quinta-feira, 26 de junho de 2014

Indo eu, indo eu, a caminho de Caminha

Já estamos em Portugal e já estamos de partida. Ainda não acredito que vamos mesmo embarcar nesta viagem de bicicleta e as minhas pernas nem suspeitam da sova que vão levar. Provavelmente, nem a mente está ainda consciente do que vamos fazer. Ignorância é bênção, deixa-as estar.
 
A partir de amanhã e durante o próximo mês vamos estar aqui.


Desejem-nos sorte e força nas canelas. :)




S.
 

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Nervös

Estes dois últimos dias na Bélgica são tortura. Também porque os tenho que passar a trabalhar, mas não essencialmente por isso. O meu espírito já não está cá, quero ir-me embora daqui. 

A casa já foi limpa para inspeção final, o frigorífico está quase vazio, as malas estão feitas, as nossas maiores possessões já foram vendidas, o des-registo na comuna já foi feito. Não apreciei o lançamento do meu cartão de residente para o lixo de forma tão negligente mesmo à minha frente. Há sentimentos envolvidos.

Estou cheia de antecipação, vou regressar à base mais uma vez brevemente, antes de nos lançarmos no mês de pedalanço pela costa portuguesa. Quer dizer, estaremos na base à mesma, não antecipo sentir-me menos do que em casa de regresso à base em qualquer lado do território português. 






S.

Sucesso balnear

Há duas semanas fomos à praia. A intenção principal de ir até à beira-mar era fazer um passeio de bicicleta de vários quilómetros pela costa flamenga e holandesa, que me haviam dito ser lindíssimo. Andava a sonhar com Knokke há mais de um ano. Como todas as previsões meteorológicas apontavam para um dia soalheiro e de mais de 25 graus naquela cidade costeira, permitimo-nos sonhar.

Começámos a rir maniacamente quando, ainda no comboio, cai uma carga de água enorme. Não faz mal, já estamos habituados, declarámos nós, os fatos-de-banho vieram vestidos mas bom, temos o pedalanço na mesma para fazer. Não seria em vão como há dois anos.  

Fomos então pedalar, eu sempre de antena no ar para descobrir o momento em que passássemos a fronteira com a Holanda. Nem uma placazinha azul com estrelas amarelas a anunciar, nem bandeiras holandesas em lado nenhum, mudança de língua nicles porque já estávamos na Flandres de qualquer das formas, olhar para as matrículas dos carros não me elucidou porque havia igual número de BEs e NLs, e as pessoas como é óbvio não têm escrito na testa de que país são. Cheguei a procurar desesperada anúncios em edifícios ou paragens de autocarro que tivessem um website com .nl, cheguei ponderar perguntar a alguém na rua se já estava na Holanda, mas senti-me ridícula e tive medo de ofender nacionalismos desenfreados caso ainda estivesse na Flandres. Lá vislumbrei uma caixa de correio amarela que dizia qualquer-coisa-qualquer-coisa-Nederland mas acabei por nunca vislumbrar a linha divisória como esperava. Só em casa, com o mapa GPS do percurso feito transferido para o computador pude ver que tínhamos avançado 10 km para dentro da Holanda sem nunca nos apercebermos. 

Apanhámos chuva e fresquinho, como era esperado desde a forte chuvada no comboio. O que não era esperado foi o sol que de repente brilhou em toda a sua glória no pedalanço de regresso a Knokke, e que me garantiu um lindo bronzeado à camionista que ainda hoje apresento com alguma vergonha. Apanhar escaldões aqui nestas costas do norte é uma verdadeira humilhação para pessoas Europa-sulistas como eu.

Ainda fomos à praia, o único final lógico de um pedalanço debaixo de sol quente (aqui isto não é uma redundância). E tomei banho! Fiquei mesmo feliz, felicidade essa que se esbateu um bocadinho quando dei um pontapé sem querer numa alforreca*. Acabaram-se os banhos de Mar do Norte que foi uma beleza. Secar é que não deu. Para fornecer um inesperado escaldão lá esteve ele, para secar uma pobre alma após banho de mar é que já seria pedir demais. Tentei mas não pedi, porque fique a sentir-me uma privilegiada por ter conseguido em dois anos apanhar um dia de praia digno desse nome.  






