terça-feira, 9 de abril de 2013

Pas de chá

Ando um bocado tristonha. Há largos meses que não encontro um chá bom.

Não é por falta de tentativas. Bebe-se chá como se fosse café nesta casa e a caixa tem que ser frequentemente guarnecida com novas variedades. Só que não acerto em boas.

Experimentei uma loja de chás do Dolce Vita, experimentei a roulotte do mercado ali da Flagey, experimentei a casa de chá aqui do bairro, experimentei até o supermercado. Nada me encanta, nada me traz novidade nem maravilha às papilas gustativas.

Estou um bocado triste.

Acho que me tenho que virar para os chás brancos. Em fevereiro apresentaram-me a um chá branco de baunilha no Chiado e é a única boa memória chá-eira recente que tenho.

Gostava que houvesse um Goodreads para o chá, e que aquilo do Google Nose não tivesse sido só uma partida do Dia das Mentiras. Passaria o dia inteiro nessa rede social, a espetar o nariz contra o ecrã do telemóvel e a magicar qual o cheiro de chá que me pareceria guardar maior potencial. Não havendo tal coisa, faço um apelo sentido: alguém tem recomendações de chás bons? Esta busca infrutífera está a dar cabo de mim.





S.

9 comentários:

  1. é mais fácil começarmos por que tipo/variedade de chás costumas/costumam beber?
    A misturas de baunilhas e aromas e assim eu passo, vario muito pouco e ando permanetemente nos clássicos. darjeeling, a mistura conhecida por "breakfast" (a do continente em latinha até é bastante boa mas duvido q aí em bruxelas a encontres), earl grey, e tb n desgosto de brancos embora não os tenha explorado muito. Ainda há lapsang souchong tb é bastante bom, mas tem um sabor algo "fumado". infusões tb entram? menta, lúcia lima, erva de são roberto.
    diz que este senhores: http://www.mariagefreres.com/ são muito conhecidos e boa relação qualidade preço mas sinceramente não sei.

    e o falecimento da M. thatcher? q diz o teu lado feminista? ;-)
    e depois se quiseres ainda há este artigo (como amostra de mais uns 30 mil do mesmo estilo) para se debater:
    http://www.thefword.org.uk/blog/2013/04/was_margaret_th


    (quanto aos media e publicidade, deixo a discussão para depois.)

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  2. Os clássicos não têm nada que enganar, de facto, e aqui há bastante variedade de clássicos Twinings nos supermercados. Esse do English Breakfast do Continente já provei e fiquei espantada com a qualidade, já que o preço foi muito baixo (3 euros e pouco se não me engano). O Lapsang tenho-o cá mas é um bocado forte, tem que se ir intervalando. Talvez vá mesmo para os brancos.

    Quanto à Thatcher, infelizmente conheço pouco das políticas dela para poder dar a minha opinião como deve ser. Sei o que toda a gente sabe, pouco mais. E realmente li esse artigo da F-Word e, no meio de tanta coisa irada que tenho visto por aí, pareceu-me o mais esclarecedor. Mostra que a máxima mulheres-no-poder nem sempre é tão diretamente benéfica para as mulheres quanto seria desejável...

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  3. "Mostra que a máxima mulheres-no-poder nem sempre é tão diretamente benéfica para as mulheres quanto seria desejável..."
    mas pq é q haveria de ser? se o objectivo é a igualdade, então pq é que ela tinha de se preocupar particularmente com britânicos com vaginas em vez de se preocupar com britânicos no geral? Ela preocupou-se em fazer o que achava q tinha de ser feito para mudar a sociedade para algo que ela considerava mais sustentável, não em servir de trampolim ou "puxa-carroça" para todas as outras mulheres..
    sinceramente apesar de admirar bastante a senhora (pela atitude liberal económica naqueles tempos e pelo monumental par de "balls" de enfrentar tudo o que ela enfrentou) não conheço assim tanto os pormenores da história de como chegou ao poder mas o que entendi é que essencialmente, se tinhas poder/peso político ela tentava cortejar-te ou destruir-te. se não o tinhas amigos como dantes mas não contes com um lugar nas suas hostes cimeiras.. creio que aí muito poucas mulheres contavam, não era embirração dela particular..

    o artigo do f-word para mim foi esclarecedor por 2 motivos: primeiro pq assume claramente q o "feminismo" tal como ela(s) o entendem não é apenas uma ideologia de equidade legal e no tratamento mas uma qq ideologia política anti-sistema revolucionária. E segundo q ela admite q essencialmente aquilo é uma cena para "todas as mulheres" e tem de de ser efectuado apenas "qnd beneficia todas as mulheres e acima de tudo as mulheres".. ou seja, n interessa se és mulher e ages indivualmente e em "igualdade" nops, tens de trazer todo o "gineceu" atrás e trabalhar apenas para elas. (isto nos homens n seria considerado sexismo?) Supreendente como não têm mais peso politico...

