domingo, 9 de julho de 2017

Uma Londres desconhecida

Há dois dias, porque o dia de trabalho foi eficiente e acabou cedo e porque Londres me chama para a rua com uma intensidade inescapável, decidi finalmente ir apresentar a Queeny Papa-Léguas à cidade. Parti sem rumo porque numa cidade que se desenrola à nossa volta com uma planeza a que ainda não me acostumei depois de 2 anos no Pico do Distrito, não é preciso recear esforços despropositados. Tira-se a altimetria da equação do esforço, fica só a simplicidade dos quilómetros. Fui seguindo ciclovias e outros ciclistas, até ver.

O até ver tornou-se Torre de Londres assim que me dei conta de que tinha chegado ao Big Ben e que a ciclovia onde estava se partia em duas: ou passar a Westminster Bridge para o outro lado do rio, ou virar à esquerda e continuar ao longo do Tamisa para leste, onde iria eventualmente chegar ao meu monumento britânico favorito.

O que eu não contava era ir estrear a rede londrina de auto-estradas de bicicletas, uma maravilha do planeamento urbano que não existia quando aqui vivi da última vez há 7 anos.

Como é que eu hei-de descrever isto... Basicamente é como se existisse uma Londres alternativa para bicicletas, como se os ciclistas tivessem a sua própria cidade, sem terem que se chatear com carros ou peões. Eu estou numa das estradas mais movimentadas da cidade, a zona do Embankment, mas ciclo com uma velocidade e um descanso que só imaginado em planos utópicos de cidades sustentáveis ou sonhos molhados de cycling freaks.


Isto que é uma animação a computador, tornou-se realidade o ano passado. Uma ciclovia de dois sentidos, completamente individualizada da parte onde passam os carros e do passeio dos peões. E há umas 8 como esta, senão me engano, que cruzam a cidade de umas pontas a outras.

Ora vide mais imagens e imaginai a trabalheira que não foi precisa para renovar estas estradas todas numa metrópole cheia de tráfego:




O cuidado posto no planeamento é notório nas fotos acima e abaixo, que ilustram como as cycle superhighways evitam as zonas onde param os autocarros.


E como as auto-estradas chegam a bifurcar em diferentes direções, no caso da CS3 para quem quer continuar pelo rio ou para quem quer entrar para dentro da City. Em baixo acho que foi onde me enganei ao seguir os ciclistas da frente e cortar para dentro da cidade, em vez de continuar em frente para leste na direção da desejada Torre.


Lá corrigi o meu erro pouco depois e cheguei à Tower Bridge, onde a apresentei à Queeny PL.


Eu ainda estou parva como esta rede gigante de ciclovias, que inclui as 8 auto-estradas mais ciclovias adjacentes e quiet roads para quem quer pedalar longe da confusão, se desenvolveu nos últimos anos sem eu dar por isso! Ainda em 2013, a primeira e última vez que pedalei na capital, a minha experiência foi a de uma cidade em que se ciclava pior do que em Bruxelas. Que puxão político que isto levou.

(a parte onde pedalei, de Westminster à Torre de Londres, está a roxo)

E por isto, ainda que o odeie pela parte hipócrita e de auto-serviço que desempenhou na campanha para o Brexit, o Boris Johnson, iniciador disto tudo, vai ter sempre a minha gratidão.



É que até túneis individuais estas ciclovias têm, porra! Um túnel para os carros e outro túnel ao lado para as bicicletas. Ainda hoje andei noutra das superhighways e lá estava um. (Não encontrei foto, vão ter de confiar.)

Ainda assim, é notório que muitas zonas da cidade, mesmo centrais, ainda não estão convenientemente servidas de boas ciclovias. Por exemplo, de sul para norte, de Westminster até ao Regent's Park, não há linhas de jeito. Mas o passo da evolução, e os trabalhos a decorrer por troços das superhighways planeadas, fazem-me estar muito otimista pelo futuro ciclável da cidade dos meus sonhos.

E quão demente seria isto, se se viesse a realizar?



Aqui fica o único mapa com as auto-estradas que encontrei - curiosamente num site japonês, que o tfl.gov.uk, para minha grande surpresa e frustração, não tem nenhum mapa da rede em condições.



Boa sorte agora em tentar me tirar daqui, Theresa May.




S.

10 comentários:

  1. (ia-te perguntar qual o monumento preferido, mas depois percebi!)

    Realmente, a trabalheira que deve ter dado fazer isso - mas com vontade, o que não se faz?

    Que vontade de ir a Londres que bateu agora...

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    1. A foto é da Tower Bridge mas o monumento favorito é a Torre de Londres, ali pertinho :)

      Não foi tudo feito de uma assentada, e eles continuam a completar as superhighways pedacinho a pedacinho, porque têm consciência que não podem fechar uma estrada inteira para fazer obras, há que ir aos pouquinhos. Tenho ouvido dizer que Lisboa também tem evoluído bastante a este nível, fiquei curiosa para saber mais.

