A lição mais importante que tenho aprendido desde que me meti em mil e uma coisas profissionalmente é que o tempo é um bem muito, mas mesmo muito precioso. Sou cada vez mais seletiva com as coisas que me o gastam e menos paciente com o que considero desperdício do mesmo. A linha orientadora é agora: "Passei uma hora nisto. O que é que nessa hora eu podia ter feito de mais proveitoso?"
Claro que continuo a gastar tempo em coisas estúpidas (Ninegag em força, Facebook mais do que gosto de admitir) porque isto é um sistema que ainda está em aperfeiçoamento, mas o que é facto é que a universal e demasiado utilizada desculpa do "Ai não tenho tempo" é coisa que já não me sai da boca. Já o "Não é merecedor do meu tempo" é uma decisão que tento tomar para cada vez mais coisas. Por exemplo, entre as mil e uma coisas em que me meti não figura desporto de qualquer espécie (exceto se contarmos as tardes de domingo passadas na praia a passear o cão). Desculpa do "Ai, não tenho tempo"? Não. Se quisesse conseguia encaixá-lo algures. Decidi-o tão simplesmente não merecedor do meu tempo. Bem ou mal, não o sinto como prioridade.
É por isso que a minha decisão de abandonar a leitura do Game of Thrones não foi tão sentida como culpa como o teria sido há um ano atrás. Já é o terceiro livro em poucas semanas que ponho de parte sem pestanejar.
Este livro tinha tudo para se tornar num favorito. Castelos, cavaleiros, batalhas, intrigas e estratégias para usurpar tronos e conquistar territórios, aliado a uma escrita na 1ª pessoa (em várias 1as pessoas, na verdade, pois os capítulos vão intervalando as perspetivas das diversas personagens), tem a marca de algumas das minhas coleções favoritas: Brumas de Avalon, Sevenwaters, Bridei Chronicles, The Women of the Cousin's War. No entanto, falhou redondamente em me prender às suas páginas e era com impaciência que nos últimos dias já pegava nele para o ler. Falta-lhe qualquer coisa. E eu lanço aqui sugestões sobre o que acho que é:
- logo nas primeiras páginas, uma suspeita apoderou-se de mim e que eu confirmei logo a seguir: o autor é americano. Não sei como a ganhei mas eu tenho uma aversão de princípio contra inglês americano. É coisa que enquanto amante de ortografia, gramática, linguística e todos esses sistemas aborrecidos não consigo deixar de parte enquanto estou a ler. E que me fez torcer o nariz logo de início em relação a este livro;
- relacionado com a sugestão de cima está a linguagem do livro. É má. Nota-se que o autor está a fazer demasiado esforço para escrever em inglês mais-ou-menos antigo - o esperado nestes livros medievais - mas que de vez em quando falha e deixa transparecer linguagem contemporânea. Atenção, não são coisas demasiado escandalosas mas percetíveis o suficiente para o meu gosto;
- o facto de a história se passar numa terra completamente inventada, numa espécie de universo e tempo paralelo porque não dá para focalizar a história nem no tempo nem no espaço. Sabemos que se passa no antigamente, os castelos, reis, lutas pela coroa e objetos dão ar de medievalidade, mas não dá para apontar um espaço definido na história. Ora, eu preciso de balizas temporais e geográficas. Gosto de contexto. Gosto de ler este tipo de romances porque me dão uma melhor perceção dos sítios, da História, da forma como as pessoas viviam, que contribuam para a minha perpetiva geográfica e para associação de lugares e povos. Mesmo dando-se o desconto da ficção e de certos anacronismos, é este o verdadeiro appeal que este tipo de romances tem para mim. No Game of Thrones, nada disto está presente;
- os nomes das personagens. Ai, os nomes. Num mundo inventado, o autor foi pela lógica de que os nomes teriam também de ser diferentes, originais. Pois exagerou. Os nomes de metade das personagens parecem conjuntos de letras que o autor andou a juntar aleatoriamente. Achou que assim dava um ar de antiguidade/exotismo. Na minha opinião, foi falhanço.
Ainda assim, percebo perfeitamente a excitação geral em relação a esta coleção. Nunca vi a série, acredito que seja aliciante para os amantes deste tipo de histórias, onde me incluo. Simplesmente é um livro/coleção que não me enche as medidas. O potencial que o conteúdo encerra está para mim gravemente limitado pela forma escolhida para o envolver.
Desta forma, é um livro que posso dizer que não gostei mas que percebo perfeitamente quem o ama, o ponto contrário do que posso dizer em relação ao Twilight (que nem o conteúdo salva a forma, deus meu).
S.