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  4. Não, Thatcher não tinha que ter só governado para mulheres. Mas considerando que fez uma guerra para "salvar" umas centenas de britânicos que vivem do outro lado do mundo, podia ter feito algo mais substancial por metade da população britânica. O facto de ser mulher tornava apenas expectável que tivesse uma sensibilidade maior em questões que tocam às mulheres (por exemplo, em financiar creches que permitam que as mulheres possam efetivamente trabalhar e ser independentes economicamente). Pelo artigo, ficamos a perceber que não só ela não tinha essa sensibilidade como tomou medidas que prejudicaram muitas mulheres, ao, por exemplo não acreditar que o estado é que tinha que financiar creches. Mas sendo ela a mãe do neo-liberalismo, como muitos a chamam, o facto de não defender isso torna-a coerente, não se poderia esperar muito mais.

    Ela subiu e vingou num mundo de homens, seguindo as regras deles. Provavelmente isso ainda fez esbater mais a sua identificação com o resto das mulheres, e pensar - como pensava - que o feminismo já não fazia sentido, numa de "se eu consigo vocês também conseguem". E isto faz-me lembrar uma coisa que a Beauvoir diz no 2º Sexo que é qualquer do género: as mulheres sempre foram o grupo/classe que menos se conseguiu organizar/identificar enquanto tal. Diz ela que frequentemente as mulheres identificam-se mais com os homens da sua classe social do que com mulheres que vivem em condições diferentes de elas próprias. Talvez Thatcher seja um exemplo deste fenómeno.

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  5. " O facto de ser mulher tornava apenas expectável que tivesse uma sensibilidade maior em questões que tocam às mulheres (por exemplo, em financiar creches que permitam que as mulheres possam efetivamente trabalhar e ser independentes economicamente)."... " não acreditar que o estado é que tinha que financiar creches."

    Repara que passaste de um ponto/filosofia onde supostamente se lutava apenas pela igualdade perante a lei para as mulheres, para uma filosofia/movimento político que assume apenas uma única resposta política. Se o feminismo obriga a que o estado pague creche então já não trata apenas da igualdade entre sexos mas sim de uma resposta política à questão económica da sociedade.

    O lberalismo acha que a população fica melhor servida se ficar com o seu €€ no seu bolso do que entregar esse €€ sob a forma de impostos ao estado para o estado lhe providenciar serviços. (a rede de serviços sociais assistenciais para uma fracção da população é ponto de distinção entre várias correntes do liberalismo) O governo desmantelar ou não a rede de creches, na pior das hípoteses e assumindo q era uma má medida per si, não prejudicava apenas a mulher mas a família no seu todo.

    "Ela subiu e vingou num mundo de homens, seguindo as regras deles."
    humm.. por regras de homens queres dizer regras lógicas, racionais, pragmáticas? :P (dsclp, esta n podia deixar passar!)
    mas q raio de regras querias tu q ela seguisse na política senão as regras em "vigor"? e q regras diferentes seriam essaas regras políticas de "mulheres"? Não haveria eleições, facções, lutas pelo poder?

    "Diz ela que frequentemente as mulheres identificam-se mais com os homens da sua classe social do que com mulheres que vivem em condições diferentes de elas próprias. "
    esta é a parte em que eu desespero.. Hás de mostrar esses homens mitológicos que se identificam mais como homens e com os outros homens do com os restantes membros da sua "classe" sócio-económico-cultural. Juro q nunca os vi e sempre me identifiquei mais com os restantes membros da minha class sócio-cultural (homens ou mulheres) do que com os outros homens com quem não tenho rigorosamente nada a ver. Na "melhor" das hipóteses, assumo que esse camaraderismo exista no serviço militar mas mesmo aí a classe cultural e formação académica garante-te à partida uma segmentação entre oficiais e praças.

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  6. (1/2)

    Fico contente que tenha colocado a questão sobre a igualdade perante a lei/resposta económica porque esse ponto central na discussão sobre o feminismo e a razão por que muita gente diz que não é feminista (incluindo mulheres). Diz que eu passei de uma questão legal/filosófica para uma questão política/económica. Não, não. O que se passa é que nós estamos a falar de coisas diferentes. O LJ, já percebi é liberal, economicamente e presumo culturalmente. O liberalismo acredita exatamente na igualdade de todos perante a lei, incluindo mulheres, claro está. Mas o feminismo não defende somente a igualdade de homens e mulheres perante a lei; se defendesse não precisava de existir, o liberalismo defenderia isso por ele.

