quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O Alemão e o Capitalismo


Empregado : der Arbeitnehmer (literalmente 'aquele que toma o trabalho')

Patrão : der Arbeitgeber (literalmente 'aquele que dá o trabalho')


O Das Kapital deve fazer tão mais sentido na língua original.



S.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Eu estou a fazer de mulher, e tu?

Numa altura em que debatiam as diferenças entre sexo e género e os arrumávamos em duas caixas distintas - o sexo na caixa das diferenças biológicas, o género na caixa das características do que é ser homem e mulher numa sociedade numa determinada altura - veio a Judith Butler e baralhou isto tudo.
 
Até aqui (leia-se: anos 90) entendia-se que o sexo era naturalmente dado, o género era socialmente construído e assimilado. E isto ainda é uma distinção útil quando se fala disto das desigualdades e dos feminismos. O que Butler veio dizer foi que se calhar isto era uma distinção um bocado simplista.

Pois que o género é socialmente construído e portanto diferente consoante a sociedade e o período de que falamos. Os sapatos de salto alto já foram coisa de homem, e o cor-de-rosa foi durante algum tempo associado à masculinidade. Ainda assim, o género não é uma construção abstrata, ele é influenciado pelos traços biológicos do animal humano a que se refere. Uma parte substancial das regras do que é ser mulher na nossa sociedade atual ainda está muito relacionada com a capacidade da fêmea humana dar à luz: o instinto maternal que é suposto todas as mulheres sentirem, a sua função como cuidadoras principais dos filhos, todas estas regras não-escritas vão buscar a sua justificação à biologia.
 
Mas e se, propôs Butler, o sexo for tão influenciado pelo género como o género é pelo sexo? E se a biologia for tão construída socialmente quanto as regras do ser mulher e ser homem? E aqui é que uma pessoa franze o sobrolho e começa a achar que o debate já está a resvalar para o absurdo: como assim, a biologia é construída socialmente? As diferenças sexuais são naturais, estão à vista de toda a gente! (salvo seja). Não há como as influenciar socialmente.
 
Ah, mas o valor que damos a essas diferenças é construído socialmente e a sua lógica não tem nada de natural. E é quando percebemos isto que o pensamento de Judith Butler começa a ser tão brilhante.
 
Vejamos: a inveja do pénis, o conceito inventado por Freud que basicamente se explica sozinho: a inveja que todas as raparigas têm dos rapazes por eles terem pilinha e elas não. E o Freud fundamentou esta inveja na biologia, nas supostas características físicas do instrumento em questão. Mas este conceito só faz sentido numa sociedade que valoriza e inventou essas mesmas características para o pénis. O que é que há de tão espetacular naquilo? É um pedacito de carne que anda pendurado a maior parte do tempo, e por ser exterior até torna o seu dono mais vulnerável. Não seria mais lógico haver uma inveja do útero, um complexo de inferioridade que todos os rapazes tivessem por não conseguirem criar vida? Isso sim, é uma coisa espetacular. Mas ao pénis, símbolo diferenciador do género das pessoas dominantes foram conferidas toda uma série de características que de biológicas têm pouco: a força, a dominação, a pujança. Ide ver o texto da Gloria Steinem 'If Men Could Menstruate' para um desenvolvimento deste raciocínio (é curtinho e muito divertido). Deixo aqui só um teaser:
 
'Whatever a "superior" group has will be used to justify its superiority, and whatever an "inferior" group has will be used to justify its plight. Black men were given poorly paid jobs because they were said to be "stronger" than white men, while all women were relegated to poorly paid jobs because they were said to be "weaker." As the little boy said when asked if he wanted to be a lawyer like his mother, "Oh no, that's women's work." Logic has nothing to do with oppression.'
 
Voltando à Judith Butler e como ela baralhou ainda mais o binómio tão certinho de sexo e género. Ela disse outra coisa profundamente inovadora: o género não existe predeterminado nem abstrato. Ele só existe quando e porque é representado. Uma pessoa não é mulher porque os outros estabelecem à priori que ela é mulher; ela é mulher quando e porque representa o papel de mulher uma e outra vez, todos os dias, durante toda a vida (um homem, idem). Visto-me com as roupas que são associadas às mulheres, tenho o cabelo comprido como é típico de uma mulher, uso maquilhagem, depilo-me, arranjo as unhas, comportamentos associados ao ser mulher, estou a representar o meu género (no sentido de 'performing gender', atuar, como num palco): sou uma mulher. E isto só acontece porque o faço uma e outra vez.
 
Ou seja, estamos todos a viver uma gigante peça de teatro, ou a brincar às casinhas, 'eu faço de homem, tu fazes de mulher', a representar um papel que nos coube e que às vezes nos faz menos sentido do que outras vezes.
 
