segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A caminho de uma carreira como cat lady

Estava aqui a folhear as Páginas Amarelas sheffieldianas e não sabia que esta cidade tinha tantas 'catteries'. Nunca sequer tinha visto a palavra 'cattery' escrita, nem sabia que isso existia. Existem aqueles hotéis para animais, sim senhora, mas assim só para gatos desconhecia que fosse uma coisa que existisse. E tantos. O pessoal aqui deve ter mesmo muitos gatos. É a coisa que mais saudades tenho de ter. Poder dar festas a um gato, dar-lhe colo, ouvir 'miaau', apertá-lo com força até ele se zangar e me dar uma sapatada com garras de fora. Era a primeira coisa que fazia se não estivesse expressamente proibido no contrato de arrendamento: arranjar um gato.
 
Depois de ver tanta cattery nas PA pensei que fixe, fixe, era haver um gatil qualquer onde aceitassem voluntários, assim sempre saía um bocadinho mais de casa e aproveitava para matar as saudades de festas a gatos. E até há um gatil para gatos abandonados, sim senhora, e até aceitam voluntários, mas depois pensei melhor e ser voluntária num gatil deve ser um dos trabalhos mais ingratos do mundo. Deve ser horrível estar a limpar cocó de gato naquelas caixas de areia e ter gatos a passar por nós com aquele olhar mais sobranceiro que existe e que só os gatos conseguem lançar, sabem? como quando lhes tentamos captar a atenção e eles semi-cerram os olhos devagarinho e viram a cabeça para o lado. Os gatos são o animal mais ingrato do mundo. Ao menos num canil há a recompensa imediata da alegria canina pela atenção humana.
 
Por falar em sobranceria felina, no outro dia fui ao café dos gatos em Londres, o Lady Dinah's Cat Emporium, e não dá para acreditar no desprezo que se leva. Aquilo em teoria é o sonho dos meus sonhos: chá, scones, Londres, gatos, preenche todos os requisitos, mas depois na realidade é só triste. Triste porque se paga 6 libras só de entrada, tem que se reservar com antecedência, há limite de tempo para lá estar (90 minutos) e os gatos não estão nem aí. Enquanto esperávamos por uma amiga observei durante uns bons minutos pela montra o ambiente do café e comecei logo a suspeitar que aquilo ia ser um falhanço porque havia vários gatos mas estavam todos a dormir, bem longe do alcance dos groupies humanos. Acho que nós ainda tivemos um bocado de sorte porque durante a nossa hora e meia dois gatos acordaram e estiveram a desfilar pela sala - como também só os gatos sabem desfilar - e lá se aproximaram um bocadinho de nós. De resto foi dar festas nos gatos que dormiam pelas mil e uma plataformas, cestos e recantos que por lá havia, - e que nem um olho se dignavam a abrir - e é se queres aproveitar um bocadinho da experiência gatil. E ainda por cima nem nos deixam pegar nos bichanos ao colo, o que, suspeito, deve ter tanto que ver com o bem-estar dos animais como com as preocupações paranóicas do health and safety (mandaram-nos lavar as mãos antes de entrar - sim, é este o nível de universo paralelo daquele café em particular e desta terra em geral).
 
Acho que vou ter que pôr as minhas fascinações felinas em suspenso por uns tempos, assim não há condições.

 
'Sou um gato e estou-me a cagar que tenhas dado 6 libras para me ver. Aliás, devias era ter dado 10.'




S.  

4 comentários:

  1. LOL
    não tens uma vizinha que te empreste o dela? Eu tenho um gato que acha que é dono da minha casa (o gato é dos vizinhos e um dia entrou-me em casa sem eu dar por ela e pregou-me um susto).

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  2. [ri-me imenso com certas partes deste texto, e em particular com a legenda da imagem].
    Considerações muito adequadas a certos felinos/as [p.e. aquele com quem moro!], mas injustas para com outros/as :) Garanto que há uns felinos/as santos/as - bonzinhos, e que procuram colinho, e dão turrinhas e lambidelas. No fundo, mostram que amam :)
    E há mesmo gatos/as que morrem com depressão - deixam de se alimentar - após abandono/morte dos/as donos/as. :(

    Quanto à exigência da loja [lavar as mãos antes de entrar], percebo que pareça um exagero e, de facto, assim pode ser, pelo menos, se os/as gatos/as estiverem todos/as vacinados/as e desparasitados/as. Mas devo dizer que nós humanos/as trazemos bicheza da rua que gosta muito de se alojar nos bichanos. O meu teve algo similar a sarna (!) e nem sequer sai de casa!

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  3. snowgaze, os meus vizinhos estão todos na mesma condição que eu, proibidos de ter animais em casa(vivo em alojamento universitário). Pronto, tenho esquilos aqui no páteo, no outro dia apareceram duas raposas à noite e começaram a brincar uma com a outra, mas não é a mesma coisa...

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  4. Ceridwen, já tive vários gatos e realmente as personalidades felinas conseguem ser bastante diferentes. Todas vincadas, mas diferentes. Tive um gato que não podia ver ninguém sentado que ia a correr para o colo dessa pessoa, tive outro que ficava hirto cada vez que o pegava ao colo, e tive uma gata que se metia de barriga para cima a pedir festas mas se fazia uma a mais da conta que ela lá entendia agarrava-me a mão com as garras de fora e mordia-me. Todos fazem aquilo de semi-cerrar os olhos e virar a cabeça para longe de nós, que é uma atitude de desprezo muito característica dos gatos. Há coisas que não mudam.

    Pois, entendo que aqueles gatos convivam com muita gente e que circule por ali muita bicheza. Londres não é propriamente o paraíso do ar puro e da saúde ambiental... Fiquei cheia de infelicidade foi de não os poder pegar ao colo, pensava mesmo que o cat-café era uma coisa muito mais interativa.

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