Nunca pensei vir a dizer isto mas, tenho poucos transportes na minha vida. A sério. Isto de ter o trabalho perto de casa é muito bonito mas uma pessoa fica sem tempo para pensar na vida. E só percebi isto quando viajei da última vez. Levava o livro do momento do estudo, como uma menina bonita, mas não lhe li nem uma linha, apesar de ter gastado várias horas em avião e em comboio. Mas não as posso gastar a ler! Foi o que eu percebi. São-me mais úteis para pensar na vida.
E o que eu gosto de pensar na vida!... Não há nada melhor do que longos commutings para pensar na vida. Tenho minhas maiores epifanias e tomo as melhores decisões de mudança de vida em viagens longas (e quando estou mesmo a adormecer, também). Só que ultimamente é só bicicleta e caminhar, bicicleta e caminhar. Às vezes lá pego o metro ou o tram mas é sempre por menos de 10 minutos, nunca dá tempo de refletir. Na bicicleta vai-se concentrada no esforço, na adrenalina, nos carros (convém), no caminho. A andar também tem que se ir com alguma atenção - se bem que já dá para pensar um bocadinho na vida. Mas dou por mim e já cheguei a casa. No meio de coisitas que se inventa sempre para fazer, internet, livros, etc acaba-se o attention span para pensar na vida.
Isto para dizer que nunca, nunca, nunca o ser humano consegue achar uma situação perfeita e sentir-se plenamente satisfeito. Mete um bocado de raiva.
S.
:)))
ResponderEliminareu quando andei o ano passado a fazer uma pós-graduação e ia às sextas à noite de lisboa para coimbra, para ter aulas ao sábado, sentia isso mesmo: ali naqueles 120 minutos de comboio, o meu bano era só meu, ninguém me chateava e não me apetecia ler: só olhar os postes de electricidade lá fora e fazer isso "pensar na vida".
O "pensar na vida" anda subvalorizado. Tem-se cada vez mais a necessidade de estar/parecer ocupado com qualquer coisa a todo o minuto, como se estar sossegado durante um bocado fosse sinónimo de desperdício de tempo.
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