sábado, 14 de julho de 2012

Igualdade de género em Manchester

No meu mestrado, não tive a oportunidade de defender a minha dissertação em prova pública. O facto de terem sido apenas dez mil palavras, em vez das normais trinta mil em Portugal, deve ter sido tomado em consideração pelos ingleses quando decidiram que nas suas universidades apenas doutoramentos merecem esse trabalho.

Quando descobri, há cerca de ano e meio, que não ia enfrentar um painel de avaliadores, fez muito para desfazer os meus pânicos e incertezas quanto à minha capacidade de completar uma dissertação de mestrado. Foi como se tivessem tirado um peso do peito. Mas quando comecei a investigar a sério para a dita-cuja e a escrever, a amar realmente o que fazia, e a entusiasmar-me com o que ia descobrindo e com as páginas que, pouco a pouco, ia preenchendo com uma modesta mas original contribuição para a compreensão do que é a igualdade de género na Europa, comecei a ter pena. Ter pena de não me ser dada a oportunidade de preparar uma apresentação oral, de explicar as minhas conclusões perante um painel de avaliadores e qualquer outra pessoa que quisesse assistir, de por os meus argumentos à prova perante possíveis perguntas dos júris. Seria nervoseira da certa, semelhante à que borbulha no meu estômago enquanto espero a minha vez no consultório do dentista, ou que a enfermeira chame o meu nome para tirar sangue. Mas a seguir, sei-o, seria a explosão de adrenalina característica de quando se faz o que era esperado de nós e se conquista um dos nossos medos.

Pois agora, cerca de um ano após ter começado a escrever a dissertação, consegui essa oportunidade de ver estrelinhas e não conseguir manter nada no estômago mais descarga de adrenalina meia hora depois. Numa qualquer sala em Manchester, vou pela primeira vez partilhar o meu trabalho de vários meses com uma (espero) pequena audiência. Intitulada qualquer coisa como "A face humana da legislação da UE: humana o suficiente?", esta vai ser a minha primeira conferência como oradora. 

Neste momento no meu sofá e computador voltam a versar licenças de maternidade, legislação da UE e igualdade de oportunidades. E eu voltei a ler a minha tese, sublinhá-la, sempre com o olhar impiedoso e extremamente auto-crítico de alguém que sente que, um ano depois, teria feito algumas coisas diferentes. Mas estou muito feliz. Feliz porque vou ter a oportunidade de ver como me dou nestas andanças académicas sem ser como aluna, feliz porque tenho cada vez mais a certeza que é a igualdade de género que realmente me estimula o intelecto e a paixão, feliz porque vou voltar a território britânico e a ter libras na carteira mais uma vez. Ainda que seja só por dois dias.

As borboletas vão-me assaltar duplamente o estômago já na quinta-feira, uma vez que além da apresentação voltarei a andar de avião, coisa que desgosto cada vez mais. Mas sei que não se compararão à sensação de "missão cumprida" logo a seguir, que espero ser justamente merecida.






S.   

1 comentário:

  1. you will like it
    e é viciante :)
    até nos fartarmos
    e depois é vacilante :)

    ResponderEliminar