- Já sabia que Varsóvia era feia. Já me tinham dito. Que era uma cidade descaracterizada, não necessariamente pobre mas desgastada, sem muitos brilhos anteriores ao século XX. O que não me tinham dito era porquê e quando o descobri fez toda a diferença. Varsóvia é feia graças à determinação dos seus cidadãos: em 1944, após uma revolta da cidade contra o domínio Nazi, Hitler ordenou que a cidade fosse completamente arrasada. E foi. Portanto, a cidade pode não ter a arquitectura grandiosa de séculos passados e a harmonia histórica de outras cidades, mas é bem capaz de ter dos cidadãos mais corajosos da Europa.
- Varsóvia assumiu-se aos meus olhos como uma cidade gigantesca. Depois de visitas recentes a Portos, Yorks, Sintras e a sempre cá Bruxelas, Varsóvia surpreendeu-me com as suas avenidas largas, enormes a perder de vista, que não convidam ao caminhar. Afigurou-se-me como uma cidade de proporções sobre-humanas neste sentido, e por isso não a percorri incessantemente a pé como costumo fazer nos sítios novos onde vou. Mas fico contente por afirmar que o tempo não pesou de todo nesta decisão já que apanhei uns incaracterísticos 18º de máxima em finais de outubro e um sol radioso nos dois dias.
- Como é possível ser a mesma hora que em Bruxelas?! É tão mais para leste. E como é possível que a Galiza e Varsóvia partilhem o mesmo fuso horário? Houve aqui qualquer coisa que escapou ao pessoal que decide que horas são onde.
- Já suspeitava porque já tinha presenciado isto em várias ocasiões no meu trabalho mas reafirmei a noção de que o alemão é uma língua fundamental europeia. Os polacos falam-na facilmente, muitos bem mais facilmente que o inglês, ainda que este não seja nenhum problema nas lojas e cafés da cidade. Não há nada melhor para eu dar valor à minha ainda principiante aprendizagem do alemão do que passar horas a ouvir muito polaco à minha volta em contexto de trabalho e de repente respirar profundamente de alívio porque duas pessoas ao meu lado estão a conversar em alemão. Uma reação muito desesperada de "olha, desta percebo um bocadinho! :')".
- No final, a impressão com que fico é a de que a Polónia é um país grande em muitos sentidos. Eles estão numa fase muito interessante de expandir as suas medidas, quase como de cumprir o seu destino, e isso é uma coisa que Varsóvia transpira. Estão a esforçar-se muito, querem mesmo muito pertencer ao clube dos grandes - como aliás lhes é merecido pela grandeza populacional, geográfica e histórica do seu país - e vão chegar lá não tarda muito. Foi só um país muito maltratado pela História e que está agora a preencher a sua forma.
- Foi a primeira vez em muitos anos que estive numa cidade onde não falava nem entendia de todo a língua e confesso que estava nervosa. Tive também uma preguiça enorme em preparar o que quer que fosse que se parecesse com um plano de visita e isto, por ser tão incaracterístico meu, impressionou-me. Tal coisa aliada a alguns azares turísticos, à mudança de hora e a uma estadia curtinha fez com que Varsóvia ficasse pois extremamente mal explorada.
- Eu digo se depois de lá ir em janeiro, em pleno inverno europeu continental, continuarei com as minhas primeiras impressões intactas ou se alguns palavrões se juntarão à próxima análise.
S.
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