sábado, 6 de abril de 2013

O homem também

Desengane-se quem pensa que a publicidade é no geral apenas misógena; ela também é muitas vezes sexista em relação aos homens. Uma vez que a publicidade assenta na comunicação rápida e, de preferência, que suscite emoções e ligações inconscientes com o produto a ser publicitado, é muito fácil resvalar para clichés que o máximo de pessoas reconheça, precisamente para se nos tornar familiares. E um dos clichés favoritos de muitas marcas são os estereótipos de género. 

E agora que penso nisso o humor também assenta muitas vezes nestes clichés. Fazer piadas com mamas (veja-se os últimos Óscares) ou com a esquisitice das mulheres, versus o homem que sofre muito durante o casamento e que só pensa em sexo a todas as horas do dia, é meio caminho andado para pôr uma audiência de stand-up comedy a rir. Mas tal como os filmes com as suas 2 ou 3 personagens femininas e masculinas muito típicas e muito unidimensionais, é coisa que me dá tédio, chateia e é de uma falta de originalidade que me faz pensar se tais criadores estão ainda presos na adolescência. Se quero piadas com mamas basta-me ir a um recreio de sétimo ano, escuso de gastar 20 euros num bilhete para ir ver "comédia".

Bom, mas não era isto que eu vinha aqui falar. Dizia eu então que a publicidade também consegue ser muito sexista em relação aos homens. E quando são anúncios que tocam em qualquer coisa relacionada com tarefas domésticas, ui Jesus. Se são produtos de limpeza, é garantido que será uma mulher a protagonista. Idem para produtos de higiene - exceto no que toca à barba -, supermercado, compras, etc. Quando aparece um homem é muito frequentemente apenas para reforçar o quão eles não percebem nada daquilo. E depois lá aparece a mulher para, com uma espécie de sorriso condescendente, o corrigir. Ui, que tolinhos que os homens são nessas coisas das tarefas domésticas! Não percebem nada daquilo, nem têm jeito nenhum. 

Exceto que a maior parte dos homens que conheço não é assim. O meu homem de certo que não é assim, o meu pai não é assim, os meus amigos (embora muitos gostem de mandar as piadolas típicas sobre o assunto) sei que não são assim. Mas o estereótipo é tão mais confortável. E a publicidade perpetua-o, cristalizando a ideia muito do senso comum de que há coisas em casa que os homens nunca vão saber fazer como deve ser como:

- passar a ferro
- fazer a cama
- embalar um bebé
- limpar o pó
- estender a roupa
- limpar a casa

(Cozinhar é a exceção, o homem moderno cozinha bem e agora até é costume se dizer que cozinha melhor que a mulher! Porque, como se vê, todos os grandes chefs são homens!)

Como se todas estas tarefas estivessem especialmente inscritas no código genético das mulheres, como se houvesse um gene da limpeza, que miraculosamente escapasse a todo e qualquer espécime do sexo masculino. 

Por isso, quando há marcas que têm a coragem de ser inovadoras, originais, e - sejamos sinceros - realistas, é bom que sejam reconhecidas:



Hi. I'm a dad-mum. This means that while my wife works, I'm at home being awesome.
I know that there's a lot of mum-mums out there who look at my unique mixture of masculinity and nurturing and they find it quite alluring. And I know that there's dads who are out there who are astonished with my ability to dress a four-year-old. But here's a real kicker: I can take even the frilliest girl dress and fold it with complete accuracy. Boom.
And, with Tide Boost, I can use the brute strength of dad to mix with the nurturing abilities of my laundry detergent.
Now if you'll excuse me, I'm going to do pull-ups and crunches in the other room.


53 segundos de pura ironia. Gosto muito!



S.

3 comentários:

  1. Concede-se a excelência dos homens na cozinha quando é elevada a arte; se for corriqueira, naturalmente feminina.

    ResponderEliminar
  2. Precisamente. Se estender a roupa fosse arte também contaria decerto com grandes nomes masculinos.

    ResponderEliminar