    O que o feminismo faz é defender também a igualdade de oportunidades entre os dois sexos. Reconhece que homens e mulheres, devido à forma como a sociedade está montada (feita por homens e para homens, e já lá vou às regras) não têm oportunidades iguais. As mulheres estão em desvantagem. Isso é fácil de ver: pelo percentagem tão elevada de mulheres que ainda são vítimas de violência doméstica e sexual, pelo facto de ganharem 17% menos de salário em média que os homens, pela percentagem tão baixa de mulheres no Parlamento, no governo, nos quadros das empresas, nos tribunais, etc, e também por questões mais culturais e mais difíceis de quantificar como a sua representação nos media, publicidade, etc. Em suma, as oportunidades são iguais na teoria mas na prática não. E vou lhe dar um exemplo muito concreto, continuando com a história das creches.

    Porque as mulheres continuam a ser as principais cuidadoras de filhos, quem falta ao trabalho para ir com eles ao médico, e quem fica com eles em casa quando não há avó ou tia por perto. Por isto a mulher tem uma desvantagem que o homem não tem: escolher entre família ou carreira. Ou tem uma ou tem outra, não há hipótese. O número de mulheres empregadas depois do nascimento do primeiro filho desce em comparação com as que não tem nenhum; no caso dos homens, sobe (tinha os valores na minha tese mas não me apetece ir buscá-los; facilmente os encontra no Eurostat). Ou seja, na teoria, a mulher tem as mesmas oportunidades de carreira do que o homem, na prática não tem porque será forçada a escolher entre filhos ou trabalho num ponto qualquer da vida.

    (continua)

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  7. (2/2)

    Poucas pessoas chegam a casa antes das 20h da noite e muitas saem antes das 8 da manhã. A maneira como o mercado de trabalho está montado - e como a sociedade está organizada no geral - é ainda sobre as premissas do homem ganha-pão, mulher dona-de-casa. Quando passa haver homem ganha-pão, mulher ganha-pão, torna-se incomportável porque quem fica com os miúdos? O mercado de trabalho assenta sobre regras dos homens, no sentido em que estes não tinham responsabilidades em casa e podem cumprir horários incrivelmente longos. Repare que a Thatcher era a própria a dizer que só dormia 4 horas por noite. Pois, remédio. As responsabilidades e o trabalho de primeiro-ministro não eram (nem são) compatíveis com vida de mãe. Se bem que ela devia ter quem cuidasse dos filhos, mas isso é outra história.

    É por isso que para mim a questão das creches é fundamental nisto do feminismo. Só havendo maneira de as mães terem um sítio onde por os filhos as pode deixar continuar a ter uma carreira se assim o desejarem. E têm que ser grátis ou, na pior das hipóteses, pagas consoante o rendimento da pessoa (aka financiadas pelo Estado). Só servem o seu propósito, senão as mulheres mais pobres saem prejudicadas na mesma.

    Ou isto ou trazer os homens para dentro de casa. Haver uma partilha perfeita nas tarefas domésticas. Daí a história da licença parental.

    A resposta já vai longa por isso fico-me por aqui. Eu sei que fundamentalmente isto é uma questão de ideologia. O feminismo, se pretende igualdade a sério tem obrigatoriamente que enveredar por questões políticas e económicas. De que outra forma é que se muda o mundo? Mas tal como o LJ disse que há divergências dentro do liberalismo, também há dentro do feminismo, claro. Até há as vertentes "feminismo liberal", "feminismo marxista", "feminismo radical". Eu dei-lhe a que para mim me faz mais sentido.

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  8. [1/2]

    " O liberalismo acredita exatamente na igualdade de todos perante a lei, incluindo mulheres, claro está. Mas o feminismo não defende somente a igualdade de homens e mulheres perante a lei; se defendesse não precisava de existir, o liberalismo defenderia isso por ele."

    :) eu próprio não o teria dito melhor! e sim, é exactamente isso.. a igualdade deve estar "a priori" nas restrições impostas/oportunidades, não no resultado.

