quarta-feira, 9 de abril de 2014

Quebrar glass-ceilings, um de cada vez

Por falar em pressupostos.
 
No domingo corri a Corrida dos Sinos, uma corrida em plena terra natal, com companhia, por uma estrada que conheço como a palma da minha mão. Esta era uma corrida que eu costumava ver passar todos os anos, desde que me lembro de mim, e olhava os seus atletas com um misto de admiração por serem capazes de correr tantos quilómetros, pena porque aquilo era gente que só podia ir em sofrimento, e assombro por claramente haver tanto maluco e deixarem-nos ali à solta, a correr, ainda por cima.
 
Aquilo há duas provas em simultâneo e os 3 primeiros quilómetros de trajeto são iguais. Há a dos Sinos, de 15 km, e a dos Sininhos, de 6, na qual muitas pessoas vão a caminhar. Quando me dirigi ao balcão para levantar o dorsal da prova, levei com a observação seca de "Isto aqui é para os Sinos" do simpático senhor que estava a distribuir os envelopes para a corrida dos 15 km. Certo. E as meninas pequeninas, podem participar ou isto é só para os homens grandes?
 
Como coincidência, recebi um panfleto no dia da corrida com algumas curiosidades sobre o atletismo e o 25 de abril. De como as provas eram proibidas durante o Estado Novo (é realmente um ajuntamento com algumas semelhanças aos motins, especialmente no arfamento e na passada rápida), e de como as mulheres particularmente eram desencorajadas a correr, visto que era uma coisa muito pouco feminina (a teoria da mulher como objeto para ser admirado/possuído e não como sujeito, explicada n'O Segundo Sexo, assenta aqui que nem uma luva). O panfleto explicava depois como tinham surgido os primeiros grupos de atletismo em Mafra e, consequentemente, esta corrida emblemática.   
 
No outro dia, enquanto deambulava pela Internet fora à procura da próxima sessão de masoquismo corrida, descobri os 20 km de Bruxelas. É um percurso espetacular, que passa por vários sítios icónicos aqui do burgo, e grande parte deles são meus percursos habituais de treino. Seria a minha última oportunidade de participar numa corrida aqui na Bélgica, e, não fosse dar-se o caso de aquilo calhar num domingo de manhã após uma semana de trabalho intensivo fora do país, seria perfeito. Mas o cansaço antecipado dessa semana é um grande travão no meu entusiasmo por isso a corrida estava já a modos que descartada.
 
Até que uma coisa me chamou a atenção:



Que desequilíbrios são estes?! Onde estão as meia-maratonistas?? A decisão foi imediata. Pois se o percurso familiar não chegar para o sacrifício, a vontade de contribuir para desconstruir pressupostos servirá. 




S.

4 comentários:

  1. Não fosse o facto de este ano já ir ultrapassar em muito a minha quota anual de viagens e juntava-me a ti para ajudar a melhorar essa percentagem. Até porque fiquei com saudades de Bruxelas depois de receber o teu postal. Muito obrigada! :)

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  2. Serias muito benvinda! Entretanto descobri umas 4 ou 5 corridas aqui por cidades da Bélgica nos próximos dois meses e estou em extâse, queria ir a todas. Deixo aqui o link, pode ser que te tente :)
    http://www.sport.be/runningtour/2014/fr/

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  3. Agora estou a preparar-me mantalmente para o calor que vou apanhar às 11h, dia 4 de Maio, na Comporta, na Wings for Life. Também vai haver aí, olha só: http://www.wingsforlifeworldrun.com/pt/localizacoes/ypres/event-info/

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  4. Já tinha visto! Ainda não sei, tenho que fazer umas escolhas

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