'The urge to settle permanently in one place can be felt as a quiet hum. Even wanting to stay in a job can bring some often much-needed reassurance and stability to our lives - even if we might worry we’re being a bit unambitious. According to the phrenologists, a group of early Victorian scientists who thought they could detect personality traits by examining a person’s skull (see: PHILOPROGENITIVENESS), the urge to find a groove and stay in it was innate. They called it ‘inhabitiveness’ and defined it as a ‘love of continuity, of endurance, of sameness, of permanency of occupation.’
Inhabitiveness’ lacked staying power, and by the middle of the century had faded into obscurity, partly because phrenology itself lost scientific credibility. But perhaps this loss of a word for the pleasures of permanency can also be traced to the enthusiastic response - by some Victorians at least - to the ideals of dynamism and mobility, and the idea that humans are not only hard-wired to nest, but also to discover and roam too (see: WANDERLUST).
For other ways of feeling at home see: HIRAETH, HOMEFULNESS, HOMESICKNESS.'
- Tiffany Watt Smith, The Book of Human Emotions
Este é o primeiro agosto que passo em Inglaterra. Já vivi aqui três anos, intervalados, mas nunca vivi aqui em agosto.
O 'quiet hum' comecei a senti-lo na primeira vez que me mudei para Sheffield. A ideia era passar lá os três anos supostos do doutoramento e manter-me por cá indefinidamente. Mas ainda havia o 'depois logo se vê'. Foi com muita alegria que regressei a Inglaterra, e me preparei para assentar. Mas depois não foi assim, e voltei a sair por um ano, porque podia, porque a libra estava demasiado forte, por razões de companhia. Voltei para o terceiro ano de PhD, e arrependi-me acerrimamente de ter saído.
Entretanto veio 23 de junho e o maldito referendo. Exatamente no dia que eu completava as provas para recrutamento como civil servant da UE. Estava portanto em Bruxelas. Vim o voo todo no dia seguinte, quando se soube os resultados, a morder o lábio, chorei como uma desalmada assim que cheguei a casa. Digo sem reservas que foi o pior dia da minha vida. Pela irreversibilidade, pela estupidez, pelo desnecessário, pela recusa de partilhar um futuro connosco. As minhas duas paixões que se desalinharam e me atiravam agora para uma escolha imperativa: ou uma, ou outra.
Chorei baba e ranho quando a UE abriu uma vaga que correspondia às minhas competências. Coisa ridícula de menina privilegiada? Sem dúvida. Mas estava a ver a vida a levar-me para longe de Inglaterra, de onde o quiet hum me dizia para ficar. Desta vez sem possibilidade de saltitar daqui para Bruxelas e retorno, por causa do maldito referendo. A escolha imperativa a enfrentar-me muito mais cedo do que eu pensava: ou uma, ou outra.
'Anxiety is the dizziness of freedom.'
- Soren Kierkegaard, The Concept of Anxiety
'Kierkegaard argues that angst is the appropriate response to realising life is not predetermined, but that we have absolute freedom to make any choice we want - and have total responsibility for the outcome.'
O quiet hum continuou. Uma segurança muito forte de que eu estava onde devia estar, desculpada pelo doutoramento em curso mas que eu sabia que era muito mais do que isso. É aqui que eu devo estar mas, acima disso, é aqui que eu quero estar. E ficar. Até quando? Para sempre?... Não, nunca se diz para sempre. Até onde a vista alcança. Uma vontade forte, imperativa, constante de criar raízes num sítio, de conhecer as coisas de cor, de poder chamá-las minhas pela força do hábito e do tempo, a minha cidade, a minha casa, o meu país, o meu emprego, a minha carreira, o meu parque, as minhas ruas, o meu autocarro, as minhas lojas, o meu aeroporto. Um dia: a minha família. Nisto, não há nada que substitua o tempo. Tão diferente da vontade de há uns anos, tão diferente do quem eu me julgava. E daí talvez não... A despedida de Londres em 2011 e o quiet hum das saudades dos meses seguintes deviam ter sido um indício.
Mas depois aprendi a gostar de cidades mais à escala humana. Inglaterra seria, então, mas Londres não. Londres é caótica, gigantesca, stressante, cara. Em qualquer sítio de Inglaterra seria feliz. Tentei Sheffield, tentei o campo. Fui infeliz, pelas circunstâncias geográficas, pessoais e, porque não?, políticas. Detestava aquela cidade mas fingia que não. Era ali que devia estar, embora não onde quisesse estar. Detestar é uma palavra forte... Não guardo nenhum rancor ou ódio, longe disso, mas não quero lá voltar. Só percebi isso quando saí.
Londres ressurgiu no final desta primavera, por uns instantes com relutância porque estragava planos, mas logo depois com um fulgor que não passou mais. E se for ali? Não sentes o apelo da cidade novamente? Tão forte, em crescendo, estou em casa.
Estou feliz. Devia ter sabido que preciso disto, da confusão familiar, das multidões, de muita coisa a acontecer, das ruas corríveis e cicláveis, que tudo isto me rodeie sendo só preciso pôr o pé fora de casa. A minha introversão não se coaduna com a calma do campo; definha-me. A permanente estimulação dos sentidos é o perfeito complemento para a minha personalidade serena. Nada disto parece normal, nada disto soa bem (as cidades exercem força centrífuga em quem lá vive por razões que racionalmente me parecem lógicas). Mas é isto que sou e é disto que preciso, com uma constância que já me permite ter alguma confiança na sua permanência.
O quiet hum continua, mas agora as minhas circunstâncias e os meus planos estão finalmente alinhados com ele. Finalmente. O quiet hum alimenta-os. 'É aqui, é aqui, é aqui!' As raízes. A minha casa. Os meus parques, as minhas ruas, os meus autocarros, a minha estação de comboio, o meu bairro, o meu rio, o meu terminal de autocarros, as minhas lojas. A minha cidade. O meu compasso cultural alinhado com as minhas circunstâncias.
S.