E apesar de isto ser uma teoria um bocado difícil de compreender na totalidade (quer dizer que só existe género porque todos o representamos, as regras só existem porque as cumprimos uma e outra vez? Mas então o género desaparecia se parássemos de representar? Seríamos o quê então, só humanos?), no seu essencial ela faz-me um sentido do caraças. Performing gender... Quantas vezes dei por mim a olhar para uma professora ou uma amiga, e a pensar 'O que é que te fez decidir usar esse colar? O que é que ele acrescenta à roupa que vestiste para sair à rua que tem a função primária de te proteger do frio?'. Ou quando decidi - ainda que de forma inconsciente e gradual - deixar de usar brincos no dia-a-dia: 'Esta ação diária que eu faço tirar e pôr estes alfinetes nas orelhas, qual é o propósito? É para quem? Que papel estou eu a representar? As minhas orelhas nuas não são suficientes?'. É por isso que acho esta piada tão brilhante:



Não me interpretem mal: eu não sou contra nada dessas coisas, nem quem as usa, e eu própria uso-as de vez em quando. E talvez até não esteja a incluir aqui o fator da beleza, decoração, sentido estético, que os seres humanos têm e que lhes faz sentir prazer em olhar para coisas bonitas (se bem que também se pode argumentar que esse sentido estético será influenciado socialmente). A minha curiosidade é mesmo uma curiosidade infantil e sem maldade, de tentar perceber porque é que eu ou os outros escolhemos fazer isto em vez daquilo, nos incomodamos a escolher usar isto ou aquilo que não tem um propósito justificado por necessidades primárias. A ideia de que estamos todos a representar o papel de 'homens' ou 'mulheres' faz-me muito sentido.
 
Por isso vão lá festejar o Carnaval e mesmo que não sejam grandes adeptos de mascarar, lembrem-se: façam o que fizerem, não dá para lhe fugir, estão a usar a máscara que usam o ano inteiro.




S.


     

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

This is fun, lof

A Time Out fez um questionário sobre quais os sotaques mais sexy deste mundo e quem ganhou, quem foi? O britânico.
 
De acordo, mas não esperava este resultado. O pessoal tem um fascínio um bocado estranho pelo italiano ou até pelo francês. Menos os americanos, que por acaso fascinam-se um bocado pelo sotaque dos primos do outro lado do Atlântico (se as constantes referências no Family Guy e New Girl forem indicação suficiente). Ah, espera... Time Out americana. Está explicado.
 
O The Guardian fez uma peça bem-disposta sobre a coisa e realmente o autor fala de uma coisa pertinente que o intriga: sotaque britânico, mas qual deles? Especificai, por favor.
 
' But there is one glaring problem.
 
What British accent does Time Out mean? Is it the upper class English-British of the Queen, Sir Roger Moore and Harry Potter?
 
Is it the earthy, northern-English-British of Sean Bean and the rest of Game of Thrones’s Stark family?
 
Or is it the rolling, Welsh-valleys-British of Tom Jones and Catherine Zeta-Jones and presumably a lot of other people called Jones?
 
Perhaps it’s the Northern-Irish British of Liam Neeson, George Best and Rory McIlroy?
 
One accent we can rule out is the Scottish-British of Sean Connery and Andy Murray. Confusingly, “Scottish” counted separately in the Time Out poll, coming in eighth. '
 
(Eu só acrescentaria ' Is it the youthful yet grave and deep-voiced Yorkshire accent of Alex Turner? ' - embora pareça que o está a perder.)
 
 
 
Claro que não se pode esperar muito de um questionário que mete 'latin-American' numa categoria mas separa 'Spanish' por alguma razão, ou fala do 'British' e 'Scottish' separados (a Escócia votou 'não' à independência há uns meses, olhem aí as sensibilidades). Nem de uma amostra que faz com que o sotaque americano fique em segundo lugar. Mas é divertido.




S. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

As alegrias de partilhar livros com estudantes passados

Este post também se podia intitular: "As coisas com que a minha cabeça se ocupa para evitar concentrar-se no que deve".
 
Requisitei um livro da biblioteca que foi, em tempos, claramente lido e sublinhado por um aluno alemão/austríaco.
 
Tenho assim significados alemães traçados a lápis por cima de termos ingleses. Pois que assim não só estou a ter lições de feminismo como aulas inesperadas de alemão.
 
Em três páginas, já aprendi que:
 
- 'hailed' é 'gefeiert';
- 'breakthrough' é 'Durchbruch' (por alguma razão esquisita esta palavra é parecida com diarreia em alemão, 'Durchfall', uma das poucas, também esquisitamente, que se me ficou das aulas de alemão do ano passado...);
- 'more recently' é 'in der letzter Zeit';
- 'just as much' é 'ebenso viel';
- 'ovaries' diz-se 'Eiestöcke', que me cheira bastante a 'bolsa dos ovos' ou assim.
 
