Para quebrar o meu ciclo de conferências/reuniões/pesquisa/trabalho sobre temas relacionados com igualdade de género, lá fui eu hoje assistir a uma reunião sobre separação entre Estado (neste caso, União Europeia) e religião. O vulgo secularismo.
Chego lá, sento-me, fico sossegadita à espera que o resto das pessoas entrem e que aquilo comece. Entrei no meu modo "observação-piloto". E que gente interessante que começou a chegar: ele foi um padre, um - suspeito eu - rabi, entre outros. Mas foi quando entrou um senhor de meia-idade com aspeto de motoqueiro e uma t-shirt preta a dizer ATHEIST que os meus olhos se arregalaram e eu pensei "Ui, isto promete".
Basicamente aquilo foi uma conferência organizada pela Plataforma Europeia pelo Secularismo, constituída por gente muito diversa (ateístas, católicos, judeus, humanistas) que queriam certificar-se que o novo Presidente do Parlamento Europeu vai dar a mesma atenção a todas estas organizações sem favorecer religiões que têm um aparelho administrativo dantesco, como é o caso da Igreja Católica.
Foi um bocado fraquinho. Não houve grande debate nem posições corajosas, sinceramente o falatório do Presidente desiludiu-me e foi um bocado para o diluído e confuso. Se não tivesse sido a intervenção do senhor motoqueiro ateísta no final a exigir uma revisão dos tratados para impedir as organizações religiosas de contactarem com a UE não sei como tinha aguentado o aborrecimento.
Coisas Com Que Me Deparei Na Minha Demanda Por Imagens Que Ilustrassem Este Post
S.
Uma das sugestões no seu post do chá era este post ateu. Muito bom, espero que faça mais posts ateus!
ResponderEliminarMas não percebo porque é que o Blogger acha que uma pessoa que goste do post do chá poderá também gostar de um post ateu... lol
Mas não é que acertou? :P
Que pena eu não ter participado.
Gostava de perguntar ao Presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz porque é que no século XXI ainda é permitida na Europa a burla religiosa (alguém que me diga que não é burla prometer a vida eterna e a ressureição dos mortos, por exemplo, ao mesmo tempo que se recolhe dinheiro ou se cobram dízimos).
Gostava ainda de perguntar porque é que as igrejas não pagam impostos enquanto o povo é esmagado pelo fisco.
E gostava de perguntar, meio a sério meio a brincar, como é que o Vaticano, que baseia a ideia do seu Estado na existência de um ser que tem infernos algures onde pecadores são torturados após a morte e por toda a eternidade, ou seja, um deus que domina pelo terror, como é que o Vaticano que subscreve a tortura das almas, e mantém os seus fiéis através da ideia de "pecado", não está na lista de Estados terroristas?
E para quando um Joaquim António de Aguiar europeu, que proponha uma diretiva europeia mais ou menos assim:
"Senhor: Está hoje extinto o prejuízo que durou séculos, de que a existência das Ordens Regulares é indispensável à Religião Católica e útil ao Estado, e a opinião dominante é que a Religião nada lucra com elas, e que a sua conservação não é compatível com a civilização e luzes do século, e com a organização política que convém aos povos"."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Extin%C3%A7%C3%A3o_das_ordens_religiosas
Para finalizar, gostava de perguntar quando é que a União Europeia, tão preocupada com os direitos humanos, impõe sanções económicas aos países muçulmanos que tratam as mulheres como animais cuja posse pertence aos homens da família. Sim, quando é que a União Europeia enfrenta corajosamente o Islão e a sua Sharia criminosa? Ou os "direitos humnaos" só servem para importunar os ditadores africanos? Os "direitos humanos" não se aplicam ao Islão? E a igualdade de género só se aplica às mulheres europeias? Achará o Presidente do parlamento Europeu que as mulheres muçulmanas são animais, inferiores portanto às europeias?
E gostaria de perguntar mais coisas mas para já seria isto.
P.S.: Também sou "um senhor de meia-idade" e por acaso tenho carta de mota (já tive várias) mas iria de impecável fato e gravata, very british. Não sei, acho que ideias revolucionárias e fato e gravata são uma mistura desconcertante. :)
Just José,
ResponderEliminarO laicismo, ou a falta dele, é uma coisa que me mexe com os nervos. Quase tanto como a igualdade de género, ou a falta dela. Quando se combinam as duas é particularmente grave.
O relativismo cultural tem sido um valor que tem sido demasiado absoluto e muitas vezes levado ao extremo. Muito se desculpa em seu nome, particularmente a situação animalesca em que vivem as mulheres em vários países muçulmanos. Pense que só há muito pouco tempo é que se começou a falar contra a mutilação genital feminina; até há pouco era desculpável como uma prática cultural. Falar de uma possível proibição da burqa é ainda hoje altamente controverso também... Porque é que o valor liberdade religiosa tem que estar acima da igualdade entre géneros (não vejo homens a "escolherem" usar burqa)?
Noutra nota, o poder implícito e de vez em quando explícito, que a Igreja Católica enquanto aparelho administrativo ainda tem na Europa é uma vergonha. Veja-se o que se passou em Portugal com a exigência da Igreja ao Governo de retirar 2 feriados civis se quisesse retirar 2 católicos. Escrevi sobre isso aqui: http://emterrasdarainha.blogspot.be/2011/11/pobres-papa-padres.html
Enfim, muito mais haveria para dizer. De notar também que não são só os países muçulmanos aos quais a UE fecha os olhos nos abusos de direitos humanos, a China é outro exemplo gritante. Mas as sanções económicas podem nem sempre ser o instrumento mais eficaz.