Hoje foi o dia.
A premissa é do mais simples que há: acompanhar a vida de quatro bebés em diferentes partes do mundo durante o seu primeiro ano.
É simplesmente... fascinante.
São-nos apresentados quatro exemplares humanos na sua forma mais pura, acabados de chegar ao mundo em ambientes muito diferentes, às vezes a roçar os extremos. Um é da Namíbia, outro da Mongólia, outra de Tóquio, e a última de S. Francisco.
O meu interesse era o óbvio perante um filme destes: saber como se educam bebés em diferentes partes do mundo. Ver, com os meus próprios olhos e sem ninguém me contar, como é que estes bebés humanos lidam com o que os rodeia e que nestes quatro casos é tão diferente entre si.
E o que vi deixou-me maravilhada. Isto porque as quatro crias humanas são iguaizinhas, não obstante os seus ambientes. A curiosidade em relação ao que as rodeia é exatamente a mesma, a atenção e alegria quando a mãe as desafia é igual, os sons balbucionados são os mesmos, as tentativas de gatinhar e depois de começar a andar semelhantes, os guinchos não se distinguem, a displicência com que pegam em tudo e enfiam na boca é a mesma.
Porque uma coisa é dizer que somos todos iguais, todos irmãos, todos a mesma espécie. Isto toda a gente sabe na teoria. Mas ver este facto espelhado nas ações de quatro bebés de sítios e culturas tão diferentes é maravilhoso e faz com que se assimile essa igualdade como verdade verdadinha por ser tão óbvia.
O documentário não pretende dar nenhuma lição a ninguém, nem tem qualquer moralidade subentendida. Isto porque os autores escolheram não meter nenhum narrador ou comentário de qualquer espécie (o filme parece um No Comment da Euronews especialmente longo. E tal como na Euronews, a intenção é "tirem vocês próprios as conclusões"). E, de facto, não fiquei convencida sobre qual é a melhor cultura para se educar um bebé...
Basicamente não temos ninguém a falar, apenas cenas completamente aleatórias da vida destes bebés, que espelham muito bem como é o seu quotidiano. Temos assim o bebé namibiano sempre livre, nu e a meter terra, pedras e um osso (!) à boca com a naturalidade típica dos bebés, o bebé mongol a brincar na sua tenda forrada a tapetes onde de vez em quando aparece uma cabra ou um galo que salta para cima da sua cama (estava sempre à espera que pusesse um ovo para ver a reação do bebé que o olhava atentamente mas a palavra-chave aqui parece que é mesmo GALO). Depois temos a bebé japonesa rodeada de brinquedos e gadgets corriqueiros nos países ditos desenvolvidos, e a bebé norte-americana naquelas aulas de cantigas e danças para bebés mas para as quais os mesmos estão-se mais que borrifando.
Isto lido assim parece tendencioso mas estas são meramente as atividades que me chamaram mais a atenção. Porque, mais uma vez, o documentário não tenciona provar nada e o foco são mesmo os bebés. O seu ambiente surge apenas como algo secundário e inevitável quando se tenta mostrar estas vidas tão diferentes mas tão primordialmente semelhantes.
É curioso como uma verdade tão básica se tira deste filme: bebés há-os em todo o mundo. Não interessa se crescem rodeados dos mais avançados brinquedos, se dormem debaixo daquele edredão de penas de pato, se tomam banho numa tina de água ferrujenta ou se tem como animais de companhia cabrinhas bebés (até me arrepiei quando o bebé mongol agarrou numa mãozapa de pelo da cabra e a puxou pelo chão. Mas o bicho parecia estar habituado e nem pestanejou), se frequentam aulas de ginástica desde os seis meses ou se brincam em parques de diversões ou dentro da poça à porta de casa. O que é facto é que eles crescem, absorvem tudo o que os rodeia e são felizes.
Claro que os cuidados de saúde, alimentação e conforto da bebé japonesa não se comparam aos do bebé namíbio; mas essa não é a questão. O que este documentário prova é que é estúpido pensar que se comete um grande crime de parentalidade se não se tiver o carrinho-de-bebé de marca McLaren ou se não se levar o filho a frequentar aulas de música desde os três meses, e que na ausência de todas estas mariquices o bebé não será feliz. Bebés sempre os houve e continua a haver, mesmo nas condições mais primordiais que se possa imaginar.
Porque o ambiente inevitavelmente os irá moldar para lá do reconhecimento deste documentário, seria extremamente interessante ver como eles serão diferentes daqui a 10 anos. Entretanto, fica pelo menos a constatação de que vieram do mesmo sítio e no seu primeiro ano de vida são iguaizinhos no que mais de humano tem.
S.
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