quinta-feira, 16 de maio de 2013

Disney rant #3097235

Queria só acrescentar uma achazinha à fogueira dos defeitos da Disney.

Quando estávamos em Londres surgiu a ideia de irmos à loja da Disney comprar um presente para um bebé que tinha acabado de nascer. Não foi preciso a ideia ser formulada em voz alta duas vezes que eu fui logo lá, ansiosa por ir espiolhar as maravilhas que eles têm para bebé e por ter um pretexto para ir a uma loja Disney que é sempre uma experiência de, er... overdose sensorial. Eu sei, eu sei, num post critico o excesso de brilhantes e noutro admito o meu fascínio pela loja abrilhantada. Sou uma criatura contraditória, que querem. 

Dizia eu que fui logo a correr, direitinha à dita loja. Fui logo a correr, mas porque Londres é grande, ainda tive tempo de me preparar mentalmente para as multidões selváticas da Oxford St. Não correu muito mal.

A secção dos bebés tem coisas fascinantes. Eu, que tenho inúmeras crises existenciais sobre a maternidade (por antecipação, ainda que uma antecipação indefinida), e que nunca tive a oportunidade de lidar de perto com coisas de bebé, fascina-me o mundo consumista direcionado para estes minúsculos seres humanos. A prenda era para uma bebé menina por isso ia muito self-conscious do que iria escolher. Não queria dar mais um contributo para o potencial afogamento da criança em cor-de-rosas, brilhantismos, folhinhos, e piroseiras do género. Mas então se calhar, diz-me a voz da razão retrospetiva, não me devia ter ido enfiar numa loja Disney, né?

As roupas para bebézinhos ali são espetaculares. Têm os bonecos dos filmes e são de boa qualidade. São também, como suspeito que é normal, bastante segregadas: há o que é especificamente para menina e o que é especificamente para menino. Mas também há coisas neutras (Deus seja louvado). Depois de muito minuto a andar para trás e para a frente, pesando os prós e contras de tanta característica, tinha-me decidido por um body muito bonito cor-de-rosa que se salvava porque tinha a Nala, que é provavelmente a minha "princesa" Disney favorita. Gosto muito da Nala. Era tão ou mais aventureira que o Simba quando eram miúdos, divertida e corajosa, e deu-lhe na cabeça quando ele se armou em parvo e não queria ser rei, e lutou ao lado dele contra o Scar e as hienas.  






Pronto, tinha aquelas manias do banho como deve ser e depois casou e apagou-se completamente mas das princesas da minha infância ainda era a melhorzita. 

Isto para dizer que até estava disposta a fechar os olhos ao cliché cor-de-rosa porque tinha lá a Nala. Até que vi o que vinha escrito em conjugação: "Love Me, Love Me". Oh, que bonito. Súplicas a futuros e hipotéticos príncipes encantados num body de uma recém-nascida. Espetacular. E ainda há quem duvide da força dos estereótipos de género na educação das pessoas. O bombardeamento começa assim que chegam ao mundo, há cá espaço para inovar.

Arrumei o cabide muito direitinho na prateleira, engoli a bílis que entretanto me tinha subido à boca, e optei por uma coisa muito branquinha, muito linda, e com o coelho Tambor, do Bambi.

Vai ser bonito quando forem meus.

Isto pode parecer uma coisa insignificante mas é com pequenos passos que se muda qualquer coisa neste mundo. E ainda que a bebé não seja minha e eu não tenha absolutamente nada que ver com o que ela vestirá/brincará/usará/verá, não quero estar a contribuir para algo que vai contra o que eu defendo. Diz-se que "you should not mix your politics with the raising of your children" mas será que isto é mesmo assim? Se achamos que as nossas políticas não são boas para aplicar na educação dos filhos então valem elas de quê?

Já sei, vou engolir isto tudo quando/se for mãe. Eu depois prometo que digo qualquer coisa.



S.


