Acabei por vir passar parte do meu a Portugal.
Não sou pessoa saudosista - tampouco do meu país natal - mas após conseguir a segurança de emprego a partir da rentrée, agosto transformou-se realmente em férias. Com Oostende riscado da lista de possíveis destinos balneares, e com todos os outros sítios soalheiros a mais de 300 euros de distância, Portugal tornou-se o destino óbvio: sol e família, mata-se dois coelhos de uma cajadada.
Cinco meses é tempo demasiado escasso para sentir saudades de qualquer sítio daqui. Mas é bom rever a família, ter sol certo, banhar no mar algarvio, pisar areia, abraçar o meu cão. Vista daqui, Bruxelas parece um sonho longínquo; as impressões destes cinco últimos meses parecem mesmo desvanecer-se em fragmentos. Estranho, isto da memória.
Nunca estive mais de seis meses sem regressar à base. Não sei se é saudável, emigração assim. Parece que uma pessoa fica com a vida dividida, ainda que queira assentar definitivamente no país que a acolheu (como é o caso). Mas a pouca distância e a facilidade de transporte de hoje em dia torna impensável estar quatro, cinco, dez, vinte anos sem pisar solo natal. O que não decidi se é uma coisa boa ou má.
Os ingleses tem uma boa expressão para este tipo de emigração: não se chamam e/imigrantes, mas sim expats. O que é uma palavra fina que substitui a conotação negativa que às vezes está associada aos imigrantes. Expat é aquele que está temporariamente noutro país, vive e trabalha lá, mas quase por acaso, nunca por necessidade, não, isso é coisa de e/imigrante, que horror. Mas expat é uma palavra que, sendo dissecada, não quer dizer nada. Ou está mal empregue, semanticamente, no que é empregue. Expat é uma pessoa expatriada, renegada pela sua pátria, que não é de lado nenhum. Será que quem se considera expat tem a consciente noção do pesado significado da palavra?
Eu não faço ideia por onde o meu futuro vai passar. Já tive a mania que sabia, e dei-me mal com o que o destino tinha reservado para mim. Deixei de ter essa presunção. Sei, no médio-prazo, onde vou estar, mas não por quanto tempo. É facto que, com um emprego para cada um, a certeza de ficarmos na Bélgica mais definitivamente é maior, e já nos aventurámos a ter coisas impensáveis há um ou dois meses, tão simples mas tão longo-prazo como uma ligação à internet com contrato de um ano. Ainda assim, deslocações ao Ikea é coisa que não nos passa pela cabeça, e qualquer pensamento de decoração é demasiado risível e duradouro para ser levado a cabo. A casa continua temporária, e, sinceramente, não sei reconhecer o clique que dirá irrevocavelmente: "Esta será a nossa casa". Como quem diz, "para sempre".
Abrigo o não tão secreto desejo de voltar a Inglaterra como residente, um dia, quem sabe, que eu não. Mas por enquanto estamos noutra. Relembro sempre a resposta que as pessoas do Portugueses pelo Mundo dão no fim de cada programa, quando inquiridas sobre a intenção de voltar a Portugal: "por enquanto não; er, um dia, talvez, quem sabe; mas por enquanto não tenho esse desejo nem essa intenção". É um bocado isso, é.
S.
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