Nesta última semana, os canais belgas, franceses e britânicos andaram a emitir uma quantidade incrível de documentários, filmes e reportagens sobre o Dia D. Eu andei no sétimo céu.
Há cerca de 2 anos estivemos na Normandia numa espécie de viagem de romaria e de aprendizagem sobre o início da libertação da Europa ocidental do domínio Nazi. Não me lembro de alguma vez me ter sentido tão pequenina e tão cheia de gratidão. Pequenina pelos mares de cruzes naqueles cemitérios de guerra e tão cheia de gratidão pelas pessoas que arriscaram e deram a sua vida para que gerações futuras pudessem viver em liberdade.
Mas para além dos sentimentos esmagadores e de assombro, o desembarque na Normandia e o Dia-D em particular foram manobras estratégicas e de logística incrivelmente interessantes em si mesmos. E é isso que me continua a puxar para isto.
Como o exército completo de insufláveis que os ingleses criaram de forma extremamente realista e meticulosa em Dover, apelidado mais tarde de 'Ghost Army', só para que os alemães pensassem que o desembarque seria em Pas de Calais. (O que seria lógico por ser a parte mais próxima entre o continente e a Grã-Bretanha.)
Ou o facto de os Aliados, face à impossibilidade de tomar um porto francês na Normandia, terem decidido construir um no sul de Inglaterra, desmanchá-lo, transportá-lo por partes através do Canal da Mancha, e voltarem a montá-lo em Arromanches. Um porto. Não um barco, nem sequer um porta-aviões, nem um armazém. Um porto inteiro, do tamanho do porto de Dover e ao qual chamaram 'Mulberry Harbour'.
Igualmente incrível o facto de a armada que zarpou a 4 de junho de 1944 do sul de Inglaterra em direção à Normandia ter sido a maior armada que o mundo já viu.
E que 150 000 Aliados desembarcaram na Normandia em 24 horas.
Mas mesmo assim, dias depois do desembarque, o Hitler continuava convencido que aquilo era uma manobra de diversão e que a verdadeira invasão ainda estava para vir, em Calais como ele estava convencido (a des-informação que envolveu não só o exército de insufláveis, mas toda uma operação de dissimulação completa com especialistas cinematográficos para enganar os aviões alemães de recomhecimento, construção de barracões militares e barcos a zarparem para Calais ao mesmo tempo que os da Normandia, enviando sinais como se fossem muitos aos radares alemães.) Ainda assim, não sei quantos homens é que o Hitler achava que os Aliados estavam a esconder e onde, se o Dia-D (formalmente conhecido como Operação Overlord) foi a maior operação anfíbia que o mundo já havia visto.
Outra coisa espetacularmente previsível, mas ainda assim espetacular, foi o facto de a tal Operação Overlord estar originalmente marcada para o dia 5 de junho mas assim que zarpou da costa inglesa, no dia anterior, ter estalado uma tempestade terrível no Canal da Mancha. Não dá. É o líder militar a marcar as coisas para junho para ver se o verão ajuda na probabilidade de o tempo se portar bem e é esta zona climatericamente parva a furar-lhes os planos.
Já o Napoleão foi assim que se lixou em Waterloo.
Finalmente, o facto mais trivial destes todos mas igualmente curioso: os franceses chamarem ao Dia-D: 'Jour-J'. Não sabia que a letra tinha tradução.
S.