S.

* diz que este ano há lá muitas, mas inofensivas, aprendi agora.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Então adeus, Bruxelas

A uma semana de deixar a Bélgica estou estranhamente calma. Metade das coisas já estão em Portugal e o único sinal de uma mudança que se avizinha está na mala aberta no meio da sala e na comida racionada no frigorífico. Mas se pensar que sempre fizemos as compras para a semana, o frigorífico continua o mesmo de sempre. 

Se há coisa que me mete cada vez mais comichão é o ter coisas, seja num roupeiro seja numa despensa repleta. Gosto de saber que posso e consigo ir embora a qualquer momento para outro sítio qualquer. É por isso que o Kobo me é tão mais caro que uma estante a abarrotar de livros.

A cada mudança que fazemos é mais uma camada de supérfulo que se descasca. Ainda não estou ao nível minimal que pretendo mas estou a caminhar para lá há quatro anos e cinco mudanças. A viagem de bicicleta que se avizinha vai ser uma experiência ideal para provar que consigo viver um mês com o que cabe numa mochila. Uma mochila que consigo carregar fisicamente, seja a puxar na traseira de uma bicicleta, seja às costas. A liberdade há-de estar muito próximo disto.

Este fim-de-semana estive a mostrar a cidade a um par de olhos frescos, e não pretendo repetir o passeio turístico ao meu par de olhos familiarizados. Tal como em Londres, não haverá cá despedidas a nada.

Não sei se a calma vem do facto de nunca ter amado esta cidade de paixão. Desdenhei-a durante tanto tempo e ela acabou por conquistar um lugar no meu coração, sim senhora, mas nunca de forma assolapada. Não a consigo recomendar a ninguém e continuo a afirmar a todas as visitas que, sim, Bruxelas é uma cidade desinteressante e feia. Mas tem coisas mesmo boas, coisas espalhadas por aí e impossíveis de vender a quem vem de visita por uns dias. São as inúmeras casas de chá que experimentei ao longo destes anos e respetivas Tartes de Françoise que dão 15 a zero aos pastéis de nata, os parques que variam entre pracetas e florestas inteiras, sempre à distância de um passeio a pé, o vento a bater na cara rosada de felicidade imbatível por estar a conduzir uma bicicleta numa avenida larga, a bandeira belga gigante a ondular debaixo do arco do cinquentenário, uns pés que me levam a qualquer sítio onde possa querer ir, a comida rápida do Exki, os mercados de velharias e roupa em segunda mão em domingos soalheiros, as ruas de casas cuidadas desta arquitetura que se parece com a inglesa mas que é distintamente única.

Bruxelas não me encantou mas mudou o que eu quero de uma cidade. Ao ponto de admitir que não quero Londres e de me fazer considerar o resto de Inglaterra como casa possível. Não quero multidões na rua, não quero transportes, não quero carro. Quero chegar a qualquer lado de pés e bicicleta. Quero espontaneidade nos meus passeios, quero a qualquer momento transformar uma caminhada de commuting num passeio. Quero chegar a qualquer lado da minha cidade em menos de meia-hora. Sheffield, espero, continuará a dar-me isto tudo. Menos as tartes, mas bom, haverá scones.





S.   

segunda-feira, 16 de junho de 2014

quarta-feira, 11 de junho de 2014

I got 99 problems but weight ain't one



Já há muitos anos que não vou. Não há altura que me parta tanto o coração de não estar em Portugal como este fim de maio/inícios de junho, por causa das barraquinhas brancas alinhadas pelo Parque Eduardo VII abaixo.

Mas uma vez que em julho vou ter muito tempo também fui à feira do livro. Mas como vou ter pouco espaço, fui virtualmente.


Feminismos:











Historicismos:





Humorismos:




Ficcismos:







Corridismos:



Linguismos:




Nerdismos:




Outrismos:






Sou capaz de me ter excedido, mas bom, que se lixe. Não tarda os meus hábitos de leitura vão ser controlados por forças exteriores à minha vontade, é bom que aproveite agora.




