sexta-feira, 19 de julho de 2013

Ele há coisas... #34

Devia inaugurar aqui uma rubrica intitulada "Como é que demorei mais de um ano a decidir-me a visitar isto?!". A Filigranes figuraria aqui, Bruges, Antuérpia e, pensando bem, TODA e qualquer cidade belga exceto Oostende, bem como o Parque de Tensboch há umas semaninhas e o Cook & Book hoje. Sou estupidamente preguiçosa para visitar coisas. Procrastino indefinidamente, porque aqui vivo por tempo indefinido e penso que "um dia destes vou". Mesmo coisas que sei que iria gostar muito e mesmo havendo a forte probabilidade de me fascinarem. 

Foi numa tarde quente e soalheira (como atesta esta foto de porção de céu bem azul) que o Cook & Book passou a figurar na rubrica "Como é que demorei mais de um ano a decidir-me a visitar isto?!". Conheci-o sensivelmente um ano após ter ouvido falar dele pela primeira vez e não ter percebido como podia tal coisa existir. "Como assim, uma livraria onde se almoça?!"


Mas é precisamente isso que o Cook & Book é: uma livraria onde se almoça. Não é uma livraria ampla como uma Fnac. É ao invés constituída por uns cinco edifícios dispostos em semi-círculo, cada um com a sua livraria especializada (incluindo uma britânica, uma de ficção, de artes, de viagens e uma discografia), e com esplanadas à porta. 


Além dos habituais cafés/refrescos/aperitivos que é suposto uma esplanada ter, aqui servem-se almoços também. É muito famoso o brunch domingueiro e o C&B tornou-se local popular pós-trabalho, tanto por ser um sítio original e agradável e devido às suas horas de abertura extraordinárias: todos os dias até às 21h e aberto ao domingo.


No interior, cada livraria está decorada a preceito. A da ficção tem um teto incrível, onde parece que chovem livros:


Mas o que é verdadeiramente original nesta livraria é o restaurante ao pé do livro. Cada edifício tem uma zona no centro da sala onde se servem os brunches e que está separada das estantes por muito pouco.




Ou por nada:


Não sei se é suposto as pessoas pegarem em livros enquanto comem, se há alguma restrição, se se confia no bom senso dos clientes, como é. Mas acho que a ideia é tornar a livraria um espaço vivido, onde as pessoas vivam realmente e não apenas uma loja onde vão comprar um livro de fugida. Esborratar a linha que separa a hora de comer da hora de ler. Pessoalmente não consigo imaginar melhor programa para um domingo do que almoçar virada para a prateleira dos guias de viagem, fitando obsessivamente o da Escócia enquanto mastigo o meu strogonhoff de frango, ou beber um chá acompanhado de uma tarte de maçã enquanto olho de forma sonhadora os livros da Mireille Calmel, a qual descobri há pouco tempo (romances históricos ingleses são o meu guilty pleasure há muuuito tempo. Daqueles que falam da perspetiva de uma mulher. Acho mesmo que foram as Brumas de Avalon que despertaram em mim o feminismo, muitos anos antes de saber o que isso era sequer). 


Pormenor delicioso: a casa-de-banho no C&B tem prateleiras com livros. Levando a literatura a toda uma outra dimensão.


Um dia destes lá farei um brunch (lá estou eu a procrastinar, oh. Nada de data concreta, antes um "um dia destes", "quando tiver tempo", etc. Fraquinha.), nem que seja só para descobrir se é suposto as pessoas lerem enquanto comem, se o fazem, ou se é só nos intervalos entre um prato e outro.



S. 

2 comentários:

  1. Muito giro.
    Em Edimburgo passei por um cafe' com o mesmo principio: tinha livros por todo o lado. Belissimas ideias :)

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  2. Oh, adorava ter visto esse em Edimburgo!
    Confesso que ainda não estou completamente rendida ao conceito, tenho primeiro que experimentar o brunch para me convencer (ou desiludir).

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