terça-feira, 31 de julho de 2012

Sobre o Kobo

Agora que passou um mês e meio desde a sua compra bastante ansiada e atribulada q.b., está na altura de fazer uma review sobre o meu e-reader Kobo. No fundo, dizer o que gosto e o que me aborrece neste novo mundo dos livros digitais.

Posso dizer que quando fui a Manchester, roí-me toda de inveja por ver que aquela gente tem Kindles à sua disposição para compra por tudo o que é loja de eletrónica. Porquê, oh porquê que eu não aproveitei quando lá vivia...! Mas a minha inveja tornou-se em sobranceria quando reparei que, lado a lado com Kindles estão Kobos, e que estes lhes custam para cima de 150 libras, e eu comprei o meu por 99 euros. Toma lá.

Duas coisas fazem-me preferir o Kobo ao Kindle: o ecrã tátil do primeiro, e o facto de não estar escravo da Amazon (ou no caso do Kobo, nem da Fnac que é a sua loja-mãe). O facto de eu poder virar páginas com um toquezinho do dedo torna a experiência de leitura muito mais intuitiva do que se o fizesse num botão. Mas o mais agradável é poder tocar numa palavra qualquer de um livro e ver instantaneamente o seu significado. Mas já lá vamos a esta última.

Toca a dividir isto por temas, para se tornar um guia útil para alguém que esteja a pesar prós e contras quanto a aquisição de um destes meninos:


Vantagens em relação aos livros de papel:

- o peso e a finura: consigo facilmente ler no Kobo com uma só mão a segurá-lo, não preciso de estar a forçar com as duas mãos para ler no meio dos livros ou segurar páginas, e apoio-o facilmente no colo ou nos joelhos. Resumindo: dá mais jeito para se segurar enquanto se lê;

- o armazenamento: acho mesmo que este deve ser uma das, se não a maior vantagem destes aparelhos. Mas tem o valor que lhe quisermos dar. Para mim, que abomino ter coisas, fisicamente, coisas que ocupam espaço em casa e em malas quando se muda de casa, é perfeito. Diria que 95% dos livros que leio não lhes mexo novamente; então para quê tê-los a ganhar pó em casa? Grande, grande ponto a favor. Não faço ideia quantos consegue armazenar - depende do tamanho dos mesmos - mas centenas cabem ali à vontade. A página principal mostra sempre os cinco últimos livros em que mexemos, portanto não há o perigo de nos perdermos na imensidão da biblioteca digital;

- o dicionário: o inglês, por razões profissionais, académicas e mesmo de interesse pessoal, substituiu há alguns anos o português no top das línguas em que mais leio. É uma coisa que tento contrariar conscientemente, e há autores portugueses que amo de paixão, como Saramago e os romances históricos da Stilwell, mas os meus interesses literários são muitas vezes anglófonos. E recuso-me terminantemente a ler traduções quando consigo ler o original. Isto tudo para dizer que é frequente aparecerem palavras cujo significado seja mais dúbio, e que compreenda o que o autor quer dizer, mas que quero saber exatamente como e onde se utilizam. Num livro normal, estas são palavras que nunca na vida me ia dar ao trabalho de procurar no dicionário ou no Google. Mas o Kobo tem uma maravilha de aplicação que é um dicionário incorporado: está-se a ler um livro, toca-se numa palavra durante dois segundos e puf, aparece a definição da mesma. Útil, útil, útil.

- a instantaneadade (?): ter o livro na hora, no fundo. Apetece-me ler uma obra qualquer, pesquiso-a no Google para ver se há em formato livre, procuro na Amazon para saber se vale a pena comprar. Se valer, pago-a e tenho-a no meu computador para descarregar na hora. Nada de esperar alguns dias até chegar pelo correio, e potencialmente ir levantar a encomenda ao posto de correios mais próximo (ou não) até poder ler o dito cujo;

- clássicos gratuitos: literatura da boa, incluindo praticamente todas as obras mais aclamadas desta arte, estão disponíveis online para download grátis. Acho que tem qualquer coisa que ver com o direitos de autor expirados ou assim (os do Saramago não se encontra, por exemplo), e isto tem me feito experimentar ler coisas que, se tivesse que investir numa compra, não o teria feito. 



