Pensando bem, não há muitos produtos londrinos dos quais eu sinta falta. Agora que começa o frio, o ocasional hot chocolate a aquecer as mãos e a barriga calhava muito bem, sem bem que do que eu sinta falta não seja tanto o hot chocolate em si (há cá justos substitutos) mas sim da conveniência que era ter uma coffee shop em qualquer rua que me servisse um e poder levá-lo comigo para a rua ou para a sala de aula. Houve uma vez que entornei hot chocolate pela camisola abaixo, porque parece que o metro faz paragens meio bruscas e portanto não é o local ideal para beber coisas, mas isso é outra história. Havia uma coisa que eu costumava usar para cozinhar, que eram migalhas de pão, que cá nunca encontrei, mas que ficavam sempre melhor por cima do peixe do que o simples pão ralado, e cuja inexistência foi fonte de alguma frustração nas primeiras semanas, mas mais nada de especial.
Agora, se há coisa cuja falta eu não consigo superar é esta maravilha que descobri lá e que desatei a espalhar a sua existência a toda a alma feminina que me visitou. Com grande sucesso.
Chama-se dry shampoo e mudou a minha vida como nenhum outro cosmético o fez (salvo a pasta de dentes. E o gel de banho. E o champô em si. Mas pronto, dos cosméticos mais sofisticados foi o que mais diferença fez).
Ora bem, normalmente tenho bastante relutância em falar dele a meros conhecidos a.k.a. pessoas com quem não tenho grande confiança porque a explicação do que isto é e para que serve soa um bocado, er... mal. Pois que isto é um champô em forma de spray, parece aqueles sprays tira nódoas, e é mesmo capaz de ter os mesmos princípios ativos já que serve para isso mesmo: tirar gordura. Neste caso a do cabelo, o tão querido sebo, que começa a aparecer no dia a seguir à lavagem. Como qualquer possuidora de cabelo normal/seco sabe, não é aconselhável lavar o cabelo todos os dias. Danifica, mete-o seco e tipo palha de aço. O dry shampoo é para meter nos dias de intervalo, para as raízes não terem aspeto nhanhoso enquanto o resto dos fios estão secos que nem palha.
"Ah, então já não lavas o cabelo, é isso?" «------- Razão pela qual é embaraçoso falar deste produto com pessoas a quem não possa revirar os olhos ou gritar um "NÃO, não é isso" É para melhorar o cabelo nos dias em que não se o lava.
O dry shampoo mudou a minha vida porque permite-me ter o melhor de dois mundos: um cabelo domável como não é possível se o lavasse todos os dias e umas raízes como se o lavasse todos os dias. (Isto soou demasiado a publicidade, ainda por cima publicidade lame, mas é a pura das verdades).
Ora qual é o problema nisto tudo: é que dry shampoos não existem em Portugal. Ou melhor, existe um à venda nas parafarmácias, da Klorane, mas aqui é que reside o verdadeiro problema: custa 7 euros. E eu recuso-me, bato o pé inclusive, a dar 7 euros por uma coisa que noutro sítio obtinha por £1.
Após meses de lata vazia e com a humidade a apertar e sem perspetiva de voltar a Londres num futuro próximo, resignei-me a encomendar dry shampoo pela Amazon, que como é vendido no Marketplace teria de pagar portes de envio (por embalagem! ou seja, encomendar quantidades industriais estava fora de questão) mas que ainda assim sairía 2 euros mais barato do que o maldito Klorane.
Toda contente que ele já vinha a caminho quando hoje recebo um e-mail da Amazon: não-sei-quê refund blá blá blá. Impossibilidade de expedir este produto por avião porque é um spray.
Moral da história: o Universo anda a tentar dizer-me para lavar o cabelo mais vezes. Ou - como eu prefiro acreditar - está a tornar implícito que devo voltar a Londres.
S.