domingo, 10 de outubro de 2021

A maratona de Londres 2021

No sábado da semana passada acordei de repente com uma onda de ansiedade. Eu até tinha passado a semana da corrida bastante bem, a única coisa fora do normal tinha sido o medo parvo de comer alguma coisa que me fizesse mal ou que algum carro me passasse por cima (não pelas mazelas em si, estão a ver, mas porque isso me ia impedir de correr no domingo). Na quarta-feira tinha ido ao escritório pela primeira vez em 18 meses e tinha havido um evento em trabalho, pelo que também havia esse medo absurdo de apanhar o vírus, qualquer vírus. Mas no sábado acordei cedo e fui atirada completamente para a terra dos nervos. Foi com dificuldade que engoli as costumeiras papas de aveia enquanto a parte racional e sem merdas do meu cérebro tentava dominar: “Tens de comer como deve ser, até devias era estar a comer a mais para encher as reservas, por amor de Deus, ainda nem é o dia da corrida, não sejas parva.” Ainda bem que o D. chegava nessa amanhã porque assim eu tinha algo para fazer (esperá-lo ao aeroporto) e depressa teria companhia para me distrair. Funcionou perfeitamente porque pouco depois de ele chegar começou uma discussão sobre um dos assuntos mais difíceis do feminismo atual e conseguiu manter-me os pensamentos afastados da maratona durante um bom tempo (homem esperto).

Tal como na minha primeira maratona, choveu torrencialmente no dia antes. Mas chuva digna de avisos amarelos e não sei quê... E tal como na minha primeira maratona, o dia da corrida teve tempo perfeito: nublado, sem vento, fresco pela manhã mas sem frio cortante. E é aqui que as semelhanças acabam. Porque esta segunda volta não podia ter corrido de maneira mais diferente da primeira.

Por acaso até houve outra coisa que foi igual: não havia papel higiénico nas casas de banho portáteis da partida. O que eu maldisse ter me esquecido de levar lenços de papel porque eu SABIA que tinha de ir antes da partida (os nervos não deixam alternativa) e eu SABIA que não ia haver papel. Vou vos poupar aos detalhes escatológicos mas fica só a ideia de que ser corredor torna-nos pessoas muito menos enojadinhas.

Fila para as casas de banho sem papel higiénico...

Em tudo o resto, as duas experiências não podiam ter sido mais diferentes. Eu estava tão entusiasmada de ali estar que durante todos os primeiros km e regularmente durante o resto da prova mal conseguia acreditar que estava ali, a corrê-la. “Estou a correr a maratona de Londres, estou a correr a maratona de Londres, estou a correr A MARATONA DE LONDRES, quão surreal é isto!” continuou a ressoar na minha cabeça uma e outra vez. Não queria que a coisa acabasse, apesar de ter sido difícil em vários pontos, tal como é suposto uma maratona ser. Há seis anos o meu sentimento principal na partida era acabar com aquilo o mais rápido possível, de tão exausta que estava do meu treino e farta de correr.

O que eu tinha desta vez era uma pressão auto-imposta para fazer melhor em termos de tempo do que tinha feito em Lisboa. Acabar a primeira maratona é um grande feito, que importa o tempo. Há-de ser o nosso melhor de qualquer maneira! Mas agora que eu sabia que conseguia correr uma maratona, a questão para mim era se eu conseguia fazê-lo a sério, num tempo que me orgulhasse (e aqui o parêntesis do costume para dizer que óbvio que tudo isto é pessoal, um tempo que me orgulhe será um tempo vergonhoso para muitos, tal como um tempo que me desaponte será um tempo de orgulho para muita gente. É relativo, é sobre cada um, o que cada um consegue fazer e para o que treinou). E daqui advinha a minha ansiedade nesta segunda vez: eu tinha treinado muito nos últimos 3 anos, esta era a minha corrida de sonho, queria me orgulhar do meu esforço. Não me sinto orgulhosa da minha primeira maratona. O meu tempo ficou muito aquém do que eu esperava (embora fosse uma novata na corrida) e sinto-me envergonhada por nem sequer ter lutado por ele, caminhei longos pedaços e cruzei a meta a sentir-me zangada, extremamente enjoada, e apenas a sentir um grande alívio por estar feita.

Mas já chega de comparações porque isto está a ficar uma crítica à minha primeira maratona quando este post deve ser é sobre relatar uma das experiências mais fantásticas que já tive.