S.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Brace yourselves, summer is coming

Por falar na zona parva climatérica que torna operações militares em fracassos: quando uma pessoa recebe um e-mail do seu fornecedor de internet-tv que começa desta forma:
 
"Caro/a cliente,
 
O verão está a chegar e com ele o seu lote de tempestades. Sabia que os seus aparelhos eletrónicos podem ser danificados devido a uma tempestade?"
 
não haverá muito mais a dizer. Que eles achem que a primeira frase faça sentido - pior, que ela faça mesmo sentido - diz tudo.
 




S.

E você, onde estava há 70 anos?

Nesta última semana, os canais belgas, franceses e britânicos andaram a emitir uma quantidade incrível de documentários, filmes e reportagens sobre o Dia D. Eu andei no sétimo céu.
 
Há cerca de 2 anos estivemos na Normandia numa espécie de viagem de romaria e de aprendizagem sobre o início da libertação da Europa ocidental do domínio Nazi. Não me lembro de alguma vez me ter sentido tão pequenina e tão cheia de gratidão. Pequenina pelos mares de cruzes naqueles cemitérios de guerra e tão cheia de gratidão pelas pessoas que arriscaram e deram a sua vida para que gerações futuras pudessem viver em liberdade.
 
Mas para além dos sentimentos esmagadores e de assombro, o desembarque na Normandia e o Dia-D em particular foram manobras estratégicas e de logística incrivelmente interessantes em si mesmos. E é isso que me continua a puxar para isto.
 
Como o exército completo de insufláveis que os ingleses criaram de forma extremamente realista e meticulosa em Dover, apelidado mais tarde de 'Ghost Army', só para que os alemães pensassem que o desembarque seria em Pas de Calais. (O que seria lógico por ser a parte mais próxima entre o continente e a Grã-Bretanha.)




Ou o facto de os Aliados, face à impossibilidade de tomar um porto francês na Normandia, terem decidido construir um no sul de Inglaterra, desmanchá-lo, transportá-lo por partes através do Canal da Mancha, e voltarem a montá-lo em Arromanches. Um porto. Não um barco, nem sequer um porta-aviões, nem um armazém. Um porto inteiro, do tamanho do porto de Dover e ao qual chamaram 'Mulberry Harbour'.




Igualmente incrível o facto de a armada que zarpou a 4 de junho de 1944 do sul de Inglaterra em direção à Normandia ter sido a maior armada que o mundo já viu.


E que 150 000 Aliados desembarcaram na Normandia em 24 horas.



Mas mesmo assim, dias depois do desembarque, o Hitler continuava convencido que aquilo era uma manobra de diversão e que a verdadeira invasão ainda estava para vir, em Calais como ele estava convencido (a des-informação que envolveu não só o exército de insufláveis, mas toda uma operação de dissimulação completa com especialistas cinematográficos para enganar os aviões alemães de recomhecimento, construção de barracões militares e barcos a zarparem para Calais ao mesmo tempo que os da Normandia, enviando sinais como se fossem muitos aos radares alemães.) Ainda assim, não sei quantos homens é que o Hitler achava que os Aliados estavam a esconder e onde, se o Dia-D (formalmente conhecido como Operação Overlord) foi a maior operação anfíbia que o mundo já havia visto.
 
Outra coisa espetacularmente previsível, mas ainda assim espetacular, foi o facto de a tal Operação Overlord estar originalmente marcada para o dia 5 de junho mas assim que zarpou da costa inglesa, no dia anterior, ter estalado uma tempestade terrível no Canal da Mancha. Não dá. É o líder militar a marcar as coisas para junho para ver se o verão ajuda na probabilidade de o tempo se portar bem e é esta zona climatericamente parva a furar-lhes os planos. Já o Napoleão foi assim que se lixou em Waterloo.
 
Finalmente, o facto mais trivial destes todos mas igualmente curioso: os franceses chamarem ao Dia-D: 'Jour-J'. Não sabia que a letra tinha tradução.




S.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Ele há coisas... #46

Estou a ver pessoas a correr na televisão. Profissionais. Só me ocorre uma coisa:
 
Mas será que a humanidade ainda não evoluiu o suficiente para inventar um melhor método para prender dorsais do que com alfinetes de dama?




S.

terça-feira, 3 de junho de 2014