    " As mulheres estão em desvantagem. Isso é fácil de ver: pelo percentagem tão elevada de mulheres que ainda são vítimas de violência doméstica e sexual, pelo facto de ganharem 17% menos de salário em média que os homens, pela percentagem tão baixa de mulheres no Parlamento, no governo, nos quadros das empresas, nos tribunais, etc, e também por questões mais culturais e mais difíceis de quantificar como a sua representação nos media, publicidade, etc. "

    Há aí uma salganhada de coisas que não ajuda em nada o argumento. Há violência sexual muita sobre as mulheres, tal como existe muita violência sexual sobre homens mesmo q estes não apresentem queixa ou haja "marcas visiveis". existe também violência de estado e de grupo sobre os homens espcificamente mas esta nunca é contemplada: ainda há uns dias no meu blog podes ver um excerto de um comunicado da casa branca onde basicamente o critério para serem alvejados/destruídos pessoas numa determinada zona eram serem "male and older than 16". Não vou discordar de ti que violência doméstica é obviamente um problema. Não acho é que daí siga logica e automaticamente qq desvantagem política e/ou laboral. Esse argumento tem de ser um bocadinho mais construído para ser aplicado.

    De igual modo, a baixa percentagem de mulheres no parlamento/governo/lugares de poder, poderá indicar que houve uma desigualdade histórica. Concordo contigo aí. Mas as medidas q estão a ser aplicadas *agora*, não vão resolver essa desigualdade no passado, apenas trazem mais desigualdade para o presente. Que as oportunidades não foram iguais *antes* não implica que as oportunidades não sejam iguais *agora*! As coisas demoram tempo a acontecer.

    (quanto à diferença salarial, essa discussão dava pano para mangas, guardamos para outro post/comentário)

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  9. 2/2


    agora respectivamente à questão de escolher entre filhos e carreira, é óbvio q o peso da reprodução "caí" sobre vocês. É um facto da natureza, não é algo que se possa reclamar para mudar... obviamente que a carreira fica em "hold" se tens de passar entre 6 a 12 meses incapacitada com gravidez e amamentação inicial. Essa "escolha" terá de recair sempre *mais* sobre vocês pelo simples facto de que nós não podemos ter esse privilégio/peso mesmo que quiséssemos... E realmente aí a situação não é igual, indepentemente da lei. Mas quais são as medidas legais que podes tomar para compensar isso?


    agora quanto à solução prática/política para compensar alguns efeitos da conciliação vida familia, estás a cair numa "armadilha" ideológica do "movimento". Existe *quase* sempre mais do que uma solução para o mesmo problema. Uma solução é teres mais creches. Outra é promoveres o part-time e a flexibilização laboral! A minha mãe por exemplo passou uma boa década enquanto os meus irmãos mais velhos eram pequenos a trablhar em part-time. trabalhava enquanto eles estavam na escola, ia para casa quando eles saiam. Esta é *uma* solução, não *a* solução por que essa depende sempre de uma concepção política e social da sociddade.

    Amarrar o femininismo, e tratá-lo como "o único feminismo" a um destes lados apenas conssegue hostilizar e excluir todos os que discordam desse respectivo lado. é um pouco como o ambientalismo q eu infelizmente foi tratado durante décadas como uma coisa de esquerda.Foi apenas a partir de quando se passou a tratá-lo como um problema mainstream, com soluções à esquerda e à direita que se obteve resultados.

    E voltando às creches, a solução de esquerda é ter creches do estado. Uma solução à direita é apenas promover o mercado de creches. Uma solução social-democrata liberal por exemplo é financiar apenas o co-pagamento de creches privadas às familias que necessitem de ajuda. Em todas estas o teu problema "femininista" (mas q na prática é um problema familiar) seria de algum modo resolvido, mas a concepção política por detrás varia.

    O teu paragráfo final é muito interessante. e marca precisamente a dicotomia que acho q tem sido evitada. Para obter "igualdade a sério" o feminismo tem de enveredar por questões políticas e económicas. Certo. Mas ao enveredar por essas questões terá necessariamente de se misturar e ponderar e adoptar outros restrições/soluções/situações/realidades tanto que a páginas tantas não será mais o "feminismo" militante q agora conhecemos. Ao entrar num movimento político não se pode esperar serem os únicos a impor a agenda, haverá outras ponderações/problemáticas/actores a agirem, e o feminismo e as questões feministas serão diluídas numa filosofia política mais abrangente.

    Pessoalmente acho isso benéfico. E acho até que já aconteceu há muito, quando os partidos "centrais" adoptaram e chamaram a si as mulheres e as suas problemáticas e as transforaram em problemas de família e sociais. E isso pode-se ver de algum modo quando uma boa parte da maioria de mulheres e homens rejeita o epíteto de feminista. O que acho interessante é que as "margens" do movimento que ainda subsistem não o perceberam que o #tempo# já passou por aqui.

    E daí as contra-reacções ao feminismo que surgem ultimamente, inclusive os "Men's rights activists". Eu próprio nunca perdi muito tempo a ponderar sobre a actualidade do "feminismo" excepto nos últimos anos quando encontrei mais e mais situações absurdas e descricionárias que me chamaram a atenção.

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