O dia da corrida foi incrível e começa assim que se sai da porta de casa. Começa-se muito cedo numa manhã fria de outono e por isso as únicas pessoas que se vê são as que pertencem ao nosso grupo de maluquinhos: as que vão voluntariamente – de bom grado, até! – sujeitar o corpo à tarefa sobre-humana de correr 42 km. Toda a gente tem na cara o mesmo misto de excitação e nervos, que suspeitamos refletir exatamente a nossa. Toda a gente está prestes a dar o mesmo salto para o desconhecido, não saber como vai correr, como o corpo vai reagir, o que vai acontecer durante aquelas horas todas, antecipando que vai doer mas esperando que se torne um dos dias mais memoráveis da vida. Estar no meio dos outros corredores durante a viagem de metro ajudou-me a acalmar os nervos. Estamos todos no mesmo barco. Toda a gente estava a sentir o mesmo que eu. Será que é isto que atrai as pessoas ao absurdo das maratonas, querermos sentir-nos parte de algo, de um grupo que se propõe a um desafio gigante e um bocado aleatório mas que significa tanto para tantas pessoas no presente e no passado? Mesmo quando começava a entrar por reflexões metafísicas chega a hora de trocar de comboio em Canary Wharf. Isto implicava trocar de estação e em caminho avistei o placard da milha 18. A minha barriga deu um salto e apeteceu-me gritar “DAQUI A UMAS HORAS VOLTAREI AQUI E VOU ESTAR TÃO ACABADINHA”. Não gritei, mas um gritinho escapou-se-me. Embarquei no comboio à pinha e pensei, não pela última vez naquele dia, “Espero que isto não se torne num evento de super-contágio.”

Entretanto chegamos a Greenwich. A procissão longa pela colina acima começa e entramos em modo de corrida.

"A 13 de outubro foi o seu adeus /A virgem Maria voltou para os céus / AaaAvé, Aaavé..."

(Estas caminhadas até às partidas das corridas, com todas as ruas fechadas ao trânsito e montes de pessoas a caminhar em silêncio com o mesmo propósito, faz-me sempre lembrar as procissões religiosas da minha infância e apetece-me sempre começar a cantar: “Avééé, Avééé, Avééé Mariaaa; AaAAvé, Avé, Avé Mariaa”). 

Quando lá chegamos, começa o ritual do costume pré-corrida:

WCs sem papel: confirma.
Altifalantes com a música “Dança Kuduro”: confirma.
Maldizer a minha escolha de calções lilases bonitinhos em vez do normal preto que camufla manchas: confirma.
Sentir que vou desmaiar e interrogar-me se o pequeno-almoço habitual de pão com manteiga de amendoim vai ser suficiente para me aguentar as próximas 4 horas a correr: confirma.
Confirmar que o relógio apanha o GPS na linha de partida: confirma.

Zona da partida e sorriso amarelo

O ecrã gigante na área da partida mostra a elite a partir. A Maratona de Londres está oficialmente a decorrer. Estou na minha área à espera que a minha vaga comece, ansiosa, nauseada e excitada na mesma medida. O tempo está feio, do melhor que Inglaterra tem para oferecer (graças a Deus).

As vagas com os corredores normais começam a partir. E depressa chega a nossa vez. Dispo a camisola velha e os leggings que me mantinham quente e sigo as senhoras voluntárias que seguram a placa com o “4”. Vem-me à memória os Jogos Sem Fronteiras: a equipa 4 é a seguir!

E partimos. E eu mal consigo acreditar que estou aqui: depois de 3 anos, várias lesões, um diferimento individual e 2 adiamentos, cheguei à linha de partida inteira, saudável, em forma e no melhor humor que podia ter esperado. Está a acontecer.

Eu tinha um objetivo de tempo mas queria olhar para o relógio o menos possível. Acima de tudo queria aproveitar todos os momentos da corrida, absorber o ambiente de uma das melhores experiências de corrida do mundo, gravar cada pedacinho na minha memória. Esta é a minha corrida de sonho, estou a correr pelas ruas da minha cidade, 889 dias após a última vez em que isso foi possível.

O plano era confirmar como estava a ir o meu passo a cada marca de milha. Eu tinha um plano A, B e C porque em 42 km muito pode acontecer e temos de nos adaptar ao inesperado: o tempo pode não ser o ideal, o corpo pode não cooperar, podemos cair, podemos perder os géis, podemos... Fico felizmente surpreendida quando à milha 1 o relógio me mostra que o meu passo estava exatamente onde devia, e então mantenho-o. Isto dá-me a confiança que precisava para lutar pelo objetivo A, por isso acomodo-me ao passo e deixo-me aproveitar a corrida.