      Anda, anda! :)

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    2. Eu depois percebi com a "desejada Torre" :p

      Pois, de Lisboa não sei muito, só aquela parte ali de S. Sebastião, Avenidas Novas, etc... não vejo mais, mas não quer dizer que não exista! Há também toda uma ciclovia nas docas, desde a parte debaixo da ponte 25 de Abril à Torre de Belém (há tempos fiz a pé de um lado ao outro e voltei. Foram ~9km).

      Quero! Mas tempo, dinheiro, cenas. Até quando ficas?

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    3. Para sempre? Lol, não sei, mas não quero ir embora em setembro. Pode ser que dê para vires cá :)

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    4. Haha :p tenho as minhas duas semanas ali em agosto/setembro! Vou fazer uma prospecção de preços... :)

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    5. uiii recuso-me a dar 200€ a uma lowcost ou fazer escalas para ir a londres...

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  2. #mêsdoemigrante :( Mas é muito provável que aqui fique nos próximos tempos, é ir deitando olho aos preços/disponibilidades!

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  3. Posso perguntar-te, com curiosidade, do que gostas realmente mais em Londres? :)

    (só lá estive 4 dias... uma coisa caótica, filas e mais filas por todo o lado, prédios sujos, rio lamacento,.... à excepção do Hyde Park, não houve realmente mais nada de que tenha conseguido desfrutar)

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    1. Ai, por onde é que começo!... :)

      Londres é um caos mas é um caos ordenado, daí as filas e mais filas por todo o lado: um metro a abarrotar mas no qual as pessoas sobem as escadas rolantes encostadas ao lado para deixar passar apressados, onde há sempre um espaço para deixar as pessoas saírem das carruagens primeiro, onde os túneis de acesso às plataformas têm os sinais de keep left para as ultrapassagens dos apressados serem mais fáceis, onde as passadeiras têm todas um look right ou look left para sabermos para onde olhar. Nisto do caos, são mesmo estes detalhes que fazem a diferença entre um caos onde dá para viver ou um caos impossível.

      Do que é que eu gosto realmente mais em Londres... De sentir que estou num centro do mundo mas onde tudo me é familiar. Começa pelo meu apego emocional à Grã-Bretanha, irracional, mas fruto de uma socialização literária da história do país e da cultura, da geografia, da língua (de um inglês que é inglês, não americano). Nas coisas que mais interesse tenho em explorar, há demasiadas que são britânicas, e em Londres sinto que esses interesses ganham vida, porque aconteceram ali, existem ali: é os Tudor e a Torre de Londres e Hampton Court, são as Câmaras do Parlamento e uma das democracias mais antigas e regulares da História, são as docas de onde saíam os barcos da marinha mais poderosa do mundo (com tudo o que isso tinha de bom e de mau), os lembretes dos lugares nomeados em comemoração de uma das rainhas mais interessantes da história europeia (Victoria station, Victoria line, Albert memorial, Victoria embankment), o espaço entre a plataforma 9 e 10 em King's Cross... :) Eu ando pelas ruas desta cidade e sinto-me em casa, sinto estar a recordar uma série de coisas que não vivi mas que conheço, parece que o meu mundo interior e o exterior conjugam um com o outro, sinto o meu compasso cultural e situacional a alinharem-se como não sinto em mais lugar nenhum do mundo. (Sem obsessões nem fanatismos, atenção, tenho os olhos bem abertos e cada vez mais para cada um dos erros, falhas e defeitos do UK. Mas é onde sinto que pertenço.)

      Objetivamente, Londres é uma cidade interessantíssima. A profusão de teatros, musicais, museus fabulosos e gratuitos!, monumentos, exposições e outros eventos culturais não tem paralelo fácil noutra parte qualquer. E a variedade de bairros, de Camden a Belgravia, de Chelsea a Whitechapel, de Southwark a Islington, é enriquecedora. Uns, especialmente os de West London, a parte mais rica da cidade, em que é extremamente injusta a caraterização de prédios feios! E os parques são incríveis! Haver aquelas extensões de verde bem no centro de uma das cidades do mundo onde o metro quadrado é dos mais caros do mundo é obra.

      É uma cidade escura no inverno, especialmente devido ao tempo nublado característico e às poucas horas de sol, a qualidade do ar é um problema, e aquele rio é realmente nhanhoso (mas tendo em conta a história industrial da cidade e o que ele sofreu diria que hoje comparativamente é uma nascente pura). É uma cidade enorme, e lá porque outro sítio onde queremos ir ainda é Londres não significa que fique a menos de uma hora de metro/autocarro. As rendas são exploratórias. Mas os primeiros parágrafos... ;)

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    2. hehe, o rio não é lamacento! é castanho porque tem algas que lhe dão aquela cor. por mais limpo que esteja, e hoje em dia, acho que está, vai ser sempre castanho.

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