Hoje no meu role de notícias do Reader apareceu que a revista Spare Rib ia voltar. Nem li mais que o título porque nunca tinha sequer ouvido falar de tal revista, portanto que me interessava o seu regresso. Mas por um acaso qualquer li novamente na BBC a mesma notícia e a curiosidade foi espicaçada. Decidi ir ver que revista afinal era aquela que estava a merecer tanta cobertura mediática pelo seu regresso.
Meu deus, não podia ter acertado mais na muche. A Spare Rib é uma revista feminista - e, pelo que já li, é talvez A revista feminista - nascida das entranhas da 2ª vaga de feminismo dos anos 60-70, aquela que reivindicou a liberdade sexual e reprodutiva da mulher, igual salário, etc, e que vai voltar. E quanto mais leio sobre o tom da revista, das suas criadoras, dos tópicos exibidos nas suas capas de décadas anteriores, mais eufórica fico porque uma coisa destas é uma lufada de ar fresco nos stands revisteiros dessas tabacarias da Europa.
À medida que ia lendo o artigo sobre o regresso da revista, ia apreciando cada vez mais este projeto. A sua futura mentora, a jornalista Charlotte Raven, Ela diz que a ideia não é criar uma revista ultra-especializada que apele a um nicho de mercado muito restrito, mas sim uma coisa que entre pelas portas dos supermercados adentro e se pouse confortavelmente ao lado de Cosmos e afins. Ela diz que a "SR will revive the spirited and soulful vision of feminism that SR once embodied not the timid liberal one that dominates the mainstream media." Gosto muito. O feminismo, acrescento eu, não tem que ser apologetical, é bom que bata o pé com força pois só assim consegue competir com as mensagens omnipresentes dessas Vogues, Happy Womans e afins.
Não consigo evitar uma comparação com o Private Eye, uma revista britânica que satiriza o mundo da política, alta-finança, etc, através de caricaturas e artigos profundamente sarcásticos. Mas que, segundo a Charlotte Raven, é demasiado "boys' club". A Spare Rib será bem mais "girls' club". Mas girls' club no sentido (e parafraseando a jornalista) em que vai é dar dicas para as mulheres manterem as amigas num mundo que as empurra constantemente para "bitch fests" e "catfights", em vez de incluir as últimas receitas de cupcakes.
No fundo, e se as capas da edição anterior forem indicação, a Spare Rib vai ser uma revista sobre todos os assuntos, e aqui friso muito especialmente política, mas incluindo também cultura, literatura, humor, etc, que possam interessar à mulher. Ora, isto é coisa que eu nunca vi. Uma revista direcionada para um público feminino tratando os seus membros como se tivessem cérebros? :o Que choque!
Para dar alguns exemplos do tipo de assuntos que é expectável que a revista inclua, aqui ficam algumas das capas da antiga edição que eu achei mais interessantes:
Gosto mesmo, mesmo muito.
Estou curiosa sobre o tipo de assuntos que serão incluídos desta vez, mais de 20 anos depois de a revista ter fechado. Se continuar pela mesma linha, terá a minha atenção completa.
S.
P.S. Acho a escolha do título - que se deve às autoras originais - particularmente brilhante. Spare rib, a costela que o Adão tinha a mais e a partir da qual deus criou a mulher (deus tão querido, até na sua existência fez a mulher subordinada ao homem). E trocadilho com a receita do spare ribs. Faxavór de atirar aos transeuntes mais espirituosidade dessas bancas de jornais britânicas.
"Uma revista direcionada para um público feminino tratando os seus membros como se tivessem cérebros? :o Que choque!"
ResponderEliminarindeed!!!
O que tens a dizer sobre isto? http://www.uproxx.com/tv/2013/05/so-called-most-sexist-show-in-history-blachman-involves-two-men-critiquing-naked-women/ (o programa em si)
ResponderEliminarBom-vinda Dana. Esse programa é o epítome da objetificação da mulher. Não sei se é o programa mais sexista do mundo - acho mais preocupante a objetificação da mulher através da violência que é feita em certos anúncios, por exemplo - mas merece toda a indignação e revolta que parece que já suscitou. E surpreende-me por vir da Dinamarca, um dos países muitas vezes tidos como mais avançados em termos de igualdade de género.
ResponderEliminarAssim de repente faz-me também lembrar o "corte-e-costura" que as mulheres tantas vezes fazem umas às outras. E essas conseguem frequentemente ser mais impiedosas que os homens. Que é magra, que é gorda, que é mal-feita, que tem ancas largas, que tem mamas grandes, que tem mamas pequenas. O corpo feminino parece que é domínio público e toda a gente tem direito a opinar, seja o opinador mulher seja homem. É preciso grande dose de auto-estima para ser uma mulher de mente sã neste mundo.
Mas só há programa porque as mulheres se dispõem a isso... Não achas que isto quer dizer alguma coisa? O que é que achas que as leva a fazer uma coisa destas?
ResponderEliminarSinceramente não sei. Suspeito que seja um misto de necessidade enorme de aprovação e afirmação e uma vontade de ser famosa a qualquer custo. Mas isto não é nada de novo, os concorrentes de tantos reality shows têm estas mesmas características. Agora, isto não tira o valor às críticas legítimas que estão a ser feitas aos produtores/canal de televisão. Escolheram investir recursos, tempo e dinheiro numa atividade que degrada mulheres, mesmo que com o consentimento destas.
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