domingo, 10 de junho de 2012

Despedidas são cocó

Estes últimos dias deram para constatar que Bruxelas, de facto, se consegue ver só num dia. Este facto já me preocupou mais do que agora. Há que acrescentar que Bruxelas se vê apenas num dia, a pé. Esta última parte tem o seu quê de reconfortante. Traz consigo um sentimento de liberdade enorme: saber que os sítios mais interessantes da cidade estão à distância dos meus passos, e que não dependo de mais nada para os ir visitar além da minha vontade de levantar o rabo do sofá.

Noutra nota, vou descobrindo que as saudades conseguem ser sentidas de diferentes formas pelas mesmas pessoas mesmo em circunstâncias semelhantes: desta vez, em Bruxelas, sinto mais a falta dos meus pais do que sentia em Londres. Não sei bem explicar porquê. A distância de Portugal é sensivelmente a mesma, a vida também. Não sei se será da dificuldade acrescida - ainda que sentida inconsciente - de ir a Portugal, uma vez que agora tenho emprego e horários a cumprir e satisfações a dar a chefes e essas coisas chatas. Ou poderá ser do facto de que Londres era a primeira vez que mudava de casa e ía viver sozinha, ainda que acompanhada.

As despedidas para quem fica são terríveis. Ui, senhores. Aquele silêncio que se instala em casa depois de uns dias com ela cheia. Parecido com a ressaca pós-Natal, quando toda a gente se vai embora. E eu nem fiquei sozinha. Faz-me crer cada vez mais que eu seria incapaz de fazer vida de emigrante por minha só conta. Seria berreiro certo, com muito sentimento de penazinha de mim mesma. Uma vénia de enorme respeito a quem faz isto sozinho. 

Verdade que desta vez podia dar a desculpa das hormonas para ter ficado sorumbática e cheia de triste mas não vale a pena. Recuso a aproveitar a minha condição de mulher para desculpas esfarrapadas e justificações de vítima. E é sempre melhor admitir o que se sabe ser verdade: fiquei triste. E isso é saudável e humano (a minha normalidade nas despedidas e a ausência de saudades profundas anteriormente já me tinham preocupado um bocadinho).

Quase me arrastei para o jantar de amigos ontem. A minha natureza anti-social manifesta-se em todo o seu esplendor quando estou mais macambúzia, por isso foi com esforço que troquei de roupa e lá fomos (a pé, cá está!). A minha surpresa quando lá cheguei e me senti instantaneamente melhor, me diverti, sofri com Portugal e distribui palmadinhas verbais nas costas, especialmente ao D.: "Ainda temos dois jogos para jogar, nada de pânico ou desânimo". 

Em julho contamos ir uns diazinhos à terra-mãe. Mas se não formos, será muito provavelmente bom sinal.






S.  

Sem comentários:

Enviar um comentário