quinta-feira, 3 de março de 2011

Virginia Woolf - The Hours

Ontem em vez de ver o derby escolhi ver o filme As Horas, bem mais interessante mas igualmente deprimente. A verdade é que este filme saltou logo para a minha lista de filmes preferidos, quando ainda nem tinha decorrido meia hora do mesmo.




Em nota de abertura tenho a dizer que é um enorme prazer ver qualquer filme em que entre a grande senhora Meryl Streep. Todas as suas interpretações são de uma naturalidade impressionante e de um rigor impecável. É daquelas poucas atrizes que quando entram em cena não dá para despregar olho do ecrã pela interpretação incrível que fazem da personagem.



Julianne Moore é outra atriz que vale a pena. Era relativamente desconhecida por mim até há pouco tempo mas uma série de bons filmes que vi em que esta entrava captaram-me a atenção para a dita atriz, incluíndo o perturbante Blindness, baseado no livro Ensaio Sobre a Cegueira.




Sem dúvida quem mais me surpreendeu foi a Nicole Kidman neste filme. Sem dúvida alguma. Estive mais de meia hora a tentar certificar-me de que era mesmo a Nicole Kidman quem estava a fazer de Virginia Woolf, e fiquei na dúvida até mais de metade do filme. A minha habilidade para reconhecer caras nunca foi famosa, mas o que é fato é que esta senhora estava irreconhecível como Virginia Woolf (vejam por vós próprios), uma mulher escritora com imensos problemas psiquiátricos e uma personalidade algo apagada no filme.




Graças à brilhante interpretação da Nicole Kidman fiquei fã desta famosa escritora. Tinha uma vaga ideia de que era uma escritora da primeira metade do século XX, tinha pertencido ao Bloomsbury Group, um clube londrino de intelectuais, entre os quais Keynes. Tinha também a impressão que, tal como outros membros desse grupo, tinha-se suicidado. Tudo verdade até aqui. O que me impressionou neste filme foi a profundidade da escritora em si, os temas sobre os quais escreveu e o seu percurso de vida.
Mas talvez seja melhor fazer uma sinopse do filme para poderem julgar por vós próprios.

As Horas captou-me a atenção pelo fato de contar 3 histórias de mulheres de épocas diferentes mas com algo em comum, neste caso o gosto por um romance de Virginia Woolf ('Mrs. Dalloway', prioridade elevada na minha lista dos 'a ler'). Este ponto é logo receita bem-sucedida para eu gostar do filme. À medida que o filme foi decorrendo fiquei com a nítida impressão que este filme me fazia lembrar o Revolutionary Road, e a verdade é que a essência de ambos é muito semelhante.


Basicamente seguem a mesma linha: mulheres que vivem nos subúrbios, que têm tudo o que é suposto ter - casa com jardim, marido, filhos, vida folgada, boa reputação no bairro -, que aparentemente são felizes mas que por dentro sentem um desespero terrível. Revolutionary Road foi a primeira história do tipo que vi e impressionou-me bastante. A Kate Winslet e o Leonardo Dicaprio estavam impecáveis nas suas interpretações.

As Horas é ainda melhor, na minha opinião. Isto porque combina as tais 3 histórias das 3 mulheres em épocas diferentes. A primeira é a própria Virginia Woolf, enquanto escrevia o livro Mrs. Dalloway. A segunda é uma mulher dos anos 50, e a outra uma mulher do presente. O que é fascinante neste filme é que as 2 últimas histórias vão sendo contadas à medida que acompanhamos Virginia Woolf na sua escrita do livro. Ou seja, tudo o que ela vai decidindo que irá acontecer à sua heroína fictícia, a Sra. Dalloway, vai influenciando o curso que as outras 2 mulheres vão dando às suas vidas. É brilhante. E extremamente parecido com o que se passa no meu filme preferido de sempre, Shakespeare in Love. Também aqui há a mistura de uma vida real (a de Shakespeare) com a invenção e escrita de uma obra fictícia (neste caso Romeu e Julieta).





Mas o que me impressionou realmente no As Horas foi a essência da história: o desespero de uma mulher que vive segundo o que é esperado dela. A vida nos subúrbios, com a casinha da 'white picket fence', o casal de filhos, e a mulher que espera o marido chegar a casa - no fundo, o tão famoso American Dream - é aqui retratado como fútil e desesperante para estas mulheres. Fútil porque monótono e previamente antecipado (a mulher sabe como será a sua vida do início ao fim), e desesperante porque a mulher não consegue entender, muito menos explicar, porque é que é extremamente infeliz se tem tudo o que se é suposto ter. Detetei também um cheirinho de Fernando Pessoa neste tipo de história, o que me agradou imenso. A sua visão da monotonia da vida e da existência humana era igualmente deprimente mas tão certeira que chega a assustar. O Livro do Desassossego é particularmente exemplo disso.

Em resumo, é um filme com um enredo profundo e 'enredado' pois estas 3 histórias acabam por se cruzar realmente, não têm apenas em comum o livro de Virginia Woolf. As interpretações das 3 senhoras são brilhantes e extremamente entusiasmantes de assistir. Destaco a interpretação de Virginia Woolf (personagem), de quem fiquei fã curiosa, e de Nicole Kidman (a atriz), de quem passei a admirar.





S.

2 comentários:

  1. li o Orlando há uns quatro anos e foi um bocado complicado, além de que não me conseguiu prender muito o interesse... foi uma experiência confusa e não sei se gostei. tenho o mrs dalloway por ler, ainda não tive coragem de lhe pegar.

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  2. Acredito, a senhora Woolf parece me uma escritora bastante complexa. Estou a pensar ler a autobiografia ou os diários dela primeiro, para ficar a conhecer melhor a pessoa antes de partir para a ficção.

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