terça-feira, 19 de junho de 2012

A voz germânica

De há uns meses para cá tenho andado com uma vontade incomodativa e persistente de aprender alemão. É uma espécie de moínha, que está lá sempre no cérebro a aborrecer, que não me traz dramas existenciais mas que incomoda. O que é estúpido, já que a vozinha que me devia andar a moer a cabeça devia ser francófona e não germânica. Ou quando muito flamenga.

Não é que esteja uma falante de francês de alto nível - nem sequer médio, para moderada frustração minha - mas uma vez que convivo com o francês diariamente, acho que tenho a secreta esperança que vá escorrendo qualquer coisa para dentro do meu cérebro (ainda que o francês com o qual convivo se limite na maior parte das vezes a "Bonjour"s e "Bon journé"s). Ainda assim, é inevitável que vá entrando qualquer coisa. Mas seria expectável querer aperfeiçoá-lo, vivendo onde vivo e tendo todas as intenções de ficar indefinidamente.

Mas... Não. Definitivamente a voz que me aborrece e me espicaça a curiosidade neste momento é a alemã. É uma das três línguas de trabalho da União Europeia, verdade, mas não é essa a razão que me faz querer entendê-la. Sei que não é uma língua nada glamourosa ou particularmente atrativa ou sequer fácil (declinações, oh alegria!), e o que está na berra neste momento é ser contra tudo o que é alemão por princípio, mas há qualquer coisa de masoquismo fascinante no alemão falado e escrito que me atrai. Há demasiadas coisas boas escritas em alemão para me parecer uma grande pena não as conseguir apanhar na sua origem, muito pensador germânico fundamental, muita revista interessante, muita cultura e história entre as quais eu e elas existe a barreira aterradora da língua. 

É certo que tive 9 meses de aulas de alemão há dois anos. Envolveu muita paciência, persistência e disciplina (eram aulas através de uma plataforma online do Goethe, tinha exercícios, uma tutora e textos mensais para entregar, fácil de resvalar para a ronha) mas não foi, nem de longe nem de perto, suficiente. Recortei e desenhei objetos em flashcards para aprender vocabulário e os géneros (porque os alemães têm o "neutro", além do feminino e masculino, oh, alegria!...), até comprei um livro de histórias da Disney em alemão para começar a ler! Normalmente só percebia "Bambi", "Simba", "Ariel" mas às vezes, com muito esforço e dicionário ao lado, lá compreendia uma ou outra frase. Ganhava o dia nessas alturas.

Mas infelizmente não consigo manter nem uma simples conversa em alemão, lendo apenas apanho palavras soltas e não entendo alemão falado. E tudo isto me parece um grande desperdício: já que se começou, acabe-se!

Sei perfeitamente o que custa aprender uma língua e chegar a um nível em que nos possamos orgulhar. Sei o ingrediente principal - muita auto-disciplina - e o que é preciso para poder pelo menos chegar um nível aceitável de conhecimento da língua: rodearmo-nos o mais possível dela (ouvir música alemã para afinar o ouvido aos sons guturais, começar a tentar ler livros, de preferência contos infantis ou histórias que se conheça de trás para a frente, ouvir e ver telejornais alemães, os tais flashcards para aprender e treinar vocabulário, etc). Claro que teria de voltar a ter aulas; a língua alemã é-me demasiado desconhecida e gramaticalmente difícil para poder pegar onde a deixei. Mas as aulas não são o suficiente - nunca o foram em nenhuma língua - e daí a importância de todos os outros extras que têm de ser encarados como passatempos e ocupação de tempos livres.

Vou ver até onde vai esta ambição do aprender alemão. Se daqui a umas semanitas a voz germânica continuar a chatear, vou ter de começar a procurar aulas de alemão em Bruxelas (francês? Não... flamengo? Não. É mesmo alemão. Caprichos aleatórios, vá se lá entender...). E tentar arranjar espaço na minha vida para mais uma dedicação.




S.   

2 comentários:

  1. Quando vivi em França ainda tive alemão como 3ª língua viva, na escola ( 1º foi inglês, 2º foi espanhol). Mas foi só por um ano. Não deu para nada.

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  2. compreendo. aprender uma língua até sermos capazes de a falar e ler fluentemente leva anos. uma língua como o alemão, consideravelmente difícil e estranha aos nossos ouvidos latinos deve demorar bastantes anos...

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