segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pobres Papa-Padres

Os dois feriados que eu mais temia desaparecerem foram os que o Governo acabou de propor aos Parceiros Sociais para deixarem de existir.

Com que então nada de Implantações da República nem de Restaurações da Independência. Sim senhora. Garantem-nos ao menos o Dia da Liberdade e o Dia de Portugal. Os outros não interessam, aconteceu lá longe no tempo, não fazem falta.

Sinceramente, desde que descobri que o Governo estava a pensar em acabar com dois feriados civis, quaisquer que fossem os feriados anunciados eu iria experimentar profunda indignação e repulsa. Nenhuma medida que o Governo tomou até agora me fez sentir semelhante, desde a meia hora diária de trabalho adicional até aos cortes nos subsídios de Natal e férias.

Nem vou entrar em considerações sobre se suprimir feriados aumenta realmente a produtividade ou não. O que me repugna realmente é o facto de, a tirarem feriados do calendário sejam dois civis a cair. Dois religiosos vão ser tirados também, é verdade. O Governo inicialmente foi pela lógica correta: se temos de eliminar feriados então que caiam os religiosos, que esses um Estado laico não tem sequer obrigação de os impor a ninguém. Mas o que me enoja foi a cedência que veio a seguir: a Igreja exigiu que, a retirar feriados religiosos, então o Governo também teria de retirar civis. 2 para cada um, foi o que ficou decidido. A uma primeira leitura parece razoável. Tira-se dois de cada lado, ninguém chora.

Mas não é. Esta cedência do Governo enoja pelo princípio de laicidade que não seguiu, pela influência aumentada que a Igreja adquiriu e pela sobranceria de que a Igreja se arrogou ao exigir pé de igualdade de um feriado religioso a um civil. Meus amigos, nós vivemos num Estado LAICO, num país onde ser português não se confunde com ser católico, onde existe LIBERDADE DE CULTO, onde a Igreja é uma instituição como qualquer outra e uma religião sem privilégios em relação ao budismo, ao islamismo ou ao raio que o partismo. Na sua condição de uma entre outras não tem de se arrogar ao direito de exigir o festejo alargado a todo o país de uma festa que só a ela pertence, em detrimento de festas que fazem parte da História comum dos portugueses, de um país, de uma identidade nacional. O feriado religioso – leia-se católico – é uma aberração que nem sequer deveria existir. Porquê que é que um judeu português há-de não trabalhar no dia 8 de dezembro e ter de trabalhar no Hannukkah?

“Ah e tal, mas as datas cujos feriados vão ser suprimidas vão continuar a ser festejadas, só que ao fim-de-semana, em vez de no dia específico.” Verdade. Mas então retirem 4 feriados religiosos em vez de 2/2 e festejem esses ao fim-de-semana. Até têm um dia e sítio próprios para ser festejados: ao domingo na missa, portanto metade do trabalho está feito.

O que está aqui em causa é o princípio da separação do Estado e Igreja,  onde nenhuma religião impera nem tem privilégios sobre as outras, logo, o princípio da igualdade das religiões, um princípio inscrito na nossa CONSTITUIÇÃO e muito caro, conquistado precisamente pelo regime cuja implantação querem agora deixar passar despercebida.

Bonita maneira de festejarem o centenário da Lei da Separação do Estado e Igreja, sim senhora. Os republicanos que lutaram pela eliminação da influência desses dogmas e superstições atrofiadoras do progresso e da inteligência, como o “Papa-padres” Afonso Costa devem estar a rebolar nas suas sepulturas que nem uns doidos.   







S.

5 comentários:

  1. por que é que os judeus não têm direitos? porque o hannukah é uma semana, o pesach são praí duas, o rosh hoshanah felizmente é só um dia, mas mesmo sendo o feriado mais importante do judaísmo, não é concedido. olha-me para tamanha falta de produtividade, apesar de eles só pedirem o sábado como dia livre. e ainda por cima são móveis, tamanha imprevisibilidade! para feriados que não sabemos quando calham já nos basta o carnaval, a páscoa, e mais aquele da nossa senhora que calha às quintas.

    mas sim, concordo totalmente contigo.

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  2. não fazia ideia da duração das festas judaicas

    "aquele da nossa senhora que calha às quintas" (também não faço ideia xD)

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  3. lol é em junho! ascenção de qualquer coisa acho eu

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  4. É que concordo inteiramente. Estou muito chocada por se acabar com o 5 de Outubro, e chocada com o 1º de Dezembro.`É uma cedência completamente injustificada.

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