quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Tenho uma infiltração germânica

Daqui a umas horinhas vou ter o meu primeiro teste alemão. Sinto que já não tenho idade para nervoseiras antes de testes (acho que nunca tive, para dizer a verdade. A nervoseira vinha toda era antes de saber-lhe a nota) e muito porque deste teste nada depende. Não depende nenhuma nota nem nenhuma média final, não depende a minha futura aprendizagem da língua, não depende o meu futuro profissional ou académico, nem depende a minha felicidade. Aprender uma língua como deve ser é um processo moroso, nada linear, cheio de tentativas-erro, de incorporação de palavras novas todos os dias, de entrar numa outra mentalidade linguística com tudo o que ela implica (nada menos que obter uma nova perspetiva sobre o mundo). Encaro pois este teste, e todos os mais que chegarem, como uma auscultação do que já sei. Mas nunca os levarei a peito. Tiraria a felicidade toda ao processo de aprender esta nova língua, que se quer o mais natural possível, e que foi por ela que embarquei nestas aulas. Sim, é verdade, às vezes as aulas são-me tão difíceis e o cansaço é tanto ao fim do dia de trabalho que me apetece rebentar em lágrimas e gritar muito dramaticamente que nunca serei fluente nesta língua estúpida e tão difícil aos meus ouvidos latinos, mas estes momentos são cada vez menos. Depois também me lembro que pressão não há nenhuma, só a que eu puser em cima de mim, e quão sortuda sou eu por isso. Muitos alunos afirmaram na primeira aula que a razão para estarem a aprender alemão era o seu emprego; a minha é a simples curiosidade.

Na última aula a professora disse que o alemão era uma língua extremamente difícil ao princípio porque tem muitas regras gramaticais, mas que torna-se cada vez mais fácil. Assim que se apreender as tais regras torna-se canja porque é sempre certinho consoante as mesmas. Contrapôs com o inglês, que disse ser muito simples de aprender mas incrivelmente difícil de se conquistar verdadeiramente, já que regras são poucas e lógica nenhuma. Fiquei intrigada porque nunca tinha olhado para a língua inglesa dessa maneira. Mas é capaz de ser verdade; é muito fácil chegar-se a um nível bom de inglês, diria que a maior parte das pessoas da minha geração o tem, mas aproximarmo-nos do nível nativo já não é bem assim. Só nos parece que é tão fácil por ser tão omnipresente. Se o alemão é o contrário, melhor, mais ânimo aqui para os meus lados.

Há uma palavra alemã que eu aprendi a gostar muito e que de tanto a ouvir incorporei-a nos meus pensamentos. Neste momento, durante a tarefa esgotante intelectualmente e por vezes tão desencorajadora que é escrever uma proposta de investigação, a dita palavra está sempre a ressoar-me no crânio: warum. "X comporta-se muitas vezes como Y - Porque é que afirmas isso, S.? VÁRRUM?", "Quero perceber porque é que H escolhe Z em vez de W - VÁRRUM, S.? VÁRRUM estudar Z e W em vez de estudar M e K?". É uma palavra poderosa, sonante, que me impede de pressupor coisas sem as questionar. E não se pode pressupor coisas numa tese de doutoramento. Ou pelo menos, não se pode pressupor sem questionar nem argumentar. O warum é a minha voz da consciência científica.

E pronto, agora desejai-me sorte que vou ali analisar umas competências linguísticas e já volto.




S.   


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