'But I was beginning to understand something about normality. Normality wasn't normal. It couldn't be. If normality were normal, everybody could leave it alone. They could sit back and let normality manifest itself.'
Jeffrey Eugenides, Middlesex
A Marylin Frye argumenta qualquer coisa parecida. Ela diz que todas as pessoas são obrigadas no dia-a-dia a salientar o sexo a que pertencem da forma mais óbvia possível (mas ironicamente sem poderem recorrer-se da marca mais óbvia que há, que são os genitais). E as pessoas fazem isto através de mil e uma maneiras: a roupa que vestem, o tom de voz que usam, a forma de andar, a postura ao sentar, expressão facial, maquilhagem ou não, adornos, o cabelo, etc, etc. Isto do sex-marking torna-se uma coisa tão obsessiva na nossa sociedade que o começamos logo a fazer mal os bebés nascem: o cor-de-rosa e o azul, os ganchinhos ou fitas nas bebés mal lhes cresce um bocadinho de cabelo - não vá alguém se enganar e achar que está ali um menino em vez de uma menina.
Ora esta obsessão pelo sex-marking pressupõe duas coisas: que existem dois sexos muito distintos um do outro (quando não é assim; estima-se que 1 em cada 2000 bebés não encaixem neste binómio), e que essa distinção é muito importante.
A contradição está aqui: se as diferenças entre um e outro fossem assim tão pronunciadas e importantes, tão normais, podíamos deixá-las em paz. Não era preciso haver regras sociais para uns e outros, não era preciso andarmos sempre a lembrar ao mundo se somos homens ou mulheres, não era preciso as prateleiras dos supermercados estarem divididas entre brinquedos de rapaz e rapariga, presentes para ele e para ela, seria óbvio.
S.
Muito bom.
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