domingo, 7 de setembro de 2014

Divórcio britânico iminente

 
E não é que, vai-se a ver, e a Escócia está prontinha a abandonar o Reino Unido?
 
Durante meses e meses as sondagens davam uma distância confortável entre o não e o sim para que houvesse prospetiva realista de uma rotura na união constitucional com mais de 300 anos. A campanha do não, o Better Together, fez trapalhada atrás de trapalhada - o conlúdio dos três principais partidos na recusa terminante de uma união monetária que cheirou aos escoceses como bullying, e o mais recente anúncio sexista e condescente a apelar ao voto das mulheres foram só dois exemplos - mas ainda assim o não mantinha-se confortavelmente à frente do sim nas sondagens. Até eu, entusiasta exterior em todo este processo de independência, já tinha os ânimos mais refreados por ver que o não estava mais do que ganho.
 
Agora, a 11 dias do referendo, aparece a notícia bombástica de que o sim está na liderança pela primeira vez desde que a campanha começou. Já andam os políticos todos em Westminster com as mãos na cabeça, ai ai ai, que temos 10 dias para salvar a união. Pois.
 
Os 51%-49% em favor do sim não têm em consideração os indecisos, pelo que está tudo em aberto e não há certeza absolutamente nenhuma sobre o que irá acontecer dia 18 de setembro. Mas o não há um mês tinha uns 14 pontos percentuais de diferença do sim... Quer dizer, parecer que as pessoas estão a mudar de ideias em massa, e os indecisos a converterem-se ao sim. (Segundo a mesma sondagem do YouGov, incluindo os indecisos ou os que não irão votar, os resultados seriam 47%-45% para o sim.)
 
A campanha do não já anunciou que nos próximos dias vai apresentar uma proposta monumental para conferir novos poderes à Escócia caso esta decida se manter na união, que incluirá poder de decisão sobre o orçamento e impostos, no que é habitualmente referido como devolution-max. E que estes poderes serão discutidos também com os outros dois países do Reino Unido: Irlanda do Norte e País de Gales, não vão eles meter-se com ideias no futuro próximo. Ou seja, seja como for que os escoceses votem, parece que o status quo não se manterá. Agora é uma questão de saber se o último trunfo na manga dos unionistas convencerá os escoceses ou será mais um tiro na culatra da campanha pelo não.
 
E eu estou em pulgas com isto tudo porque dia 18 já vou estar em solo britânico, vou poder acompanhar um país inteiro a tremer de nervoso pelo seu futuro. E quem sabe receber a notícia que afinal o meu novo país hospedeiro terá menos 78387 km² do que eu esperava.     








S.

2 comentários:

  1. Eu se pudesse votar tal como sou (não escocesa) votaria sim sem hesitar. É uma coisa muito egoísta mas adoraria ver o processo de independência a desenrolar-se e os britânicos a fazerem um exame de consciência sobre o futuro de um Reino Unido cada vez mais diminuto e isolado. Sendo escocesa, já pensaria duas vezes. Acho que, não obstante o sentimento de nacionalismo, os escoceses escolherem a independência é de uma coragem incrível, face a tantas incertezas sobre o futuro desse país (se podem ficar na UE, se podem manter a libra, se terão que arcar com parte da dívida pública do UK...)

    ResponderEliminar