quinta-feira, 11 de abril de 2013

Esperar sentada

Estou num daqueles momentos em que a vida está virtualmente suspensa até se ter um sim ou um não. É uma das coisas que mais abomino, este sentimento de que as coisas estão fora do meu controlo e que o que só posso fazer é esperar muito quietinha e fingir que me ocupo com outras entretanto. Aquele sentimento de que não se cabe na nossa pele nem no presente, como se também nós estivéssemos suspensos e não fosse só a porcaria de uma decisão que estivesse para ser tomada, que se queria era saltar já para daqui a uma semana, quando, de uma maneira ou de outra, se saberá a resposta. E nem se sabe se se está a ansiar o sim ou o não, que mudar implica sempre esforço mental e o baralhar da rotina.

C'um caramba, este fim-de-semana vai ser mesmo longo.

Tenho a profundamente irritante mania de quando se avizinha qualquer evento fora do comum, identificar uma data no futuro e pensar "Xi, quando estiver naquele dia já vou estar mudada, já vou saber o que isto é, já ter passado pela dor." Porque eu tinha a mania de fazer isto com coisas médicas. Do tipo, amanhã ia tirar sangue, e a seguir ia às compras com a minha mãe. Pensava obsessivamente "Aííí... Amanhã à tarde já terei tirado sangue, já serei uma rapariga diferente, mais forte, porque passei por isto." (eu tinha mesmo muito pavor a agulhas). Idem quando fiz cirurgia aos dentes, só que a obsessão começou meses antes. O meu mundo passa a estar dividido muito claramente em dois, um perfeito "antes" e "depois", com a data (e hora! se é para obcecar é para obcecar como deve ser) do evento a dividi-los muito claramente. Quando um professor marcava um teste para depois dessa cirurgia/análises/tudo-o-que-tivesse-cheiro-acético lá projetava eu as minhas obsessões nessa data mágica, quando eu já saberia como era e como tinha corrido a experiência. 

Agora estou exatamente assim. O D. faz anos de segunda-feira a uma semana e eu já estou em modo "Aííí... Quando formos festejar os anos dele já saberei se a minha vida muda ou não." É terrível. É por isto que uma gravidez será terrível para mim. Já não tanto pelas agulhas - se bem que, sabe deus que obsessão sobre isso não irá faltar - mas mais por causa do grande evento parto. "Aííí... Daqui a um mês em vez de dois vamos ser três." e "Aííí... Daqui a um mês já vou saber se me rasgaram a barriga ou não." A minha saúde mental estará espetacular nesse dia.

O meu problema é mesmo a sensação de coisas que fogem ao meu controlo. Não coisas do dia-a-dia, mas decisões que me dizem respeito e com potencial para me mudarem a vida. Mas, sinceramente, já devia estar habituada.






*Update* 

Também gosto muito de fazer isto quando Portugal joga nas competições internacionais. Só que aí são só 90 min de obsessão. Mas para mim é uma sensação hilariante saber que dali a uma hora e pouco ou está tudo eufórico ou está tudo triste. É como se nessas alturas se estivesse numa bifurcação perfeita do destino. Momento mágico. 

S.



E odeio tanto quando as pessoas se metem a escrever coisas tão vagas, mesmo para se perguntar o que é que se passa. Sou tão hipócrita.

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