quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Impermeabilidade azul escura

Desde que a minha capa extremamente impermeável, extremamente comprida e extremamente azul chegou pelo correio, que andava a ansiar que chovesse. Andar a ansiar que chova já de si é estranho, andar a ansiar que chova em Bruxelas em outubro é simplesmente absurdo porque todos os dias chove. Mas tivemos aí uns cinco dias de sol, de forma que foi esquisito. E deu para ansiar. Saía eu de manhã para rua, pimba, levava logo com raios de sol nos olhos. Duas ou três vezes, enquanto conduzia a bicicleta e franzia o sobrolho tentando evitar o sol que brilhava de frente, pensei: "Mas queres ver que eu devia era ter comprado uns óculos de sol em vez de uma capa..." Foram uns dias bem estranhos. Choveu, entretanto, mas nunca enquanto eu fazia as minhas viagens de commuting, pelo que a capa se manteve dobradinha na minha mala, à espera de ser estreada.

Ontem, quando o despertador soou tive que olhar três vezes para relógios diferentes para me certificar que já era mesmo hora de levantar. Estava escuro lá fora. E os carros quando passavam faziam o "ffffssh" característico das rodas a passar em estrada molhada. Era desta que a capa ia ser estreada!

Er... Não correu muito bem. Rapidamente descobri que pedalar à chuva não é das sensações mais fabulosas deste mundo. Assim que vesti a capa, olhei com orgulho o facto de me tapar da cabeça aos tornozelos, e fiquei toda fanfarrona por ter metro e meio (acho que esta capa era suposto tapar um adulto até aos joelhos, mais coisa menos coisa). Apertei o carapuço e lá fui eu. Mas não contei com duas coisas um bocadinho, digamos, chatinhas:

- As mãos e os antebraços ficam de fora: tirei as minhas luvas e guardei-as para não as molhar porque tinham uma pele muito fofinha de pêssego e eram novas e tal - ERRADO. Não molhei as luvas molhei as mãos. Cheguei ao escritório com os dedos engelhados (!) e a parte do antebraço que a capa não tapa - porque é um poncho - toda encharcada.

- A cara vai, digamos, nua: a cara, senhores, a cara... Mesmo resolvido o problema das mãos através das luvas e de um casaco mais grosso para não encharcar os pulsos/antebraço, com a cara não dá para fazer nada. Nem mesmo, vá, o desvario de um lenço à volta da cabeça serviria pois eu tenho que ver a estrada! E levar com chuva nos olhos, indo a franzir o sobrolho porque desta vez não é o sol mas sim a chuva a perturbar a visão não é muito bom, não senhor. Imagino sempre que os automobilistas me olham com pena, do tipo "Oh coitada, lá vai a menina à chuva e ao frio, enquanto eu vou aqui no meu carrão de ar condicionado e rabinho sentadinho nesta espécie de sofá pessoal". Mas depois eu ultrapasso a fila toda de carros presos no trânsito infernal por causa da chuva e acho que lhes passa a pena toda.

Este último problema da cara descoberta ainda é um problema. Acho que ainda ninguém inventou a solução para evitar a chuva a bater nos olhos por causa da deslocação do ar que não envolva um capacete de mota daqueles enormes e com visor. Porque o resto, está resolvido. A luvinha nova já está sebenta do preto do guiador da bicicleta mas a mãozinha já vai seca.

Posso portanto dizer que o primeiro obstáculo, a chuva, está ultrapassado ;)

Se bem que...



... isto até dava jeito.

S.

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