Os primeiros 5 km não são os mesmo para todos os corredores porque há 3 partidas em sítios diferentes (são 50,000 corredores e as medidas Covid tornam-no necessário). O percurso está cheio mas nunca tive de contornar corredores ou abrandar: a partida em vagas foi determinada pelos tempos finais estimados e por isso toda a gente corre a um passo semelhante ao meu.

Algures na corrida, não faço ideia onde

Os primeiros 10 km são corridos por uma área de Londres que eu não conhecia. Greenwich, Woolwich Arsenal, estas ruas residenciais estão cheias de pessoas a torcer por nós, com microfones, colunas de som nas varandas, crianças de braço esticado para um high-five. É uma das melhores partes do percurso porque a festa é tão genuinamente local.

O primeiro marco turístico que passamos é o famoso Cutty Sark aos 10 km. Corremos ao longo do Museu Marítimo de Greenwich e as ruas estão à pinha. Naquela altura estava-me a sentir muito bem mas lembro-me de pensar com respeito que ainda só tinha corrido um quarto do total... Aquela primeira hora tinha sido tão intensa que parecia que durava há mais tempo, mas ainda estávamos tão longe do fim.

Foto do Cutty Sark, roubada ao canal do Instagram da London Marathon

Os 10 km seguintes passam sem grandes atribulações. Ficou-me uma névoa de cores, caras e gritos da multidão, ruas londrinas desconhecidas. Um homem que gritava numa espécie de grunhido “EASY. CENTRE. EASY. CENTRE.” enquanto corria, fazendo os corredores à volta olhá-lo de lado. Devia ser uma técnica qualquer de foco, estranha como o caraças. O homem corria à mesma velocidade que eu e então levei uns bons km a ouvir os gritos de “EASY. CENTRE.” e comecei a irritar-me por estar mesmo a ver que isto ia acabar por ser a minha memória mais vívida da corrida... 

Um outro corredor solta de repente um alegre “SOU DOS ESTADOS UNIDOS, NÓS ADORAMO-VOS, LONDRES!!!”, uma expressão tão genuinamente americana que toda a gente à volta desatou a rir. “ALGUÉM DO BROOKLYN?!”. Um grito da multidão, e outro alegre “YEEEEES!!!” da parte dele. É como disse, gente doida.

Os km continuam a passar e continuo a pressionar o botão das voltas no meu Garmin a cada milha para ver se o meu sonho de conseguir um lugar na categoria Good for Age (acabar nas tais 3:45) se mantém vivo. Vou bem ciente de que a parte onde vai doer ainda está longe (espera-se). Mantenho o foco e não me deixo entrar em devaneios de velocidade.

À milha 12 viramos uma esquina e de repente ali está ela em todo o seu esplendor: a Tower Bridge!!! Eu tinha estudado o mapa do percurso por isso sabia que ela devia estar a aparecer a esta altura mas até aqui eu vinha a correr em ruas desconhecidas por isso a surpresa foi grande na mesma. Solto um grito de alegria e começo a sorrir como uma maluca, num daqueles momentos perfeitos, melhores do que nos meus sonhos, que esta corrida me deu. Este era também o primeiro lugar onde eu esperava ver o D. e a L., mas a multidão era tão grande que não os consegui ver. Fiquei ligeiramente desapontada mas mantive o foco.

Felicíssima na Tower Bridge :)

Aqui a meio caminho há uma parte onde duas secções do percurso se encontram e por isso vimos os corredores mais rápidos que já voltavam e enfrentavam os seus últimos km da corrida. É um bocado assustador ver as expressões de dor e esforço nas caras deles, as marcas de 35 km, etc do outro lado. É como ter um vislumbre do futuro; “isto vais ser tu daqui a uma hora...”.

