(Sobre a hashtag #WomenAgainstFeminism e as mulheres que acham que viveriam melhor sem o feminismo.)
Eu poderia vir para aqui falar de como o conceito de "vítima" é incrivelmente mal interpretado quando se fala de "vítima de violência doméstica", "vítima de assédio sexual", ou "vítima de discriminação", achando-se que "vítima" é sinónimo de pessoa fraca, indefesa, ou sem capacidade de resposta (não é. Vítima é toda e qualquer pessoa a quem lhe acontece um fenómeno castrador dos seus direitos ou que de alguma maneira lhe limita a vida. Uma "vítima de um acidente" ou "vítimas de um terramoto" não tem nada que ver com as características de uma pessoa, é tão só e apenas serem recetoras do fenómeno em questão). Mais
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Também poderia desenvolver a questão de como a mentalidade individualista é cada vez mais uma vencedora, porque o ênfase na nossa sociedade está cada vez mais no indivíduo, nas escolhas que cada um faz, e que se ele se esforçar mesmo, mesmo muito, consegue este mundo e o outro (duvidam da hegemonia desta mentalidade? É só recordar que até o livro de auto-ajuda mais famoso,
O Segredo, a incorpora, envolvida em pseudo-misticismo: se eu quiser mesmo muito uma coisa, o Universo encarregar-se-á de me a dar. Não a consegui? Foi porque não a quis suficientemente.) Nesta mentalidade não há espaço para desigualdades estruturais, para discriminação laboral, para racismo ou sexismo institucionalizados. Se há poucas mulheres no topo das carreiras é porque elas não têm ambição nem se esforçam o suficiente, se há pessoas pobres a receberem subsídios de reinserção é porque não querem é trabalhar. No mundo dos individualistas, todas as pessoas nascem com as mesmas condições de partida e por isso todas têm as mesmas opções de sucesso. Quem não consegue, é porque não estudou/se esforçou/desejou/batalhou/perserverou o suficiente. Discriminação, meio social, privilégios, pobreza, sexismo, racismo, riqueza, nada disso tem importância. É o indivíduo e as suas "escolhas" que determinam quem ele será. Mais
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No final, talvez a mensagem mais eficaz de como esta campanha acerta tão ao lado seja a analogia tão pertinente ao ambientalismo:
S.
P.S. - É incrível a quantidade de estereótipos hilariantes que estão reproduzidos na maioria daqueles cartazes e a ignorância geral sobre o que o feminismo realmente é e pelo que luta. É de uma pessoa perder fé nas mulheres. Faz-me sempre lembrar aquela frase de Voltaire que diz: "Eu discordo do que dizes mas lutarei até à morte pelo teu direito de o dizeres."