quinta-feira, 2 de abril de 2015

A mais chata das virtudes

Só agora, ano e meio depois de ter começado a correr, é que finalmente entendi que a única fórmula mágica para correr mais rápido e melhor é correr em modo fácil o tempo quase todo.

Caramba, que coisa tão contra-intuitiva. 

Basicamente porque a coisa mais importante na corrida, e sobretudo na corrida de longa distância, é a capacidade do nosso corpo usar oxigénio para converter glicose em energia eficientemente. O sistema aeróbio, portanto. E isso só é treinado correndo em modo fácil muito regularmente. Ou seja, é preciso uma coisa muito chata e inimiga de quem quer ver resultados aqui e agora, chamada: PACIÊNCIA. 

Treino de séries de velocidade também é importante para se melhorar, mas este tipo de treino só é aguentável pelo corpo em doses muito baixas. Porque depois de um treino intenso o que é que acontece: os músculos demoram a regenerar e o tempo de recuperação tem que ser maior sob pena de começarem a aparecer lesões. Não se consegue voltar aos treinos com a frequência necessária para eles darem frutos e ficamos perpetuamente no sistema do um passo à frente, dois atrás. 

Aliás, a ideia de que não é o treino em si mesmo que produz resultados, mas o que acontece no nosso corpo a seguir a ele, é muito esclarecedora.

Mas isto continua a ser tão contra-intuitivo porque se se corre devagar parece que não estamos comprometidos com o nosso treino já que não damos o melhor em cada sessão, como é que vamos conseguir atingir o nosso pace no dia da corrida se mal o treinamos nos treinos... Mas parece que o senso comum não é sempre indicativo de verdade (cofaterraéplanacof). Vou confiar na ciência.

Tenho aprendido nestes últimos meses a ouvir com muito mais atenção o meu corpo e por isso mesmo mantive lesões afastadas durante a preparação para a meia-maratona de Lisboa, mas agora que penso nisso, não cumpri o meu plano de treinos completamente porque precisava sempre de tirar mais dias do que o indicado devido a sessões demasiado intensas. Resultado: o treino não teve a regularidade que devia. Consequência: não atingi o objetivo que sabia que estava ao meu alcance (fazer a meia em menos de duas horas). Ainda assim, com este método do saber escutar e respeitar o corpo fui capaz de voltar à estrada mais rápido do que pensei e manter afastada a lesão no joelho direito que andava a ameaçar há umas semanas (figas, que ainda está na corda bamba).

A meia-maratona aqui em Sheffield é já daqui a duas semanas portanto ainda não vou ser capaz de testar se isto de correr devagar mais vezes funciona mesmo - a chave aqui é mesmo a consistência ao longo do tempo - mas vai revolucionar certamente a maneira como eu encaro a corrida e como vou pensar o treino para a maratona. Já não vou ter medo de correr em dias seguidos, por exemplo, coisa fundamental para treinar para uma maratona, mas coisa que à intensidade atual seria lesão certa. Ainda que para a meia de Sheffield não vá com ideias de bater as duas horas devido à bela subida inicial até mais da milha 5:



Se a primeira parte correr bem, a segunda é toda a descer. Se for com calma na subida (que aliás é uma subida familiar) e a coisa correr bem e tal, e guardar a maior parte energias para a segunda parte (o contrário do que fiz em Lisboa), quem sabe o que poderá acontecer... Também, contando que isto é cidade para ainda estar abaixo dos 10º daqui a duas semanas, quem sabe se a quebra mental e os pensamentos derrotistas dos 12-13 km se mantêm ao largo (ainda nunca tinha cruzado uma meta com vergonha, como aconteceu desta vez em Lisboa).

Por causa de compromissos académicos, razões logí€ticas e vida em geral, não vou fazer uma data de corridas que tinha planeado para esta primeira metade de 2015 (APAV, Sinos, Edimburgo). Vou a esta de Sheffield, à da Nike Women 10k em Londres em junho, e talvez consiga fazer os 20 km de Bruxelles no final de maio, desta vez completos. Por isso mesmo ainda não sei bem o que vou fazer entre abril e julho em termos de treinos, talvez me concentre em fortalecer o corpo para depois entrar no treino para a maratona com uma boa base e diminuir as probabilidades de lesão aqui e ali devido à estrutura não estar bem montada.

Por enquanto estou a ficar entusiasmada para a meia de Sheffield, coisa que não pensei que fosse acontecer pela inscrição feita num impulso de raiva e vergonha uns dias depois de Lisboa.


Delays, sim, tipo o meu...


Desejai-me um bocadinho de sorte e um bocadinho de força mental (que a força física disponibilizo eu). :)


2 comentários:

  1. Correr fácil é vial! Escrevi isto em tempos, penso que te pode interessar. https://ultramaratona.wordpress.com/2014/11/24/monitor-cardiaco-para-correr/

    Bem, quanto à prova, essa subida é apesar de tudo longa, uns 8km, subir 300 metros deve ser bastante gradual. O que devias fazer era um teste, correr 5km a 5:10, ou 5:15/km ou talvez 10km a 5:20, 5:30/km. Mesmo assim acho esta prova muito em cma da outra meia :)

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  2. Já me lembro desse post, na altura o que retive foi blá blá blá fácil blá blá blá treino de séries é importante. Engraçado como uma pessoa só lê como deve ser uma mensagem quando já está meio receptiva a ela (passou-me completamente ao lado isso da importância do correr lento). Pelo que percebi do que tenho lido a divisão deve ser mais ou menos 80/20% treino fácil/velocidade. E que correr moderado basicamente não serve para nada (o anaeróbio).

    Sim, a prova é muito perto da de Lisboa, mas como é muito provavelmente a única meia que vou conseguir fazer até setembro, teve que ser. Consigo correr essas distâncias a esses paces, aliás corri-as todas na meia há duas semanas, acho que vai mesmo tudo depender de como me correr a subida. Ela só é realmente íngreme na Ecclesall Road, os dois ou três km do meio.

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