quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Costela a Mais

Hoje no meu role de notícias do Reader apareceu que a revista Spare Rib ia voltar. Nem li mais que o título porque nunca tinha sequer ouvido falar de tal revista, portanto que me interessava o seu regresso. Mas por um acaso qualquer li novamente na BBC a mesma notícia e a curiosidade foi espicaçada. Decidi ir ver que revista afinal era aquela que estava a merecer tanta cobertura mediática pelo seu regresso.




Meu deus, não podia ter acertado mais na muche. A Spare Rib é uma revista feminista - e, pelo que já li, é talvez A revista feminista - nascida das entranhas da 2ª vaga de feminismo dos anos 60-70, aquela que reivindicou a liberdade sexual e reprodutiva da mulher, igual salário, etc, e que vai voltar. E quanto mais leio sobre o tom da revista, das suas criadoras, dos tópicos exibidos nas suas capas de décadas anteriores, mais eufórica fico porque uma coisa destas é uma lufada de ar fresco nos stands revisteiros dessas tabacarias da Europa. 

À medida que ia lendo o artigo sobre o regresso da revista, ia apreciando cada vez mais este projeto. A sua futura mentora, a jornalista Charlotte Raven, Ela diz que a ideia não é criar uma revista ultra-especializada que apele a um nicho de mercado muito restrito, mas sim uma coisa que entre pelas portas dos supermercados adentro e se pouse confortavelmente ao lado de Cosmos e afins. Ela diz que a "SR will revive the spirited and soulful vision of feminism that SR once embodied not the timid liberal one that dominates the mainstream media." Gosto muito. O feminismo, acrescento eu, não tem que ser apologetical, é bom que bata o pé com força pois só assim consegue competir com as mensagens omnipresentes dessas Vogues, Happy Womans e afins.

Não consigo evitar uma comparação com o Private Eye, uma revista britânica que satiriza o mundo da política, alta-finança, etc, através de caricaturas e artigos profundamente sarcásticos. Mas que, segundo a Charlotte Raven, é demasiado "boys' club". A Spare Rib será bem mais "girls' club". Mas girls' club no sentido (e parafraseando a jornalista) em que vai é dar dicas para as mulheres manterem as amigas num mundo que as empurra constantemente para "bitch fests" e "catfights", em vez de incluir as últimas receitas de cupcakes.

No fundo, e se as capas da edição anterior forem indicação, a Spare Rib vai ser uma revista sobre todos os assuntos, e aqui friso muito especialmente política, mas incluindo também cultura, literatura, humor, etc, que possam interessar à mulher. Ora, isto é coisa que eu nunca vi. Uma revista direcionada para um público feminino tratando os seus membros como se tivessem cérebros? :o Que choque!

Para dar alguns exemplos do tipo de assuntos que é expectável que a revista inclua, aqui ficam algumas das capas da antiga edição que eu achei mais interessantes:












Gosto mesmo, mesmo muito. 

Estou curiosa sobre o tipo de assuntos que serão incluídos desta vez, mais de 20 anos depois de a revista ter fechado. Se continuar pela mesma linha, terá a minha atenção completa.



S. 


P.S. Acho a escolha do título - que se deve às autoras originais - particularmente brilhante. Spare rib, a costela que o Adão tinha a mais e a partir da qual deus criou a mulher (deus tão querido, até na sua existência fez a mulher subordinada ao homem). E trocadilho com a receita do spare ribs. Faxavór de atirar aos transeuntes mais espirituosidade dessas bancas de jornais britânicas. 




5 comentários:

  1. "Uma revista direcionada para um público feminino tratando os seus membros como se tivessem cérebros? :o Que choque!"

    indeed!!!

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  2. O que tens a dizer sobre isto? http://www.uproxx.com/tv/2013/05/so-called-most-sexist-show-in-history-blachman-involves-two-men-critiquing-naked-women/ (o programa em si)

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  3. Bom-vinda Dana. Esse programa é o epítome da objetificação da mulher. Não sei se é o programa mais sexista do mundo - acho mais preocupante a objetificação da mulher através da violência que é feita em certos anúncios, por exemplo - mas merece toda a indignação e revolta que parece que já suscitou. E surpreende-me por vir da Dinamarca, um dos países muitas vezes tidos como mais avançados em termos de igualdade de género.

    Assim de repente faz-me também lembrar o "corte-e-costura" que as mulheres tantas vezes fazem umas às outras. E essas conseguem frequentemente ser mais impiedosas que os homens. Que é magra, que é gorda, que é mal-feita, que tem ancas largas, que tem mamas grandes, que tem mamas pequenas. O corpo feminino parece que é domínio público e toda a gente tem direito a opinar, seja o opinador mulher seja homem. É preciso grande dose de auto-estima para ser uma mulher de mente sã neste mundo.

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  4. Mas só há programa porque as mulheres se dispõem a isso... Não achas que isto quer dizer alguma coisa? O que é que achas que as leva a fazer uma coisa destas?

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  5. Sinceramente não sei. Suspeito que seja um misto de necessidade enorme de aprovação e afirmação e uma vontade de ser famosa a qualquer custo. Mas isto não é nada de novo, os concorrentes de tantos reality shows têm estas mesmas características. Agora, isto não tira o valor às críticas legítimas que estão a ser feitas aos produtores/canal de televisão. Escolheram investir recursos, tempo e dinheiro numa atividade que degrada mulheres, mesmo que com o consentimento destas.

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