sexta-feira, 20 de abril de 2012

David e Golias

Bruxelas é uma cidade difícil de nos cativar. Ainda não me apaixonei por ela e, tendo em conta que já lá vão dois meses, não sei se isso irá acontecer.

Porque o mundo é pequeno e as coincidências abundam na vida, acabei por partilhar o escritório com uma colega de curso da King's aqui no Parlamento. Gosto destas continuações, destas réstias de velhas vidas que permanecem connosco numa vida nova. É uma sensação reconfortante ter alguém que nos conhece de antes e que partilha connosco uma nova aventura, que nos ajuda a fazer comparações com o anterior e que nos serve um pouco como régua para medir o novo.

Claro que nas nossas conversas diárias abundam as comparações e as referências a Londres. Era inevitável. Já se tornou mesmo um cliché o nosso Brussels-bashing, um entusiasmo negativo pela nossa nova cidade adotiva.

Desde que deixei a cidade inglesa que eu sabia que para qualquer sítio onde eu me mudasse as comparações seriam inevitáveis. Com Lisboa fui branda e condescendente - pouco me poderia surpreender, afinal. Mas com Bruxelas eu sabia que iria ser implacável. E não falhei na previsão.

É difícil amar-se Bruxelas. A cidade é pequena. Não é particularmente atrativa ou bonita. Os seus sítios de interesse estão espalhados no espaço. O seu caráter particular ainda não o consegui descortinar. Semi-hiberna aos fins-de-semana. 

Tem coisas que admiro e das quais a possibilidade de viver no centro é a mais notória. Dá-me a possibilidade de me deslocar a pé para o trabalho, o supermercado, a lavandaria, as ruas comerciais principais e bares noturnos, coisa impossível em Londres. 

Mas esta pequenez geográfica acarreta com ela a escassez de coisas para ver, fazer, visitar. A artificialidade deste país, onde valões vivem lado a lado com flamengos sem necessidade de se entenderem uns aos outros, torna extremamente difícil sentir o caráter do povo belga e da sua capital.

Em compensação existem as instituições europeias, qual colmeia gigante em torno da qual zumbem diferentes vozes, linguagens, nacionalidades e espíritos. Aqui as expressões "multiculturalismo", "multilinguismo" e "diversidade" ganham uma conotação plena. E a palavra EUROPA também. Porque existe uma qualquer semelhança entre toda esta gente, há um fio condutor que (n)os liga a todos, que apesar de diversos partilham o mesmo núcleo e os mesmos valores básicos. Como uma família, vá.

Brussels-bashing não é algo limitado às minhas conversas com a M. Expandimos a novos conhecimentos, a pessoas que como nós estão aqui há pouco tempo e temporariamente. E porque as perguntas de circunstância "Estás a gostar de Bruxelas?" ou "O que é que estás a planear para o fim-de-semana?" são frequentes quebra-gelos, como é óbvio. 

Quem vive aqui há mais tempo, durante os nossos almoços de amigos na cantina, recomenda paciência. "Dá-lhe mais uns meses", dizem eles. "A cidade vai acabar por te conquistar." Eu torço o nariz e vejo a mesma reação espelhada na cara familiar à minha frente. Mas porque desconheço a minha vida para além de julho, continuo a dar o benefício da dúvida à cidade.







S.

2 comentários:

  1. Eu estou ca desde Marco 2011 e creio que nunca irei gostar da cidade, demasiado pequena, demasiado suja, demasiada gente estranha. Ja para nao falar do tempo.....! O melhor de tudo e' a localizacao, em 2h poes-te em qualquer lado e isso e' bom.

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  2. Um ano depois de ter escrito este post - exatamente um ano, que giro! - continuo com a mesma opinião, sim. Não consigo gostar de Bruxelas. Gosto do meu trabalho, gosto da zona onde vivo, gosto de me deslocar a pé para todo o lado, mas não é cidade que me vá deixar saudades um dia que daqui saia. É exatamente isso: "demasiado pequena, demasiado suja, demasiada gente estranha". E não tem história nem identidade. Isso é uma coisa que se sente mesmo muito, faz com que pareça uma cidade artificial.

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