Quem disse que completar um doutoramento era uma empreitada solitária, hum?





S.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A caminho de uma carreira como cat lady

Estava aqui a folhear as Páginas Amarelas sheffieldianas e não sabia que esta cidade tinha tantas 'catteries'. Nunca sequer tinha visto a palavra 'cattery' escrita, nem sabia que isso existia. Existem aqueles hotéis para animais, sim senhora, mas assim só para gatos desconhecia que fosse uma coisa que existisse. E tantos. O pessoal aqui deve ter mesmo muitos gatos. É a coisa que mais saudades tenho de ter. Poder dar festas a um gato, dar-lhe colo, ouvir 'miaau', apertá-lo com força até ele se zangar e me dar uma sapatada com garras de fora. Era a primeira coisa que fazia se não estivesse expressamente proibido no contrato de arrendamento: arranjar um gato.
 
Depois de ver tanta cattery nas PA pensei que fixe, fixe, era haver um gatil qualquer onde aceitassem voluntários, assim sempre saía um bocadinho mais de casa e aproveitava para matar as saudades de festas a gatos. E até há um gatil para gatos abandonados, sim senhora, e até aceitam voluntários, mas depois pensei melhor e ser voluntária num gatil deve ser um dos trabalhos mais ingratos do mundo. Deve ser horrível estar a limpar cocó de gato naquelas caixas de areia e ter gatos a passar por nós com aquele olhar mais sobranceiro que existe e que só os gatos conseguem lançar, sabem? como quando lhes tentamos captar a atenção e eles semi-cerram os olhos devagarinho e viram a cabeça para o lado. Os gatos são o animal mais ingrato do mundo. Ao menos num canil há a recompensa imediata da alegria canina pela atenção humana.
 
Por falar em sobranceria felina, no outro dia fui ao café dos gatos em Londres, o Lady Dinah's Cat Emporium, e não dá para acreditar no desprezo que se leva. Aquilo em teoria é o sonho dos meus sonhos: chá, scones, Londres, gatos, preenche todos os requisitos, mas depois na realidade é só triste. Triste porque se paga 6 libras só de entrada, tem que se reservar com antecedência, há limite de tempo para lá estar (90 minutos) e os gatos não estão nem aí. Enquanto esperávamos por uma amiga observei durante uns bons minutos pela montra o ambiente do café e comecei logo a suspeitar que aquilo ia ser um falhanço porque havia vários gatos mas estavam todos a dormir, bem longe do alcance dos groupies humanos. Acho que nós ainda tivemos um bocado de sorte porque durante a nossa hora e meia dois gatos acordaram e estiveram a desfilar pela sala - como também só os gatos sabem desfilar - e lá se aproximaram um bocadinho de nós. De resto foi dar festas nos gatos que dormiam pelas mil e uma plataformas, cestos e recantos que por lá havia, - e que nem um olho se dignavam a abrir - e é se queres aproveitar um bocadinho da experiência gatil. E ainda por cima nem nos deixam pegar nos bichanos ao colo, o que, suspeito, deve ter tanto que ver com o bem-estar dos animais como com as preocupações paranóicas do health and safety (mandaram-nos lavar as mãos antes de entrar - sim, é este o nível de universo paralelo daquele café em particular e desta terra em geral).
 
Acho que vou ter que pôr as minhas fascinações felinas em suspenso por uns tempos, assim não há condições.

 
'Sou um gato e estou-me a cagar que tenhas dado 6 libras para me ver. Aliás, devias era ter dado 10.'




S.  

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Thanksgiving primaveril

Hoje é o primeiro dia em vários meses em que o sol  realmente aquece a sala através da vidraça. Ainda não liguei o aquecimento mas estão 20° cá em casa. Já anoitece depois das 17h. Acabei a minha primeira semana de facilitadora de estudantes e a coisa correu melhor do que estava à espera. E pensar que tive tantas dúvidas sobre isto. Vou voltar a correr depois de duas semanas parada por causa da tosse. O semestre da primavera vai começar esta semana e eu vou ter aulas sobre feminismo. Há passarinhos a cantar lá fora, também contentes com o sol que aquece, embora ainda haja montes de neve pelos cantos da rua. Vou a meio do segundo livro de Harry Potter versão bilingue. Afinal a minha confirmação de doutaramento é só em setembro em vez de maio, o que me dará tempo para fazer um melhor trabalho do que antecipava. A hora está quase a mudar. Tenho chocolates Lindor na mesa. Tenho quem me leia histórias em voz alta - e goste. Descobri o The Office versão alemã. Tenho cada vez menos entusiasmo pelas redes sociais, blogs e afins. Amo a língua inglesa como nunca.   




S.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

In our faces

A ver o filme pela primeira vez, cheguei à conclusão que o Dirty Dancing é o 50 Shades of Grey dos anos 80. A única diferença é que entretanto desistimos das metáforas.




S