sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Haggis a quanto obrigas

Embora seja muito picuinhas com a comida e a bebida, demore a habituar a novos paladares e só agora me esteja a habituar aos legumes não cozinhados, gosto de provar novos pratos. Lendo muito atentamente as descrições dos ingredientes que contém e fazendo cálculos mentais complexos no sentido de apurar a probabilidade de aquela nova comida ser satisfatória às minhas papilas gustativas, consigo aventurar-me por sabores diferentes.

Claro que a Escócia não tem paladares fundamentalmente diferentes do que uma portuguesa está habituada. Há carne, há. Há batata frita, há. Há puré, há. Há legumes cozidos, há. Daí que a probabilidade de eu gostar do que provaria já era à partida de 50%.

Só havia um prato escocês que me saltava à memória como especificamente tradicional: o haggis. O que eu já tinha ouvido por alto e os bleurcs quase instantâneos ao proferir da palavra "haggis" não me deixaram muito confiante. Tinha ideia que aquilo era uma espécie de iscas, fígado de porco ou vaca ou assim misturado com mais qualquer coisa. Quando a fome apertou e após várias horas de andar de um lado para o outro, decidi entrar num pub e espreitar o menú. Li a tal descrição detalhada e pensei: "tem puré, quão mau pode ser isto? Se não gostar como a batata, pronto". Nervosita, esperei que me trouxessem um prato de iscas a fumegar. Qual não foi o meu espanto quando me trouxeram isto:



Não estava à espera de gostar. Tanto. Esperava tolerar, ir comendo e não aguentar mais o sabor estranho/nojento, mas nunca pensei gostar mesmo. Ou isso ou estava mesmo com muita fome. De qualquer forma, aquilo era-me familiar. Sabia a sheperd's pie, um prato que comi várias vezes em terras da rainha e que é muito parecido com o vulgo empadão.

Dito isto, fico contente por não ter lido antes de comer a descrição de haggis que a wikipédia apresenta: "Haggis is a savoury pudding containing sheep's pluck (heart, liver and lungs); minced with onion, oatmeal, suet, spices, and salt, mixed with stock, and traditionally encased in the animal's stomach and simmered for approximately three hours."

Coração, fígado e pulmão de ovelha?? Cebola?? Suet?? (não sei o que é e temo ir procurar...) Fechado dentro do estômago da ovelha??? 

... Pensando bem não é muito pior que chouriço.

No dia seguinte foi a vez de uma ale pie. Mais uma vez, a presença de puré deu-me coragem para provar. O facto de ser uma espécie de empada alegrou-me a vista e o paladar pois fez-me lembrar as adoradas cornish pasties, empadas maravilhosas que funcionam ótimamente como fast food alternativa. A ale pie tinha carne picada por dentro, muito saborosa. Com o molho aconteceu o que é normal: provo, é satisfatório ainda que diferente, e depois acaba-se a embalagem a meio porque aquilo começa a ficar desagradável. Acho que é ali que entra o ale. Porque aquele molho sabia ao cheiro dos pubs. Ainda bem que vinha separado.



Ainda provei uma sopa que era um cruzamento entre peixe e tomate, muito espessa e saborosa, mas que não teve direito a fotografia. Acho que é o que eles chamam o broth, um caldo que parece que tem pão lá dentro.

Não provei whisky mas isso dispenso. Provei chá mas não foi nada de especial (cada vez mais difícil de contentar neste campo).



S. 

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