quinta-feira, 7 de março de 2013

Filigranes

Ora então, perguntam vocês, o que vai esta feminista fazer no Dia Internacional da Mulher? Nada, respondo eu.

Não é nenhuma ação deliberada, contestatária ou o que quer que seja; simplesmente vou estar a trabalhar (o meu horário laboral entretanto alargou) e não descobri nada para fazer na noite de amanhã. Mas fico muito feliz por ver um grande conjunto de ações de formação e informação sobre igualdade de género, desigualdades salariais, conciliação trabalho-família, violência contra as mulheres, prostituição, inclusão dos homens nisto do feminismo, mulheres nos media, um pouco por toda a parte. Coisas boas vão acontecer em Lisboa, a maior parte pela mão da UMAR, e vi uma conferência interessante que vai decorrer no ISCTE.

A UE, particularmente o Parlamento Europeu, andam numa roda viva de iniciativas para comemorar o dia e para que não nos esqueçamos que ainda só vamos a meio caminho. Hoje foi a grande conferência sobre a igualdade, que já aqui tinha falado, e ainda fui a tempo de participar no chat online em que o presidente da comissão dos direitos das mulheres do PE participou durante uma horita esta tarde.


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Bruxelas este dois dias com temperaturas a bater os 17-18 graus. Eu andei numa espécie de transe sempre que saía à rua, e por não sentir frio. Sabia que iam estar temperaturas de dois dígitos mas não fazia ideia que era assim. Ia-me dando um piripaque quando vi equivocamente o número 17º num mostrador de farmácia, e só não tirei foto para futura referência porque estava montada na bicicleta (ia caindo com o susto). Maravilha de ar, aquela temperatura perfeita, quando não se sente nem frio nem calor, quando não sopra nenhum vento e o céu está azul. Oh, paraíso! Paraíso que entretanto já está a ir embora e a dar lugar a -5º já na segunda-feira. Apetece-me chorar mas recuso-me.

Com esta maravilha de tempo decidi ir ontem visitar uma coisa que me estava encravada já há quase um ano, desde que tomei conhecimento dela: a maior livraria de Bruxelas, a Filigranes. Fui a pé a rue de la Loi abaixo, sem luvas nem gorro, e lá cheguei à dita cuja, onde uma amiga me esperava.

Tem mesmo muitos livros, é o que me ocorre dizer. Muito maior que a parte de livraria da Fnac e muito mais compacta; uma pessoa mal ciranda pelo meio dos corredores de tanto livro por todo o lado. Mas assim é que é: sente-se que os livros estão mesmo ali à mão, não há barreiras invisíveis entre nós e eles, é só esticar a mão e agarra-se num, mexe-se, folheia-se, pousa-se ou não. Livrarias muito arrumadinhas são um ultraje à literatura; uma livraria quer-se é caótica, a abarrotar, com conhecimento que não cabe nas costuras.

                                          

Dá a sensação na Filigranes de que nem há espaço para pôr tanto livro, e portanto há que improvisar mostradores no meio dos corredores, prateleiras por debaixo do balcão de pagamento, puros labirintos de escrita por aqueles corredores fora. 

Gostei do facto de haver um mini-café no centro da livraria, com mesas onde as pessoas se encontram para falar, beber um café ou simplesmente ler umas páginas daquele livro que é mesmo viciante. A Fnac, eu sei, tem isto, mas é a modos que numa parte separada, parece não haver ligação entre uma coisa e outra.




Fiquei mesmo muito contente quando a minha amiga me disse que a livraria está aberta ao domingo porque coisas abertas ao domingo são a raridade das raridades e esta cidade a modos que hiberna todo o Santo Dia. Ganhei possibilidade de novo programa de fim-de-semana: ficar a olhar horas e horas as lombadas de livros, especialmente um expositor particular que tinha centenas de livrinhos de bolso sobre todo o qualquer tema possível. Adoro estas coleções que têm a ambição dantesca de produzir pequenas introduções ao conhecimento humano; é uma promessa enorme ler-se os títulos tão distintos como "A História das Mães e da Maternidade no Ocidente" (estive com este livro na mão para o trazer, mas contive-me), "Direito Canónico", "A Literatura Japonesa", "História das Relações Internacionais desde 1945", ou a "Metapsicologia".

Ao que parece, a Filigranes costuma ter nas prateleiras à entrada livros alusivos a um certo dia que se aproxima ou a alguma comemoração especial. Por estarmos pertinho do Dia da Mulher tinha alguns títulos sobre o tema, um deles sobre a organização Femen, que já aqui falei. Mas foi quando vi este título que até se me arrepanhou a espinha:




Epá... Não. Não vão por aí, a sério. Porque não é verdade, nem é desejável, é puramente sensacionalista. É um bocadinho como aquela música profundamente feminista da Beyoncé, "We Run the World (Girls)"; não runam nada, não vale a pena fingir que sim. É por isso mesmo que se luta; se já runassem não tínhamos estatísticas vergonhosas como estas:



Enfim, eu sei que a controvérsia e o sensacionalismo é que vendem, e aquele livro até pode ter pouco que ver com o título e ser uma tese de investigação muito interessante (ainda assim duvido), mas eu prefiro que uma capa me apele à inteligência, não à emoção.

Hei-de lá voltar porque a horita e pouco lá passada a seguir ao trabalho soube a pouco. E eu não provei a tarte de framboesa.



S.


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