Há dois dias, porque o dia de trabalho foi eficiente e acabou cedo e porque Londres me chama para a rua com uma intensidade inescapável, decidi finalmente ir apresentar a
Queeny Papa-Léguas à cidade. Parti sem rumo porque numa cidade que se desenrola à nossa volta com uma planeza a que ainda não me acostumei depois de 2 anos no
Pico do Distrito, não é preciso recear esforços despropositados. Tira-se a altimetria da equação do esforço, fica só a simplicidade dos quilómetros. Fui seguindo ciclovias e outros ciclistas, até ver.
O até ver tornou-se Torre de Londres assim que me dei conta de que tinha chegado ao Big Ben e que a ciclovia onde estava se partia em duas: ou passar a Westminster Bridge para o outro lado do rio, ou virar à esquerda e continuar ao longo do Tamisa para leste, onde iria eventualmente chegar ao meu monumento britânico favorito.
O que eu não contava era ir estrear a rede londrina de auto-estradas de bicicletas, uma maravilha do planeamento urbano que não existia quando aqui vivi da última vez há 7 anos.
Como é que eu hei-de descrever isto... Basicamente é como se existisse uma Londres alternativa para bicicletas, como se os ciclistas tivessem a sua própria cidade, sem terem que se chatear com carros ou peões. Eu estou numa das estradas mais movimentadas da cidade, a zona do Embankment, mas ciclo com uma velocidade e um descanso que só imaginado em planos utópicos de cidades sustentáveis ou sonhos molhados de cycling freaks.
Isto que é uma animação a computador, tornou-se realidade o ano passado. Uma ciclovia de dois sentidos, completamente individualizada da parte onde passam os carros e do passeio dos peões. E há umas 8 como esta, senão me engano, que cruzam a cidade de umas pontas a outras.
Ora vide mais imagens e imaginai a trabalheira que não foi precisa para renovar estas estradas todas numa metrópole cheia de tráfego:
O cuidado posto no planeamento é notório nas fotos acima e abaixo, que ilustram como as cycle superhighways evitam as zonas onde param os autocarros.
E como as auto-estradas chegam a bifurcar em diferentes direções, no caso da CS3 para quem quer continuar pelo rio ou para quem quer entrar para dentro da City. Em baixo acho que foi onde me enganei ao seguir os ciclistas da frente e cortar para dentro da cidade, em vez de continuar em frente para leste na direção da desejada Torre.
Lá corrigi o meu erro pouco depois e cheguei à Tower Bridge, onde a apresentei à Queeny PL.
Eu ainda estou parva como esta rede gigante de ciclovias, que inclui as 8 auto-estradas mais ciclovias adjacentes e quiet roads para quem quer pedalar longe da confusão, se desenvolveu nos últimos anos sem eu dar por isso! Ainda em 2013,
a primeira e última vez que pedalei na capital, a minha experiência foi a de uma cidade em que se ciclava pior do que em Bruxelas. Que puxão político que isto levou.
(a parte onde pedalei, de Westminster à Torre de Londres, está a roxo)
E por isto, ainda que o odeie pela parte hipócrita e de auto-serviço que desempenhou na campanha para o Brexit, o Boris Johnson, iniciador disto tudo, vai ter sempre a minha gratidão.
É que até túneis individuais estas ciclovias têm, porra! Um túnel para os carros e outro túnel ao lado para as bicicletas. Ainda hoje andei noutra das superhighways e lá estava um. (Não encontrei foto, vão ter de confiar.)
Ainda assim, é notório que muitas zonas da cidade, mesmo centrais, ainda não estão convenientemente servidas de boas ciclovias. Por exemplo, de sul para norte, de Westminster até ao Regent's Park, não há linhas de jeito. Mas o passo da evolução, e os trabalhos a decorrer por troços das superhighways planeadas, fazem-me estar muito otimista pelo futuro ciclável da cidade dos meus sonhos.
E quão demente seria isto, se se viesse a realizar?
Aqui fica o único mapa com as auto-estradas que encontrei - curiosamente num site japonês, que o
tfl.gov.uk, para minha grande surpresa e frustração, não tem nenhum mapa da rede em condições.
Boa sorte agora em tentar me tirar daqui, Theresa May.
S.