domingo, 17 de julho de 2011

Tróia



Portugal tem lugares surpreendentes. E que passam tantas vezes ao lado de quem pensa em destinos de férias ideais.

Para mim, que é tão desconfiante meter-me num carro e daí a uma hora estar numa praia tão estranhamente caribenha, de areia tão branca, tão fina, de mar tão calmo e de um azul turquesa de fazer inveja ao Mediterrâneo, foi uma surpresa. Não completa, porque o Google Images impede-nos de ir de olhos vendados até a um novo destino, seja ele onde for. Mas foi em tom de desafio que embarquei no ferry no porto de Setúbal, 'Alright, let's see what you've got, Tróia. Maravilha-me'. E não é que a malandra maravilhou?

Começou pelo tempo. Passa-se a Ponte Vasco da Gama e o tempo feio de chuviscos dissipa-se como por magia, quase como um prelúdio de um Algarve a 3 horas de distância. 'Ora sejais bem-vindos ao Pré-Alentejo, terra onde começam as planícies secas, amareladas do sol tórrido que se faz sentir durante mais tempo do que na Região Oeste de vossas Excelências.' Castelo de Palmela um pouco mais além, lá bem no alto, despoleta a minha imaginação medieval de batalhas de Reconquista, D. Afonso Henriques batendo os mouros, sendo batido de volta, e retirando-se para a margem norte do Tejo, a abanar um punho fechado no ar, de cara desafiante, imensamente determinado a ir por aí abaixo até não ter mais terra a reclamar.

Setúbal começa por parecer uma cidade como qualquer outra. Torres Vedras saltou-me à mente várias vezes, apesar de serem mais as diferenças que consigo enumerar do que as semelhanças (rio em Setúbal, abundantes restaurantes de peixe, serras; cidade mediana). Muito compenetrada a seguir as placas que indicam Tróia - Cais logo desde que se entra na cidade, levei um baque no coração quando virei uma esquina e me deparei com a serra da Arrábida ao fundo, a foz do Sado, e o que supus ser Tróia ao fundo. Instantaneamente pensei 'Já valeu a pena.'.

O ferry de hora a hora, chega ao seu destino em menos de 30 minutos. Parecia uma criança sem conseguir conter a sua excitação enquanto esperava pelo 'PÓÓÓÓÓ' que o barco faz antes de partir. Queria ver os golfinhos! A espuma que a ondulação fazia enganou-me demasiadas vezes. Os golfinhos não apareceram.




A desilusão durou muito pouco. A vista da travessia, mesmo sem golfinhos, é qualquer coisa. Quatro elementos que raras vezes podem ser abarcados de uma só vez ali estavam: a serra com a sua vegetação cerrada, o rio, o mar e a cidade de Setúbal ao fundo. E uma praia que se aproximava cada vez mais e que prometia.

Prometia e cumpriu. Logo no cais a água tão transparente e verde-esmeralda deixa antever que a praia mesmo deve ser qualquer coisa de especial. Andámos cerca de 20 minutos. Pássamos por várias praias. Queríamos ir até ao fim, até à praia que se antevia no horizonte porque essa é que devia ser a melhor, essa é que estava mais longe, o esforço só poderia recompensar.

Fiquei estupefacta. Primeiro um 'Portugal tem disto?!', depois um 'Conheces muito mal o teu país, minha amiga.' Tinha à minha frente uma das melhores praias onde já estive. Rivaliza taco-a-taco com qualquer praia caribenha, com qualquer praia mediterrânica. Superior ao Algarve. E a uma hora de casa.

A primeira pegada na areia é sempre para mim motivo de excitação. Andar descalça sempre foi uma das minhas manias secretas. Sentir aquela areia fininha (ou qualquer areia, se pensar bem) debaixo do pezinho é uma das melhores sensações do mundo. Sempre fui muito feliz na praia. Memórias de infância, memórias de férias desde sempre, memórias de adolescência. Pisar a areia despoleta uma felicidade correlacionada com tudo isso.

Claro que quando o pezinho toca a água desvanecem-se todos os devaneios caribenhos. 'Ah, espera lá. A água é bem portuguesa!'. O que é mais desafiante, do ponto de vista físico. Dá ideia de que as nossas praias, mesmo rivalizando as paisagens das melhores do mundo, dão luta. 'Não tão depressa, minha amiga. Toca a ficar dormente primeiro antes de sentires esta água turquesa a submergir-te por completo.' Nada que impedisse uns bons mergulhos. O vento que se fez sentir e a cabeça cheia de areia que trouxe até ao chuveiro de casa também não conseguiram estragar o dia.

Seja Portugal capaz de me surpreender constantemente, e a minha vontade de emigrar poderá ver-se seriamente ameaçada. Queira eu deixar-me surpreender e que a vontade de o conhecer não me abandone. Queira eu!





S.    

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