quarta-feira, 9 de abril de 2014

Senhora e senhor

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Já é a segunda vez que vou à caixa de correio buscar um envelope da Igreja das Testemunhas de Jeová aqui da zona. É um daqueles panfletos de publicidade ("Venha connosco celebrar a morte de Jesus!") mas o especial é que vem dentro de um envelope endereçado à "Família X". Já é a segunda vez que me enganam porque fico sempre entusiasmada a pensar em quem nos terá escrito. Não sei se o que me irrita mais é ter publicidade religiosa camuflada na minha caixa de correio se é que ela venha sempre endereçada ao apelido do macho da casa. Nós somos uma família, sim, mas temos um apelido cada um e na caixa do correio eles figuram os dois. Ou endereçam aos dois apelidos ou metem um envelope para cada um. Como quando fomos abrir a conta de garantia de renda em nome dos dois e, apesar de a conta principal estar apenas em meu nome, o apelido do macho da casa aparece como proprietário por default. Porquê? Ninguém nos perguntou nada. Não se parta de pressupostos.
 
  
 
 
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O ginásio onde ando tem uma modalidade em que com apenas uma inscrição os membros do agregado familiar podem todos frequentar o mesmo ginásio, ainda que não ao mesmo tempo. Quando fui perguntar se podia adicionar o D. à minha inscrição e quais as condições não conseguia dizer a palavra em francês. Posso muito bem ter passado por pessoa-a-quem-dá-quebras-a-meio-da-conversa-como-se-lhe-acabasse-as-pilhas porque fiquei uns 10 segundos a pensar a meio da frase. "Est-ce que je peux ajouter mon... ... ... ... ... ... ... mari à mon abonnement?" Não me saía a palavra francesa para namorado, acho que tem qualquer coisa a ver com "copin" ou "petit ami". Mas a mim não me soava certo (amigo? colega???) e o senhor que me estava a atender não ia perceber. Ia pensar que eu estava a falar de um amigo qualquer e teria que perder o dobro do tempo a explicar-me o que eu já sabia, que isto é só para pessoas do mesmo agregado familiar e que para amigos não dá. E eu tinha que lhe explicar de seguida que não, que ele vive comigo e que portanto somos do mesmo agregado familiar, está tudo bem. E isto é faladura francófona a mais para mim. Parceiro ainda soa pior, companheiro idem. Por isso agarrei na única palavra inequívoca, ainda que não seja a verdadeira, mas que me cortaria caminho na interação. E isto se calhar é precisamente o que o casamento é, poder-se falar para o exterior numa linguagem que toda a gente entende. É apenas esse o único propósito que lhe acho. Como a história do apelido: sinalizar a toda a gente, inequivocamente, que se é da mesma família.




S.   


6 comentários:

  1. olha no outro dia em frança tive exactamente o mesmo bloqueio que tu, mas o meu interlocutor percebeu de imediato e colmatou a minha frase, acho que ele usou a palavra "copin" (confesso que não fixei).
    Mas mesmo cá em portugal já usei tantas vezes o "marido" em situações desse género, porque dá mais credibilidade. Mas nunca que eu me vou casar só por causa disso, quero crer que haverá outras motivações mais elevadas para um hipotético futuro casamento :)

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  2. a festa grande? o pretexto para a lua de mel? 15 dias extra de férias? :)

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  3. É marido e pronto, explicar dá muito trabalho. O meu diz que na Escócia, se viveres maritalmente durante dois anos, estás "casado de facto".
    Pessoalmente, a única vantagem que vejo no casamento é a segurança administrativa na morte. Sad, but true. De resto, não vejo vantagem nenhuma.

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  4. Acho engraçado nem o inglês nem o francês terem palavras verdadeiramente originais para namorado/a. Não faço ideia se é uma coisa comum a outras línguas europeias.
    E sim, a questão das heranças é importante.

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  5. !
    Andamos no mesmo ginasio, estou em crer - Av Louize? Paro la quase todos os finais de tarde (sou a menina que anda sempre de cor-de-rosa matchy matchy, tenho tatuagens nos bracos) e agora deu-me ora para ler ebooks ou ver filmes enquanto me mato no cardio. Ola? ;)

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  6. ohlalali, isto começa a ser ridículo, frequentamos os mesmos sítios e ainda não nos conseguimos reconhecer! isto pede um café.
    (hoje vou ao ginásio, talvez nos vejamos por lá)

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