As antigas docas, Limehouse, e rapidamente começamo-nos a aproximar das torres espelhadas de Canary Wharf. É a minha marca mental seguinte. Várias coisas acontecem aqui: o sol começa a brilhar e eu panico por um momento - preparei-me para muitos cenários mas lidar com calor não foi um deles; a fadiga começa a instalar-se e a mesma velocidade começa a ser mais difícil de manter; é hora de tomar outra metade do meu gel que se tinha colado ao bolso dos meus calções; a contagem decrescente em milhas chega ao único dígito e por isso o fim aproxima-se; as ruas de Canary Wharf são mais escuras com os arranha-céus de cada lado, ventosas e nunca mais acabam, e a esperada voz do “Correr uma maratona é uma ideia mesmo estúpida” faz a sua entrada. As multidões ensurdecedoras tornam-se um bocadinho irritantes e eu fico parva a pensar que há pessoas que fazem isto depois de nadar 4 km e pedalar mais 180. Prometo a mim mesma nunca cair nessa estupidez.  

É também aqui que eu tomo a decisão de largar o meu plano A das 3:45 e decido continuar a correr o melhor que posso mas não em sofrimento tal que me impeça de continuar a aproveitar a corrida. Ainda falta mais de uma hora, a pior hora, e muito pode ainda acontecer. Fico feliz por ter aguentado este passo durante quase 3 horas, posso abrandar um bocadinho.

Estamos de volta a Limehouse e os corredores dos 35 km tornam-se nós. Estamos em território desconhecido porque nunca se treina esta distância. É duro e dói mas continua-se. Já corri esta distância uma vez e estou em agora em muito melhor forma, consigo corrê-la mais uma vez. EASY. CENTRE. (Nesta altura a frase do homem já se tinha tornado em “THIS IS SO FUCKING EASY”, a dor era forte.) O meu estômago estava a portar-se tão bem, tinha começado o meu segundo gel – território desconhecido também – mas ainda não me atrevia a esperar que isto não fosse acabar em meses de sistema digestivo lixado como há 6 anos atrás. Mantenho o foco.

Oiço alguém a gritar o meu nome! E, oh que alegria, é o D.!!! Abro os braços, aceno-lhe e dou um gritinho de alegria, mas continuo a correr. Não me atrevo a parar. Mas foi uma festinha no coração tão boa que deu um impulso tão importante, numa altura em que corpo e alma estão exaustos. Estamos em Tower Hill, a passar a Torre de Londres, o que significa que este é o último bocado, sempre à beira do rio até ao parlamento, para depois a última volta ao St James’s Park e a meta.

A melhor surpresa x)


A loucura começa. E eu que pensava que a multidão tinha sido incrível até ali... Mas isto agora era completamente de loucos. Os dois lados da estrada estavam à pinha, os gritos, os assobios e os berros de “VOCÊS SÃO TODOS INCRÍVEIS!!! JÁ ESTÃO TÃO PERTO, SÓ FALTAM DUAS MILHAS! GOOOOO!!!” são tanto que chegam a ser opressivos e eu resisto a vontade de tapar os ouvidos com as mãos e gritar “Pareeeem!”. Foi mesmo demais. E o parlamento ainda lá longe... Mas estas duas milhas passam tão rápido, o tempo passa esquisito durante uma maratona e eu vou quase num transe, bêbeda de alegria por ver o sinal da milha 24, 25 chegar tão rápido. Quando dou por mim estou a correr a leve subida até ao parlamento e chegou a hora de virar em direção ao St James’s Park. Há árvores, está mais escuro, há gente e mais gente a gritar o agora muito real “JÁ ESTÁ QUASE!”. A contagem decrescente nos placards é agora em metros: “600 metres to go!”, “400 metres to go!” – isso é uma pista de atletismo, eu consigo correr isso! – e tornam-se em 365 yards ou que é e eu começo a tentar fazer as contas mas sei lá quanto é que é um yard em metros, quero lá saber, já não estamos a medir em milhas, nem em km, viro a esquina final, é um sprint até à meta, aqui está ela! CHEGUEI! É o the Mall! É o Palácio de Buckingham! As bandeiras gigantes estão desfraldadas, a meta está ali, e eu consegui, EU CONSEGUI, CONSEGUI!!! Perto do meu sonho A, bastante acima do meu objetivo B, sou finalmente uma maratonista sub-4 horas!

Mesmo a chegar à meta, com o palácio em pano de fundo!

