular. E é incrível como em 2014, em plena Europa, ainda há notícias com as palavras "a primeira mulher a ...". Não devia já estar tudo conquistado? 

Na notícia são mencionados alguns comentários a esta contratação deixados por fãs na página do clube. Fala-se do pouco respeito que ela conseguirá impor aos jogadores por ter apenas 36 anos. O Mourinho ganhou a Taça UEFA com o Porto aos 41, pelos vistos o critério idade pode ser irrelevante para o respeito. Resta saber se o sexo será.

Fala-se também de que tudo isto não passou de uma manobra de publicidade de um clube mediano tentar ganhar visibilidade. Claro. Porque toda a gente sabe que mulheres em lugares profissionais proeminentes fizeram qualquer marosca para lá chegar. Mérito é sempre a última coisa a ser-lhes atribuída.

Como todas as "primeira mulher a...", a Helena servirá de modelo para outras raparigas a ingressar numa carreira no mundo do futebol. Parece um cliché idealista mas a igualdade de oportunidades não se faz só com a ausência de uma lei que determina que só homens podem fazer determinada coisa. Se não houver nenhuma mulher a treinar um clube nenhuma rapariga chegará a considerar essa via como potencial carreira. É um ciclo vicioso. Duplos parabéns para as primeiras capazes de o quebrarem.




S.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Amor à pátria

E agora: é para votar porque apoia-se sempre o país na alegria e na tristeza, ou não é para votar senão eles nunca mais aprendem?




S.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Venham a mim, ténis por estrear

Não corro há um mês. Faz amanhã um mês que corri os Sinos, desde aí que não voltei a calçar os ténis.
 
Quer dizer, voltar, voltei. Levei-os para o fim-de-semana inglês, levei-os para o ginásio, sou capaz de os ter calçado por aí também. Só não os voltei a calçar para correr. Isto porque ganhei uma bonita lesão na anca durante a meia-maratona. Nunca a expressão "too much, too soon" ganhou tanto significado.
 
Então adeus, 20 km de Bruxelas.
 
Mais uma vez, oscilei entre o "vou estar sossegadinha até isto passar" e o "sossegadinha o cara***, tenho saudades de correr", passando pelo orgulho de ter uma lesão desportiva e ter que usar coisas como cremes musculares e cenas com gel azul congelado por dentro. A verdade é que ainda não me tinha apercebido do quanto me mexo aqui em Bruxelas e do quanto não me poder mexer mais do que andar para apanhar o metro até ao trabalho me podia soar a tortura. E depois era só dias bonitos, parecia que a cidade gozava comigo, eu a sair e olhar o parque lindo à beira do meu trabalho, todo soalheiro e verdejante, com a prospetiva de 5 km de caminhada pelas ruas lindas de Bruxelas até casa, e ter que fazer o caminho oposto até aos calabouços malcheirosos bruxelenses vulgarmente apelidados de metro. Parecia uma criança de castigo que não pode ir brincar para a rua, mas como era uma criança sozinha em casa, a resolução do ficar em casa sossegadinha até isto passar não durou muito, está claro. O fim-de-semana inglês, em que andei a tentar bater record de quantas cidades se consegue ver em três dias, foi o descalabro e a minha anca ao terceiro dia já fazia "criiick, criiiick" a cada passo. Não estou a exagerar, aquilo estalava.
 
Veio a fase nervosa por ver os planos de preparação para a grande viagem sairem furados por não poder correr nem andar de bicicleta com a velocidade necessária para isto se parecer com um treino em vez de um passeio de vez em quando. A fase nervosa ainda não acabou, mas aliviou bastante assim que descobri que andar de bicicleta a uma velocidade moderada, mesmo que durante mais de uma hora, não influencia a dor/lesão. Nem que tivesse que ir assim, já amanhã, dava. Nada a temer, portanto.
 
Já tinha finalmente decidido ir a médico especialista quando o meu especialista voltou para casa e é bem verdade que duas cabeças pensam melhor do que uma. Nunca pensei eu que a anca tivesse tanto músculo com potencialidade para doer, nem que eu precisasse de todos eles, mas os diagramas googláveis mostraram-me que sim, que são muitos e têm todos nomes muito lindos. Estou agora sob tratamento personalizado e afetuoso, é capaz de ser desta que me curo.


 



S.