9 comentários:

  1. Em Berlim (ia por isto num post mas não tive tempo de escrevê-lo nem de fotografá-lo com outras coisas que queria acrescentar)fizeram uma casa da Barbie gigante que pode ser visitada e há um Occupy Barbie House:

    http://www.exberliner.com/articles/seven-questions-for-occupy-barbie-dreamhouse/

    (mas agora que li o teu post vou mesmo tentar fazer o outro)

    ResponderEliminar
  2. Já tinha visto que essa casa da Barbie tinha atraído muitas críticas mas desconhecia que eram um movimento Occupy!
    Fico à espera do post :)

    ResponderEliminar
  3. não consigo ver as fotografias da Nala :(

    Aproveito a deixa para dizer que gosto muito dos teus temas, trazem uma perspectiva tão fresca. É muito interessante ver como uma jovem (do que leio presumo que és muito jovem) tem já tanta coisa a dizer sobre realidades que achamos serem garantidas. E se um dia tiveres filhos e quiseres falar disso por aqui, aposto como também vais ter opiniões muito interessantes !:)

    ResponderEliminar
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  5. Não vais não. Antes da minha menina nascer, quando andava às compras dizia sempre nas lojas que não sabia o sexo do bebé, que me arranjassem alguma coisa que desse para os dois. :) Claro que depois de nascer já não é tão fácil.

    Andei à procura de um "fato" de Mérida para a miúda numa loja Disney na Escócia, e não tinham. Eu queria o arco e flecha e tudo. A empregada disse que quando têm esgota num instante, e sim, tinham tido a roupa e o arco e flecha. :)

    ResponderEliminar
  6. e noutro tema nada a ver com este a não ser uma "rant" contra a disney, se quiseres recomendo-te ler umas coisas sobre a extensão absurda do copyright/direito de autor às custas do Sr.Walt e do peso económico da Disney...
    http://techliberation.com/2009/08/06/copyright-duration-and-the-mickey-mouse-curve/
    http://www.theamericanconservative.com/the-bitter-legacy-of-mickey-mouse/

    ResponderEliminar
  7. a.i. As fotos estavam como cópia de URLs, já as carreguei como deve ser. Obrigada pelas palavras :) Ainda sou relativamente nova nestas andanças, só há 2 anos é que comecei a informar-me sobre tudo o que ainda há para fazer nisto das desigualdades de género. Mas assim que se começa a questionar não se consegue parar de ver exemplos das desigualdades em todo o lado, é um bocado perturbador.

    Snowgaze, ainda bem que oiço uma mãe a afirmar que é possível! Dá-me esperança. Normalmente só oiço é exemplos contrários, pessoas que queriam educar neutralmente mas que depois dizem que menina é sempre menina e menino é sempre menino, características diferentes. Claro que uma criança não vive numa redoma de vidro e portanto vai ter mais influências do que as dos pais. Mas na minha opinião o que não se deve é forçar diferenças à partida.
    Fico contente que os fatos da Mérida com arco e flecha estejam esgotados, é sinal que têm muita procura!

    LJ, esse artigo é bastante interessante mas não me surpreende verdadeiramente. Que uma corporação multimilionária tente influenciar as leis na sua origem é precisamente o que mais acontece. Mas é engraçado ver o esforço que eles puseram em lobbyar os fazedores-de-políticas para proteger os seus direitos de autor sobre o Mickey. Que é o símbolo da Disney, basicamente.

    ResponderEliminar
  8. Para já tem sido possível (mas não é fácil, principalmente no local onde vivo, onde a oferta não é muita). E gosto sempre de dizer que é um menino mas que não quero azuis (também há muito de lúdico em ver a reação das pessoas que nos atendem). Claro que também os tem (os azuis típicos), principalmente por causa das ofertas...
    A minha criança tem 2 meses e ainda no outro dia, quando a embalava, pensava que gostava dela assim, desformatada. :)

    ResponderEliminar
  9. Parece que é quase um crime, uma mãe afastar-se do cor-de-rosa e azul para a bebé menina e bebé menino. A infância devia ser a altura em que as crianças deviam ter a máxima liberdade para vestir o que lhes convém, sem coisas a fazer lembrar os códigos às vezes demasiado rígidos que tem a roupa feminina e a roupa masculina dos adultos.

    ResponderEliminar