Escapa-se-me o habitual gritinho de animal ferido que reservo para as metas, muito prolongado desta vez mas acompanhado de um sorriso gigante, e continuo a caminhar para ir levantar o meu saco, em transe (o mesmo saco que tinha enchido uns dias antes com roupa quentinha, snacks e incertezas sobre o estado em que estaria quando o encontrasse novamente). As minhas pernas estão impossivelmente pesadas, esqueci-me de como se anda, tenho a certeza que tenho uma das unhas do pé a cair e nem acredito que nos obrigam a andar isto tudo para levantar os nossos sacos. Depois do que me parecem vários km (são só umas centenas de metros) chego à área do meu saco e estupidamente levanto o meu dorsal para a senhora conseguir ver o meu número, que não estou capaz de falar. A voluntária dá-me o saco e os parabéns e eu sorrio com esforço e agradeço-lhe. Tudo parece tãããão pesado, continuo a caminhar, é suposto ir esperar ao pé do sinal S mas ele está tão longe, ARGH!, porque é que não me chamo Ana ou assim.

Mas o D. veio à minha procura e de repente oiço o meu nome, vejo a cara familiar sorridente e quando dou por mim estou agarrada a ele aos soluços, a chorar de alívio, orgulho, cansaço, agradecimento, de uma alegria enorme e indescritível. (Mas sem lágrimas porque estou incrivelmente desidratada.) Ele pega no saco super pesado e conduz-me até à relva onde eu me sento a custo. A L. junta-se a nós pouco depois e é tão bom partilhar com eles este momento e esta pedrada tão grande que estou a sentir. Tenho-os como companhia, tenho a minha medalha e, o mais inesperado de tudo, tenho fome! Isto é a melhor notícia e a pedrada sai redobrada – não vai haver estômago lixado durante meses, yay! Embora daqui, fantasmas de maratonas passadas!

Levantada da relva, sem mazelas, com fome e rodeada de amor. Também não entendo a perna levantada à ganso...

As surpresas felizes continuam. Quando me levanto da relva consigo caminhar normalmente outra vez. Como várias refeições no dia da corrida; o meu corpo está a pedir comida! Acordo com uma fome de leoa às 6 da manhã do dia seguinte e tomo dois pequenos-almoços. A fome é mesmo real e para ficar. Sinto-me inesperadamente bem no dia seguinte, só com a fadiga típica do dia após uma corrida longa. Os meus pés estão bem. As minhas pernas estão bem e no dia a seguir à maratona acabo por passar duas horas e meia na fila para gravar a minha medalha (decisão parva mas o que é facto é que quanto mais tempo se passa numa fila menos provável é que a abandonemos). Sinto que podia correr uma corridinha de recuperação ativa no dia seguinte (mas não o faço). Subir os 5 ou 6 lanços de escada até ao meu apartamento não parece que estou a subir o Evereste. Quem diria!

E mentalmente, mentalmente estou ótima. Uma semana depois e ainda sinto a pedrada de maratonista, mas especialmente naqueles dois primeiros dias após eu estava estupidamente feliz. Amo correr, quero continuar a correr, e mal posso esperar por recomeçar a correr. Entrei no sorteio para 2022 e durante toda a semana andei a lutar contra a vontade de voltar a correr. Isto foi o mais inesperado de tudo; não imaginava ter de lutar tanto para me convencer a tirar duas semanas de folga da corrida (o plano ainda é um mês completo e três de folga de treino regular). Há seis anos fiquei mais do que feliz por não ter de pegar em ténis durante mais de nove meses...

A vida sem a maratona de Londres no horizonte é esquisita e um bocadinho vazia também. Só passou uma semana mas passar de um regime de treino quase diário para nenhum treino de todo faz com que pareça que não corro há vidas. O meu corpo não parece que correu uma maratona há uns dias atrás mas eu sei melhor do que deixar-me enganar que ele não está em modo de reparação. A minha mente também precisa de uma pausa, apesar de sentir falta da rotina familiar do treino diário. Portanto agora o que me resta fazer é esperar pacientemente e procurar outra coisa com que me obcecar entretanto. Os meus sonhos são gigantes, a minha vontade e determinação de trabalhar para eles é forte, por isso preciso de paciência. Quero correr para sempre, e isso requer respeito pelo meu corpo e pela sua recuperação após ter estado à altura do desafio que lhe lancei. Mal posso esperar pelo próximo!





S.

4 comentários:

  1. Yey! Finalmente a Rainha Sara correu uma maratona nas suas Terras :) Ainda bem que foi uma experiência tão bem sucedida e que te divertiste. Continuação de boa recuperação e venha o próximo desafio.

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    1. Obrigada gralha, sua inspiradora de wannabe maratonistas! :D Espero que a tua ultra tb tenha corrido bem, e que a recuperação esteja a ser boa x

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  2. tens de mudar o nome para ana sara :D parabéns!!!

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