sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ir ao fundo e voltar

Na quarta-feira voltei aos treinos de corrida, após dois meses desde o último. Eu considero-me uma pessoa em forma - ando a pé vários quilómetros todos os dias, ando de bicicleta, de vez em quando vou ao ginásio - mas a corrida confirmou-se-me mais uma vez como sendo qualquer coisa à parte. Foram só 5 km mas o meu corpo manifestou todas as manhas como se tivessem sido 15 ou 20, manhas essas que já lhe conheço à distância. É o "ai que isto custa", dramáticozinho e cedo demais para que eu lhe dê algum crédito, é a dorzinha num tornozelo qualquer ao início que em insistindo desaparece como por magia, é o desconforto na barriga quando descobre que os pontos anteriores não funcionam, é o aborrecimento por ver que a coisa ainda não vai nem a meio. Já tinha saudades da luta constante entre corpo e mente tão típica deste meu hobby. Não consigo perceber quem desdenha das pessoas que se dedicam de corpo e alma a estes desportos, que fazem deles sua vida e profissão. Como se houvesse uma dicotomia entre intelectualidade e forçar o corpo aos seus limites, como se para este último não fosse preciso um uso incrivelmente poderoso da mente, como se superar barreiras físicas não fosse algo sublimamente humano e nobre. Amo as Rosa Motas e Carlos Lopes desta vida tanto quanto amo os Saramagos e Stephen Hawkings. O que fazem é o mesmo na sua essência: elevar a humanidade a novos picos de conquistas.
 
Voltando ao relato mais sóbrio do meu humilde regresso às corridas, pela primeira vez treinei com o relógio contador dos quilómetros. Foi uma espécie de revolução porque agora posso correr de forma espontânea pela cidade, posso virar aqui ou ali, onde quer que me dê na gana, não estou presa a percursos pré-calculados e repetidos ao infinito só porque indo por eles sei exatamente os quilómetros que corri. E é importante saber quanto se corre. Tanto para se ir aumentando como para estabelecer "hoje corro X, não vale a pena o corpo se meter com manhas". Posso descobrir novas ruas, novos bairros, gravar a cidade no coração porque a sofri com as minhas passadas e o meu suor. Aliás, duvido que tenha sido coincidência ter começado a gostar de Bruxelas ao mesmo tempo que a palmilhava nos treinos longos para a meia-maratona. Passou a ser cidade minha.
 
 
 
 
S.

2 comentários:

  1. Adorei a conclusão, faz todo o sentido. Faço questão de correr em todos os novos lugares a que vou, é mesmo uma perspectiva especial.
    Vais ver que a recuperação de ritmo é num instante. Boas corridas!

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    1. Isso é mesmo boa ideia, os sítios devem ficar mais marcados na memória. Há é o medo de me perder...

      Obrigada gralha :)

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