Coisas que me aborrecem no Kobo

- o dicionário: não é o dicionário em si, é mais a falta de dicionários que não seja o inglês. No outro dia estava a tentar ler um livro em francês e tinha-me dado muito mais jeito o dicionário incorporado que me conseguisse dar as definições de palavras na língua francófona. Fui à net pesquisei e descobri que há muita gente chateada como eu, e que, ah e tal, os fabricantes do Kobo estão a trabalhar para arranjar dicionários em mais línguas brevemente. Fiquei levemente frustrada por ver as minhas tentativas de melhoramento do meu francês saírem furadas;

- o preço dos e-livros: é inexplicável e completamente ridículo que um livro que esteja para sair na Amazon tenha um preço duas libras mais caro na sua versão eletrónica no que na sua versão capa-mole. Ridículo! Um livro eletrónico não gasta papel, não tem que ser transportado, não tem custos de impressão. Não tem custos de nada, diria! Apenas os da propriedade intelectual. Mas esses também o livro de capa-mole tem. Ainda há um caminho a percorrer nisto dos livros eletrónicos e cartéis para demolir (a UE já lhe cheirou a price-fixing ilegal, é favor castigar essa gente, que eu quero livros eletrónicos a preços justos). Até lá vai-se sendo compensado pelos clássicos grátis;

- fraca disponibilidade em português: pois é, o mercados dos livros eletrónicos em português está ainda na sua infância. Isto faz com que poucos sejam os que consigo encontrar, mesmo comprando, em formato digital. O que significa que ainda não pude abdicar do papel completamente.



Coisas que, não me aborrecendo, podem aborrecer outrém

- a fácil maleabilidade: o facto de podermos ter num só aparelhinho centenas de livros significa que é mais fácil saltar entre uns e outros e não haver focagem. Dei por mim a desistir de dois livros porque simplesmente não me estavam a prender a atenção nem a suscitar curiosidade e a partir para outro. Uma vez que não gastei dinheiro nos mesmos, nem me ocupam espaço numa prateleira, nem tive que esperar por eles, faz com que tenha muito menos pachorra e espírito de sacrifício na sua leitura. Também pode acontecer a pessoa não querer largar de todo o livro que está a ler, mas ter a curiosidade de começar outro simultaneamente. Para quem se distrai com facilidade, o Kobo pode não ser uma coisa boa.


Outros

- o Kobo tem uma funcionalidade que é a de sublinhar coisas. Com o dedo dá para arrastar uma espécie de marcador sobre a frase que se quer e guardar esse sublinhado. Dá jeito;

- este e-reader não é de todo uma espécie de computador (como eu temia), que demora algum tempo a ligar. É mais comparável a um telemóvel ou a um iPad. Tem um botãozinho em cima que se desloca e nos dá imediatamente a página do livro onde estávamos a ler. Mesmo que se troque entre livros, o Kobo guarda sempre a última página onde se esteve, o que também é útil.

- já li num parque, com luz do meio-dia, já li em casa, já li na cama com luz fraca. Não parece que estou a ler num ecrã, a luminosidade é sempre a mesma e equivalente a uma folha de papel. Bem diferente de ler num computador ou num iPad.


Acho que é isto. Espero ter ajudado a esclarecer alguém que esteja em dúvida quanto a comprar um e-reader. Na minha opinião, valem muito a pena. Noto que tenho lido mais pela conveniência que o Kobo me traz (ainda que não tanto como gostaria, mas o coitado não tem culpa das minhas deambulações internautas) e isso para mim é a prova mais óbvia de que ele me é útil.





S.

2 comentários:

  1. Muito útil, obrigada. Ainda não faço ideia de qual vai ser o meu eleito, até porque acho que por cá ainda não há o kobo (mas não entro numa fnac há séculos).
    Ao contrário de ti, vai-me custar mudar do livro para o ficheiro: é verdade que ocupam imenso espaço e ganham pó, mas adoro o objecto livro :)

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  2. O dia de substituir o livro de papel de vez ainda está longe. Entretanto o mais que um e-reader pode ser é um complemento. Vai-se continuar a ter livros de papel ainda por uns aninhos :)

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